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Análise: The Witcher 3: Wild Hunt

O que define um bom jogo? Serão os gráficos deslumbrantes? Será a jogabilidade irrepreensível? Será o enredo intrincado e bem estruturado? Na verdade, se um jogo reunir tudo isto num só pacote, arrisca-se a ser o jogo do ano. The Witcher 3: Wild Hunt é um sério candidato. Mas, deixem que vos explique porquê.

Para quem não conhece (sobretudo a comunidade Playstation, onde apenas este terceiro jogo se estreia agora), a série The Witcher possui uma legião de culto. Numa altura em que se fala bastante sobre como os Role Play Games (RPG) estão a fugir à sua essência, The Witcher sempre deu um murro na mesa e em cada um dos seus jogos devolveu ao género tudo o que merece: Boa história, boa jogabilidade e bons gráficos, sem sequer se projectar no mundo do online.

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O enredo da série The Witcher, é capaz de ser complicado de resumir em alguns parágrafos nesta análise. Baseado nas fantásticas obras literárias homónimas do Polaco Andrzej Sapkowski, conta a história de um caçador de monstros chamado Geralt de Rivia. Geralt vive num mundo medieval onde, em tempos, um cataclismo fez colidir diversas dimensões, trazendo consigo ghouls, wraiths, grifos, lobisomens e outros monstros. Para travar esses males, surgiu a ordem dos Witchers, uma espécie de monges que se submetem a rituais que os tornam sobre-humanos e cuja missão é caçar estes seres sobrenaturais.

Mas “Gwynbleidd” (ou Lobo Branco, como também é conhecido) é um Witcher muito especial. No início do primeiro jogo, sabemos que Geralt sofre de amnésia. Na realidade, só vem a recuperar toda a memória no final de Witcher 2. O desenlace dessa história nos dois jogos anteriores, que recomendo que joguem para não vos estragar o prazer de a descobrir, leva-nos a um ponto fulcral pouco antes dos eventos de The Witcher 3. Geralt recorda-se que, antes de viver toda uma aventura ao lado do seu interesse amoroso, a ruiva Triss Merigold, teve uma outra vida que envolveu a bruxa de cabelos negros e cheiro a lilás e groselha (piada constante no jogo) Yennefer, ajudando a criar uma rapariga chamada Cirilla, filha do Imperador de Nilfgaard, Emhyr var Emreis.

Ciri nasceu com um dom, nas suas veias corre “sangue antigo”. Isso significa que é capaz de transitar entre dimensões sem esforço. Cedo a ordem dos Witchers trouxe Ciri para o seu meio para a treinar, mas nem tudo correu bem. É que um bando de seres sobrenaturais, que funcionam como antagonistas neste enredo e são arautos da destruição, a Wild Hunt, procura Ciri pelo seu poder. No caos, a pequena de cabelos brancos evade-se e Geralt perde o seu rasto.

No início de The Witcher 3, Geralt está a ir ao encontro de Yennefer. Desaparecida até ao final do título anterior, foi precisamente no último capítulo que cumprindo certos requisitos pudemos obter algumas informações sobre o seu paradeiro. Eis que agora, esta enviou uma carta a pedir que se encontrassem. O local do encontro, acaba por ser o ponto fulcral de uma temível guerra que envolve toda a Temeria. Quando acontece, finalmente, o encontro, porém, Yennefer revela a Geralt que, afinal, Ciri reapareceu… e com ela, também a Wild Hunt, a qual é preciso travar, sob pena de toda a humanidade sofrer um novo potencial cataclismo.

Estaria agora aqui uma boas horas a tentar juntar pontos no enredo, a explicar relações das personagens ou a justificar as posições de cada uma das personagens. O melhor, como já sugeri, é jogar mesmo os dois primeiros jogos, por mais que vos custe deixar The Witcher 3 para o fim. Mas não se preocupem se não o podem fazer. Este jogo permite-vos fazer algo que vos vai auxiliar a desfrutar, mesmo assim, da história. Logo no arranque, é-vos perguntado se querem simular um savegame de The Witcher 2, importá-lo (versão PC) ou simplesmente jogar o jogo sem referenciar os jogos anteriores, permitindo que vos sejam explicados diversos pontos do lore em alguns diálogos. Para esta análise na Playstation 4, escolhi simular o savegame, o que nos permite, mais à frente no jogo, falar com uma personagem que nos deixa escolher alguns pontos-chave dos jogos anteriores.

