RiME (2)

Análise: RiME

Se estão atentos aos lançamentos recentes na indústria dos videojogos, certamente já ouviram falar de RiME. Este título da Tequila Works, mais habituada aos zombies de Deadlight, tem dado que falar pela sua beleza visual e jogabilidade. Vamos perceber o porquê desta fama.

Numa primeira instância, este jogo parece uma colecção de influências. Não é de estranhar que, ao jogarem RiME, se recordem de jogos icónicos. Porque controlamos um pequeno rapaz, não é de estranhar que se recordem de The Last Guardian. Poderão encontrar algumas semelhanças na arte geral com Journey e até há quem se recorde da série The Legend of Zelda. E é inegável que a ausência de narrativa concreta nos recorde de títulos como Abzû ou Bound. Todos estes, jogos praticamente criados no mesmo registo e numa fórmula reciclada, diga-se de passagem. Contudo, melhor que simplesmente copiar conceitos, se um jogo conseguir pegar no que de melhor as suas influências oferecem, criando algo único que se junte a esse padrão de qualidade, terá sempre o seu lugar na minha prateleira. Será o caso deste título da Tequila Works?

Não há um enredo que nos prepare para este jogo. Nem sequer há uma narrativa que explique realmente o que se passa. Um pequeno rapaz acorda numa praia, algures numa ilha enigmática e cheia de ruínas não menos misteriosas. A nossa viagem acompanha o rapaz pelas planincies, escarpas, vales e ruínas, numa tentativa de, não só fazer sentido do que se passa na ilha, como também entender o seu destino. Se que a própria ilha é um gigante puzzle, com alguns perigos à mistura. Usando de intuição e com auxílio de algumas poucas referências visuais, eventualmente iremos perceber o que fazer e qual o nosso papel.

Não há nada de complexo neste jogo. Nem mesmo a história será um intrincado conto, quase sempre “perceptível” por murais e imagens que vamos encontrando ao longo da jornada. E nem as personagens serão demasiado complexas. Além de uma misteriosa figura de capa vermelha que iremos sempre tentar alcançar, teremos diversos animais selvagens que povoam a ilha, com especial destaque para uma pequena rapoza que nos acompanha sempre e para uma espécie de abutre gigante que serve de antagonista. Pelo meio, a própria ilha é uma protagonista interessante, repleta de estátuas, templos, fontes, torres, arenas e outras estruturas. Notem que lá no meio há alguns coleccionáveis para encontrar, alguns em locais pouco perceptíveis. Talvez queiram jogar uma segunda vez para procurar estas peças.

A nível da jogabilidade, como já disse, esperem inúmeros puzzles para resolver. Alguns são francamente simples e rápidos de entender, bastando testar algumas interacções com estátuas, por exemplo. Outros são algo complexos ou precisam de alguma leitura para resolver. A interacção, no entanto, envolve quase sempre os mesmos movimentos e acções simples. O pequeno rapaz corre, salta, rebola, mas também consegue agarrar-se a escarpas e agachar para passar por baixo de estruturas. Tudo isto serve para transitar por zonas de plataformas e chegar a locais onde teremos de resolver os tais puzzles. A mais importante interacção no jogo, inclusive em alguns puzzles, é a fala. Activada com um simples botão, pode ser um tom de uma música cantada ou um grito, parecendo invocar forças místicas com diferentes repercussões. Mas, há também peças para pegar e algumas até para atirar.

Os puzzles em si também podem usar diferentes combinações de interacção. Há puzzles de plataformas que requerem algum sincronismo, transporte de peças ou activação de portas, mas dos que mais gostei foram os de alinhamento de perspectivas ou de sombras com recurso a luzes. Nada é explicado e exige que observemos os quebra-cabeças e que os resolvamos, muitas vezes através de tentativas. Eventualmente, porém, nenhum puzzle parece insolúvel ou demasiado complicado. Alguns exigem mais trabalho que outros, podendo obrigar a atravessar vastas áreas ou a resolver outros puzzles anteriores ou secundários. No entanto, quando entenderem a lógica geral, não terão grande dificuldade em resolver praticamente nenhum dos seus enigmas. O que pode significar que o desafio deste título não é particularmente elevado. E isso é bom e mau…

Realmente, de um modo geral, não há grande desafio intelectual neste jogo. O pequeno rapaz não pode morrer, por exemplo. Se cair numa falésia ou for atacado pelo antagonista, surge como magia no último ponto onde o jogo salvou o progresso. Não há uma barra de energia, não sofre de fadiga, nem sequer possui reais danos quando cai de uma altura considerável. As plataformas estão todas identificadas com marcas próprias, os puzzles, como já disse, são relativamente fáceis de resolver e as interacções como um todo não possuem grandes esquemas para entender. Isto pode significar pouco exercício mental, de facto, mas também nos retira a tensão de jogar este título. Eventualmente, sentirão, como eu, uma espécie de “estado Zen” neste jogo.

Não sei se foram os sons ambientes de praia com gaivotas ao longe, o vento a fazer a vegetação ondular, a sua banda-sonora irrepreensível ou um simples por-do-sol dourado. Talvez toda a arte do jogo tenha este efeito apaziguador, entre o visual e o sonoro. Todos os objectos e modelos visuais possuem uma decoração estilo banda-desenhada (cel-shading), mas com muitos pormenores de qualidade como luz volumétrica, efeitos de água ou de partículas absolutamente fantásticos. Até mesmo as animações que dão vida às personagens possuem um cuidado visual de assinalar. Não há nada de particularmente avançado ou tecnologicamente impressionante, mas a arte geral é mesmo fantástica.

Veredicto

A questão que ficou no ar é se este jogo é uma mera cópia do que já foi feito. Embora sejam óbvias as suas influências e vejamos muitos pequenos pormenores evidentes disso mesmo, RiME é uma excelente obra de arte da Tequila Works. Honra bem as suas influências, mas consegue sobreviver de forma independente. Pode não nos desafiar tanto quanto seria de esperar num jogo de puzzles mas possui mecânicas muito próprias que se tornam interessantes. Sobretudo na sua conjugação de perspectivas e sombras em alguns desses puzzles. Na sua ambiência fantástica e jogabilidade equilibrada, só tenho de recomendar este jogo a quem gosta deste género.

  • ProdutoraTequila Works
  • EditoraGrey Box/Six Foot
  • Lançamento26 de Maio 2017
  • PlataformasPC, PS4, PS4 Pro, Xbox One
  • GéneroPlataformas, Puzzle
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguma simplicidade geral nos puzzles
  • Pequenas quebras de performance na PS4 Pro

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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