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Análise: Shadow Warrior 2

Depois de salvar o mundo da ameaça demoníaca do primeiro jogo, Lo Wang regressa para… salvar o mundo da ameaça demoníaca e todos os que se metam no seu caminho. Shadow Warrior 2 faz regressar esse herói improvável e egocêntrico, tentando recuperar o sucesso que foi a sua primeira aventura.

Era uma vez um momento na história dos videojogos, em que os títulos de acção não se levavam tão a sério e se dedicavam a dar-nos alguns momentos de boa disposição. Não diria que hoje os jogos são todos sérios, havendo por aí uma boa dose de humor em alguns títulos e séries. Falo de jogos de protagonistas “azeiteiros”, ultra-violentos e desmiolados como os clássicos Duke Nukem ou… Shadow Warrior, o original de 1997. Ora, mudam-se os tempos e, se calhar, esta fórmula já expirou. Contudo, com o seu primeiro jogo em 2013 em jeito de reboot, a Flying Wild Hog parecia ter encontrado o equilíbrio entre a nostalgia e a modernidade, ao mesmo tempo que recuperava o ADN caótico e cómico do incompreendido original. Será que estes ingredientes sobraram para um segundo jogo?

Cinco anos depois dos eventos do primeiro jogo, o mundo continua mergulhado no caos com demónios e humanos a viver lado a lado. Lo Wang, responsável por criar toda esta desordem, vive isolado, longe dos seus inimigos, tentando viver a sua “pacata” vida como mercenário ao serviço dos clãs da Yakuza. Claro que, o maior herói da história da humanidade, cedo é chamado à acção, quando precisa resgatar uma jovem das garras da corporação Zilla. Com espadas e metralhadoras, Lo Wang tem de voltar ao activo, trespassando meliantes armados, robots e demónios, como se não houvesse amanhã… literalmente.

Não é que este enredo seja realmente importante na oferta deste jogo. Mas é um fio condutor que justifica as missões que vamos tendo. Esperem imensas piadas, algumas fáceis, outras incrivelmente cáusticas, estereótipos em catadupa, diálogos corrosivos e muitas, mesmo muitas, referências as outros jogos e filmes da actualidade. Todo o casting de vozes se entrega de forma irrepreensível aos diálogos, proporcionando alguns momentos de gargalhada que complementam momentos igualmente hilariantes em jogo. Claro que o apreço por algumas piadas depende do sentido de humor de cada jogador. Contudo, se pensarmos que este jogo nunca se leva a sério, é normal passarem boa parte das missões a sorrir.

Apesar da repetição de muitos elementos neste segundo jogo desta sua nova vida, repetindo até mesmo algumas mecânicas já conhecidas, há que dizer que a Flying Wild Hog não se limitou a recauchutar o primeiro jogo. O sistema de evolução da personagem, o armamento, o inventário e mesmo a forma como seleccionamos missões está revisto e, para todos os efeitos, para melhor. Considero que tudo continua algo complexo e a exigir algum tempo para nos habituarmos, como em todos os Action Role Play Games. Mas é bem vindo, por exemplo, o novo mapa onde podemos escolher que missões queremos executar ou procurar coleccionáveis e upgrades em mapas já explorados em “Free Roam“. Sim, a caça ao loot chegou a Shadow Warrior.

Se, no primeiro jogo, a evolução da personagem era algo confusa, entre energia, poderes e armas, num menu absurdamente intrincado e complexo, agora tudo é resumido num sistema de cartas com slots que vamos podendo evoluir. Embora continue algo complexo e a exigir estratégia nas prioridades da evolução, está bem mais simples de entender e num só menu estruturado. Também as armas e equipamento recebem agora upgrades via pickups (relíquias) que podemos seleccionar ou vender quando já não precisamos. Como no primeiro jogo, o dinheiro que apanhamos em também serve para melhorar as armas em si, mas agora podem também comprar upgrades ou equipamento novo nos vendedores presentes na hub do jogo, a Dragon Mountain.

E falando de armas, há cerca de 70, entre armas de fogo, explosivos e, claro, espadas e facas. Nenhuma arma de fogo me parece realmente memorável, precisando de alguns upgrades para serem realmente interessantes. Mas, cada espada em jogo é uma diversão. Não só porque o combate próximo é a melhor oferta desta série, com épicos cortes precisos que desmembram adversários, mas também porque são as armas que mais danos fazem. Na verdade, porém, há adversários que terão de ser derrotados à distância, sob pena de nos causarem imenso dano em proximidade. E aí, nada como uma boa metralhadora ou lança granadas. Para os mais clássicos, têm à disposição o arco-e-flecha e mesmo as lendárias shurikens. Os mais sanguinários gostarão de saber que também podem combater com uma temível moto-serra.

E convém que preparem armas de forma consciente, escolhendo quais querem que estejam disponíveis na roda de escolha.Todos os inimigos, especialmente os Bosses no fim de cada nível, possuem fraquezas e imunidades específicas. Convém que todas as armas e equipamento reflictam esta realidade, equipando relíquias adequadas que não seja anuladas pela imunidade do adversário. Não se preocupem porque podem carregar imensos upgrades no inventário e movê-los entre cada slot sem os perder. E isto é muito importante porque cada relíquia tem também um nível de raridade que lhe confere modificadores de potência diferente, que podem ser cruciais no actual boss ou inúteis no seguinte.

