Hellblade (1)

Análise: Hellblade – Senua’s Sacrifice (Actualização: Xbox One X)

Acompanhei este jogo desde que a Ninja Theory quis criar um título usando as mais diversas tecnologias disponíveis para uma experiência visual e sonora sem precedentes. Estive a aguardar que Hellblade: Senua’s Sacrifice me surpreendesse. E ele aí está. 

[Actualização Xbox One X]

Ao fim de uns quantos meses, Hellblade: Senua’s Sacrifice chegou finalmente à Xbox One, depois de ter sido um exclusivo temporário para a PlayStation 4 e PC. Como o conteúdo deste jogo permanece intacto desde a versão original do ano passado, não vou voltar a falar da história ou do conceito em si. Penso que já tudo foi dito sobre este jogo. Continuo a achar um bonito showcase de capacidades da Ninja Theory, interactivo quanto baste, mas demasiado focado no visual, com pouco ao nível da interacção. A verdadeira novidade que nos leva a actualizar esta análise, nem é a nova versão para a Xbox One normal, mas sim as melhorias significativas para a Xbox One X, a plataforma que usámos para voltar à companhia de Senua.

Conforme recordarão, a análise em baixo foi realizada no PC. Para todos os efeitos, será a versão definitiva deste jogo, com o melhor grafismo possível nesta plataforma. Desde então, pudemos jogá-lo também numa PlayStation 4 Pro, o que foi excelente para nos dar um termo comparativo entre PC e consolas. A PS4 Pro, mesmo com o seu hardware mais robusto, não conseguia acompanhar o grafismo do PC, como era de esperar, aliás. Mesmo assim, o jogo possui um óptimo aspecto na consola da Sony, com muitos efeitos visuais bem optimizados para a consola. Não comprometia, portanto.

Obviamente que a equipa de produção tinha aqui uma oportunidade soberana para elevar a fasquia visual de Hellblade, graças ao hardware mais potente da mais recente consola da Microsoft. No menu, irão encontrar três modos de optimização. O mais impressionante é o modo Enhanced Visuals que permite dar a melhor qualidade gráfica geral, com mais nevoeiro, vegetação, sombras e maior resolução de texturas. O modo High Framerate prescinde dessas melhorias mas dá-nos uma performance suave a 60 FPS. Já o modo High Resolution expande a resolução para UHD 4K, limitando a performance a 30FPS. O jogo tem também suporte para a tecnologia de cores e contraste HDR.

Dentro do universo das consolas, estes três modos proporcionam um compromisso do melhor de três mundos: A melhor qualidade visual possível, a melhor performance possível e a maior das resoluções. Para quem não tem um monitor 4K, esta última opção é obviamente irrelevante. Mas, quanto às demais opções, são de facto impressionantes como demonstração das capacidades da consola da Microsoft. Aliadas à fantástica tecnologia usada no jogo, criam uma experiência visual marcante, muito próxima daquilo que pudemos ver na análise que fizemos no PC.

Tudo o resto está intacto, inclusive o tal efeito 3D de áudio que será uma das coisas que vos dará maior imersão no jogo. Esta versão também aproveita os largos meses em que o jogo sofreu diversas actualizações e correcções de bugs, criando um título mais refinado. Infelizmente, a perspectiva de câmara continua demasiado próxima, apesar das inúmeras solicitações para um opção de ajuste. Pensei que a produção fosse corresponder, nem que fosse por abrir um pouco o ângulo de visão. Mas, isso não aconteceu. No PC é possível editar manualmente um ficheiro para aumentar o chamado FOV (Field Of View). Infelizmente na consolas essa modificação é impossível.

Veredicto da versão Xbox One

Até valeu a pena a espera pelo fim da exclusividade de Hellblade: Senua’s Sacrifice, especialmente se tiverem uma Xbox One X e uma televisão 4K com HDR. Só que não há muito mais para dizer desta versão. Talvez a Ninja Theory pudesse aproveitar o momento para adicionar conteúdo nesta nova versão, quem sabe um novo nível ou algum modo diferente de jogo. Como não o fez, nem sequer melhorando a perspectiva da câmara, esta é só uma nova edição do mesmo jogo. Continua a valer a pena pelo espectáculo visual e pouco mais. Quem desejar perceber do que trata a narrativa, deve continuar a ler a análise em baixo para entender o que podem esperar.

[Análise original de 9 de Agosto de 2017]

O que é um jogo, na verdade? A definição foi variando ao longo dos tempos. Por vezes, os jogos eram boas histórias interactivas, depois passaram a dar mais foco na jogabilidade e nunca chegámos a um consenso. Contudo, por vezes, os jogos não passaram de meros “showcases” tecnológicos. Demonstrações de tecnologias que as empresas e produtoras decidiam criar para mostrar as suas capacidades. Alturas houve em que essas experiências acabaram por se tornar em excelentes jogos, mas foram casos raros. Hellblade pareceu sempre ter um excelente aspecto. Também pareceu sempre apostar em muitas fórmulas de jogo já usadas. O problema surgiu quando a produção decidiu anunciar o preço como um pequeno jogo Indie. Todo aquele potencial foi colocado em causa.

