WRC8 (4)

Análise – WRC 8

Em cada ano, aguardo pacientemente que a Kilotonn Racing Games e a Bigben Interactive entreguem o seu jogo oficial do Campeonato do Mundo de Ralis (WRC). No ano passado, porém, WRC 8 não apareceu. Adiou a sua curva em slide e a levantar gravilha para este ano. E nós estamos ao volante.

Já temos visto jogos de lançamento anual, sobretudo baseados em licenças sazonais como este título, falharem por completo a inovar a cada tentativa. Há muita margem de erro tendo apenas um ano (ou menos) para concluir um jogo. Inevitavelmente, repetem-se fórmulas e, por vezes, os jogos são apenas actualizações de equipas e carros de um ano para o outro. Contudo, a Kilotonn tem vindo a mostrar que leva esta licença muito a sério nestes últimos anos. Podemos sempre comparar estes títulos com os grandes rivais DiRT ou DiRT Rally da Codemasters e ter uma opinião vincada sobre quem é o vencedor em vários campos. Ainda assim, WRC 8 tem muitos bons argumentos para lutar pelo pódio.

Começo de forma pouco ortodoxa no formato que costumamos adoptar no WASD no que toca a análises. Vou começar pelo que o jogo falha em trazer. E não, não é assim tão grave, mas é de assinalar. O modo online, até à hora desta análise, não estava disponível na cópia analisada no PC. OK! As provas de rali são todas contra-relógio e não há realmente grande formato de competição directa possível para algum modo multi-jogador… excepto nas super-especiais. Aqui entre nós, estas são as provas que mais gosto de fazer em jogos e rali, não só porque são mais rápidas, como são mais confinadas e há um piloto no outro lado a medir forças em paralelo. Impagável.

Queria mesmo convidar um amigo e desafiá-lo. Mas não posso. Pelo menos na versão analisada no PC (via Epic Games Store), o modo está mesmo indisponível e só a opção de jogar localmente em ecrã dividido é que está presente. Não é algo problemático, propriamente, se virmos o resto da oferta (já lá vamos) e levarmos em consideração que os ralis são corridas isoladas. Ainda assim, recordo que desde WRC 6 que a série tem problemas com o online, mesmo considerando que o anterior WRC 7 tinha tanta vontade de vingar nos eSports. Repito, não é algo muito importante, dada a restante oferta. Mas, se está no menu e diz “coming soon“, é uma inegável falha da produção.

Felizmente, WRC 8 é o mais ambicioso da série, com a produção a esmerar-se em trazer mais motivos para nos agarrar ao volante, que apenas um modo ou outro online. Notem que, como já disse, no ano passado nem tivemos um WRC, com a Kilotonn a apostar em V-Rally 4, numa autêntica “pausa” nesta licença. O que, pelo menos em teoria, lhe deu um pouco mais de tempo para aprimorar este lançamento. O “mundo” pode ter perdido um jogo oficial do WRC em 2018, mas esta edição a dar importantes passos na direcção certa. Mas, como em tudo na vida, as ideias até podem ser sólidas mas a execução depende sempre da experiência. E, aqui, ainda roçamos a carroçaria nas fitas limitadoras.

O primeiro impacto quando iniciamos o jogo é francamente positivo. O design dos menus e interface, com uma navegação muito mais polida e intuitiva, é muito bem vindo. O jogo não vai perder muito tempo a colocar-nos ao volante, como uma espécie de “shakedown” para os novos e veteranos colocar a sua perícia no asfalto… ou gravilha, lama ou neve. Já vou falar em pormenor desta condução e do aspecto geral desta simulação. Mas, como primeiro impacto, não está nada mau. Depois desta primeira introdução, o jogo mostra-nos logo onde quer brilhar. Temos igualmente um modo de carreira extenso, que envolve evoluir do WRC Júnior, WRC 2 e WRC 2 Pro para a prova principal do World Rally Championship. Só que agora tudo é… maior.

Não posso deixar de comparar este modo com os mesmos modos dos demais jogos de corridas de automóveis que apostam na gestão de uma equipa. De facto, há agora um certo padrão nos modos de carreira de jogos de condução que parece ser incontornável. Não basta ser piloto e gerir a mecânica do carro, é preciso contratar, manter e tomar decisões nos mais diversos campos de uma equipa de competição, inclusive tendo uma árvore de evolução tecnológica e tudo. É como um role play game de competição automóvel que mistura muitos elementos (demasiados) à equação. A tal ponto, que a Kilotonn acrescenta um modo de carreira opcional sem esta gestão, apenas correndo e pronto. O que, para alguns, até será uma simplificação bem vinda.