Wang tem também à sua escolha diversos poderes, entre alguns novos e outros já conhecidos. Parem um pouco e usem a meditação para recuperar energia, usem um escudo que empurra adversários mais chatos ou optem pelo poder da invisibilidade para analisar os inimigos em segurança antes de combater ou, então, fugir de situações de aperto. Estes e outros atributos de Chi usam uma barra de energia própria de cor azul que pode ser reposta procurando cristais também azuis. Outro poder muito prático e útil de Wang é o seu salto duplo e o “dash” que também vos darão uma incrível vantagem para mover e explorar o mapa, além de se usar em combate, sobretudo para flanquear inimigos ou evitar projécteis ou lâminas afiadas.

E saibam que vão ter sempre de improvisar um pouco durante os encontros que variam entre os convencionais Yakuza com as suas pistolas e pontapés rotativos, ou os gigante demónios com o péssimo hábito de nos quererem esborrachar com enormes lâminas. Por mais que planeiem armas e equipamento, quando a situação aperta, vão dar uso aos inúmeros pontos de restauro presentes nos mapas (com uma pequena penalização, claro). Revejam o armamento, escolham melhor as armas e relíquias mais apropriadas e voltem ao ataque. Lo Wang nunca falhou na sua vida, nunca poderá morrer e quem vos disser o contrário, mentiu. Wang apenas faz respawn.

Os mapas onde a acção decorre variam entre os tempos abandonados nas florestas, cidades semi-destruídas, o Shadow World ou as bases futuristas da Zilla. Cada mapa possui características que o tornam único, alguns apostando bastante na verticalidade, outros mais labirínticos, obrigando-nos a procurar trajectos. E saibam que cada um destes mapas para cada missão são parcialmente gerados de forma procedimental. Há uma base central que é inalterável, mas tudo o que a rodeia, entre ruas, caminhos, descampados, edifícios e outros locais circundantes são gerados no momento, garantindo um mapa único a cada visita.

Este é um truque interessante da produção que, assim, garante que cada missão possua um progresso único, embora, no seu cerne, acabe por ter sempre a mesma secção central. As ruas, as pontes ou os túneis podem ter uma direcção diferente ou nem estar no mesmo local sequer. Considerando que vão regressar a alguns locais diversas vezes, nem que seja para procurar dinheiro ou coleccionáveis que vos escaparam na primeira vez que ali passaram, é bom saber que nem tudo será igual no regresso. Especialmente se decidirem reiniciar toda a campanha no New Game + que aumenta também a dificuldade dos adversários de forma genérica.

Uma das maiores novidades, aquela que a produção tem vindo a destacar quase até à exaustão, é a capacidade de jogar de forma cooperativa até quatro jogadores nas 13 missões principais e 15 secundárias da campanha. Não, não entram todos em acção com clones avulsos de Lo Wang. Podemos criar e personalizar o nosso próprio ninja ao nível de armadura, armas e relíquias. O que altera neste modo é só mesmo a dificuldade dos adversários, sobretudo bosses, melhorando também o loot que conseguimos em cada missão. Há níveis realmente desafiantes e que obrigam a intenso trabalho de equipa ou irão dar muito uso ao já mencionado infame sistema de respawn.

Contudo, nem todos entram em jogo com o mesmo espírito, como é lógico. Nas sessões criadas via matchmaking, foi comum encontrar jogadores que lutavam para se manterem vivos ou causar dano significativo. Logicamente, este tipo de jogos cooperativos com dificuldade acrescida, serão mais interessantes com amigos. Não podemos esperar coordenação instantânea com completos estranhos numa sessão qualquer. Não é assim também com todos os outros jogos no mercado com acção cooperativa?

Confesso que também não sei até que ponto valerá a pena voltar a passar as diversas missões, se o loot que já tínhamos ganho não se regenera e apenas ganhamos dinheiro. Será interessante para alguns momentos de diversão com amigos ou para angariar dinheiro para aquela arma que queríamos comprar. Pouco mais. Gostava de ver mais alguma oferta na acção cooperativa, com uma espécie de modo “Horde” ou com dungeons para angariar loot raro, por exemplo. Parece-me que a produção desperdiçou aqui uma grande oportunidade de tornar este jogo bem mais apetecível de regressar depois de terminado a solo.

Por fim, o plano técnico. Por enquanto, só a versão PC está disponível deste jogo. As versões de consola (PlayStation 4 e Xbox One) só chegarão algures no próximo ano. O que temos em mãos, porém, é um jogo repleto de bons pormenores de animações, modelos e efeitos visuais. E claro que há imenso sangue e gore quanto baste. A nível de performance, em grafismo Ultra, nunca sofre grandes revezes. Em alguns momentos mais caóticos notei umas quebras ligeiras de fotogramas por segundo. De um modo geral, porém, o jogo está sempre na marca ou acima dos 60FPS. Números que, logicamente, variam de PC para PC. Não é realmente impressionante a nível visual, havendo por aí ofertas mais fantásticas nesse nível. Mas quantos títulos oferecem momentos épicos como este na imagem abaixo?

Veredicto

Recuperar a irreverência dos anos 90, quando tínhamos muita mais liberdade criativa e onde era mais difícil incomodar susceptibilidades, ainda não existindo os defensores do que é chamado de “politicamente correcto”, é um risco. Shadow Warrior 2 não só ignora quem vive a censurar estereótipos, como goza com eles e lhes faz um manguito. Recupera toda a acção e humor do primeiro título, oferecendo uma maior variedade de ferramentas mortais, ao mesmo tempo que introduz algumas simplificações e até convida os jogadores a jogar cooperativamente. Para todos os efeitos, é uma repetição para ênfase do que foi o primeiro jogo. E quando se repete para melhorar, não há nada de errado nisso.

  • ProdutoraFlying Wild Hog
  • EditoraDevolver Digital
  • Lançamento13 de Outubro 2016
  • PlataformasPC
  • GéneroAcção
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Coop não atinge o seu potencial
  • Muito ligeiras quebras de performance

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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