StrangerofParadise (hd)

Análise – Stranger Of Paradise: Final Fantasy Origin

Que Final Fantasy é já uma série de culto, não há dúvida. Mas, quem jogou o seu primeiro título? Porque a série já tem 25 anos de vida, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin vem recontar a primeiríssima história que deu origem a tudo.

Embora não seja um “remake” do primeiro título de 1997, é claramente um “recontar” da história original, dando-lhe um novo rumo pela mão da Koei Tecmo e da experiente Team Ninja. Poder-se-á dizer que é um “spin-off” com inspirações nas tais origens de Final Fantasy. Se o primeiro jogo desta franquia, um clássico intemporal precisava ser recontado, é algo para discutir noutra altura. O primeiro jogo estreou na velhinha NES, com um grafismo e jogabilidade actualmente impossíveis. Contudo, a Square Enix não quis deixar essa história no esquecimento. E os fãs têm aqui uma outra oportunidade de conhecer o jogo que gerou um autêntico culto.

Jack Garland faz lembrar qualquer outro herói relutante e estereotipado de Final Fantasy. A sua missão é uma só: destruir um tal de Chaos quem há muita certeza se sequer existe. A sua missão é quase inumana, porque esse tal Chaos é personificado num ser impossivelmente monstruoso e com um poder aparentemente invencível. Contudo, há uma profecia que circula no reino de Cornelia que diz que quatro “Guerreiros de Luz” haveriam de derrotar o Chaos, usando quatro pedras mágicas do quatro elementos: Água, Fogo, Terra e Ar.

Jack encontra Ash e Jed, também eles possuidores de uma pedra mágica que parecem confirmar as suas identidades. O quarto guerreiro, por seu lado, é encontrado por coincidência. Neon decide assumir o papel de Chaos e é perseguida pelo trio. Quando é derrotada, não só se revela, como decide juntar-se ao grupo, depois de conferir que a sua pedra mágica vibra na presença dos outros heróis. Embora a profecia fale de quatro paladinos com as suas pedras mágicas, uma quinta personagem também se juntará. Partamos do princípio que as profecias de Final Fantasy não são escritas a tinta indelével, ok?

Como não podia deixar de ser, Jack tem dúvidas se esta pandilha de improváveis guerreiros faz mesmo parte de alguma profecia. Contudo, a sua missão coincide com os seus próprios planos. Depois do Rei de Cornelia os incumbir na tarefa de travar Chaos, os heróis alinham os seus interesses com os do reino. Os quatro (mais um) partem pelos vários reinos em busca de pistas acerca de Chaos, atacando também os seus aliados. Ao bom jeito desta franquia, contem com piratas, elfos e monstros… não estou a gozar. Jogaram mesmo “todas as cartas na mesa”.

Como qualquer outro Final Fantasy, esta é uma história de… fantasia… Desculpem a piada fácil mas, de facto, é a melhor explicação do que é este universo tão peculiar. A ideia desta nova aventura veio do veterano Tetsuya Nomura e isso nota-se em quase todos os aspectos da história, inclusive das personalidades de cada herói e vilão do enredo. No fundo, embora seja agora mais virado para a acção e ter algumas diferenças nos desenlaces, o enredo é paralelo ao jogo de 1997. E, mais importante, tem todos os ingredientes que esperam.

O que notarão neste jogo é que tudo nos é trazido sem grandes introduções ou explicações. A forma como a história é contada, diria algo truncada, faz com que as suas partes percam contexto. As cenas intermédias tentam fazer-nos acelerar o passo para a acompanhar mas, em muitos momentos, sentimos que pouco é explicado. Que reino é este em que “aterrámos”? Quem são estas pessoas? Porque é que todos têm este sentido de missão, mas parecem todos relutantes e obtusos, movidos por um enigmático sentido de dever? Bem vindos a Final Fantasy.

Confesso que não me lembro bem do (pouco) que joguei o título original. Na minha pesquisa para esta análise, porém, fiz um comparativo inevitável entre os dois jogos. Obviamente, em termos conceito, estamos completamente além da realidade dos títulos dos anos 90. Contudo, a história pareceu-me algo apressada neste Stranger of Paradise. Tudo bem, o conteúdo e design de um jogo contemporâneo tem outros requisitos. Mas, seria bom que a passada fosse um pouco mais lenta, acomodando quem não se lembra (como eu) ou nunca jogou o primeiro Final Fantasy.

Depois da Team Ninja nos ter trazido o sucesso Nioh, nesse género tão peculiar que é o ARPG (leia-se “souls-like”), rapidamente encontrarão pormenores familiares na jogabilidade de Stranger of Paradise. Em determinados checkpoints simbolizados por cubos voadores, poderão evoluir as personagens e… fazer reset a todos os inimigos na área. Por momentos, essa informação no ecrã fez-me recuar um pouco nas expectativas. Seria este mais um “souls-like” passado no universo de Final Fantasy?