Este novo modo de carreira principal gira em torno de um escritório com diversas áreas específicas. Nelas gerimos uma inteira equipa de rali, entre cada treino ou prova. Para nos iniciarmos, podemos optar pela acessível disciplina WRC Junior (JWRC) ou pela bem mais competitiva WRC 2, a plataforma por excelência para as áreas profissionais do WRC 2 Pro e da competição principal. Duvido sinceramente, que uma equipa do JWRC ou mesmo do WRC 2 tenham um orçamento tão vasto, que consiga suportar um enorme escritório com secções de mecânica, área financeira, recursos humanos, etc. Mesmo que algumas secções estão bloqueadas até que cheguemos ao WRC.

No final de cada etapa de treino ou prova completada, recebemos pontos de experiência, dinheiro virtual, confiança dos patrocinadores e até pontos de moral da equipa. Todos são importantes, de uma forma ou de outra, sendo baseados na vossa prestação e no lugar do pódio, obviamente. Por outro lado, terão de gastar pontos e dinheiro em pesquisa e desenvolvimento, ordenados da equipa técnica e nas reparações do veículo dos danos causados a conduzir. Esta dinâmica é interessante mas transforma este WRC 8 num jogo de gestão, em que (por acaso) temos de pilotar um carro de rali pelo meio. Pessoalmente, gosto da oferta, quebra a monotonia mas consigo perceber onde pode dividir opiniões.

O que menos gostei neste modo de carreira é que há muitas coisas que estão bloqueadas no início. Se temos tanto poder de investimento numa equipa inteira para gerir a nossa prestação, seria de esperar, por exemplo, termos um financeiro a tratar das contas, não? Não só temos de contratar esse financeiro, como este está bloqueado na árvore de evolução até que evoluamos. E esta lógica é mais caricata com componentes importantes do próprio carro, igualmente bloqueadas. Peças de performance, entendo que estejam inacessíveis para que evoluamos e tenhamos um elemento de recompensa, agora pneus próprios para tipos de pisos que condicionam a condução? Não faz sentido.

Mas, há mais jogo para descobrir se este modo de carreira principal não for do vosso agrado. Além do já mencionado modo de carreira alternativo sem gestão de equipa, contem também com provas individuais, uma secção de treino para aprender e treinar procedimentos e técnicas, modos de corrida livre e os tais modos multi-jogador, o online (quando estiver disponível) e o de ecrã dividido. Contam com todos os veículos e pistas disponíveis e até podem realizar corridas com alguns veículos clássicos e intemporais do WRC. E, tal como no anterior título desta série, também estão de volta aquelas provas de tempo limitado com quadros de liderança mundial, a piscar o olho aos eSports e onde há promessas de grandes prémios para os mais rápidos.

Conforme certamente esperam, temos nesta edição todos os veículos e equipas do JWRC, WRC 2, WRC 2 Pro e WRC devidamente licenciadas com marcas, modelos e decoração dos carros e feições dos pilotos a competir. Também estão incluídas as localizações e etapas das provas oficiais do WRC, que incluem, obviamente, o nosso Vodafone Rally de Portugal, onde não podia faltar a mítica super-especial de Lousada. Desde a neve e gelo da Suécia, passando pela nossa terra batida e pelas florestas húmidas do País de Gales, chegando às gravilhas quentes do Chile, a recriação da competição neste ano está completa. O que é obviamente essencial quando falamos de um jogo oficial.

Claro que tudo o que falei até agora, não passa de uma bonita “montra” com muitos objectos para “vender”. Quando falamos num título de condução, queremos duas coisas: Que a interacção seja realista na forma como nos desafia, ou que seja acessível como um jogo. Desde as últimas edições que temos visto um enorme esforço da Kilotonn para fugir dos elementos de arcada para nos dar algo mais “realista2. Mas, conforme tenho vindo a dizer, o aprimoramento da condução para chegar a algo próximo da simulação, envolve muito trabalho. Algumas produtoras recorrem mesmo a telemetria para nos justificar que a sua condução é “tão real quanto possível”. E esse esforço nota-se nos seus títulos.

