Análise – LEGO Star Wars: The Skywalker Saga
Finalmente, a saga está completa. A TT Games e a Warner Bros. adiaram LEGO Star Wars: The Skywalker Saga durante tanto tempo, que chegaram a haver dúvidas se um dia chegaria. Ela aqui está, pronta para conquistar a galáxia muito, muito distante… e os fãs.
A fórmula dos jogos LEGO da TT Games é bastante interessante. Não interessa qual a franquia ou o tema que aborda, é sempre um jogo muito divertido e, curiosamente, apetecível para várias idades. Sim, os blocos de construção são orientados para os mais novos e é óbvio que os jogos são igualmente moderados no conteúdo, com uma mensagem bem mais “juvenil” do que as histórias originais. Ainda assim, é inevitável que os fãs mais graúdos também se sintam atraídos a estes jogos. Ainda para mais, é a oportunidade única de reviver a Saga num jogo.
Mas, calma com as ambições. A nível de histórico nesta franquia, tivemos um jogo em 2005 dedicado à trilogia das prequelas, depois em 2006 foi lançada a segunda parte com a trilogia original. Seguiu-se em 2007 a saga completa com os seis capítulos recompilados. Em 2011, tivemos um jogo dedicado à popular série Clone Wars e quando The Force Awakens se estreou em 2016, o inevitável jogo dedicado foi também lançado. Depois… nada. Os episódios VIII e IX chegaram ao cinema mas não tivemos a esperada adaptação. O que foi anunciado foi toda a saga numa compilação.
E isso fez crer que viria aí um título gigante em proporão. Afinal, cada jogo nesta série contou a história praticamente completa dos filmes que abordou. As duas primeiras trilogias, claro, representavam os filmes um pouco mais compactados mas quase todos os eventos eram contados e revividos de uma forma quase linear, com uns poucos momentos abreviados a bem da fluidez na narrativa. The Force Awakens foi, de facto, o mais exaustivo a contar a sua história, quase paralela aos eventos do filme. Seria de esperar que este jogo de 2022 fosse igualmente exaustivo, certo?
Nos dias que correm, as adaptações directas de filmes são um pouco complicadas de executar. Regra geral, os jogos são oferecidos em doses mais ou menos reduzidas, deixando o grosso do conteúdo somente para os mais dedicados. Há jogos com centenas de horas de jogo disponíveis, mas cuja campanha se resume a uma duração bem mais comedida. A ideia não é bem cortar no conteúdo básico, será mais uma ideia de torná-lo menos fastidioso, especialmente para os mais novos que arriscam passar horas a olhar para o ecrã.
Com tudo isto que já disse, já devem estar a adivinhar que The Skywalker Trilogy não é bem um recontar linear dos nove filmes de forma perfeitamente paralela. De modo a acomodar as três trilogias (Prequelas, Original e da Disney), o jogo age como um resumo de certa forma sucinto das histórias originais. Não há nenhum desrespeito pelo material original, notem, apenas uma abreviação da maioria dos eventos, omitindo alguns momentos menos entusiasmantes e, claro, aligeirando alguma da tensão dos momentos mais trágicos.
Esta fórmula resulta num jogo “byte-size”, bastante casual e que, claramente, não pretende contar a história de forma profunda. Junte-se a isso o costumeiro humor da série que “agiliza” bastante algumas cenas e temos uma história compactada, simpática e claramente desenhada para os mais novos. Os fãs mais dedicados dos filmes, obviamente, encontrarão imensas imprecisões e omissões. No rigor, porém, este não é um recontar rígido das histórias. É uma revisita no universo simpático da LEGO e para todas as idades. Com isso em mente, perdoarão muita coisa.
Aliás, notarão que é até possível jogar os episódios de forma aleatória. Embora tenham de jogar sempre o primeiro episódio de cada trilogia, não precisam começar na ordem pré-determinada pelo lore, ou seja, a Trilogia das Prequelas (episódios I a III), a Trilogia Original (episódios IV a VI) e a Trilogia Disney (episódios VII a IX). Cada episódio possui cinco missões de história num total de 45 níveis, intervalados com hubs que agem como mundos abertos à exploração para encontrar coleccionáveis e angariar os famosos “studs”. Este hubs, já agora, são diversificados, desde Naboo a Exegol, entre outros locais icónicos da Saga.
Isto não significa que o jogo num todo tenha um tamanho reduzido. Se jogarem só as campanhas de cada filme, sim, é um jogo relativamente rápido de jogar, com menos de duas horas por cada filme. Contudo, é na exploração de cada hub que reside o “miolo” desta aventura. Há tanto para coleccionar e descobrir em cada nível, que é bem possível que terminem toda a campanha e sintam que ficou imenso por fazer. A título de exemplo, terminando o primeiro episódio da saga sem qualquer tipo de exploração dos hubs dá-vos menos de metade na percentagem de completado.
Por outro lado, há um claro convite à repetição dos níveis. Além dos locais e momentos das histórias dos filmes, teremos cerca de 300 personagens para desbloquear e isto tem um propósito. Embora no modo de história sigamos os eventos com as personagens correctas, como sempre, no modo de jogo livre em cada nível, podemos escolher “misturadas” estranhas, como libertar Naboo enquanto Boba Fett ou visitar a Death Star enquanto Yoda. Há, contudo, alguns segredos e passagens escondidas que só algumas personagens opcionais conseguirão resolver.
E há mais personagens. Estão previstos mais sete pacotes de personagens adicionais até meados de Maio, estando já quatro disponíveis, um deles para quem pré-encomendou o jogo. Notem que são apenas pacotes com algumas personagens de outras histórias, como a série The Mandalorian, Book of Boba Fett, Rogue One, etc. É só mais um pretexto para jogarmos com personagens que mais gostamos, não adicionado rigorosamente mais nada à jogabilidade no geral. Gostava muito ver uma expansão concreta com locais e momentos dessas outras histórias mas, não é o caso.
Uma das novidades mais notórias neste jogo em comparação com os demais da série, é a nova posição da câmara. Nos jogos anteriores a câmara era bem mais ampla e longínqua, com algumas secções de câmara fixa. A ideia sempre foi dar aos jogadores a perspectiva de um diorama LEGO animado em que podemos “brincar”. Neste jogo, a câmara está mais baixa e próxima das personagens ou das naves. Dá ao jogo uma dinâmica mais “intimista”, mais próxima da acção ou, pelo menos, é essa a intenção. Infelizmente, esta nova perspectiva tem os seus revezes.
Além da câmara exigir alguma manipulação adicional, por vezes fica tapada por objectos ou numa perspectiva que não ajuda muito. Por outro lado, o plano mais fechado de algumas secções dá a entender que as áreas de jogo são menores. Não é bem o caso, é só mesmo uma questão de perspectiva. Estamos habituados a planos mais gerais e abertos, pelo que a sensação é que os níveis foram reduzidos em dimensão. Devem também ter atenção que os planos mais fechados geram também alguma desorientação pontual em níveis mais claustrofóbicos.
Estas restrições na câmara de jogo são ainda mais negativas quando jogamos em modo cooperativo. Aliás, diria que a câmara estraga completamente a jogabilidade a dois. Como devem imaginar, os planos são ainda mais fechados dada a divisão do ecrã. Certos níveis tornam-se desnecessariamente complicados de navegar por causa disto. Por outro lado, nem todos os níveis foram desenhados para duas personagens, especialmente em secções com foco no combate com bosses, fazendo com que uma personagem tenha toda a acção e a outra seja quase espectadora.
Já que falo no combate, notarão logo de imediato que esta interacção foi bastante refinada. Nos jogos anteriores, bastava pressionar num ou dois botões para os bonecos agirem. Agora, as personagens que tenham um sabre de luz, por exemplo, podem agora efectuar combos ou até arremessar a arma com recurso aos gatilhos. Por outro lado, quando temos personagens com blasters, o jogo transforma-se habilmente num “third person shooter”, com um sistema de cobertura e uma perspectiva sobre o ombro mais precisa com uma retícula a agir como mira.
No que toca ao combate com naves, não podiam faltar imensas secções divertidas com os mais diversos momentos extraídos dos filmes. Nunca passará de moda a famosa “trench run” para tentar destruir a Death Star. O que mais gostei foram os combates aleatórios, por exemplo quando um Star Destroyer chega e lança caças para combatermos enquanto deambulamos por um dos vários Hubs do jogo. Toda a acção é, como seria de esperar, perfeitamente arcade mas não deixa de ser divertida quanto baste.
Sabemos que estamos perante um jogo para um público mais juvenil quando notamos que o nível de dificuldade não é assim tão exigente quanto isso. É impossível “morrer” neste jogo, por exemplo. Se a personagem perder toda a energia, desmancha-se e os seus “studs” espalham-se pelo ecrã mas, não há um “game over” em lado nenhum. Tudo retoma onde a acção parou, sendo até possível recuperar os ditos “studs”. Por outro lado, os puzzles e níveis mais engenhosos não nos desafiam realmente. Enfim, é mais um pormenor a reter para quem gosta de algo mais “cerebral”.
Neste plano da dificuldade, não senti uma evolução concreta na jogabilidade. Aliás, não creio que haja grande vantagem no esquema de evolução disponível. Seria de esperar que, quanto mais os níveis avançam, mais exigentes se tornam. Mas, não é o caso. Evoluir as personagens permite obter algumas ajudas adicionais, como uma maior distância para absorver “studs” ou visualizar a posição de coleccionáveis à distância. Só mesmo quem pretende fazer 100% do jogo é que realmente se vai preocupar com esta árvore de evolução.
Por último, a parte técnica. Seria praticamente impossível criar algo “foto-realista” num jogo baseado em personagens e objectos feitos de blocos de plástico. Contudo, é possível criar um efeito semi-realista, misturando efeitos credíveis com os detalhes visuais fantásticos que esta Saga sempre nos trouxe. Diria que a TT Games conseguiu realmente transmitir uma sensação única de renderização de “brinquedos vivos”, no ambiente único dos filmes. Arrisco dizer que este é, de longe, o jogo mais visualmente soberbo da franquia LEGO.
Tudo fica complementado com o áudio, claro. A banda-sonora dos nove filmes, que inclui os temas mais emblemáticos de personagens, batalhas e momentos, está cá, pela mão do lendário compositor John Williams. Há, no entanto, diversos cortes e edições que, francamente, podiam ser menos notórios, especialmente para os fãs. Por outro lado, lamento que muitos dos actores convidados para dar voz às personagens não sejam os originais, nem que fossem gravados dos filmes. É que nem todas as vozes são realmente semelhantes aos actores originais.
Veredicto
Qualquer fã da saga maior do cinema conseguirá apreciar LEGO Star Wars: The Skywalker Saga. É uma oportunidade única de revisitar personagens, locais e momentos icónicos desta franquia inesquecível, com um cuidado enorme em dar-nos uma jogabilidade e envolvência divertidas. Contudo, a história é algo compactada num formato “light”, sendo também bastante moderada, facilitada e pouco desafiante, também por causa do seu público-alvo. Por outro lado, as novidades não funcionam sempre como pretendido. Mesmo assim, nos seus defeitos é um jogo fantástico, perfeitamente recomendável para fãs de longa data e para os que só agora chegam à galáxia muito, muito distante….
- ProdutoraTT Games
- EditoraWarner Bros.
- Lançamento5 de Abril 2022
- PlataformasPC, PS4, PS5, Switch, Xbox One, Xbox Series X|S
- GéneroArcade, Aventura
Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.
Mais sobre a nossa pontuação- Os nove filmes num só jogo.
- Muito humor ligeiro que nos força o sorriso
- Muito para fazer para quem quer completar 100%
- História dos filmes algo compactada
- Nova câmara não funciona sempre
- Algumas questões com o áudio
Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.