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Análise – Police Simulador: Patrol Officers

Se nos seguem há algum tempo, já sabem que tenho um carinho especial pelos simuladores, nem sempre os mais sérios ou elaborados. Muitos jogos (e mods para jogos) já experimentaram colocar os jogadores na pele de polícias. Police Simulator: Patrol Officers é mais uma tentativa.

Digo “tentativa” porque nem todos os jogos conseguiram realmente criar uma experiência realmente única ou duradoura de uma profissão dedicada à emergência. O mais recente Firefighting Simulator até foi uma boa surpresa neste género mas, dessa feita, foi dedicado à profissão de bombeiro. A actividade policial, porém, por mais interessante e popular que seja, nem sempre foi bem retratada. Tivemos oportunidade de experimentar Flashing Lights que juntou a profissão de polícia, bombeiro e enfermeiro num só jogo, mas foi lentamente abrandando o seu desenvolvimento. Resta-nos este novo Police Simulator para nos dar a derradeira experiência policial. Por agora, está em acesso antecipado no Steam e… nota-se que precisa de algum polimento antes de ser lançado.

A Astragon está mesmo empenhada em editar este tipo de jogos. O seu Firefighting Simulator continua bastante popular, pelo que este outro jogo tem todo o potencial de ser algo igualmente bem sucedido. OK, não podemos julgar esta popularidade como algo avassalador ou que quebre recordes de vendas. Este é um jogo de nicho, uma experiência muito peculiar que não deverá atrair muita gente, simplesmente por causa da sua componente de simulação. Mas, é preciso recordar que existe um mod muito popular para Grand Theft Auto V, chamado de LSPD:FR que faz exactamente isto: simular o dia-a-dia de um agente da polícia. Há potencial aqui, portanto.

Obviamente, este novo título da Aesir Interactive quer pegar nessa popularidade e criar algo seu. O intuito é colocar-nos no papel de uma agente policial numa cidade norte-americana chamada de Brighton, uma cidade típica de qualquer centro citadino nos EUA. Começamos a nossa carreira como um qualquer agente inexperiente, primeiramente a passar multas de estacionamento, mas evoluindo na carreira recebendo tarefas cada vez mais importantes e delicadas. A progressão também vai desbloqueando equipamento e veículos para desempenhar as diferentes funções, ao mesmo tempo que vamos abrindo novas secções do mapa a cada novo nível.

Confesso que os primeiros instantes a jogar Police Simulator são francamente frustrantes. Já vou falar um pouco dos problemas técnicos do jogo, contudo, aquilo que causará maior frustração é mesmo a sua lógica de progressão. Era de prever que a Aesir doseasse a acção, dando-nos interesse em progredir para ganhar acesso a mais e melhores tarefas na profissão. Contudo, passaremos demasiado tempo “presos” a um modelo de jogo que não é atraente para todos. Passar multas de estacionamento até à exaustão, só para desbloquear uma pistola de controlo de velocidade, pode ser algo fastidioso, como devem imagine. Contudo, o problema não reside aí mas sim nas inúmeras limitações para quem quer chegar mais longe mais depressa.

É que o jogo tem um sistema muito limitado de turnos. Cada turno demora em média uns 20 minutos, que parecem muito longos para quem só passar multas a pé, mas que passam num ápice para quem está a realizar outras tarefas. Subitamente, o turno acaba e começamos a ver os pontos de reputação descer. Tudo porque ficámos mais um pouco a tentar somar pontos para progredir. A penalização é evidente para quem quer fazer mais, algo exacerbado por estes turnos pequenos e tantas vezes vítimas de erros, terminando demasiado depressa ou sem avisar o jogador. Se quisermos fazer mais para desbloquear mais, simplesmente não compensa.

Para que melhor entendam a minha frustração, vou falar da minha experiência e evolução no jogo. Comecei por criar um agente, nas opções (muito) limitadas disponíveis (nem mesmo o nome podemos escolher, já agora). Começamos a pé e a passar multas de estacionamento, seja porque o veículo está mal estacionado, seja porque a matrícula passou a validade, seja porque o parquímetro está expirado, enfim, bastante linear. Passei umas boas horas nisto, por vezes ignorando multas, outras vezes com o jogo a errar dizendo-me que passei uma multa errada, quando claramente o veículo está estacionado numa área proibida. Enfim.

