GT5

Análise: Gran Turismo 5

Há jogos e há grandes jogos. Há jogos de carros e simuladores de condução. Possivelmente um dos melhores jogos de sempre do sistema Playstation chega finalmente à terceira geração de consolas Sony com Gran Turismo 5 para Playstation 3. A expectativa era gigantesca. 5 anos em produção, inúmeros adiamentos, com pedidos de desculpa pelo meio e grandes criticas à gestão da Sony neste projecto, pudemos finalmente colocar o BluRay na consola, mãos no volante e apreciar a obra prima de Kasunory Yamauchi, o grande mentor do GT, perfeccionista e mestre do detalhe.

Chave na ignição, óculos da moda postos, luvas à Fangio colocadas, chegou a nossa vez de conduzir o grande monstro da Sony, sério candidato a divorciador/separador de casais. 

A mística das letras GT

A história de Gran Turismo foi escrita a ouro. Não só pudemos aproveitar a oportunidade para conduzir carros com uma manobrabilidade autêntica e elevado realismo, como havia grandes bombas de luxo à escolha num modo de carreira enorme, cheio de desafios, onde até a carta se tinha de tirar e tudo. Os primeiros GT sempre foram longe nas capacidades das consolas com os dois primeiros a puxar a PSOne ao máximo e o 3 e 4 a elevar a PS2 a níveis que nem sabíamos serem possíveis numa consola. Gran Turismo foi sempre inovador, inspirou imensos clones e “wannabes”, mas sempre se isolou na liderança dos jogos de SIMULAÇÃO automóvel. Ainda hoje é possível ver pessoas a jogar GT4 na sua velhinha PS2… mas só até hoje…

As letras GT estão de volta, cheias de força e vontade de arrasar com a concorrência. Com elas vêem grandes novidades e inovações que devem colocar os demais estúdios às voltas para refazerem muitos jogos que estariam na calha…

1ª Mudança

Arrancamos com aquilo que só podemos chamar de “Ode ao Automóvel”. Já no pequeno livro Apex que acompanha as edições especiais recebemos uma introdução acerca da construção do automóvel. No jogo, depois de uma infindável instalação (já lá vamos) somos brindados com uma fantástica peça em vídeo (HD meus caros) acerca do processo de fabrico de um automóvel, desde a extracção de minério à linha de montagem. Com uma música inspiradora, com um design arrebatador, diríamos que estamos perante um filme de grande produção, um daqueles documentários televisivos. E se o queixo já tinha tendência para cair, o vídeo muda para imagens do jogo em si como se do produto final se tratasse. Perdemos a conta aos minutos desta introdução, mas ficou claro que o que vimos era IN GAME e só quando apareceu o logótipo que antecede o menu é que percebemos que estávamos ali para jogar…

Entramos num menu polido que nos lembra, mas em nada se parece, com GT5 Prologue onde se nota o intenso desejo que a experiência seja a melhor possível. Existem logo dois modos à escolha, além de um modo de construção de pistas (não construir propriamente, apenas escolhem aleatoriamente uma pista que é gerada na hora, mas a utilidade resume-se apenas a treinos e jogos online). Decidimos entrar no modo que interessa, esquecendo para já o célebre modo Arcade e entramos no modo carreira, conhecido como Gran Turismo!

Começamos por personalizar o nosso jogo com os nossos dados online e offline, preferências diversas entre outras configurações de arranque. Nesta altura convidam-nos para visitar as lojas para comprar o nosso primeiro carro. Com apenas 20.000 créditos não pensem que vão logo buscar o SLS AMG, talvez um pequeno Citroen C3 em segunda mão tenha de ser a vossa escolha, mas não desesperem, este é o primeiro de muitos carros, muitas horas e muitas frustrações que vão experimentar em Gran Turismo 5. Faz parte da magia do jogo.

Uma nota para o facto de que dos mais de 1000 automóveis disponíveis, faltarem marcas e fabricantes de peso, sobretudo na Europa. Também não sabemos se algumas marcas estarão de fora na fase inicial aparecendo mais tarde, mas ficámos aborrecidos por não ver marcas como Opel ou Seat por lá… Enfim…

2ª Mudança

Sem mais tempo a perder está na altura de pegar no nosso chaço e levá-lo para a pista onde poderemos experimentar os estonteantes 80 cavalos… meh…

O desafio dos grandes jogos da concorrência de GT prende-se com diferentes aspectos da condução que os tornam únicos. Se Forza Motorsport 3 é mais acerca do ângulo de curva e negociação da mesma, Need for Speed Shift será mais sobre o controlo de caixa de velocidades e tracção. Gran Turismo será tudo isso mas acrescenta uma coisa que mais nenhum jogo consegue igualar: Inércias. O centro de gravidade do carro numa suspensão mala ajustada pode significar a perda de tracção ou a saída de pista por oversteer ou ainda pião por understeer. Um conjunto de travões mal calibrado e o veículo pode não travar a tempo ou sair a direito numa curva. É isto Gran Turismo. Inércia, massa e centragem, temos de compreender e ser autênticos pilotos. Todos os erros de travagem, direcção ou aceleração são pagos.

Conduzir em velocidade não é fácil em Gran Turismo. Desliguem os auxiliares todos e verão que afinal há uma besta debaixo do capot que nos quer matar. Quando aceleramos, travamos, viramos mas sobretudo quando esbarramos numa parede, o ecrã vibra, o carro amolga (não muito diga-se) e a Física torna-se implacável. Com custo e alguma dificuldade lá levamos o pequeno Francês por Monza a tentar não partir muita coisa.

