torment-tides-of-numenera

Análise: Torment: Tides of Numenera

Talvez ainda não tenham ouvido falhar de Torment: Tides of Numenera. No entanto, é um dos mais assinaláveis sucessos de campanhas angariação de fundos para jogos independentes nos últimos tempos. E, na sua ambição, traz de volta o estilo clássico de RPG à ribalta.

Torment tornou-se realidade depois de ter angariado uns incríveis 4 milhões de dólares no Kickstarter. Por detrás do projecto, está um grupo de programadores apaixonados e empenhados para criar um sucessor espiritual do clássico Planescape: Torment. Toda esta epopeia dá-nos a entender que o público quer jogos mais calmos e mais orientados pela narrativa, contrariamente ao que parece predominar o género. Agora, vários anos depois da sua campanha de sucesso, cá estamos nós com o produto final. Será que ainda há lugar para os RPGs da “velha guarda”?

O jogo tem lugar no nosso planeta Terra, mil milhões de anos no futuro. Neste espaço de tempo, inúmeras civilizações surgiram e desapareceram. A sociedade foi reconstruída em camadas sobre camadas de ruínas antigas e esquecidas, dando lugar ao um mundo conhecido por Ninth World. Por esta razão, umas das actividades mais produtivas é a procura de tecnologias antigas. Existem várias relíquias que surgem tanto na forma de complexas construções, como de objectos inofensivos e sem utilidade.

À semelhança de como Planescape: Torment abordou a narrativa, Torment segue o mesmo caminho. Não temos controlo de uma personagem típica que foi escolhida para salvar o mundo. Em vez disso somos um dos muitos corpos que foram descartados por um ser poderoso intitulado de The Changing God. O jogo começa nesse preciso momento, quando somos descartados, sem memória e sem sabermos onde estamos. Este acontecimento marca o início da aventura de sobrevivência e descoberta neste misterioso mundo.

Não demorou muito até descobrir que estávamos a ser perseguidos por algo conhecido como The Sorrow, uma criatura mítica repleta de tentáculos que está a caçar todos os castoffs, o nome dado a todos os seres descartados. Sobreviver a esta criatura, torna-se um dos objectivos principais, enquanto procuramos o próprio Changing God para descobrir ao certo o que se está a passar.

O que se destaca em Torment é o nível de detalhe do seu mundo e das personagens. Embora possa não ser o jogo mais impressionante em termos de grafismo, o design dos níveis torna qualquer local memorável. O que oferece a sua cativante personalidade e profundidade, é a sua narrativa e como tudo se interliga. O jogo não tem problemas em despejar-vos toneladas de texto para lerem. Mesmo quando sentimos que estávamos a interagir com personagens não tão importantes para a história, estávamos a conhecer melhor os pormenores deste Ninth World.

Enquanto que a quantidade de texto que terão de ler pode vir a tornar-se cansativa, a forma de como tudo foi escrito dá curiosidade para descobrir mais um pouco. Seja sobre o Changing God, Sorrow ou tudo o resto que está relacionado. Isto porque cada interacção tem várias ramificações para escolher, o que poderá levar também a vários finais distintos. Nos diálogos, por exemplo, podem abordá-los de diferentes formas, dependendo da personagem que decidirem criar (Rogue, Warrior ou Wizard). E até podem decidir persuadir, intimidar ou até lutar com a pessoa que estão a conversar.

Qualquer uma das vossas acções irá mudar as várias “Tides” do jogo, que podemos descrever como uma força invisível do universo que representa as reacções das várias personagens do jogo. Cada uma delas é representada com uma cor específica (Azul, Dourado, Indigo, Vermelho e Prata), que no final acabam por ter impacto no percurso da nossa personagem, dando novas habilidades e melhorando outras. O que significa que cada diálogo terá mais escolhas consoante as vossas habilidades. Tudo está interligado.

