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Análise – Final Fantasy XVI

A série Final Fantasy tem vindo a mudar alguns paradigmas, quase dogmas outrora intocáveis nestas histórias lendárias. Final Fantasy XVI é o melhor exemplo do amadurecimento da franquia que a Square Enix projectou.

Entanto toda a gente falava de como o remake de Final Fantasy VII era tão diferente do original, poucos perceberam o novo rumo traçado. Esta franquia já tinha entrado num novo registo um pouco mais sombrio com o 15º capítulo, vendo esse tom bem mais sério afirmado em Stranger of Paradise. Sim, a Square Enix quer descolar-se da fórmula original mais “juvenil” mas, apenas um pouco. Sempre que se fala de alterar paradigmas, algures um fã tem um arrepio, bem sei. Contudo, é a minha opinião que estas novas histórias mais adultas só fazem bem a esta série tão emblemática, mesmo arriscando perder alguns fãs pelo caminho.

O mundo de Valisthea está mergulhado na guerra. A busca por cristais que conferem poderes mágicos e a ausência do bem maior, o Aether, colocaram nações inteiras em conflito, levando ao colapso da civilização. Na vanguarda da destruição, estão poderosos seres gigantescos, os Eikon, que são controlados por humanos dotados, os Dominants. Cada Eikon representa um dos quatro elementos, Terra, Água, Ar e Fogo, tornando-se simultaneamente armas de destruição maciça e enorme força de intimidação ao serviço da nação que o controla.

Os lados do conflito são, portanto, dominados pelos jogos políticos e investidas militares. O Grão Ducado de Rosaria tem a sua arma na pessoa do pequeno Joshua, o Dominant da Fénix de fogo, ainda muito jovem mas prestes a suceder ao seu pai. Os demais reinos possuem os seus próprios Dominants que, ou servem o seu propósito, ou são compelidos a tal. Somos levados a crer que Rosaria é um reino que busca a harmonia e a paz mas é inevitavelmente levado ao conflito. Num acto inesperado, esse conflito chega mais cedo que o que todos previam.

Acompanharemos a história de Clive Rosfield, filho do Duque de Rosaria, irmão de Joshua. Como primogénito, deveria ser Clive o Dominant do reino. Todadia, tendo falhado nos testes, Clive acaba como protector de Joshua, estranhamente mal visto pela sua mãe. Numa noite em que Rosaria se preparava para uma missão de rotina, porém, um ataque surpresa cria uma autêntica tragédia com repercussões impensáveis. Alguém conseguiu o impossível e tomou controlo de outro Eikon de fogo, um Ifrit. Infelizmente, a Fénix não tem qualquer hipótese.

A história de Clive continua, anos depois destes eventos trágicos, agora como escravo nas mãos do inimigo. Numa missão arriscada, porém, o herói destroçado com o poder de usar magia sem recurso aos cristais, encontra uma entidade que o faz pensar duas vezes. Entre a ameaça dos seus escravizadores e a hipótese de fuga, Clive não hesita. Não só se estende no seu caminho a chance de vingar a sua família, como ainda é possível acabar com toda a guerra e trazer de volta a paz que Valisthea tanto precisa.

O resto da história deixo para descobrirem. Devo dizer-vos que este é um dos melhores enredos que pude acompanhar num título Final Fantasy. Não apenas pelos desenlaces absolutamente repentinos e inesperados, como também pelo tal tom mais sombrio, francamente mais adulto e, de certa forma, um tanto “risqué” que a produção assumiu. Sem querer deixar-vos apreensivos, pensem em Game of Thrones, pensem em todos os seus momentos mais “dolorosos” e ficam lá perto. Claramente, a produção quis chocar e, devo dizer, o resultado é muito empolgante.

Obviamente, nem todos irão gostar do novo tom, bem mais rude, mais ofensivo, mais sexualizado até. Não se preocupem que não há sexo explícito no ecrã… apenas não deixem a criançada por perto. De facto, não estou habituado a isto num jogo desta série e é raro encontrar este tom mais arrojado num jogo de origem Nipónica. Se esta nova era mais adulta funciona, só o tempo dirá. Embora, pessoalmente, eu tenha gostado da audácia, os leitores desta análise mais fãs acérrimos dos jogos anteriores já terão perdido o interesse.

A influência das obras de George RR Martin é por demais evidente em várias partes do jogo, aliás. O design medieval é de caras mas também temos o conceito dos seres mágicos como armas de guerra, quais dragões Targaryen, passando pelas muitas jogadas políticas e até o mapa de jogo dá uma certa “vibe” da introdução da série de TV da HBO. Contudo, a sua estrutura sobrevive bem às analogias, nunca parecendo mesmo um plágio. Contém ainda alguns elementos “silly”, como os cavalos trocados por chocobos, alguns deles com armadura.

Se há algo em que esta nova fórmula peca um pouco, é que demora algum tempo a desenvolver-se e a tornar-se verdadeiramente interessante. As longas cenas intermédias, muitos diálogos e combates curtos (sobre os quais já falarei), especialmente no início, poderão criar uma impressão menos positiva de quem espera algo mais “mexido”. Subitamente, o ritmo acelera… para abrandar novamente logo a seguir, como uma viagem numa montanha-russa mas, de espada em punho e alguma paciência pelos momentos mais mortiços. Garanto que valerá a pena, tenham paciência.

Pela primeira vez em anos, achei que o casting das vozes localizadas em Inglês roça a perfeição, especialmente o actor Ben Starr que dá voz a Clive. Também a banda-sonora épica de Masayoshi Soken assenta na perfeição, com arranjos sinfónicos absolutamente brutais. Contudo, para mim o elemento mais impactante nesta nova entrada é, sem dúvida, o dos companheiros. Muitos jogos desta série criam ênfase nos companheiros do protagonista mas em FF XVI esta dinâmica está no seu auge. Cid, Jill, Gav e o cão Torgal são excelentes componentes da experiência no geral.

Tudo isto é válido, mas é claro que muitos pegam nestes jogos pelo seu combate. Numa primeira abordagem estarão perfeitamente familiarizados no tipo de acção que vão encontrar, uma vez que é virtualmente idêntica a FF XV e aos títulos da franquia lançados posteriormente. Contudo, aqui o combate é bem mais refinado, apostando num lógica de ataques directos, desvios e magia, esta centrada no poder de Clive de usar os poderes de elementos dos Eikon. Com a devida evolução, tantos os golpes de espada como os poderes tornam-se ainda mais destrutivos e “fantabulásticos”.

Para facilitar, temos um esquema simples de selecção destes poderes, desbloqueando mais habilidades ao jogar, tornando Clive mais poderoso e impressionante. Os combos são relativamente simples de aprender e em breve serão autênticos mestres, também porque o jogo cria uma mescla de poderes e ataques convencionais para facilitar a interacção. Tudo está afinado com imenso rigor, tirando pleno proveito das capacidades hápticas do muito bem implementado comando DualSense.

Apenas não gostei muito de alguns eventos durante as cenas intermédias que mais não são que meros Quick Time Events glorificados. Os nossos leitores assíduos sabem bem como odeio QTEs. Tudo bem, neste jogo estão devidamente “camuflados” em eventos sequenciais que resultam (ou não) em ataques ou defesas de arregalar o olho. Se acertarem no momento certo, conseguem um contra-ataque espectacular. Enfim, não deixa de me aborrecer mas, vá lá, a recompensa é vistosa.

Por esta altura, já entenderão que, sim, adorei jogar Final Fantasy XVI, mesmo com toda a alteração do tom, mesmo com alguns momentos mais arriscados na trama e uma simplificação na acção. Tudo porque, na PlayStation 5, este é também um jogo absolutamente genial a nível visual. Tudo emana polimento e qualidade, sem nunca se ressentir do caos que se passa no ecrã. Apesar de notar ligeiras perdas de performance no modo que aposta no grafismo (há outro para se focar na performance), diria que a SE conseguiu espremer tudo o que a consola tinha para dar. E é mesmo isso que queremos num título exclusivo de uma plataforma.

Veredicto

A espera valeu mesmo bem a pena. Final Fantasy XVI é mesmo um dos melhores desta franquia, um dos melhores JRPGs dos últimos tempos e no topo dos jogos para este ano. Talvez o seu novo tom mais sombrio não agrade aos veteranos da série mas até estes deverão reconhecer que a enorme jogada de risco da Square Enix tem o seu valor. Se nunca jogaram um título desta franquia, devem começar por aqui. O conceito, a história, o visual, o áudio, pouco falha, num jogo que teve claramente uma enorme intenção de nos surpreender… conseguiu.

  • ProdutoraSquare Enix
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento22 de Junho 2023
  • PlataformasPS5
  • GéneroAcção, Aventura
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Simplesmente imperdível, candidato a jogo do ano.

Simplesmente imperdível, candidato a jogo do ano.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Quick Time Events
  • Chocobos com armadura...

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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