Parto para a minha análise de uma forma diferente. Geralmente começo por falar da narrativa e passo depois para a jogabilidade. Contudo, a narrativa deste jogo até é uma história interessante de seguir e não quero estragar essa experiência. Dependendo da vossa perícia, porém, esperem umas 7 ou 8 horas de jogo para a desvendar. Basicamente Senua procura redenção pela perda do seu interesse romântico. O problema é que a protagonista possui uma psicose que a tortura com vozes na sua cabeça, condicionando os seus actos. E ficarei por aqui em termos de enredo. Prefiro passar para a parte técnica onde, aparentemente, residem os principais argumentos deste jogo.

Sim, Hellblade é realmente um regalo visual. Já sabem, pelos vídeos de produção que fomos partilhando, que o sistema de captura de movimentos é feito em tempo real e que tudo o que é relacionado com o movimento de Senua é ultra-realista, sobretudo nas cenas intermédias pré-animadas. Contudo, quanto a mim, a verdadeira estrela deste jogo é o seu meio-ambiente. Seja em densas florestas, cavernas ou habitações, tudo tem um cuidado visual quase demente. Na versão que analisei no PC, o grafismo é deslumbrante e cheio de vida, sempre na ordem dos 60 FPS com as definições no máximo. A optimização é realmente fantástica, num jogo que pode muito bem demonstrar as capacidades do motor gráfico Unreal 4.

Contudo, há mais aspectos que tornam esta experiência realmente interessante. Senua tem a capacidade de ver padrões e referências visuais que lhe permitem descobrir formas e objectos no cenário. Isto permite encontrar e resolver puzzles que variam de complexidade. Na verdade, entre exploração e combate, os puzzles são uma constante, sendo na maioria dos casos, relativamente fáceis de resolver. Esta lógica de quebra-cabeças permite-nos apreciar ainda mais os cenários, porque também estaremos mais atentos aos pormenores dos mesmos, procurando formas de resolver os problemas.

E é impossível ficar indiferente às vozes na cabeça de Senua. Invariavelmente, estas vozes estão sempre a dar alguma orientação ou a colocar em causa o que fazemos. Escolhemos o caminho certo? Estamos a fazer o que é correcto? Somos capazes de concluir a missão? Este podia muito bem ser um “simulador de esquizofrenia”. Isto porque o som 3D coloca as vozes na nossa própria cabeça. A tal ponto que, quando joguei algumas vezes com auscultadores, tive de os tirar. Isto porque a experiência pode tornar-se um pouco desagradável ao fim de uns minutos. Impressiona, de facto, mas não é algo que eu recomende a todos.

Numa dada altura enquanto antecipei este jogo, calculei que a produção procurasse uma jogabilidade próxima de outros grandes títulos de acção na terceira pessoa, como God of War, por exemplo. Infelizmente, apesar do intuito parecer ser esse mesmo, o combate de Hellblade é francamente simplista. Podemos bloquear golpes de adversários, contra-atacar no momento certo e até há golpes de ataque bastante satisfatórios. Contudo, não há um grande convite à perícia, sendo possível derrotar adversários com simples combinações de bloqueio, desvio ou ataque. Por outro lado, não só os adversários são todos praticamente idênticos a combater, como derrotar um boss ou outro se torna algo repetitivo. Parece que o combate é acessório, incluído só para não chamar a isto um “walking simulator”.

Também não ajuda nada que a câmara de jogo esteja tão próxima, sobretudo nos momentos de maior tensão. Um pouco mais de amplitude no ângulo de visão era bastante melhor. Está numa perspectiva muito baixa e demasiado próxima de Senua. Isto parece ser uma muleta técnica, talvez com o intuito de reduzir o campo de renderização, de modo a ajudar a controlar a performance do jogo. Uma câmara mais ampla talvez roubasse alguns fotogramas por segundo, sobretudo na PS4. Infelizmente, se é esse o caso, só confirma a teoria que esta produção estava mais focada no aspecto visual e na performance, que propriamente com a jogabilidade em si. E é pena que assim seja.

Veredicto

Não era bem o que esperava. Hellblade: Senua’s Sacrifice parece mais como uma demonstração de capacidades técnicas da Ninja Theory que um jogo propriamente dito. Entendo agora porque possui um preço tão reduzido. É um compromisso entre uma boa experiência visual e um jogo simples. Não chega a ser o grande título em potencial que todos aguardavam, talvez rivalizando com outros “hack and slash” que por aí andam. É relativamente curto apostando mais na exploração e puzzles que no seu combate simplista. Tecnicamente fantástico, sem dúvida, mas a sua jogabilidade não acompanha esse deslumbre visual e sonoro.

  • ProdutoraNinja Theory
  • EditoraNinja Theory
  • Lançamento8 de Agosto 2017
  • PlataformasPC, PS4, PS4 Pro
  • GéneroAventura Gráfica
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Câmara demasiado próxima
  • Combate aborrecido
  • Pouco desafio no seu todo
  • Algo curto

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários