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Análise: The Witcher III – Blood & Wine

Li algures uma grande verdade num comentário de um fã de The Witcher III: Wild Hunt. O fã dizia algo do género: “enquanto que alguns se dedicam a lançar jogos que parecem DLC, a CD Projekt RED lança DLCs que mais parecem jogos completos”. É capaz de ser a melhor descrição preliminar que podemos ter desta nova expansão “Blood & Wine”.

Esta é uma análise muito difícil para mim. Não tem nada a ver com a qualidade desta nova expansão para um dos melhores RPGs de sempre. Tem simplesmente a ver com o facto de ser a última vez (pelo menos por agora, espero eu) que vou falar do terceiro capítulo das aventuras de Geralt de Rivia. Incontestável jogo do ano para muitos, The Witcher III recebe aqui o seu último conteúdo adicional, depois de uma série de diversos DLC gratuitos de equipamento, missões e extras e de uma outra expansão chamada “Hearts of Stone”. E se gostámos tanto dessa primeira expansão, esta prometia muito mais. Afinal a CD Projekt RED compara este pacote à dimensão e duração completas do primeiro videojogo The Witcher de 2007. Ou seja, já entendem porque se diz que “este DLC é quase um jogo completo”.

E se é uma despedida, é feita em beleza. Seja a recuperar um savegame que já tenham ou a iniciar uma nova carreira desde o início (e até podem iniciar só o enredo desta expansão com Geralt já no nível necessário), preparem-se para toda uma nova experiência, além de um novo enredo, personagens e locais. É que a CD Projekt RED andou todo este tempo a lançar actualizações e a última que noticiámos deu uma grande remodelação ao jogo. Para melhor, felizmente. De facto, nos primeiro minutos de Blood & Wine não pude deixar de sentir que estava a jogar um novo jogo, embora muita coisa fosse, logicamente, familiar.

Até porque há uma série de novos tutoriais que saltam à vista para garantir que não perdem nada do que há de novo. Os próprios menus também foram remodelados, há uma nova evolução da personagem, há mais armaduras para encontrar e há uma nova opção que gostei particularmente que é a capacidade dos inimigos acompanharem o nosso nível. Não mais vão achar o combate demasiado fácil porque estão no nível 35 numa área de inimigos de nível 10, uma vez que com esta opção ligada estes sobem também de nível para se tornarem mais difíceis de bater. Se isto não bastar, ainda falta falar no conteúdo inédito que a expansão em si traz consigo para mais umas dezenas de horas de jogo (das centenas que possivelmente já todos temos).

Não querendo revelar muito do enredo, Geralt recebe uma notificação nos painéis de anúncios nas aldeias e cidades por onde passa de que os seus préstimos são necessários. A Duquesa de Toussaint, uma região inspirada no sul de França, está a braços com problemas de monstros na sua lindíssima terra vinícola. E é claro que o caçador de monstros de serviço e a sua fiel espada de prata partem para desvendar mais um mistério. Quem será o monstro que está a matar Cavaleiros de forma brutal e sanguinária? E será que há motivos altruístas por detrás destes infames assassinatos? Pelo meio, Geralt vai ter imensas personagens novas para conhecer e até alguns regressos de aventuras idas.

Ao fim de 30 horas, terão passado por mais de 90 missões, visitado mais de 40 novos locais da província de Toussaint, encontrado mais de 30 novas armas e mais de 100 novas peças de equipamento ou chegado perto do novo nível 100 na progressão da personagem. Se forem como eu, vão querer jogar tudo de forma exaustiva, ouvindo os diálogos sem perder pitada, apreciando os novos locais, repletos de pequenos pormenores, alguns a roçar o nível de insanidade. Vai apetecer-vos reiniciar tudo no New Game +, mas não será o mesmo. Já não terão a mesma surpresa de descobrir as missões e seus desenlaces.

O que é mais interessante nesta expansão, nem é bem onde possa inovar. Além das novidades que já mencionei ao nível do interface e nos menus, a expansão ainda acrescenta ainda outras coisas novas. Por exemplo, podemos pintar armaduras de Witcher na cor que quisermos (as tintas encontrarmos pelo mapa) e há uma nova dinâmica de conquista de pontos de interesse no mapa em que, por exemplo, ao conquistarmos uma importante base de inimigos, diminuímos a influência destes na área circundante. Há também uma nova evolução da personagem com as Mutações que permitem adicionar importantes modificadores ou finalizações às acções de Geralt, entre combate e Signs. Também podem descontrair mais umas vezes em partidas de Gwent com mais cartas para ganhar.

