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Análise – Ghostrunner II

Como o primeiro jogo, jogar Ghostrunner II pode ser um acto de diversão… ou masoquismo. A One More Level volta à carga com a mesma fórmula, agora elevada a outro patamar e outra extensão.

Lendo a minha análise ao jogo original, fica bem claro que o primeiro Ghostrunner não era para todos os gostos. Sim, eu bem digo que é “surpreendentemente viciante” mas também digo que é “injusto em algumas lógicas“, resultando num “desafio que tem tanto de frustrante, como recompensador“. Este conceito é, textualmente, a melhor definição possível para as suas mecânicas de jogo. São tanto frustrantes como recompensadoras, resultando numa reacção de amor/ódio pela oferta. Contudo, em 2020 houve surpresa pela novidade. Três anos depois, perdeu-se esse elemento surpresa e os argumentos teriam de ser outros.

Obviamente, nesta senda dos jogos que adoram matar os jogadores, temos de fazer uma chamada aos sofríveis “souls like”, cuja morte do jogador é, não só uma constante, como um óbvio elemento eliminador dos potenciais jogadores menos dedicados. Enquanto que, para muitos, jogar bem estes títulos penalizadores é mais uma questão de estratégia e paciência, em Ghostrunner é claramente uma questão de perícia e destreza. Por isso, há três anos encontrei um bom equilíbrio a jogar, insistindo no jogo ritmado e quase instintivo que oferecia. Mas, os tempos são outros.

Este continua a ser um jogo de acção rápida na primeira pessoa, com golpes de katana, parkour e saltos por plataformas, a correr de forma frenética para chegar ao próximo andar ou ao próximo sector. Tem uma banda sonora e arte cyberpunk de arregalar o olho, com um nível de rigor visual igualmente impressionante. Mas não se fiquem a apreciar as vistas. A sua margem de erro é ridiculamente pequena, obrigando a passar de nível de forma perfeita ou verão o ecrã de carregamento mais vezes que conseguem carregar nos botões para atacar meliantes. Isto porque, um único golpe, tiro ou impacto sofrido, causam morte instantânea.

Com este resumo já estão a perceber porque tanto o primeiro jogo como este são, de facto, para gostos muito específicos. Façam tudo no timing impecável e terão uma passagem fluida pelos vários níveis, chegando ao final cheios de adrenalina. A alternativa é nem sequer passarem o primeiro estágio. Diria mesmo que nem passam do primeiro salto, uma vez que este jogo não é nada apologético a mostrar o seu verdadeiro intuito: matar-vos. Se isto funciona bem em “souls like” porque podemos adoptar outras estratégias ou estudar melhor o ritmo, aqui há só um rumo a tomar.

É que os níveis são sempre bastante lineares e, mesmo que possam atacar inimigos numa ordem diferente, acabam sempre com os mesmos objectivos e a lidar com as mesmas mecânicas. Ou amam o jogo logo nas primeiras horas e não o largam de tão viciante que pode ser ou já o desinstalaram. Com este segundo título, esperei sinceramente que a One More Level revisse a oferta repetitiva e talvez tornasse o jogo menos frustrante sem que forçosamente o tornasse mais fácil de jogar. Ao invés, preferiu fazer mais… o que nem sempre significa fazer melhor.

Um ano após os eventos do primeiro jogo, Jack está de volta à torre Dharma de espada em punho. No vazio de poder deixado pela eliminação da Keymaster, agora há um culto de cyber-ninjas baseado numa inteligência artificial que decide partir para a violência. O objectivo desse culto é projectar um novo futuro para a Humanidade… não propriamente com os seus melhores interesses. Obviamente, Jack terá uma palavra a dizer e… uma lâmina para desembainhar.

Este não é, claramente, um jogo para se seguir uma narrativa profunda. Na maior parte do tempo, a história é quase como uma justificação da nossa persistência, como um ténue fio condutor para dar sentido ao tempo que perdermos a insistir em carregar no botão para reiniciar os checkpoints. É também uma trama que demora a desenvolver-se e a trazer elementos que nos façam avançar na história. Cumpre o objectivo de nos contar os eventos do jogo mas não esperem grandes desenlaces.

Para mim, o maior problema deste segundo jogo é que, ao invés de apenas capitalizar na oferta com a qual o primeiro Ghostrunner nos conseguiu surpreender, decidiu também expandi-la. Mas fê-lo de uma forma pouco concertada. Por um lado, temos novos elementos de jogabilidade, que é algo bem vindo, mas por outro lado há uma aumento desnecessário na dimensão dos níveis de jogo. Por causa disso, apesar do ritmo continuar bastante elevado na acção, a passagem pelos níveis tornou-se demasiado morosa, por vezes até fastidiosa se não entenderem bem a “dança”.

Há mesmo secções que achei exageradamente grandes, como se a produção quisesse apenas expandi-las sem acrescentar nem conteúdo, nem justificação, é só mais uma porção de jogo para aumentar o tempo. Isso, no entanto, não significa que o jogo seja mais difícil, é só mesmo mais chato em algumas secções que podia ser bem menores e, assim, mais equilibradas. Diria mesmo que, se os níveis fossem cortados pela metade, a sua jogabilidade original em conjunto com os novos elementos, tornariam o jogo bem mais interessante de seguir. Assim sendo, fica a ideia que a produção só quis “esticar” até onde era tecnicamente possível.

Felizmente, os níveis vão variando de aspecto, objectivos e até de desafios. A novidade mais premente que a produção claramente destaca nas suas promoções, é o novo combate veicular, usando o ritmo herdado da acção a pé em motas a alta velocidade. Uma vez mais, é preciso destreza, uma vez mais poderão morrer por cometer erros. Mesmo assim, não deixa de ser uma excelente variante da acção mais linear. Também temos curiosos embates com bosses, que só tenho pena que sejam tão esporádicos na sua aparição. E é mesmo aqui que vão experimentar as novidades que Jack aprendeu nestes últimos três anos.

Há novas habilidades muito interessantes e modificadoras da jogabilidade, como as estrelas ninja com corda para subir a locais mais complicados, ou hologramas para ludibriar os incautos. Há também alguns perks para diminuir os cooldowns dos poderes ou aumentar temporariamente a velocidade dos movimentos. É realmente aqui que o jogo oferece uma certa medida de estratégia, podendo optar por melhorias diferentes para abordagens diferentes. E notem que há muitos chips para aumentar algumas capacidades cibernéticas do nosso ninja.

De resto, há peças para coleccionar pela Torre, assim como vários ítens de cosmética para desbloquear. Confesso que não perdi muito tempo com estes elementos mas os adeptos dos “100%” irão certamente apreciar essa camada de jogabilidade. Uma vez mais, a frustração de algumas secções mais exigentes e a dimensão exagerada de alguns níveis talvez façam muitos desistir de tentar procurar por estes elementos. É mais um ideia para preencher o jogo com conteúdo, quanto a mim algo descartável.

Mesmo com estes problemas, não terão nenhuma dificuldade em apreciar o aspecto geral de Ghostrunner II. Considerando que o primeiro jogo começou por ser um projecto independente que ganhou outro protagonismo, a qualidade visual é algo que só está ao alcance dos orçamentos mais altos. Essa qualidade gráfica e a sua fluidez, diga-se, que num jogo com acção tão frenética é extremamente importante que não falhe no ritmo, cria momentos fantásticos. Testei a versão PC deste jogo e fiquei sempre bem impressionando pelo grafismo e pelo áudio do jogo.

Veredicto

Quando se tenta dar continuidade a um sucesso, ainda por cima com um orçamento bem mais composto, é bom que se inove ou adicione algo mais de forma consciente. Ghostrunner II até consegue inovar na sua principal oferta, a jogabilidade tão desafiante, tão penalizadora mas, ao mesmo tempo, tão recompensadora. Mas, entretanto, também se “esticou” além do que era razoável, tornando o seu famoso ritmo rápido quase irrelevante, graças à dimensão exagerada dos níveis. Por outro lado, é ainda um jogo divisor que não terá uma audiência facilmente rendida. Por tudo isto, diria que consegue o triste paradoxo de ser mais… mas não melhor.

  • ProdutoraOne More Level
  • Editora505 Games
  • Lançamento26 de Outubro 2023
  • PlataformasPC, PS5, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Plataformas, Puzzle
ok
OK

Podia ser melhor mas tem alguns pormenores positivos que podem agradar a muitos jogadores.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Dimensão dos níveis
  • Repetitivo, não é para todos os gostos
  • Alguns inimigos demasiado infalíveis

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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