Insólito – Produção de The Day Before foi ainda pior do que se julgava

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A história de The Day Before é uma de flagrantes promessas falhadas. Embora Fntastic ainda hoje se tente defender, é um dos maiores flops desta indústria. E é possível que nem tenhamos noção da real dimensão do descalabro.

Para quem viveu numa caverna nos últimos meses, explicamos que este jogo chegou a estar no topo da lista de desejos no Steam, mesmo sem mostrar progresso. Quando finalmente teve um trailer propriamente dito, o desapontamento foi geral, levando a adiamentos por vários meses e bastante controvérsia. A empresa tentou sempre manter as expectativas, eventualmente lançando o jogo. Contudo, ao fim de umas horas, o desapontamento confirmou-se, com um jogo fraco em conteúdo, jogabilidade e polimento. A tal ponto, que, dias depois o jogo foi removido das vendas no Steam e a Fntastic anunciou o seu encerramento.

Dado o espírito combativo e, de certa forma, desajustado da produtora, ou melhor, da sua direcção, todos suspeitavam que a gestão interna fosse, no mínimo caótica. A ideia geral era que os decisores nem sabiam bem o que fazer com o jogo, muito menos gerir as expectativas dos pretensos fãs. Contudo, recentes artigos dos sites alemães Game TwoGameStar trazem uma nova luz sobre os bastidores de The Day Before. O que revelam é ainda mais rocambolesco do que poderiam pensar.

Falando anonimamente, ex-funcionários alegam que o projecto foi constantemente alterado a meio da concepção, fruto de alterações de ideias vindas dos co-fundadores, os irmãos Gotovtsev. Aparentemente, estas mudanças surgiam sempre que os irmãos jogavam algum novo título do momento em busca de uma possível inspiração. Neste caso, os produtores queriam que os artistas modelassem as coisas ao sabor das “modas”, por exemplo no caso do criador de personagens, primeiro modelado com base em GTA Online, depois Hogwarts Legacy e depois em Baldur’s Gate III. A cidade do jogo terá sido alterada de algo sombrio para algo mais “alegre” depois dos irmãos jogarem Spider-Man 2. Enfim, ideias à deriva.

As mudanças de paradigma eram tão constantes e aleatórias que um dos ex-funcionários disse que só soube que o jogo seria um MMO depois de ver um trailer publicado online. Aliás, o tratamento injusto parece uma constante dentro da Fntastic, a níveis bem mais absurdos. Há imensas críticas à forma como voluntários foram explorados, contratados de países menos favorecidos mal pagos, horas extraordinárias jamais reembolsadas e muito “crunch”, chegando ao ridículo de um dos ex-funcionários alegar que tinha de “implorar para ter uma pausa para tomar banho ou comer”. 

Se calhar o mais insólito de tudo, é que os funcionários eram obrigados a pagar multas por entregar trabalho abaixo do esperado, por vezes na ordem das centenas e até nos milhares de dólares. Outros foram ameaçados com despedimentos sumários, bastando que os irmãos encontrassem bugs que achassem graves. Todos estes e outros relatos mostram um ambiente de trabalho profundamente tóxico, provocado por uma péssima gestão interna e muita, mesmo muita falta de rumo concreto.

Quanto aos irmãos Eduard e Aisen Gotovtsev (em cima), há um mistério quanto ao seu paradeiro desde o lançamento do jogo. Este desaparecimento, porém, não é de agora, uma vez que antes do lançamento do jogo a dupla deixou de ser vista, regressando apenas via Microsoft Teams para anunciar o encerramento da produtora à equipa. Tirando a tal mensagem surpresa e descolada da realidade a acusar todos menos eles próprios do fracasso do jogo, todas as páginas e referências aos irmãos desapareceram da Internet. Parece que o duo anda “desaparecido”, provavelmente a engendrar outro projecto de “dinheiro fácil”.

Tudo leva a crer que esta história caricata é o resultado de uma tentativa megalómana de alimentar ideias avulsas, sem grande fio condutor, tornando-se um eventual embuste que todos internamente viam que iria acontecer. Sem dúvida, houve aqui também uma intencionalidade de defraudar os fãs que esperavam o jogo com alguma expectativa, tentando, se calhar, obter uma boa quantidade de dinheiro em pré-encomendas para depois, eventualmente, tomar o dinheiro e “detonar” o projecto.

Infelizmente, este tipo de histórias não são novas, nem serão raras no futuro. Projectos megalómanos não faltam por aí e é claríssimo que para algo vingar na dimensão que foi prometida, tem de ser algo muito especial, com uma equipa dedicada e uma direcção focada. Para nós, é uma “telenovela” interessante, contando com uma série de artigos, incluindo três nessa nossa rúbrica de Insólitos… um recorde que, pensamos, tão depressa ninguém quererá bater.

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