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Análise: Wolfenstein – The New Order

No longínquo ano de 1992, um tal de John Romero em conjunto com um tal de John Carmack lançaram um jogo que veio criar um género. Chamaram-lhe Wolfenstein 3D e, 22 anos depois, a Bethesda Softworks incumbiu a Machine Games de fazer renascer o mito, depois da série ter tentado reinventar-se diversas vezes sem grande sucesso. Será que Wolfenstein – The New Order consegue ser tão distinto como o original num mar cheio de jogos de acção na primeira pessoa? Será mesmo uma “Nova Ordem”?

Como analista interino de jogos FPS (First Person Shooter) aqui no WASD, confesso que sou fã do velhinho Wolfenstein. Nada nesse jogo é semelhante ao que temos hoje nos FPS modernos, excepto a perspectiva na primeira pessoa. De resto, tudo é diferente. Recordo muitas tardes e noites a jogar Wolfenstein no meu primeiro computador e recordo ainda mais das dores de cabeça que tive para passar os labirintos de corredores e salas. Se quiserem matar saudades podem fazê-lo desta forma. Mas há uma outra forma que já explico mais à frente.

Que se passa neste jogo? Depois de uma intensa introdução cheia de adrenalina, ficamos a saber que William “B.J.” Blazkowicz, um soldado Americano, acorda em 1960 e encontra um mundo utópico mergulhado na tirania Nazi. Depois de ganharem a Segunda Guerra Mundial, os Nazis dominam todo o mundo com mão de ferro tendo inclusive obrigado o país de origem do protagonista, os EUA, a render-se após um destrutivo ataque nuclear. Blazkowicz é então obrigado a juntar-se a uma pequena resistência no centro de Berlim e viajar pelo mundo para sabotar os planos do líder Nazi, o General Wilhelm Strasse mais conhecido por “Deathshead” (não inventei este nome, juro!).

https://www.youtube.com/watch?v=ENTC-mAQ0tI

Há jogos que conseguem criar estes universos paralelos de forma exemplar. Recordo, por exemplo, Bioshock ou Fallout. Wolfenstein – The New Order (WTNO) fá-lo de forma competente conseguindo manter o aspecto da tecnologia dos anos 40 a 60 mas dando-lhe um avanço tecnológico que confere à tecnologia Nazi um toque híbrido entre o clássico e o moderno. Há também claras influências no estilo Steampunk que se fazem sentir um pouco por todo o jogo. O que não é fácil lidar é com a ideologia fascista que engloba racismo, xenofobia e, bem… todas as formas do “mal” que a sociedade enumera. Felizmente que a Machine Games não explora muito a ideologia da suástica e não encontrámos quase nenhumas referências a Adolf Hitler. Caso contrário, todos sabíamos onde isto ia parar, certo?

Com toda esta imagem que nos transporta para mapas e cenários sombrios repletos de engenhocas modernas, atravessamos o mundo, desde Berlim a Londres, passando pela própria Lua, em missões em que a personagem principal tem de desancar os Nazis das mais diversas formas. Desde uma simples faca ou com punhais que podemos arremessar e até pistolas com silenciadores, podemos optar por matar furtivamente os soldados alheios aos nossos planos. Mas é nas metralhadoras pesadas, caçadeiras e canhão laser que este jogo brilha. Hordas e hordas de Nazis caiem aos nossos pés com os peitos ou cabeças rebentadas num festival de sangue sem dó nem piedade. Blazkowicz não gosta de Nazis e dá para reparar.

Talvez por isso o jogo envelheça nas nossas mãos. Os mapas alternam entre o amplo, com áreas vastas e múltiplos trajectos para os objectivos e o claustrofóbico. Se nos mapas amplos existem sempre armas pesadas para simplesmente despejar explosivos ou balas e ver corpos a explodir, já com alguns mapas de corredores estreitos basta colocarmo-nos no início dos mesmos e premir o gatilho. A pontaria não é precisa porque os inimigos alinham-se todos para nós. Se é divertido ao início, torna-se enfadonho passados uns minutos. Não há desafio real e a Inteligência Artificial é pobre e tem má pontaria. Menos nas granadas… impressionante como falham tantos tiros mas a granada chega sempre até nós.

Nas cerca de 10 horas de campanha com missões mais ou menos desafiantes, chegamos ao fim com o sentimento de dever cumprido, sim… E digamos que é divertido matar os piores seres da História moderna aos magotes e com muito sangue e explosões como um filme da série B dos anos 90. Mas… é só mesmo isso. A história do jogo acaba por ser apenas um pretexto para “ir e matar pessoas avulsamente” e a tal Resistência é meramente um palco para justificar o “One Man Army” que se chama Blazkowicz.

A nível de jogabilidade, o mais importante num jogo deste género, WTNO apresenta um competente sistema de cobertura que permite olhar através de esquinas ou em volta de objectos. Também é curioso que uma boa parte dos pilares e paredes de cobertura são destrutíveis, sobretudo com armas de maior calibre. Há uma espécie de Bosses que aparecem em áreas mais amplas e ocupam-nos por algum tempo, mas o centro da acção é infantaria. O ritmo é elevado e podemos entrar em salas repletas de inimigos e em corrida desancá-los com vários golpes de faca, trocar para um caçadeira e a correr carregamos no botão para agachar e acabamos a deslizar pelo chão aplicando um cinemático headshot no meliante que nos ameaça. Michael Bay ficaria orgulhoso!