O combate decorre através dos habituais turnos que já estamos habituados nos jogos deste género. As nossas personagens e inimigos surgem numa perspectiva isométrica, bem ao estilo dos clássicos RPG. Há a possibilidade de andar livremente no campo de batalha para ficar ao alcance de cada ataque ou afastar-nos de um possível conflito, claro. Contudo, se este for o vosso caminho habitual, o jogo adapta-se dando novas opções, como por exemplo, falar com os vossos inimigos durante o combate e quem sabe, tentar dissuadi-los Se abordarem da melhor forma, poderão até sair do combate sem qualquer arranhão.

Na verdade, Torment torna-se numa melhor experiência se tentarem não combater de todo. Durante longas partes do jogo não farão mais nada senão explorar e interagir com os vários habitantes do Ninth World. O que não nos deixa cair em monotonia é o sistema de esforço. Tentar persuadir uma pessoa a arranjar uma máquina, por exemplo, poderá dar-nos Might (Força), Speed (Velocidade) ou Intelect (Inteligência) e, ao invés de funcionarem por níveis, para que a tarefa se torne bem sucedida é usado um mecanismo onde podemos escolher o número de cada esforço, acumulando a chance de sucesso. No caso da persuasão do exemplo anterior, o esforço começaria com 20% de probabilidade de sucesso, mas adicionando mais Intelect aumentará a chance de serem bem sucedidos.

Obviamente, cada esforço tem um limite de uso e estes pontos só podem ser restaurados deixando a nossa personagem a descansar. Isto significa que o jogo irá colocar-vos em situações que não terão pontos para a tarefa em questão, o que irá, eventualmente, traduzir-se num falhanço. Felizmente, Torment irá usar isso de forma pontual, o que pode levar para situações bastante caricatas que, por outro lado, não iriam saber que era possível. Os esforços também podem ser usados no combate para aumentar o danos dos ataques, o que dá a este sistema um papel muito importante no jogo.

Descansar também levanta outro aspecto interessante no jogo, que são as quests com tempo para serem concluídas. Não terão 100 dias para completar uma tarefa como no primeiro Fallout, mas haverão quests que se adaptam consoante o vosso ritmo. O melhor exemplo será um homicídio que terão de investigar. Se concluírem a missão a tempo, tudo corre bem, mas se descansarem entretanto, receberão a notícia que o assassino fez mais uma vítima. Isto dá-nos um sentido de urgência em algumas quests, o que é positivo, tendo em conta o passo lento do jogo e a constante leitura de textos longos.

Por esta altura já têm uma ideia como a narrativa está bem escrita e o seu mundo é bastante detalhado numa arte competente. Contudo, ainda não abordámos o plano técnico. Todo o jogo é apresentado com um estilo de arte muito reminiscente dos clássicos RPGs com uma perspectiva isométrica, como já expliquei. Esta arte recorda-nos o já mencionado Fallout original ou o mítico Baldur’s Gate. Os ambientes possuem vários objectos, todos eles repletos de pormenores. Os efeitos sonoros também cumprem o seu papel e conseguem transportar-nos para o ambiente do jogo.

Contudo, as personagens não estão particularmente bem definidas. Quando aproximamos a câmara, constatamos que os modelos não são muito complexos. Apesar dos menus de texto e de interacção roubarem grande parte da nossa atenção, seria interessante que as personagens tivessem algum tipo de animação enquanto estão a interagir entre si, por exemplo. Neste tipo de jogos de plano isométrico, a bem da optimização, esta é uma opção de criação recorrente, mas dado o interessante detalhe do resto do jogo, as personagens mereciam alguma atenção da produção.

Veredicto

Torment: Tides of Numenera pode não ser indicado para jogadores que estejam mais habituados a RPG de acção, uma clara tendência do género. No entanto, aqueles que apreciam um mundo bem desenvolvido, com uma história rica contada à boa maneira dos clássicos Role Play Games, encontrarão aqui um título muito apelativo. O enredo está muito bem escrito, cheio de revira-voltas e outras surpresas que irão certamente agarrar qualquer fã mais sério deste género. Tem imensas mecânicas interessantes e de fácil compreensão, numa jogabilidade que vos vai agarrar por várias horas.

  • ProdutorainXile Entertainment
  • EditoraTechland
  • Lançamento28 de Fevereiro 2017
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroRole Playing Game
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Muito texto para ler
  • Falta de detalhe nas personagens

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários