Patrice Désilets acusa analistas de não jogarem Ancestors: A Humankind Odyssey

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Para quem não conhece, Patrice Désilets é fundador do estúdio Panache Digital Games, cujo grande projecto foi Ancestors: A Humankind Odyssey. E como reacção às más prestações deste título, decidiu apontar dedos a quem analisou o seu jogo.

A “ideia” foi transmitida por Désilets numa entrevista ao site GamesIndustry.Biz. Nela, o produtor afirma que as análises negativas e os meros 65% de agregado no Metacritic, são resultado de “analistas que não jogaram o jogo”. A insinuação é que estes analistas tiveram muitos jogos para a analisar e não quiseram aprofundar a análise ao seu. Mais abaixo, até afirma que alguns inventaram factos como os símios no jogo “não usarem fogo” ou “não poderem andar a cavalo”.

Inventar factos é, de facto, algo grave numa avaliação de um título. Contudo, não acreditamos que, por causa destes pontos, a avaliação tivesse sofrido mais ou menos. Désilets defende-se no início por dizer que os analistas esperavam um jogo tipo Assassin’s Creed (franquia da Ubisoft por onde passou como director) quando o seu estúdio apenas tem 35 pessoas. O que, por outro lado, parece uma confirmação de que, afinal, até acredita que o seu título não tem a mesma qualidade. Ainda assim, não parece permitir que outros o joguem e achem que não merece grande avaliação.

No WASD acreditamos que as análises aos jogos devem basear-se na experiência que proporciona a cada um dos analistas. É por isso que não damos pontuações, bastando as nossas palavras bem claras baseadas nessa experiência, além de darmos justificações para cada ponto positivo ou negativo. Se, por vezes, temos de ser um pouco mais superficiais (não foi o caso com este jogo) é também porque as editoras tardam em nos enviar os jogos e temos de ser sucintos para cumprirmos datas e embargos. Mas, com certeza, não inventamos factos e jogamos os jogos na sua extensão possível.

Por isso, ficámos perplexos com as palavras de Désilets. Não porque nos tenha afectado propriamente o que disse, fomos bastante justos com o seu jogo. O que nos causa perplexidade é a arrogância do pressuposto dos resultados negativos se prenderem com alguma “cabala” contra o seu título, ou algum desleixo geral.

Se, por acaso, houvessem análises díspares, nos dois extremos de avaliação, ou se apenas um punhado de análises não desse uma boa avaliação ao jogo, até poderia haver alguma legitimidade nas suas palavras. Agora, quando todas as análises (sim, nós lemos uma boa parte delas depois desta entrevista) dizem praticamente o mesmo, será que ninguém jogou mesmo este título? Ou jogaram e concluíram que não é assim tão bom?

Temos de admitir que é possível que alguns sites ou blogues não tenham muito tempo para analisar muitos jogos e se fiquem por uma análise “pro-forma” que não faça verdadeiro jus à qualidade do jogo. Agora, que todos os analistas o façam, não só é improvável, como é até insultuoso para quem, como nós, gastou boas horas a tentar decifrar um jogo que, lendo a nossa análise concluirão o mesmo, não é o marco histórico fantástico que Patrice Désilets parece insinuar que criou.

Ancestors: The Humankind Odyssey, como dissemos, “não agrada a muitos”, muito por falta de orientação crónica nas suas lógicas de jogo e pelo pouco esmero técnico no geral. Não foi uma “embirração” com a criação de Désilets, com certeza. Se o jogo fosse brilhante, teríamos concluído isso mesmo. Não é, quanto a nós.

Cabe à Panache encontrar uma fórmula que seja consensual ou, caso contrário, assumir que nunca agradará a todos e lidar com isso de forma construtiva. Arranjar “bodes expiatórios” para o seu insucesso, parece-nos um tanto desajustado.

Até porque as vendas depois também confirmam o que é dito nas análises. Ou os jogadores também não jogaram o título que compraram?

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