Diria que WRC 8 está num bom caminho para esse objectivo, mas ainda não foi desta que nos deu a tal simulação credível que tem vindo a prometer. Não, não sou piloto de rali, mas sei o que esperar da condução num jogo deste calibre. Com as cedências necessárias, o veículo tem de ser controlável e as penalizações pelo erros têm de ser consistentes com as físicas e regras da competição. Assim, levar uma penalização de 7 segundos por saída de pista, até pode ser “realista”. Mas, ter um literal teleporte ao fim de 10 segundos, mais uma penalização de posição e tempo, é que não é. São elementos de jogo arcade em que esperava que a produção trabalhasse para eliminar. Não foi desta.

Por outro lado, a própria condução parece-me inconsistente. Bem sei que a aderência dos pneus é quase uma ciência consoante os pisos e a inércia do veículo a acelerar, manobrar ou travar. Não é preciso um grande “profissional do volante” para perceber que em neve ou gelo, o carro vai deslizar muito mais que no alcatrão. Mas, se nos jogos anteriores notei um controlo algo “domado”, neste título a Kilotonn levantou as mãos e disse… “que se lixe”. Notem, gosto de um bom desafio de conduzir no limite da aderência e até gosto de ficar de olho no desgaste dos pneus entre estágios, ou de lidar com a meteorologia e outros imprevistos. Mas, há limites do que é jogável.

Há momentos no jogo em que o veículo parece rolar sobre “manteiga”, tornando-se totalmente incontrolável ao mínimo toque, batendo violentamente ou fazendo um pião, sem que sentisse que fosse realmente culpa minha. Aliado ao implacável sistema de penalização com tempo, frustra. Dei por mim a levantar o pé, a travar mais cedo e a evitar tocar no volante em ambas as situações, sobretudo nos carros sem tracção integral. Penso que o principal problema está na sensibilidade da direcção e na resposta do acelerador e travão, dois elementos que tive de ajustas várias vezes. O que, para todos os efeitos, é quase a totalidade da dinâmica de interacção deste jogo. E nem vou falar de como o atraso das chamadas do co-piloto em algumas curvas me continua a frustrar. É já uma tradição.

E também o grafismo parece derrapar entre a estrada recém-alcatroada e a valeta lateral. Notem que a evolução de efeitos visuais desde WRC 7 é notória e sempre gostei bastante do nível de detalhe imposto nas pistas e etapas desta série, sempre com muito cuidado a recriar os ambientes de cada país. Contudo, parece-me que alguns troços são os mesmos dos jogos anteriores, com um filtro diferente por cima, é certo. Seria algo dispendioso e moroso recriar todas as pistas novamente, pelo que uma “reciclagem” até é perfeitamente aceitável. Mas, há porções do cenário que parecem datadas nos polígonos dos objectos e qualidade das texturas. Notem que joguei no PC com as definições em Ultra e, mesmo assim, notei esta degradação visual em demasiadas ocasiões.

Por outro lado, as próprias estrelas do jogo, os carros, mereciam um pouco mais de atenção. Nem tanto no aspecto geral do interior, que sabemos ser parco em detalhes na vida real também. Mas, o modelo exterior, aliado à qualidade oscilante dos cenários e efeitos visuais, não proporcionam muitos momentos impressionantes. Talvez estejamos mal habituados com outros jogos, admito, é sempre assim, na verdade. Ainda assim, sem dúvida que os danos do carro e a sua sonoridade, por exemplo, podiam ser melhor trabalhados para parecerem, pelo menos, mais credíveis. Tudo é simplesmente “OK”. Sabendo que a concorrência joga tão forte, com quase dois anos de hiato, esperava um pouco mais.

Veredicto

Com uma aposta num modo de carreira tão vasto e complexo, com a inclusão de tantos veículos e pistas oficiais do JWRC, WRC 2, WRC 2 Pro e WRC, faz de WRC 8 um dos mais ambiciosos e completos jogos desta série. Contudo, esse destaque tão grande na quantidade, não chega para as suas falhas na qualidade onde realmente importa. Se, por um lado, a Kitotonn Racing Games faz um esforço constante de nos agarrar a cada novo título, por outro precisa trabalhar nas inconsistências que traz para a importante condução. É, ainda assim, uma excelente evolução na série, se conseguirem domar o veículo, claro.

  • ProdutoraKilotonn Racing Games
  • EditoraBigben Interactive
  • Lançamento5 de Setembro 2019
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroCondução
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Falta de online no PC
  • Inconsistência na condução
  • Grafismo oscilante na qualidade

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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