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Análise – Scars Above

Se disserem que não conhecem este jogo ou a sua produtora, estão desculpados. A Mad Head Games já tinha tentado a sua sorte no género ARPG mas a sua maior aposta é mesmo em Scars Above.

Certamente já ouviram falar de Pagan Online, sem dúvida o título mais famoso deste estúdio Sérvio. Contudo, o género ARPG e Hack’n’Slash que esse jogo aborda é bastante competitivo. Por isso, a produtora virou-se para outro tipo de ARPGs… igualmente competitivo. Honestamente, já perdemos a conta aos jogos que são lançados neste tipo de acção na terceira pessoa com role play, cada um com a sua nuance de “souls like”. Tento sempre não partir de pressupostos mas, como quase sempre se confirma, acabamos sempre a desejar que os estúdios arranjem algo próprio e que esta “febre” seja curada. Mas, é sempre tentador apostar no género tão popular.

A história leva-nos a conhecer a Dra. Kate Ward, membro de uma equipa especial chamada SCAR (Sentient Contact Assessment and Response, algo que poderíamos traduzir como Avaliação e Resposta ao Contacto com Alienígenas Racionais, mas “ARCAR” não soa tão bem), cujo objectivo é investigar uma estranha estrutura extraterrestre que surgiu subitamente na órbita da Terra. A esta estrutura, a equipa de cientistas e engenheiros deu o nome de Metahedron e é claro que terão de a investigar de perto. Só que, sem surpresas, a missão para a investigar não corre bem e Kate acaba perdida, amnésica e sozinha num estranho mundo hostil.

A história é claramente uma reciclagem do célebre “herói que cai numa cilada e acaba sozinho e a tentar descobrir o que se passa”. É também a típica história de superação da protagonista, que não é talhada para estas coisas mas adapta-se a cada novo passo. O mistério no centro da trama, assim como os desenlaces, servem para nos dar a devida envolvência e contexto. Não fiquei nunca muito entusiasmado com que conta mas achei que cumpre o seu objectivo de contextualizar a acção.

Como devem imaginar, este é um jogo de combate, sim mas é, acima de tudo, de investigação. Vamos deambular pela paisagem estranha em busca de respostas e a cada canto esconde-se um monstro grotesco ou um enorme “boss”, prontos para nos matar. Para nos defendermos, temos armas de energia e outros dispositivos, enquanto gerimos consumíveis e barras de energia. Há uma árvore de evolução e uma dificuldade que vai evoluindo com ela, temos crafting de novos itens e há uma forte componente táctica. Enfim, já sabem o que esperar no género.

Tirando o tema único da aventura de Kate, temos várias semelhanças com outros jogos neste tipo. A dificuldade clássica de algumas fases de jogo e a necessidade de usar estratégias diferentes consoante o tipo e tamanho da ameaça é algo incontornável. Alguns bosses exigem o uso de armas e gadgets de elementos, outros obrigam a alvejar pontos fracos. Mas, o ritmo é evidento. Tudo o que é preciso é disparar, esquivar, usar um poder ou efeito do cenário para dar mais dano, esquivar, usar um consumível, esquivar, disparar, esquivar, etc. A fórmula repete-se também aqui.

Então qual é a nuance que a Mad Head trouxe ao género? Não vai com certeza destronar a FromSoftware no género. Também não reinventa nada que The Surge, Fallen From the Ashes, Mortal Shell e tantos outros “clones” Sci-Fi ARPG já tenham feito. Tem uma certa “vibe” de Returnal, havendo mesmo algumas lógicas e momentos francamente parecidos mas não é (de todo) semelhante em jogabilidade ou mecânicas. Talvez na dureza dos combates e a apresentar uma cientista como protagonista. E, sim, Kate tem um pouco de Lara Croft, até no seu aspecto.

O que posso assinalar como positivo neste jogo é o esforço exemplar do estúdio Sérvio para ir além do esperado e criar uma aventura sólida, com um bom misto de história envolvente (já disse que não surpreende muito mas cumpre), combate suficientemente desafiante, um grafismo competente que consegue mesmo deslumbrar em alguns momentos e um design geral apelativo no interface. Nota-se mesmo esse enorme cuidado da produtora em criar algo “completo” e em tentar polir tudo para que as falhas de conceito não estraguem a experiência.

Sim, visualmente, o jogo tem um elaborado trabalho de conceito por detrás, nota-se que não foi algo criado à pressa. Mesmo assim, a dimensão do estúdio é visível em alguns momentos. Vão notar pequenos detalhes que recordam que a produção não tem orçamentos elevados ou “know how” apurado para abordar algumas ideias. As elaboradas cenas intermédias, por exemplo, mostram animações e expressões faciais algo limitadas. Há alguma repetição de itens nos cenários e em algumas áreas, especialmente nas de transições, há falta de detalhes, sem grande imaginação.

Também o seu equilíbrio entre dificuldade e recompensa é algo dúbio, especialmente nas primeiras horas de jogo e com os primeiros bosses. Claro que as experiências variam entre cada jogador. Como sempre acontece neste género, no entanto, é preciso dosear o entusiasmo dos jogadores e ir dando um desafio que possam acompanhar sem realmente frustrar constantemente. É uma fórmula que se ama ou se odeia. Encontrar o equilíbrio certo, porém, é uma arte e a Mad Head não tem essa experiência.

Mas, o que mais me custou digerir foram os imensos bugs que fui encontrando na versão analisada no PC. Além de vários crashes para o ambiente de trabalho, tive estranhos freezes e ecrãs de carregamento “eternos”. Como já disse, a produtora teve aqui um trabalho enorme de cuidado na criação do jogo e estou certo que não tinha intenção de lançar o jogo assim. Aliás no dia de lançamento, lá estava uma actualização e estou certo que mais correcções virão. Por agora, a paciência sofre.

Este é também um jogo relativamente curto, com apenas umas 8 horas de duração. Confesso que não explorei muito o estranho mundo onde que nos leva mas não senti que tivesse perdido algo significativo. Há alguma curiosidade para voltar ao início e procurar algumas respostas adicionais ou alcançar algum troféu que ficou por cumprir. Mas não será, de facto, um título muito “repetível” para a maioria. Aliás, penso que beneficiaria mesmo de um loop narrativo como temos no já mencionado Returnal. Mas, já chega de “inspirações”.

Veredicto

Para se criar um ARPG que se torne memorável, como vimos tantas vezes, não é preciso realmente criar algo novo. É preciso que se tenha um conceito firme e uma implementação exemplar para que, mesmo com vários Dejá Vu, pelo menos a experiência se torne agradável. Scars Above tem tudo o que é preciso para isso, sem dúvida. Tem uma narrativa profunda, uma acção desafiante, um visual apelativo e óptimas ideias, não forcosamente novas. No entanto, a concretização da Mad Head Games claramente fica aquém do que se espera neste tipo de jogos tão concorrido.

  • ProdutoraMad Head Games
  • EditoraPrime Matter
  • Lançamento28 de Fevereiro 2023
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X|S
  • GéneroAcção, Role Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Crashes e outros bugs
  • Animações e expressões faciais
  • Algumas áreas pouco imaginativas
  • Algo curto

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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