Também é simpático que a produção quisesse dar uma espécie de “casa de reforma” para Geralt. Cedo no enredo, irão receber de presente, não uma mera casa, mas uma inteira quinta vinícola, finalmente com um estábulo para o nosso fiel cavalo Roach. Confesso que lá parei poucas vezes, quase sempre só para guardar algo que não usasse, uma vez que há imenso novo equipamento para acompanhar o nosso nível cada vez mais avançado. Mas fiquei com a sensação que a produção queria mesmo que Geralt se reformasse já ali… pelo menos até um novo monstro assolar uma qualquer aldeia.

É facil concluir que, mesmo com estas poucas novidades, esta expansão não pretende inovar nada. Afinal, The Witcher III é um jogo sólido e a expansão só tem de cumprir o seu papel: Expandir o jogo.

Assim sendo, se as novidades não são nada de extraordinário, o que vale a pena em “Blood & Wine”, acima de tudo, é ser boa desculpa para revisitar a forma como este fantástico RPG nos conta uma história. É impressionante ver onde está hoje o veterano Witcher solitário desde a sua génese. O enredo desta expansão pode nem ser o mais brilhante (aí só mesmo a épica história principal do jogo base, com a caça à Wild Hunt, é que foi realmente grandiosa), mas há uma narrativa sólida a servir de base, onde mesmo as missões secundárias são fantásticas e cheias de diálogos e desenlaces bem realizados, alguns bastante hilariantes, fruto de mais um casting de vozes fantástico.

Por outro lado, está esta nova região de Toussaint, repleta de cor e de alegria, muita gente snob e muita opulência. No lore da série, esta região nunca foi assolada pela guerra e, talvez por isso, as armaduras são mais polidas, as pessoas menos dadas a violência, as cidades menos sujas e os soldados mais românticos. Até a vida animal é bem mais abundante e luxuriante, desde enormes rebanhos de ovelhas, a imensos animais domésticos, sem esquecer os estridentes pavões a abrir as penas. Os campos estão repletos de quintas com moinhos, vegetação exuberante, plantações de uvas e altos girassóis que se estendem por planaltos vastos. Toussaint é um contraste impressionante com a zona de guerra por onde passámos anteriormente.

Até mesmo os monstros são algo diferentes, com algumas histórias de fantasia do nosso imaginário a cruzarem-se com algumas das “bestas” que vamos encontrar nas missões. É como se tudo em Toussaint fosse exagerado e ridículo, que fica claro no tom e palavreado com sotaque francês das personagens que interagem com Geralt. E notem que muito do humor que vão encontrar no jogo é intencionalmente corrosivo. Por exemplo, há uma personagem que vamos descobrir no início que se chama de “Conde De La Croix”, cuja sigla escrita num pedaço de pano é “DLC”. Ora, este “DLC” acaba por sofrer um horrível assassinato, numa subtil piada à guerra real contra o DLC pago que a CDPR sempre se debateu. É só um exemplo de muitas outras piadas e gozo que sempre existiram em toda a série e que marca presença nesta expansão.

O que não teve muita piada foi encontrar alguns erros que persistem desde… bem, desde o primeiro dia. Um deles é o infame erro que faz com que o comando de chamar o cavalo Roach desapareça, obrigando-nos a fazer quilómetros a pé. Segundo parece, nem mesmo a produção sabe o que o causa, sendo esporádico e sem que nada pareça despoletá-lo. Também enfrentei algumas quebras acentuadas de performance na versão analisada no PC. Algumas áreas, como nos novos torneios de combate em arena, possuem tantos elementos que a optimização ficou aquém dos desejável. Nada disto é realmente grave, mantendo-se um jogo incrivelmente estável e com uma performance invejável no geral. Mesmo que, de vez em quando, Roach desapareça até à próxima cena intermédia.

Veredicto

“Blood & Wine” é o culminar de uma aventura fantástica que se despede em grande, não só deste terceiro capítulo, mas também da trilogia de videojogos e enredos paralelos. Até ver, Witcher está reformado e não volta tão cedo. No final desta expansão, há um enorme vazio que dificilmente outro jogo conseguirá preencher. São imensas horas de decisões questionáveis que se ramificam de forma irreparável (a não ser que tenham imensos savegames ao longo do jogo). Toussaint é uma lindíssima região, com imenso para descobrir e onde dá gosto matar monstros, com muita missões interessantes num enredo sólido, nada extraordinário, mas com óptimos momentos. Resta-nos dizer “até sempre” a Geralt e deixá-lo descansar na sua riquíssima quinta, consolidado que está como um dos maiores heróis da história recente dos videojogos.

  • ProdutoraCD Projekt RED
  • EditoraCD Projekt RED
  • Lançamento31 de Maio 2016
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroRole Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • É o último conteúdo para The Witcher 3
  • Alguns pequenos erros menores

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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