Quando finalmente progredi para conduzir o primeiro carro patrulha, comecei a receber tarefas mais complicadas, como faz operações stop, encontrar pessoas procuradas pela justiça ou gerir um acidente. Falando assim, parece bastante aborrecido mas é tudo aleatório e as actividades mais complexas até dão bons pontos para progredir. Lá pelo meio, um pessoa é procurada, foge e temos de a atingir com um taser. Começa a ser mais divertido mas… Subitamente, terminou o turno e temos de voltar à esquadra. Pelo caminho, ouço no rádio a exigência que volte imediatamente e começo a perder pontos. Ao acelerar, levo penalização por conduzir em excesso de velocidade. Atropelo acidentalmente um pedestre e… tenho de reiniciar o dia inteiro… enfim…

Há claramente uma margem para o jogo melhorar bastante no que toca ao equilíbrio entre jogabilidade, progressão e recompensa. Quando tudo funciona correctamente, o jogo até proporciona uma boa experiência, com o “role play” a funcionar relativamente bem, mesmo com algumas falhas de carácter aqui e ali. De um modo geral, tudo tem um tom ligeiro e pouco sério, mesmo nos momentos em que temos de sacar do taser para responder a um meliante que não quer colaborar. A pistola, essa, não a saquei em nenhuma ocasião.

Tenho de referenciar que uma boa porção do jogo ainda não está implementada. Este é, para todos os efeitos um simulador não violento nesta fase. Nem sei porque o agente tem uma pistola, uma vez que em nenhuma situação senti que precisasse dela. É de esperar que a Aesir adicione tarefas um pouco mais delicadas, como tiroteios ou acções mais violentas. E é óbvio que gostaria muito de ter aqui um modelo multi-jogador, nem que fosse cooperativo. Não parece ser esse, para já, o rumo a dar ao jogo. Teremos de esperar para ver o que produção planeia. Mesmo assim, tem aqui uma boa base de jogo para elaborar no futuro.

Claro que sendo um jogo em acesso antecipado, tudo isto está a precisar de muito (mesmo muito) trabalho. Erros de detecção de colisões, diálogos cortados, opções bloqueadas sem razão, erros nas animações, falta de coerência nos diálogos e reacções, muitos “glitches” visuais, enfim, estaria aqui largos minutos a falar de todos os problemas que encontrei. O que não seria justo porque este, de facto, não é um produto final. Ainda assim, por várias vezes vi o meu turno acabar instantaneamente depois de começar, por exemplo. Já para não falar de freezes e ecrãs negros inexplicáveis que me obrigaram a forçar a saída do jogo. Por outro lado, o visual deste jogo é tudo menos consistente.

Tem bons momentos, mas não ganharia nenhum prémio de inovação visual. Digo isto muito por causa dos modelos repetidos, especialmente dos transeuntes, das texturas simplistas e das animações pouco trabalhadas. Também a iluminação e efeitos visuais precisam de muito trabalho. No campo da interacção, tudo é muito “robótico” e a física de condução é falível, não havendo outro possível adjectivo possível, quando fazemos uma curva a 50 milhas por hora e o carro literalmente escorrega sem razão aparente. O som é bastante falível também, com um casting de vozes que se esforça pouco na entoação das falas. Em acesso antecipado e já devem saber o que esperar.

Antes de terminar, tenho de mencionar que o jogo parte de alguns pressupostos. As regras de trânsito nos EUA são muito peculiares, assim como as leis sobre álcool e drogas. Embora o jogo possua uma secção de ajuda que explica muitos destes pormenores, gostava que o jogo tivesse um pouco mais de ajudas. Há um sistema de intuição que falha mais que ajuda, assim como uns pequenos tutoriais rápidos. Contudo, senti-me perdido em algumas situações. Como quando alguém excede o limite máximo de álcool no sangue ou quando a documentação expira. Enfim, exige alguma atenção aos pormenores. Por outro lado não é muito tolerante de erros. Espero que a produção se aperceba deste detalhe e documente melhor as actividades.

Veredicto

Este é um bom exemplo de como as boas ideias precisam de muito trabalho para serem bem implementadas. Se tudo correr bem, a Aesir Interactive vai trabalhar nos problemas de equilíbrio na progressão, nos defeitos técnicos e, acima de tudo na estabilidade de Police Simulator: Patrol Officers. É que por baixo de tudo isto, está um jogo divertido para quem gosta destes simuladores do género “role play”. Não é propriamente um colosso técnico, mas tem boas ideias implementadas que só precisam mesmo de alguma dedicação e o devido apoio dos jogadores.

  • ProdutoraAesir Interactive
  • EditoraAstragon
  • Lançamento17 de Junho 2021
  • Plataformas
  • GéneroSimulação
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Muitos bugs e erros técnicos.
  • Grafismo igualmente a precisar de polimento.
  • Progressão a precisar de revisão.

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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