Simuladores – DCS: P-47 Thunderbolt

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Continuando na sua busca pela aviação clássica da Segunda Guerra Mundial, a Eagle Dynamics traz-nos um autêntico “cavalo de batalha” da Força Aérea Americana. O P-47D Thunderbolt foi pioneiro de muitas inovações. No DCS World vem enriquecer uma simulação única, cada vez mais rica e variada.

Senão, vejamos: Temos agora ao todo, três aviões do lado da Luftwaffe, o icónico Messerschmitt Bf 109 K-4 Kurfürst, e os dois mortíferos Focke-Wulf 190 A-8 Anton e D-9 Dora. Do lado dos Aliados, passando ao lado do “outsider” Polikarpov I-16, temos duas variantes do emblemático Supermarine Spitfire LF Mk. IX e outras duas variantes do mítico North American P-51 Mustang. O P-47D equilibra assim a balança do lado dos Aliados, colocando-se também como um avião mais dedicado ao combate ao solo. Robusto, imponente, é um dos caças mais pesados a voar nos céus da Segunda Guerra. No DCS, vem trazer poder de fogo, tanto nos palcos Europeus, como do Pacífico.

O P-47 Thunderbolt foi uma excelente demonstração do que é um caça polivalente. Durante a Guerra, cumpriu o papel de caça de escolta de bombardeiros em altitude (versão P-47N) e também de ataque ao solo. Este modelo do mítico fabricante Republic Aviation conheceu inúmeras variantes e versões experimentais, fruto da sua resiliência nas várias missões. Entrou na guerra em 1942, começando operações em Inglaterra para substituir Spitfires pilotados por Americanos. Viu serviço até ao final da Segunda Guerra, tornando-se a versão “D” a mais fabricada e focada no papel de bombardeiro, especialmente contra comboios nazis de abastecimento.

O sucesso do “Jug”, nome carinhoso dado pelas tripulações por se parecer com um garrafão de leita da época, deveu-se, principalmente a dois factores: fiabilidade e segurança. A primeira caraterística assentava num design simples, aprimorado várias vezes, mas também no seu mítico motor radial R-2800 Double Wasp da Pratt & Whitney. Quando à segurança, sem dúvida que a sua blindagem adicional em volta do motor deu mais confiança aos pilotos. Já agora, a título de curiosidade, esta lógica de criar blindagem adicional da Republic viria a ser recuperada no avião que recebeu o mesmo nome de código, um tal de A-10 Thunderbolt II e o seu cockpit blindado a titânio.

Uma das questões de design que irão reconhecer também no A-10 (pelo menos em conceito) é a sua canópia em bolha. Na verdade, até certa altura, todos os P-47 foram produzidos com um design de canópia “razorback”, bastante popular e remanescente do modelo que o antecedeu, o P-43. Contudo, os Americanos viram as vantagens da canópia em bolha desenhada pelos Britânicos para o Hawker Typhoon. Em breve, tanto o P-51 como o P-47 adoptaram também este design que conferia mais visibilidade nas várias fases de combate. A vantagem era tão notória que os pilotos deram outro nome ao avião com a nova canópia, chamando-o de “Superbolt”.

E é exactamente esse o design de canópia que a Eagle Dynamics optou para o seu P-47D. Ao todo, quando estiver concluída a sua produção, teremos três versões deste avião. Por agora, neste acesso antecipado, apenas temos P-47D-30 tardio, uma versão com uma mira K-14, quadrante de potência revisto, painel de lançamento de bombas/químicos e uma barbatana dorsal aerodinâmica na base do leme vertical. Planeados, estão uma variante deste P-47D-30 inicial, este com uma mira Mark VIII, quadrante de potência quadrangular, um painel de bombas mais antiquado e sem essa barbatana dorsal e também o P-47D-40, que já carregará foguetes e tem um novo painel de armamento.

Sentados na cabine deste DCS: P-47D-30, duas coisas saltam à vista nos primeiros instantes. O painel tem inúmeras inovações para facilitar a operação e é bastante espaçoso. De certa forma, se estiverem familiarizados com o DCS: P-51 Mustang, irão seguir de forma lógica este painel. Mas, há algumas diferenças. Ao invés de um arrancador eléctrico do motor, temos de arrancar um solenóide por 15 segundos para engrenar o motor. É um processo que tem de ser feito num timing correcto, com o motor embebido devidamente com o “primer”. Demasiado “encharcado” ou “seco” e o motor não arranca. Falhem o timing do solenóide e o motor não arranca. Injectem a mistura de combustível fora de tempo e o motor não arranca.

Enfim, estamos já habituados a estes pequenos “quirks” dos motores deste lendários aviões. O P-47D acrescenta apenas algumas nuances importantes e únicas neste modelo, como o controlo dos radiadores do óleo e da hidráulica, assim como a abertura dos “cowl flaps”. Mas, nem tudo são complicações adicionais. O avião possui um controlo manual do sistema de turbo (boost), um bloqueado da roda traseira, essencial para os complicados taxis (já lá vamos), assim como um inédito motor eléctrico para abrir e fechar a canópia… é verdade, “vidros eléctricos” em plena Segunda Guerra Mundial, quem diria?

De resto, tudo é perfeitamente linear. Apenas achei que o painel de munição podia ser um pouco mais simples de operar. Apesar dos canhões serem activados num comutador no lado esquerdo na parede lateral, para as bombas há um painel frontal. Não confundam as fivelas frontais vermelhas, essas são para fazer jettison sem detonação. Para largar bombas, levantamos as protecções vermelhas, seleccionamos a munição a largar e carregamos no botão “pickle”. Parece simples, mas obriga a uma preparação algo antecipada. Teremos de esperar pela versão P-47D-40 para ver se a Republic simplificou este painel para algo mais ergonómico.

Gostei bastante do já mencionado bloqueador da roda traseira para taxiar. Noutras aeronaves desta era, para ter o mesmo efeito, temos de puxar o manche para trás. Aqui, a manivela do lado direito é prática, accionando-a ficamos com taxi orientado por travões diferenciais mas, a principal vantagem desta roda é durante a rolagem para descolar, sem necessidade de gerir a posição do manche. A grande questão do taxi, porém, é a extrema dimensão da fuselagem do “Jug”. A sua altura em relação ao chão e a fraca visibilidade dado o ângulo provocado pelo trem de triciclo traseiro, requer muita prática.

Uma vez no ar, nota-se que a dimensão considerável do P-47 exige muito do seu motor radial. Não é um avião para bater recordes de velocidade e a sua frente larga também não lhe faz favores. Não é bem um avião para combates aéreos contra aviões mais ágeis, embora as suas asas elípticas confiram excelentes rácios de volta. Nos meus testes, não ganhei num combate 1:1, sobretudo em manobras directas no chamado “dogfight”. Há um motivo pelo qual o P-47 foi mais usado no seu papel de bombardeiro. Contudo, a par do já revisto Fw190 A-8 do lado alemão, onde estes aviões pecam em agilidade, compensam com… poder de fogo.

Ao todo, o “Jug” desta versão P-47D-30 carrega 8 metralhadoras M2 Browning .50 (12.7mm) que compensam alguma mira mal feita, enchendo o céu de munição na direcção do adversário. Ou seja, mesmo sem a mesma velocidade ou capacidade de manobra, o P-47 podia perfeitamente enfrentar aviões adversários ou, pelo menos, intimidá-los. Apenas tinha de os apanhar a jeito, claro, mas aí depende obviamente das capacidades dos pilotos, sobretudo usando a mira híbrida K-14 (fixa e giroscópica). Adicionalmente, o cockpit blindado deve ter certamente dado uma boa taxa de sobrevivência aos pilotos da versão N que escoltou bombardeiros pesados.

No papel de caça-bombardeiro, porém, as 425 balas destas metralhadoras são bastante mais interessantes. O tamanho da munição pode não ser muito perigoso para blindados, mas para veículos de transporte ou infantaria são projécteis bastante efectivos. Se não bastarem as balas, temos três bombas de queda livre de 500 libras. Infelizmente, mirar para largar as bombas é uma autêntica arte, recordando que nesta altura a melhor estratégia era o mergulho para o alvo. A mira não ajuda muito em voo nivelado para este efeito, afinal. Talvez os foguetes adicionem alguma variedade. Por agora, acreditem, é fácil… falhar.

De notar que a versão que testei deste avião é também uma versão especial que introduz duas novidades. Uma é o novo mapa do Canal da Mancha que falarei noutra análise. A outra é o novo modelo de danos bem mais aprimorado e preciso. Apesar do sistema de danos em particular do P-47D em si precise de alguns ajustes, todos os aviões têm agora danos mais detalhados, que podem ser tão simples como furos da fuselagem ou nas asas, ou até pedaços arrancados, inclusive secções inteiras, como a cauda por completo. Por isso, é muito importante que os sistemas de emergência sejam igualmente detalhados.

Lendo o manual deste avião (como em todas as simulações avançadas), podemos ficar um pouco apreensivos com a quantidade de emergências possíveis, sobretudo as falhas de hidráulica. Já falei das falhas de arranque do motor e também é preciso ter em conta o sobreaquecimento de alguns sistemas críticos. Contudo, em combate também podemos enfrente incêndios, perdas de hidráulica, perdas de combustível ou de óleo, entre outros danos complexos. Embora sejam aviões bem mais simples, são também mais temperamentais. E, por mais que o “Jug” seja um avião robusto, têm de o tratar com o devido respeito.

Por fim, tenho de dar o devido destaque à sonoridade do Thunderbolt. Como já devem saber, a empresa que detém a Eagle Dynamics é a The Fighter Collection. Sem dúvida que, além de imensos detalhes de operação e experiência dos seus pilotos, a frota de aeronaves desta empresa traz imenso acesso privilegiado aos grandes clássicos da aviação. O som gravado deste mítico motor radial, tanto no interior, como no exterior, é fantástico, sobretudo em passagens. Tudo conta para a imersão, inclusive o som do seu imponente motor radial, neste caso dinâmico e que nos faz regressar no tempo.

Veredicto

Este acesso antecipado ao DCS: P-47D-30 Thunderbolt foi uma viagem interessantíssima ao passado. Embora o Thunderbolt não goze de tanta fama como outras aeronaves da época, é um dos grandes aviões que ganharam a guerra. Esta plataforma em particular, mais virada para o ataque ao solo, é uma importante adição para a aviação clássica do DCS World. Carrega poder de fogo suficiente para destruir defesas inimigas e ainda pode dar uma apoio nos combates aéreos. Sem dúvida que é uma excelente aeronave para as batalhas a encenar no novo mapa DCS: The Channel Map.

Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela Eagle Dynamics. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento. As datas fornecidas, assim como previsões de produtos, foram dadas pelos produtores.

Se desejarem conhecer a comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.

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