Sim e não. Sim, há de facto elementos claramente inspirados no género de RPG de acção, com muitos traços distintos que nos fazem recordar os Souls. Em especial contra bosses, há uma clara mistura de conceitos mas depois temos os famosos “breakers” e magias que gastam barras de energia, entre outros elementos comuns de Final Fantasy. Temos aqui um certo respeito pelos jogos em que se inspira, com os “jobs” intactos, por exemplo. Mas, depois há algumas inovações, entre avanços e recuos de conceito que nunca serão consensuais entre os fãs.

Outros elementos que reconhecerão são as áreas condicionadas pelo nível das personagens, além das missões secundárias que nos levam a áreas onde já estivemos para cumprir outros objectivos. E é claro que reconhecerão os pontos de salvamento posicionados estrategicamente no mapa, que também nos permitem evoluir as personagens a cada paragem. A dado momento, estava a chamá-los de “bonfires” e os mais atentos reconhecerão o que estou a referenciar.

De Final Fantasy, o jogo empresta os enormes combates com bosses, que incluem fases evolutivas, consoante vamos tirando energia ao inimigo. Na maioria dos casos estes combates com bosses possuem uma escala enorme e muitas cenas intermédias para nos motivar a continuar. Há também muito loot e personalização das personagens, com níveis de raridade. Este loot “cai” de inimigos eliminados, é encontrado em cofres ou é oferecido em determinadas missões.

Tirando os elementos que esperamos num RPG de Final Fantasy, como os diálogos ou interacções, só temos mesmo que pegar nas armas. Este é um jogo que segue a lógica de combate próximo com diferentes estilos. Só jogamos com Jack mas este tem diferentes armas e estilos (“jobs”) para decobrir, além de finalizadores únicos e personalizáveis. Podemos usar ataques directos, deflecções, desvios e poderes mágicos, além dos conhecidos breakers que podem rapidamente decidir um confronto.

As personagens secundárias são mesmo companheiros de acção, não apenas “acessórios” de conversa. Evoluem connosco com base na sua experiência e através do equipamento que vamos angariando. É também possível evoluir toda a gente com uma árvore de evolução que se vai desbloqueando com pontos de experiência. Honestamente, os companheiros fazem imensa diferença e convém escolher bem quem se complementa ao vosso estilo de combate. Já agora, embora sejam quatro Guerreiros de Luz, por qualquer motivo só jogamos com três de cada vez. Enfim.

Gostei bastante da forma como o combate é fluido, sempre a puxar para o bloqueio perfeito e contra-golpe letal. Os breakers, então, são verdadeiramente recompensadores, acumulando força por gastar pontos MP e depois libertados como uma força avassaladora. E ainda temos os movimentos finalizadores que adicionam ainda mais brutalidade aos combates ganhos por Jack e companhia. Esta é uma jogabilidade viciante que só peca um pouco pela sua repetição. Mas, nunca sentimos que estagna, estando sempre a evoluir e a dar-nos mais ferramentas e poder.

De um modo geral, porém, o jogo pareceu-me algo facilitado. A par do já mencionado enredo “apressado”, parece-me que a produção quis que os jogadores “corressem” até ao fim do jogo. Temos três níveis de dificuldade para escolher e inicialmente optei pela dificuldade intermédia. A dada altura, sim, o jogo começa a complicar um pouco e os danos são mais penalizadores. Contudo, especialmente a meio, nunca achei que os encontros fossem realmente desafiantes, fazendo-me mesmo mudar para “hard” para que conseguisse ter alguma “luta” dos inimigos.

Agora, o pormenor que mais me custou ultrapassar. Analisei este jogo num PC, ultrapassando largamente os requisitos técnicos recomendados. Esperei algo na qualidade técnica do já mencionado Nioh ou Final Fantasy VII Remake, por exemplo. Confesso que até há algumas animações e efeitos visuais de arregalar o olho. Contudo, todo o jogo dá uma sensação de estar visualmente datado, com modelação e renderização muito básicas, já para não falar em cenários desprovidos de detalhes, com secções repetidas. Esperava mais, mesmo sendo um “spin-off”.

Mas, o elemento de conceito que mais me aborreceu, foi mesmo a quantidade insana de ecrãs de carregamento, entre cada novo mapa, cada cena intermédia e até entre secções na mesma área. Não são longos, dependendo do vosso sistema, duram meros segundos. Contudo, há momentos que passam por uns quatro ou mais ecrãs de carregamento seguidos. A julgar pela “antiguidade” do visual do jogo, a produção precisa mesmo rever a forma como criam os seus jogos.

Veredicto

Com tantos elementos positivos, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um excelente mescla dos ingredientes que aprendemos a gostar nesta franquia, dando-lhe alguns “condimentos” especiais vindos da experiência da Team Ninja noutros géneros. O resultado é francamente positivo, num jogo divertido e surpreendentemente viciante, se bem que algo facilitado em termos de desafio. Só tenho reparos a fazer ao departamento técnico, claramente pouco inspirado. Este é, mesmo assim, um excelente regresso às origens de uma franquia de culto.

  • ProdutoraTeam Ninja
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento18 de Março 2022
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAventura, Role Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Poucas explicações, história contada "a correr"
  • Tecnicamente datado no PC

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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