Seja de que forma for, porém, não há margem para confusão ou perda de raciocínio. Mesmo os mais distraídos, terão à mesma um codex no menu para seguirem as histórias das mais diversas personagens. Percam algum tempo a ler estas entradas, a sério. Ainda vou fazer de vocês fãs desta série, vão ver…

Porém, nem só de enredo vive um videojogo. Sem uma boa história é realmente complicado estar em frente a um jogo durante algum tempo. No entanto, é também importante que um mundo vasto e rico em acontecimentos conte uma importante história visual e neste campo não vão ficar desiludidos com The Witcher 3 e as suas paisagens arrebatadoras.

Desde planícies verdejantes a montanhas geladas, aldeias sujas com lama a sangrentos campos de batalha, solarengas praias a cavernas húmidas, humildes casebres a opulentos castelos… raios… nunca vi um jogo tão completo, vasto e diverso desde The Elder Scrolls V: Skyrim, outro grande RPG medieval que é inevitável não associar a esta série. A CD Projekt RED perdeu tanto tempo a criar e aperfeiçoar Temeria que acabo, muitas vezes, a explorar este mundo a galope, ao invés de cumprir missões.

E missões é o que não falta. Apesar da urgência de reencontrar Ciri e salvar a humanidade da ameaça da Wild Hunt, Geralt vê-se diversas vezes a braços com missões que ditam o futuro das aldeias e lugares por onde passa. Na verdade é a nossa ajuda (ou recusa em ajudar) que influencia a forma como somos recebidos nas regiões e se desenrolam alguns eventos secundários. Também quem escolhemos apoiar ou antagonizar tem uma repercussão no desenlace da nossa história. Experimentem entrar numa cidade a galope, atropelando quem se cruza na vossa frente e roubar um ou outro baú numa habitação e verão as pessoas ou a fugir ou a atacar-vos. Por outro lado, executem missões que auxiliem a população e vejam as pessoas a ajudar-vos com importantes informações e até a dar descontos nas lojas. Há ainda missões de caçador de prémios (Bounty) para matar monstros e ganhar dinheiro ou favores por isso.

Quando as coisas não correm bem, porém, Geralt não é propriamente um monge indefeso. Além dos seus atributos mutantes que lhe conferem poderes mágicos, sentir a presença de monstros e até de ter uma visão especial que lhe permite investigar locais onde sucederam certos acontecimentos, qual CSI Medieval, Geralt é um soldado inato. O sistema de combate foi aperfeiçoado e simplificado desde The Witcher 2 (e ainda mais desde o primeiro Witcher). Agora, Geralt pode atribuir o seu mutagénio em quatro posições para aumentar cada poder num esquema de árvore de evolução bastante mais simples. Também os Signs (poderes mágicos especiais) são rapidamente escolhidos e lançados com um menu de acesso rápido. Há também uma nova besta e bombas que podemos arremessar, quando necessário, para atordoar ou como manobras de evasão ou ataque furtivo. Estas, podem também ser utilizadas para fazer explodir locais de onde saem certas criaturas.

Mas, no rigor, a acção é bastante linear com as célebres duas espadas: A de aço para os comuns mortais e a de Prata para os monstros. Ambas possuem, mais ou menos, o mesmo tipo de ataque leve e rápido ou pesado mas mais lento, dependendo dos atacantes. Com as espadas, também há um bloqueio simples que tenta deflectir qualquer golpe. Nos jogos anteriores, podíamos escolher entre três tipos de posição e nem sempre era fácil alternar entre eles. Aqui tudo é mais fácil. Usem bem o ataque, magia, bloqueio ou desvio e verão que matar monstros ou meliantes, até nem é difícil.

Só que este jogo penaliza muito quem não o entende minimamente ou não se concentra na sua complexidade. Não usem os Signs correctamente, sejam negligentes com o bloqueio e não tenham óleos e poções à mão e terão de fugir dos adversários mais fortes. O jogo até vos dirá que não há qualquer vergonha na fuga quando um adversário é mais duro. Há quatro níveis de dificuldade e, mesmo para mim, habituado a jogos mais exigentes, achei que há momentos demasiado difíceis quando combatemos monstros ou outros inimigos, sobretudo de nível mais elevado do que o nosso. Não há um meio termo, por exemplo quando estamos a combater um Grifo, logo nas primeiras horas de jogo. Ou dominam o que os tutoriais vos ensinam, usando a besta para atordoar, uma poção para aumentar o dano, saltos para evadir dos ataques fortes e usar só o ataque esporádico de forma táctica e vão reverter muitas vezes até ao último savegame. Acreditem em mim.

Claro que podemos evoluir Geralt para lidar com inimigos cada vez mais fortes, afinal isto é um RPG. Como já disse, a árvore de evolução é muito simples, desbloqueando habilidades e bónus em quatro possíveis slots, com quatro mutagénios seleccionáveis que aumentam vitalidade, magia, energia ou stamina. A evolução, porém, pode ser muito lenta se nos limitamos a cumprir missões menores. Façam tudo o que puderem antes de saltarem de região. Todos os pontos de exclamação amarelos que virem no mapa, são missões possíveis. Façam-nas! Cumpram os bounties, ajudem as populações e procurem todo o saque que puderem, para o vender nas lojas e comprar fatos melhores, armas com mais dano ou ingredientes para crafting.

E crafting e Alquimia é algo que vos vai prender muito tempo para aprender. Honestamente, não é difícil, mas exige que se concentrem. Criem poções, ingredientes (que também podem ser desmantelados para obter materiais primários), melhoramentos para armas e fatos, entre outros upgrades. E não esperem encontrar tudo isto com a exploração, aliás se explorarem só encontrarão as receitas. Quando virem a quantidade de flores e plantas para apanhar, os diferentes tipos de ingredientes que tem de angariar e as complexas misturas, vão-me dar razão. Mas, valerá muito a pena pelos bónus que dão os produtos finais do vosso esforço.

Se não estiverem ainda deslumbrados com o fantástico motor gráfico, Red Engine 3, consultem a vossa pulsação. Viram tudo o que vos falei sobre o que este jogo contém? Imaginam a quantidade de horas que a CD Projekt RED gastou a criar toda esta jogabilidade e ainda adicionar fantásticos efeitos visuais? Mesmo que algumas pessoas apontem defeitos, o grafismo é de cortar a respiração. A versão PC é qualquer coisa de deslumbrante num bom computador a correr na opções gráficas Ultra. Mas olhem que a Playstation 4 não se porta nada mal. Efeitos de luz do ciclo realista de dia e noite, alterações climatéricas, efeitos gerais de folhagem e árvores que balançam ao vento ou as tempestades cujos raios iluminam o horizonte, proporcionam momentos inesquecíveis num videojogo.

Mesmo a inteligência artificial com os gansos a fugirem de nós quando entramos numa vila ou a reacção das pessoas à nossa presença, a atmosfera é grandiosa. As animações, por vezes, contêm erros de continuidade com saltos bruscos e há por vezes quebras de performance (FPS) em momentos de maior intensidade, como em combates ou com mais personagens no ecrã. Tive até um crash inexplicável a meio do jogo. Há também falhas em texturas e desenho dos modelos recorrentes, sobretudo durante cenas intermédias em que a câmara muda de ângulo para mais longe. No entanto, não achei nunca que isto diminuísse a fantástica impressão que este jogo causa. Afinal, este mundo é tão vasto, tão cheio de objectos, animações e texturas, que é possível que alguns erros surjam.

Ao invés de procurar defeitos, tentei encontrar virtudes. E, como viram, listei muitas.

Veredicto

Cerca de 100 horas depois, deverão terminar The Witcher 3: Wild Hunt . Pelo caminho deverá ficar um jogo fantástico de mundo aberto, com um enredo como não há muitos na história recente dos videojogos, com algum erotismo pelo meio, muitas conspirações, sangue e, porque não, algumas lágrimas. Era um dos jogos mais esperados de 2015 e, agora nas nossas mãos, tem tudo para se tornar um dos melhores desta geração. Só é diminuído por questões técnicas que, acreditamos, a CD Projekt RED deverá resolver rapidamente (A patch 1.02 está quase a chegar na data desta análise). Pode ser implacável para os mais casuais, sobretudo no combate e complexidade do sistema de crafting. Mas… é um RPG, pessoal! Querem mesmo um RPG fácil? Deixem-se de facilitismos! Ou pensam que é fácil tornarem-se num Witcher?

  • ProdutoraCD Projekt RED
  • EditoraBandai Namco
  • Lançamento19 de Maio 2015
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroRole Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Algumas questões de performance
  • Combate pode ser frustrante

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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