20 anos de Battlefield

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No passado dia 10 de Setembro, a Electronic Arts e a DICE comemoraram 20 anos da franquia Battlefield. Digamos que a marca já viveu melhores dias, sendo uma das maiores séries de sempre em jogos de acção.

Tudo começou em 2002 com um “pequeno” jogo obscuro de uma produtora Sueca igualmente desconhecida. Chamava-se Battlefield 1942 e veio introduzir uma nova dinâmica nos “first person shooters” multi-jogador com a adição de classes de soldados e, claro, veículos. Para muitos, tornou-se “o” jogo de acção online, que ainda hoje tem servidores disponíveis para os mais nostálgicos.

A título de curiosidade, o grande rival de Battlefield 1942 era… Medal of Honor, uma série igualmente de acção, também passada na Segunda Guerra Mundial e… também editada pela Electronic Arts. A diferença é que esta série iniciada em 1999 era apenas focada na infantaria e na sua campanha a solo (embora também tivesse modos online). Se estão a pensar no primeiro Call of Duty, só foi lançado no ano seguinte e é claro que veio “beber” das mesmas inspirações e temas.

A fórmula de Battlefield ganhou tracção, com expansões e sequelas que foram ganhando relevância e o devido espaço no panorama complexo dos jogos de acção. Até spin-offs mais virados para a narrativa foram lançados, os dois lendários Battlefield: Bad Company que, curiosamente, apesar de serem tão diferentes do que a série já tinha trazido, são tidos como duas das melhores entradas de sempre na franquia.

Infelizmente, a gestão da franquia não foi sempre a melhor, com altos e baixos criativos, especialmente ao nível de expansões menos brilhantes, “tiros ao lado” como Battlefield Heroes ou Battlefield Online e até temas que não convenceram, como o incompreendido Battlefield: Hardline. Mas, talvez a pior vertente dos jogos Battlefield seja a sua ocasional perda de identidade.

É que cada jogo novo na série tenta reinventar-se, por vezes nem sempre da forma mais sensata ou que dê qualidade à série. Por um lado, isto pode ser visto como uma sadia fuga ao estereótipo e uma tentativa de dar algo novo aos fãs a cada nova entrada. Mas, isto é arriscado, já que só mesmo a fórmula original é que torna esta série tão peculiar. Quando vemos que os jogos mais recentes tentam abandonar conceitos clássicos e de qualidade assegurada, algo não está bem na visão estratégica da produção.

Não é a primeira vez que a série sofre mudanças de paradigma. Depois de anos na Segunda Guerra Mundial, subitamente houve um salto para o futuro. Felizmente, títulos como Battlefield 3 resultaram na perfeição. Até mesmo o sucessor Battlefield 4 chegou ao estrelato, mesmo que enfrentasse problemas sérios de conceito e saturação, que só mais tarde foram resolvidos. Infelizmente, a seguir veio o tal spin-off Hardline, quase “em cima” de BF4, que só piorou a imagem da produção na forma como estava a lidar com a série.

Subitamente, fomos parar à Primeira Guerra Mundial com Battlefield 1. Esta manobra arriscada resultou num jogo que, afinal, até se tornou num sucesso, muito graças ao enorme cuidado com o visual e com a jogabilidade. Com controvérsias de passes Premium e épocas tão espaçadas de conteúdo, porém, a confiança dos fãs começou a esmorecer, com um declínio de popularidade exactamente a seguir ao lançamento deste jogo. Até porque, o que veio a seguir, não foi melhor.

Battlefield V foi um misto de clamor e crítica. O clamor veio dos avanços técnicos do motor gráfico Frostbite 3 que atingiram o seu pináculo de qualidade visual e sonora com este título. A jogabilidade, porém, não trouxe nada de realmente novo e o regresso às origens temáticas da Segunda Guerra, algo que gerou imensa expectativa, não teve o tal impacto que se esperava. Mas, o problema nem foi bem esse. Antagonizar os fãs, ao mesmo tempo que se tomam decisões controversas quanto a conteúdo e validade histórica, traiu a confiança de muitos.

E por onde começar com Battlefield 2042? Quase nada no jogo é tido como realmente positivo, nem mesmo a promessa (gorada) de um novo visual na nova geração de hardware. Foi como se a DICE decidisse descartar tudo o que conhecemos e começar com algo novo… um conceito de “jogo como serviço” inteiramente online, feito à pressa e cheio de erros de conceito e muitos bugs. É uma descolagem quase completa dos originais, mantendo apenas laivos de familiaridade. Ainda assim, por qualquer motivo, ainda se chama “Battlefield” e poucos gostaram desta fórmula.

O insucesso de 2042 fez com que a EA abrandasse a sua evolução. Os DLCs e épocas de conteúdo desaceleraram e as actualizações para melhoria, talvez no seu cuidado para serem realmente significativas e não correr mais riscos, demoram a chegar. O jogo não está realmente defunto (ainda) mas caminha em “passo de corrida” para um desaparecimento sem mérito. E há rumores que a equipa actual está reduzida ao essencial, com a incumbência de “cumprir calendário” até que os servidores se esvaziem.

É um claro contraste muito negativo com o sucesso que a série ganhou ao longo dos anos e com as suas várias conquistas e prémios. O mais recente jogo não reflecte, de todo, a qualidade que Battlefield teve outrora. A EA já não parece dar-lhe muito crédito, apesar de ter inicialmente movido as suas peças para o tentar recuperar. Já estará a pensar em algo novo para o futuro, parecendo querer trazer o aspecto narrativo ao centro das atenções. Para já, porém, só está previsto um novo jogo mobile que não é bem o que os fãs pediam.

Com os seus muitos deslizes, Battlefield tinha direito a comemorar 20 anos em alta. Infelizmente, este é um péssimo momento para a série, a tal ponto que a Electronic Arts e a DICE se limitaram a publicar uma mera nota de lembrança do aniversário nas redes sociais… apenas no dia da efeméride, um Domingo, com quase nenhuma pompa ou circunstância.

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