Apesar da sua linearidade, é fácil ficarmos sem saber para onde ir pela falta de elementos no HUD para nos dizer para onde devemos virar ou que botão premir. Temos um mapa para nos dar essas dicas, mas se não for explorado, podemos ficar uns bons minutos a andar “às aranhas” à procura de uma porta ou de um acesso pela ventilação. E de repente, encontramos um dos muitos objectos secretos e documentos escondidos. É mais um dos incentivos a jogar e repetir. Desde objectos raros a documentos para desbloquear modos de jogo e outros segredos, vale mesmo a pena perder-nos no mapa. Será que é intencional?

O sistema de perks de WTNO é único. Não precisam de activar poderes ou angariar pontos de experiência. Basta cumprirem objectivos passivos. Por exemplo um determinado número de mortes consecutivas com pistola oferece-vos um silenciador. Matar com facas sem ser detectado numa sequência oferece-vos punhais para atirar. Há também aumento da energia e escudo com este tipo de objectivos. Se apanharem uma segunda arma igual a outra que já tenham, passam a ter opção de jogar com as duas em cada mão (ainda mais mortos e sangue). Mas atenção que munições, energia e escudo se esgotam muito depressa. É preciso ir apanhando os consumíveis nos corpos dos inimigos mortos ou espalhados pelo mapa. Isto lembra-me muito o velhinho Wolfenstein 3D.

Por falar nisso… Disse-vos no início que havia uma outra forma de alimentar a nostalgia do jogo original. E digo-vos qual é. Basta jogar umas horas deste novo Wolfenstein até chegarmos à base da Resistência em Berlim. Aí, teremos missões mundanas que nos permitem explorar a base. Subam até ao último piso e passem o alvo das facas pela esquerda. Irão encontrar uma cama que possui a opção “Nightmare”. Carreguem e… joguem Wolfenstein 3D mas com as armas e dinâmicas do motor gráfico actual, adaptado ao grafismo original. Matem essas saudades… e já agora, matem também uns Nazis pixelizados!

A nível gráfico, testámos este jogo na Playstation 4 e vimos como tanto as texturas, como os efeitos possuem a tal glória que os jogos modernos sempre conseguem dar nesta nova geração de consolas. Nada de extraordinário, mas notem que falo de forma não crítica. O salto tecnológico proporcionado pelo motor gráfico id Tech 5 aliado ao poder de processamento da PS4 criam momentos épicos como a cena de introdução a bordo de aviões bombardeiro. Tenho de assinalar que há um tom quase doentio de detalhe nas texturas e modelos. Desde os imensos logótipos e brasões, a canetas e colheres espalhadas pelo chão, mesmo em cenários destruídos, tornando-se credíveis. Notem que até as lentes das miras telescópicas possuem marca e modelo! Talvez o tom meio Cartoon dessas texturas e ausência dos típicos filtros nunca nos dêem a total ilusão de “realismo”. Mas, notem que estamos a matar Nazis em 1960 que estão armados com laser e têm cães-robot mecânicos… quem falou em realismo?

O casting de vozes é muito bom, tornando as personagens interessantes, sobretudo se tivermos em conta as diversas línguas faladas no jogo (Polaco, Alemão, Inglês e outras) e respectivos sotaques. Ficamos presos ao enredo nas cutscenes pelos diálogos e monólogos. Mesmo que depois de um monólogo profundo de Blazkowicz em câmara lenta sejamos premiados com uma piada seca, geralmente relacionada com Nazis mortos. Resta-me mencionar que no capítulo sonoro o jogo tem algumas falhas de intensidade. Não falha realmente mas, por exemplo, os tiros soam a pipocas a saltar numa panela e há pouca intensidade nalgumas explosões. É uma pequena falta de optimização na mistura áudio. Não podia faltar a banda sonora épica e envolvente, que possui traços de música clássica e pop. Competente!

Veredicto

Wolfenstein – The New Order roça o muito sério com a parvoíce e a piada fácil. É um festival de sangue avulso e cabeças rebentadas banalizando um dos períodos mais negros da História da Humanidade. No entanto, é um reboot daqueles que nos fazem querer jogar mais. Não é perfeito na sua falta de equilíbrio nos níveis, inteligência artificial falível e linearidade, mas há jogos que são fetiche pelas horas de caos e destruição que proporcionam. É meio desmiolado mas é teimoso a colocar-nos na acção. Só posso comparar este jogo aos tais filmes série B dos anos 90 que já mencionei. E digam lá se de vez em quando não vos apetece ver de novo?
NOTA: Cada cópia de Wolfenstein The New Order faz-se acompanhar de um código de acesso à versão Beta do jogo Doom, um reboot de outra série clássica de sucesso. Iremos falar desta Beta numa outra análise brevemente.

  • ProdutoraMachine Games
  • EditoraBethesda Softworks
  • Lançamento20 de Maio 2014
  • PlataformasPC, PS3, PS4, Xbox 360, Xbox One
  • GéneroFPS
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Linear e repetitivo
  • Fraca Inteligência Artificial
  • Indefine-se entre a sátira e a seriedade
  • Sonoridade pouco presente

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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