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Análise: Virginia

Os jogos independentes voltam a dar que falar, desta vez com Virginia, fruto da recém-criada Variable State, uma produtora britânica fundada por Jonathan Burroughs e Terry Kenny, antigos programadores do projecto DeepMind da Google. Vejamos porque goza de tanta popularidade.

Esta aventura, contada totalmente através de expressões e com o mundo que nos rodeia, tem recebido muita atenção da comunidade e penso que fiquei esclarecido porque assim é. Neste jogo, somos colocados no papel de uma jovem agente do FBI, que terá de investigar o desaparecimento de um rapaz. Todas as acções do jogador facilitam o progresso da história. Não há combate nem puzzles, apenas uma história que é controlada através do vosso passo e com grandes inspirações em séries televisivas de investigaçãoVistam o vosso melhor fato de detective e conheçam Virginia.

O jogo leva-nos para o Verão de 1992 e conta-nos a história de Anne Tarver, uma agente do FBI muito focada em evoluir na sua carreira profissional. Como alvo do seu interesse, está um caso de desaparecimento, mais concretamente de Lucas Fairfax, um jovem rapaz de uma pequena cidade rural. Sendo uma agente ainda inexperiente, iremos contar com a ajuda de Maria Halperin, sobre a qual os nossos superiores dão a indicação para ficarmos atentos às suas acções. Enquanto a história se desenrola, a confiança entre as duas parceiras será testada, tudo durante uma investigação que toma proporções cada vez mais sinistras e sobrenaturais.

Toda a investigação é feita na primeira pessoa, com a história a desenvolver-se sem qualquer diálogo. Os únicos textos visíveis, surgem em documentos e cartas, mas desaparecem em poucos segundos. Toda a narrativa desenvolve-se assim através das animações das personagens, da música e pelas expressões que surgem na caras animadas. Fica ao cargo de cada um tentar interpretar o que o jogo pretende transmitir.

O caso de desaparecimento é apenas uma forma de explorar o relacionamento entre as duas parceiras e nas suas aventuras que envolvem adolescentes barulhentos, padres impertinentes e encontros bizarros com um misterioso búfalo. Toda atmosfera do jogo roça o bizarro, mas nunca em demasia, revelando que a série The X-Files e Twin Peaks deram grande inspiração para criar o primeiro jogo desta produtora.

Gostei particularmente de uma mecânica pouco habitual. Como o jogo se foca essencialmente no contar de uma história com a nossa interacção, existem partes onde estamos calmamente a andar e, de um momento para o outro, surgimos noutro lugar mais adiante na história. Ao início é estranho percorrer um corredor e sermos teleportados para outros locais de forma abrupta, mas é uma boa solução para retirar as viagens enfadonhas de um ponto A para o ponto B, onde nada acrescentam à trama.

Ao longo do jogo vão ser apresentadas várias cenas intermédias que, apesar da transição não se notar entre o que é jogo e o que é acção narrativa, começam a tornar-se aborrecidas. São tão frequentes que nos obrigam a ter a maior atenção possível com medo de perder algum detalhe da história. Os textos, por exemplo, não ficam mais de 2 segundos no ecrã e não dão qualquer hipótese de leitura pausada, deixando-nos a interpretar apenas com umas cinco palavras que conseguimos ler na diagonal.

Alguns acontecimentos também deveriam ter alguma forma de explicação. As ocorrências mais estranhas acontecem como se fossem totalmente banais e o tal búfalo misterioso continua a deixar-nos perplexos. Há ainda algumas outras inexplicáveis experiências sobrenaturais e flashbacks que transportam Anne para outros momentos que mereciam algo mais que a nossa interpretação pessoal. Mas é uma opção da produção e temos de respeitar.

Tecnicamente o jogo é bastante simples, controlamos os movimentos da nossa personagem com os comandos analógicos (nas consolas) e temos apenas um botão de acção para interagir com tudo o que se passa no mundo. Não podia ser mais simples, com a ênfase colocada exactamente no desenrolar da trama e não na nossa perícia com os controlos.

No que toca ao grafismo, é simples mas artisticamente arrojado e colorido. Mesmo sem verbalizar nada, as personagens conseguem transmitir as suas personalidades através dos movimentos e expressões em animações fluidas e cumpridoras. O som ambiente também tem um papel especial na experiência, conseguindo direccionar a nossa disposição e humor para os diferentes efeitos. E mesmo com uma banda-sonora cumpridora na maioria dos casos, há momentos que a música dramática não se encaixa rigorosamente nos acontecimentos.

Veredicto

Visualmente cumprido, com uma história fácil de compreender, desde que se mantenham bastante atentos ao que está a decorrer no ecrã, Virginia é um jogo sobre ambição, traição e o valor da amizade. Claramente inspirado em famosas séries de TV, mistura também eventos paranormais e diversos momentos que despertam a nossa curiosidade e intelecto. Se jogaram e gostaram de jogos como The Vanishing of Ethan Carter, Firewatch ou Everybody’s Gone to the Rapture, vão gostar desta experiência. Contudo, preparem-se para franzir o sobrolho e colocar muitas perguntas

  • ProdutoraVariable State
  • Editora505 Games
  • Lançamento22 de Setembro 2016
  • PlataformasMac, PC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns momentos em que a música falha
  • Pouco tempo para ler textos
  • Algumas situações deveriam ser explicadas

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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