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Análise – Battlefield V

Numa era de convergência de ideias, Battlefield V surge ainda com uma posição muito própria. Esta série tem um ADN muito seu e a DICE está perfeitamente consciente do que os fãs pretendem. Mesmo correndo alguns riscos e ficar de olho nas “modas”.

Esta minha análise tem imensos sentimentos à mistura. Por um lado, este é um título a chamar a nostalgia. Longe vai o tempo dos shooters da Segunda Guerra Mundial. As duas séries (três se considerarem Medal of Honor) líderes dessa era, fizeram o seu devido regresso, agora que os conceitos modernos e futuristas entraram num ponto de ruptura. Por outro lado, cada novo Battlefield é sempre uma oportunidade de revisitar o campo de batalha que a DICE sempre soube aprimorar, tanto ao nível visual, como na sua jogabilidade. Contudo, também é uma altura de apreensão porque, convenhamos, a produtora Sueca nem sempre soube limar bem as arestas. Não me quero recordar da “festa” de bugs e de lag que foi Battlefield 4, por exemplo. Mas, adiante…

Penso que, se um projecto se esforçar em demasia a agradar aos fãs, produz-se um jogo de qualidade superficial que, afinal, ninguém gosta. De certa forma, nestes jogos com foco online, precisamos de conceitos muito bem estabelecidos e firmes na sua defesa. Se os alterarmos constantemente ou seguimos modas do momento, corremos o risco de tornar o jogo irreconhecível. BF4 levou dois anos a ficar “aceitável”. E mesmo o aclamado BF1 sofreu bastante com os “buffs” e “nerfs” que levou pelo caminho, perante tantas vozes de discórdia. Dessa feita, porém, estas alterações até resultaram em mudanças menos profundas. Battlefield V só tinha de aprender com estes e outros erros.

As várias Alphas e Betas, assim como os resultados que levaram a produção a lançar uma actualização cuja lista de melhorias possuía várias páginas, deixaram-me optimista quanto a um produto final refinado e estimado. Para muitos, bastava capitalizar as virtudes de Battlefield 1, alterando a era de combate e dando-lhe uns ligeiros retoques na jogabilidade. No entanto, era simplesmente impossível criar um mero clone com outra cara sem que a série sofresse por isso. É que os fãs de Battlefield tornaram-se exigentes. Senão, notem como a comunidade foi tão activa nessas Alphas e Betas. A DICE apercebeu-se que tinha de elevar a fasquia. E então surgiram as… inspirações.

Muito li e ouvi sobre as novas opções de erguer fortificações. Ou então da “complicação” das dinâmicas de jogo em esquadrão. Também me apercebi que a busca por “mais realismo” dando menos recursos, fez confusão a muita gente. Eu próprio tive dúvidas na minha previsão do jogo se a DICE conseguiria convencer os jogadores destas novidades. Estas e outras alterações na jogabilidade pretendem, claramente, dar um novo ritmo aos diversos modos de jogo online. É discutível se as modas são realmente úteis para o género de acção na primeira pessoa. Contudo, é inegável a sua popularidade.

Vamos por partes. Agora, em determinados pontos no mapa, podem erguer fortificações diversas, desde sacos de areia a arame farpado. Qualquer jogador o pode fazer, elevando importantes defesas em locais estratégicos. Esta lógica algo adaptada de jogos como Fortnite, porém, tem as suas falhas. Embora estas defesas sejam um tanto fracas, sendo facilmente destruídas, podem ser montadas de tal forma que inviabilizam portas ou acessos de flanqueamento. Penso que, em alguns mapas, esta funcionalidade precisa ser revista. Em modos de objectivos, como Conquest, por exemplo, criam-se pontos de estrangulamento óbvios que era bom evitar. Agora, a sua utilidade em defesa é genial.

Outra novidade na jogabilidade é a lógica de “revive” e recuperação de energia. Agora, todos os jogadores carregam um saco de médico para recuperar uma parte da sua energia quando são alvejados. Contudo, terão de esperar muito mais tempo para a recuperar por completo. Os médicos podem dar um curativo mais rápido, obviamente. E também são os médicos que continuam a poder ressuscitar jogadores num curto espaço de tempo, voltando a dinâmica de podermos chamar um medico ou forçar o respawn se não quisermos esperar. Contudo, os membros de um esquadrão também podem agora fazer revive entre si, independentemente da classe. O que pode ser algo injusto com um bom esquadrão coordenado entrincheirado, sempre a ressuscitar-se. A rever, também.

Claro que, para os jogadores, a principal novidade está nas “ferramentas” dos soldados: as armas. Como no jogo anterior, as armas com que começamos são algo limitadas, inicialmente, uma por classe. Com a progressão no vosso nível, desbloqueiam mais armas e mais equipamento. Considero o manuseio e a performance de cada pistola, espingarda ou metralhadora, algo verdadeiramente fantástico. Há uma que preferimos. Sempre foi um ponto forte desta série, onde cada tiro, explosão ou outro efeito destrutivo contém uma elevada dose de satisfação. Neste título, a DICE esmerou-se em dar bastante identidade a cada arma, dando-nos uma gratificação diferente por usar cada uma, nas suas diferentes disciplinas e valências.

Também temos outra vez uma limitação de armas por cada classe. Os Assault têm pistolas-metralhadoras mais leves para combate mais próximo, os Support levam as metralhadoras mais pesadas, ideais para supressão, os Médicos recorrem a potentes espingardas de assalto e os Recon, claro, apontam as suas infames espingardas de sniper. Uma vez mais, as estatísticas contam bastante para a equação do combate. Contudo, nota-se um enorme trabalho de equilíbrio desde a Beta Aberta. E é de assinalar que agora as miras ópticas estão disponíveis logo de início, o que é um ponto bastante positivo para criar memória mecânica.

E tenho de frisar bem esta questão acima. Uma vez mais, como aconteceu em BF1, temos uma panóplia de opções nos controlos para os personalizarmos na interacção com o comando. Joguei numa PlayStation 4 Pro com um comando Nacon Revolution 2. Devo informar que gastei imenso tempo a personalizar sensibilidades, zonas mortas e outros pormenores. Por mais que tentasse copiar tudo de BF1, notei que há ligeiras diferenças na resposta e nos tempos de animações de mira, só perceptíveis com umas boas horas de jogo em cima. O que sugiro é que não vão logo para o online sem antes regularem os controlos ao vosso gosto. Se falharem muito, não é só a vossa perícia em falta. Calma.

Voltando à acção com as armas, um novo elemento que tem causado alguma insatisfação a alguns, tem a ver com as munições. Os jogadores começam com poucas munições, confiando que os elementos da classe Support larguem umas preciosas caixas de munição. Mas, nem sempre os jogadores estão conscientes do trabalho de equipa (uma constante sobre a qual já irei falar). A pensar nisso, cada jogador eliminado larga uma pequena caixa de munição para recarregarmos o stock. Mesmo assim, com armas automáticas é muito frequente ficar “a seco”, obrigando-nos a procurar armas pelo chão. Isto, já agora, é um elemento intencional para aumentar a dificuldade. E até acho que é merecedor de um destaque positivo. Se gostam de fazer “spray” com balas, vão passar um mau bocado.

Os veículos fazem o seu retorno, desta feita com automóveis, motas, tanques ou aviões bem mais modernos, mais rápidos e mais dinâmicos que os da Primeira Grande Guerra (felizmente). De notar que, em alguns mapas e em alguns modos de jogo, são muito mais limitados em quantidade. O que permite uma diminuição do efeito de “rolo compressor” que tínhamos em BF1. Notem também que os infames “behemoths” desapareceram, dando lugar a armas especiais que os líderes de cada esquadrão podem chamar, inclusive uma terrível bomba voadora V1 que devasta tudo e todos num raio de vários metros. Estes ataques especiais agem como “point streaks” e estão limitados aos pontos ganhos pelo nosso esquadrão. Por isso, não podemos falar de injustiças, propriamente.

Outro destaque tenho de dar, vai para as Companhias e para evolução da personagem. Contamos novamente com um esquema de progressão baseado em níveis de escalão, tanto na personagem, como na classe e nas armas usadas. A diferença é que agora podemos personalizar o aspecto das personagens e armas em cada classe, bem como os perks que queremos usar nessa classes. Nos jogos anteriores apenas podíamos gravar loadouts de armas e equipamento. Agora podemos escolher o aspecto geral e até o sexo das personagens, algo que me lembra muito o outro shooter da DICE, Star Wars: Battlefront. Os fatos e cores de pinturas, já agora, são pura cosmética, não interferem com a efectividade da acção. Mas, parecem bastante populares, pelos vistos.

Aliada a essa cosmética, como não podia falhar num jogo da Electronic Arts, está uma subtil loja em jogo. Por cada sessão de jogo, por cada novo nível e por cada tarefa ou objectivo cumprido (entre vários que podemos “comprar” ou que são disponibilizados diária e semanalmente), ganhamos divisa de jogo. Essa divisa serve, depois, para comprar equipamento na loja embutida. Mas, se não quiserem esperar, em breve poderão comprar essa divisa com dinheiro real. Durante o meu acesso antecipado, esta funcionalidade não estava disponível. Contudo, depois do lançamento deverá entrar em funcionamento. Será que a EA ainda não aprendeu com os seus erros nas microtransacções?

De resto, isto é um puro jogo Battlefield. Temos já disponíveis duas maneiras distintas de jogar: os muito concorridos e desejados modos online e um modo de carreira chamado de War Stories. Contra todas as tendências, a DICE continua a apostar num modo de carreira a solo. Este é, uma vez mais, uma compilação de várias histórias de grandes feitos, mais ou menos desconhecidos, de heróis improváveis. Tenho imensa pena que sejam tão curtos. Entre as três histórias disponíveis, cada uma com três capítulos, completei tudo numas três horas apenas. Podem sempre aumentar a longevidade jogando com um nível de dificuldade maior. Contudo, a minha opinião é que no nível Hardcore, a dificuldade parece exagerada.

Obviamente que, por melhor que seja o esforço desse modo a solo, o que todos querem é jogar online. Com as novidades que já enunciei lá em cima, regressam os modos clássicos que tornaram esta série famosa, os incontornáveis modos clássicos Conquest, Domination, etc. Contudo, temos diversos novos modos. Grand Operations é uma revisita ao modo Operations de Battlefield 1, com uma escala um pouco diferente e fases de jogo distintas. Infelizmente, algum do novo conteúdo ainda está em produção. Mesmo depois de atrasado um mês, não recebemos ainda a meta-campanha Tides of War, prevista para Dezembro, a par de um modo cooperativo (Combined Arms) e um prometido modo Rush rejuvenescido.

No próximo ano, Battlefield V ainda vai receber um modo chamado de Firestorm. Para quem não sabe, esta é a visão battle royale de Battlefield. Sim, o lendário jogo de combate, que sempre soube distinguir-se pelos sua oferta tão distinta, vai aderir à moda criada por PUBG ou Fornite. Aqui a questão nem é uma avaliação deste modo de jogo em particular. Firestorm ainda não está aqui para isso, pelo que ainda teremos de esperar. Aqui a questão é: Será que Battlefield V precisará deste modo de jogo? Será que a série tem de fazer “mais do mesmo”, só para não ficar de fora? A resposta definitiva, daremos em 2019.

Por agora, arrisco dizer que não, não precisa. Nesta fase em que escrevo a análise, o jogo pode ser descrito como uma evolução comedida de BF1, inserindo umas novas lógicas modificadoras da jogabilidade, mas nada que o descaracterize. Os modos de jogo a adicionar até ao final do ano só darão mais motivos para jogar, salvaguardado da óbvia repetição que teima sempre em se instalar neste género. E ainda teremos de contar com novos mapas e outras adições de conteúdo nesse género que a DICE prometeu. BFV não precisa mesmo de battle royale, pelo menos não nesta fase. Talvez por isso, só surja no ano que vem.

Devem estar à espera que vos fale do aspecto técnico de Battlefield V. Não ficarão desapontados, fiquem descansados. Já em BF1 apreciei tanto os avanços tecnológicos do motor gráfico Frostbite e não posso deixar de mencionar que Battlefield V é ainda mais belo de contemplar. Desde os mapas incrivelmente detalhados de Roterdão, até às vastas áreas verdejantes de Twisted Steel na França, sem esquecer o deserto de Hamada no Egipto ou os picos gelados de Narvik na Noruega, todos os mapas são paisagens com detalhes impressionantes. Alguns são mais vastos, outros mais confinados, todos possuem um fantástico modelo de destruição, tão realista que é possível “nivelar” vilas inteiras.

Esta qualidade técnica reflecte-se, aliás, em tudo o resto, como seria de esperar. Os efeitos sonoros são, de longe, dos melhores que vão encontrar em jogos deste género, entre tiros e explosões avulsas, por vezes em tom frenético e inigualável. A música, pronto… é aquela que não tiram da cabeça.

Se há algo a apontar de menos positivo? Talvez os menus que me parecem iguais a BF1 e BF4 depois das respectivas revisitas estéticas. Também estão de regresso os incrivelmente longos ecrãs de carregamento, uma “imagem de marca” infeliz de Battlefield e Battlefront. Também gostaria que a distância de renderização na PS4 Pro fosse um pouco maior, não sendo um problema único desta consola, uma vez que também se verifica na Xbox One X, curiosamente. Objectos que “aparecem” ao avançarmos são uma constante.

Por fim, tenho de conversar um pouco sobre dois aspectos que considero relevantes, não tendo bem a ver com a qualidade do jogo, mas sim desta comunidade em volta de Battlefield. O primeiro ponto, tem a ver com a identidade desta série e da sua jogabilidade, claramente pouco virada para os “jogadores solitários” ou para os mais egoístas. As novas mecânicas de reabastecimento de munições e ressuscitação estão profundamente dependentes da forma como os jogadores abraçam estas dinâmicas. Porque nem todos se apercebem desta lógica de jogo de equipa, geram-se momentos frustrantes com jogadores “acampados” ou a ignorar o seu papel de médico ou de suporte. Quanto a isto, nada se pode fazer, senão convidar amigos para o esquadrão.

Por outro lado, temos a outra questão do momento em volta deste jogo: o seu rigor histórico. Para todos os efeitos, isto não é um simulador, é um jogo. Obviamente, isso não significa que, ao criar um título nesta era, se cometam imprecisões deliberadas. Sim, o jogo possui mulheres-soldado, cujo papel pode ser algo sobrevalorizado num contexto rigorosamente histórico. Considero, porém, que este pormenor não é uma questão verdadeiramente relevante. Jogar com personagens femininas é meramente opcional e não interfere na jogabilidade. Se é ou não rigoroso historicamente, também não me parece que Battlefield fosse um simulador de combate. Logo, esta é, para mim, uma “não questão”. Se vos aflige uma ruiva de arma em punho, escolham o fulano ali ao lado. Simples, não?

Veredicto

Mesmo que ainda falte ainda algum conteúdo e mesmo chegando tarde ao “conflito”, Battlefield V tem aqui fortes argumentos para ser o shooter que muitos queriam este ano. As novidades que apresenta na jogabilidade são positivas, mesmo não sendo muito profundas. O que até é positivo, se fórmula permanece intacta e ainda tem margem para melhorar, embora nem precise de algumas das adições previstas. Espero apenas que a comunidade acompanhe o maior foco na cooperação entre esquadrões, que a DICE se aperceba dos problemas técnicos ainda presentes e que não se perca em populismos ou modas. Por agora, o que temos aqui, é com uma pedra preciosa por lapidar. A beleza está lá, só precisa de algum polimento.

  • ProdutoraDICE
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento20 de Novembro 2018
  • PlataformasPC, PS4, PS4 Pro, Xbox One, Xbox One X
  • GéneroAcção, Shooter
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Problemas na distância de renderização
  • Ainda os longos "Loading Screens"...

Esta análise foi realizada com uma cópia adquirida pela redacção.

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