Opinião: DLC Pago ou Gratuito?

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Recentemente, vimos a CD Projekt Red anunciar que os 16 conteúdos extra (vulgo DLC) do seu próximo jogo Witcher 3: Wild Hunt serão gratuitos. Segundo a produtora, esta é uma tomada de posição que se coloca ao lado dos gamers, dizendo que é assim que “gostariam de ser tratados”. A Indústria, porém, tem outra opinião e, regra geral, todos os DLC lançados posteriormente à venda do jogo final são pagos. 

Marcin Iwiński, co-fundador da produtora polaca CD Projekt Red, afirmou em Novembro passado que esta decisão é uma “afirmação” contra o que diz ser “injusto” para os jogadores. Já no passado, quem visitasse os fóruns da produtora iria ver uma postura de proximidade para com os jogadores. Muitos dos problemas encontrados nos primeiros jogos da séries Witcher foram apontados pelos próprios jogadores e houve uma reacção muito positiva da empresa. Isto não se verifica sempre em todo o lado, talvez dada a dimensão que algumas produtoras possuem. Algumas, apenas querem ver o lucro…

Portanto, não é de estranhar que os DLC de Witcher 3 venham a ser gratuitos. Mas, que DLC são estes? São horas e horas de jogo extra? São acrescentos ao enredo ou novos níveis? Não, são armaduras, estilos de cabelo, armas alternativas e outros extras pouco significativos. Apesar de não acrescentarem grande valor ao jogo, algumas empresas cobram por este tipo de extras, por vezes com valores ridículos. Quem é que já pagou por uma arma com pintura de leopardo para o Call of Duty por 2€? É de louvar a atitude da CD Projekt Red, mesmo que sejam pequenos extras.

Então, porque pagamos por DLC de jogos se, supostamente, adquirimos uma versão completa? Se esta pequena empresa Polaca consegue oferecer DLC, porque não o fazem todas as outras? E que papel temos nós, jogadores, nisto tudo?

Já uma vez me debrucei aqui sobre os valores injustos que a indústria cobra por DLC, jogos incompletos, prequelas ou mesmo reedições. A lógica é sempre a mesma: Se o jogador persiste em comprar, mesmo sabendo que é uma injustiça, a indústria continuará a facturar e os nossos interesses passam a secundários.

Mascarado num pretenso interesse de “agradar a comunidade”, os DLC são, muitas vezes, apresentados como “extensões do jogo” como que a premiar a lealdade dos fãs. Se assim é, porque cobram, então? A resposta é óbvia. A lealdade dos fãs, neste caso, tem de ser lida como “a disponibilidade financeira de comprar tudo o que seja relacionado com este jogo”. O que não é bem a mesma coisa. Apesar do activismo da CD Projekt Red, as grandes produtoras, distribuidoras e editoras possuem uma agenda muito própria que não passa por agradar aos fãs em primeiro lugar.

Veja-se o caso da Electronic Arts. Esta mega-empresa revelou recentemente que os seus lucros para 2014 “excederam as expectativas”. Mais de metade dos lucros desta empresa no final do ano, vieram do mercado online em que uma boa porção, cerca de 740 Milhões de Dólares (mais de 650 milhões de Euros) vieram de DLC. E no mesmo período de 2015 a empresa prevê um crescimento na ordem dos 24% atingindo os 920 milhões de Dólares (mais de 800 milhões de Euros). E esta tendência já vinha desde 2013, último ano nesta tabela publicada pela EA.

Reparem como os jogos completos, subscrições ou até o mercado dos dispositivos móveis é completamente cilindrado pelo mercado dos conteúdos extra ou DLC. A ideia, segundo a EA é que os jogos base estão em declínio, por isso, mais vale apostar nos conteúdos adicionais. A tendência, ao que parece, é apostar cada vez mais em preços de jogos em caixa ou digitais cada vez mais baixos, apostando nos posteriores DLC como forma de rendimento dos projectos. Esta é, aliás, a fórmula de muitos jogos Free-2-Play em que o jogo chega mesmo a ser gratuito, mas obrigando ou a micro-transacções ou a conteúdo adicional pago.

No meu ponto de vista, isto irá acabar por trazer maus jogos finais ou, pelo menos, incompletos, sob pretexto dos pacotes DLC virem a enriquecer a experiência… com um preço. Por outro lado, a pressão de lançar um jogo completo, deixa de fazer sentido para as produtoras que, assim, terão mais tempo para “espremer a laranja” e lançar umas correcções aqui e ali, enquanto promovem DLC ou os famigerados passes de época.

E o pior disto tudo é que continuamos a comprar e a dar lucro a estas opções de gestão. Ainda há pouco tempo, enquanto elaborava para vocês a análise de Grim Fandango Remastered, recordei como os jogos do passado demoravam a sair e não precisavam de conteúdo extra. Durante muito tempo jogava-se vez após vez. Havia interesse no detalhe e se se justificasse uma continuidade, era um segundo capítulo, não um DLC. Hoje, compra-se um Destiny com uma longevidade duvidosa, fruto da repetição e espera-se que o DLC venha a trazer algo mais. Adivinhem o resultado… Sic Gloria Mundi… 

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