Análise: MechWarrior Online

Nos meados dos anos 90, aqui a jovem criança que eu era viciou-se num jogo de mechs chamado MechWarrior 2: 31st Century Combat. Naqueles tempos, controlar um robô gigante com todas as teclas do teclado tinha algo de mágico. Era uma simulação como nenhuma outra até então e os passos do gigante metálico quase que se sentiam através do fantástico trabalho de som que acompanhava o jogo. A acompanhar, a brilhante banda sonora que ainda hoje oiço nostalgicamente através do YouTube.

“All systems nominal!”

A franchise de MechWarrior, que se insere no universo de Battletech, pertencia originalmente à Fasa Corporations, uma produtora americana que desenvolvia jogos de roleplay e de tabuleiro. Entretanto, a franchise mudou de mãos mas o universo Battletech continua irredutível à mudança. Senão conheces este mundo imagina um hipotético Game of Thrones altamente tecnológico em que clãs lutam pelo domínio feudal do universo com enormes bestas mecânicas.

Desde MechWarrior 2, em 1995, existiram mais uma série de sequelas que, sinceramente, nunca foram dignas do nome que ostentavam. Quase duas décadas depois chega finalmente um MechWarrior digno da franchise. Este MechWarrior Online não é perfeito mas faz muita coisa na direcção correcta, sobretudo no que diz respeito à nostálgica jogabilidade que parece vinda directamente de um longínquo (ou futuro se preferirem) 31st Century Combat. Entrar no cockpit do teu mech e ouvir “All systems nominal” é, para os saudosistas, arrepiante!

Sentes-te poderoso dentro do teu Mech, um enorme tank com pernas capaz de sustentar uma boa dose de dano sem que tal te tire o equilibro. MechWarrior Online não é um FPS como Call of Duty ou Battlefield, aqui o peso da tua armadura atribui-te resistência e nunca morrerás com um headshot. Contudo, uma vez que percas só te restará aguardar no spectator mode enquanto vês a conclusão da batalha entre a tua equipa e a equipa inimiga. As mortes aqui são definitivas e não existem respawns.

“Enemy mech destroyed!”

A Piranha Games utilizou o CryEngine 3 como motor gráfico de MechWarrior Online e, para quem ainda se lembra do clássico de 1995, a sensação é arrebatadora sobretudo nos mechs que estão representados a um detalhe nunca antes visto na série. Os cenários são menos marcantes a nível gráfico mas, no entanto, essenciais no que diz respeito à jogabilidade.

A temperatura dos mapas influencia directamente o calor que o teu mech gera – planetas quentes igual a mais calor gerado; planetas frios igual a menos calor gerado – Coisas habituais na realidade, mas não tão habituais nos jogos e comummente esquecidas pelos programadores. Esta é uma adição à maneira, assim como outros factores importantes a ter em conta enquanto customizas o teu mech como o peso, o calor, o poder de fogo, a velocidade, ou os jets. Assumem papel de relevo na adaptação da jogabilidade ao jogador e permitem que os jogadores mais desembaraçados joguem com mechs mais rápidos e aqueles mais calculistas joguem com mechs melhor apetrechados.

Este free-to-play não é propriamente um clássico “pay-to-win” mas gastar dinheiro no jogo ajuda em boa parte. Com dinheiro a sério podes trabalhar o lado estético do teu mech, comprar intensificadores de XP e comprar Hero Mechs. Estes mechs, embora tenham um bónus de currency, não são melhores que o mechs normais ou do que aqueles que podes comprar normalmente jogando ao jogo.

A utilização quase por inteiro do teclado dá-te a sensação de que estás de facto dentro de um cockpit de um mech. É fantástico como, noutros jogos, este poderia ser um factor problemático. Aqui enriquece a experiência como já o fazia em 1995.

Infelizmente, e embora com dois modos de jogo diferentes (Assault e Conquest), MechWarrior Online torna-se numa verdadeira rixa de rua entre mechs inimigos. Não há grande estratégia envolvida e os combates acontecem porque têm de acontecer. Não há objectivos ou missões que enriqueçam a experiência e aparentemente a prioridade é o Player versus Player em confronto directo. MechWarrior Online é, efectivamente, um Brawlfest. A falta de modos é também ela problemática, torna o jogo pouco diversificado e com pouco para entreter para além da customização dos mechs.

A brilhante história que envolve a mística de MechWarrior e que opõe os vários clãs do universo Battletech parece misteriosamente desaparecida em MechWarrior Online. Existe no entanto, um pequeno botão no cabeçalho de um dos menus que sugere a inclusão futura de facções no jogo e que poderá indiciar um bom futuro nesse sentido. Também desaparecida está a mítica banda sonora que acompanhava o clássico de 1995. Para dizer a verdade, este jogo de 2013 nem tem banda sonora!? Mas que raio? Dei por mim a ligar a banda sonora de MechWarrior 2 no Youtube, e depois, aí sim, jogar MechWarrior Online.

Estranhamente também, o tutorial é feito a partir de um site… Isso mesmo, queres aprender sobre o jogo vai ler e ver vídeos no site oficial de MechWarrior Online. Dentro do jogo tens o modo de treino que pouco faz para te esclarecer e te deixa um pouco em modo de desenrascanço. Queres aprender, vai experimentar! Esta despreocupação com o jogador iniciante pode impedir muita gente sequer de gastar mais do que cinco minutos no jogo até porque MechWarrior Online tem uma curva de aprendizagem bem grande.

“System Shutdown!”

MechWarrior Online é um bom jogo mas cuja grande falha em relação ao Universo Battletech é precisamente a falta de referências ao mesmo. Este é um FPS PvP Brawler no mais puro sentido da expressão, onde a maior diferença em relação a outros títulos semelhantes é o facto de toda a acção acontecer dentro de um mech. “Merece a pena experimentar?” – pergunta o leitor atento. A minha resposta é: “Claro que sim! Estamos a falar de um free-to-play.”