Felizmente que a Polyphony Digital inseriu umas ajudas para quem não tem unhas para fazer curvas a 100 Kmph, basta pausar e ir ao menu e começar a ligar as ajudas… acreditem… vão precisar de algumas….

3ª Mudança

Ok! Não terá sido uma boa escolha um carro Francês feito de plástico e agarrado com fita cola, por isso, aproveitando o embalo, nada como pegar no modo Arcade e testar uma daquelas bombas do campeonato DTM.

A sensação é logo outra, sentados num cockpit de um carro (a sério), Gran Turismo deixa de ser um simulador de carros citadinos e passa a rivalizar com os grandes monstros da simulação de competição. Apesar de não podermos mexer nas definições do carro como no modo Gran Turismo, fica claro que a afinação é tudo. Não desesperem se não sabem o que é uma vela ou uma cambota. Quer dizer, não desesperem se compraram as edições especiais porque lá vem contido no tal já mencionado livrinho Apex todas as dicas para se tornarem engenheiros Mecânicos amadores. Tudo o que precisam saber sobre performance e todos os ajustes possíveis e imaginários. Acreditem que faz a diferença em baixar as forças aerodinâmicas, ajustar o ângulo de travagem, etc. Isto nas mais diversas disciplinas, tanto no WRC (Rallies) como no DTM e ainda mais importante na Fórmula 1.

Depois vem a personalização do carro. Existe uma panóplia e upgrades e melhoramentos aos carros que os podem tornar ainda melhores. Não encontrámos foi upgrades para os travões, sabe-se lá porquê, se calhar Yamauchi trava pouco, não sabemos. Mas estes upgrades são também essenciais para melhorar o vosso carrito. Mas lembrem-se que por vezes é preferível desenvencilharem-se do actual e obter um novo. Mas se acham que o que tem ainda dá mais qualquer coisa espremido, não hesitem. Sinceramente achamos que este jogo é para quem deseja apaixonar-se pelo automóvel ou reviver essa paixão e sem conhecimentos de Mecânica não vai longe.

4ª Mudança

Grafismo… ora bem… Muitos foram os jogos que primaram pelo rigor. Honras feitas aos mesmos, porém, nenhum conseguiu alguma vez chegar ao grau de detalhe de Gran Turismo 4 em que um meio louco Yamauchi ia para o meio das pistas de Nurburing tirar fotografias ao asfalto… sim, ao asfalto.

Se GT4 era deslumbrante numa consola como a Playstation 2, imaginem onde GT5 podia chegar com a brutal capacidade da PS3… De facto, somos logo confrontados na caixa com a informação de 1080p nativos e esfregamos as mãos de contentes por isso. Já para não falar da compatibilidade com o 3D, algo que infelizmente não nos cativa, mas acreditamos que alguém, algures deu um gritinho de felicidade.

Se desejarmos ver a REAL capacidade da Playstation 3, metam GT5 na consola, liguem o som e aproveitem a fantástica reprodução de pistas e locais, os interiores deslumbrantes dos melhores carros do mundo… Bom… nem todos, é que dos 1000 e tal anunciados, apenas cerca de 200 é que recebem o tratamento “Premium” com um nível de detalhe mais elevado com interiores completos. Os demais são apenas mais uns baldes com rodas. Tem lá o som e Dinâmicas todas, mas o interior, exterior, sombras, modelação do carro… enfim, depois percebem, Não faz grande sentido serem tantos carros standard e tão poucos Premium. Se a intenção era popular o jogo, seria preferível ter só os duzentos e tal Premium…

Mas, voltando ao aspecto, Gran Turismo 5 reivindica o seu lugar cimeiro na modelação dos carros e ambientes. As pistas reais e as improvisadas tem um elevadíssimo grau de detalhe e qualidade HD. Não podia haver nada mais bonito que conduzir um Nissan Skyline GTR na baixa de Tóquio, à noite.

A chuva, a neve, a gravilha, os elementos que adicionam desafio à condução confundem-se com a realidade. A dada altura só nos apetece pausar o jogo e entrar no modo fotografia e brincar com ângulos, velocidades de obturador e efeitos porque o jogo é realmente um tributo ao mais belo que o automóvel proporciona, com gráficos de cortar a respiração, seguramente os melhores que jamais vimos a correr na Playstation 3.

Infelizmente, porém, algumas coisas são prova de alguma inconsistência. Algumas pistas tem elementos pouco inspirados como a falta de detalhe de Daytona ou a desapontante pista da Top Gear, que pode até nem ter grande coisa lá (localizada num aeródromo abandonado), mas realmente, seria bom termos ali um suminho de realismo. Sobretudo no tal modo já mencionado chamado de Course Maker e que nos possibilita criar pistas de uma forma aleatória. Aí, as pistas ainda são menos inspiradas. Nota-se aqui, sem querer falar mal no pleno sentido da expressão, que houve alguma pressa, talvez fruto do tempo gasto nos outros pormenores.

No geral, porém, a nível gráfico dificilmente algum jogo conseguirá alguma vez ultrapassar GT5… pelo menos tão depressa. Desde os veículos aos circuitos, os efeitos, uma chuva e neve que parecem mais reais que o real, enfim. Tudo o que seria de esperar da Polyphony.

5ª Mudança

8 Gb de instalação ao inicio fez-nos esperar perto de uma hora até chegarmos ao menu. O jogo indica-nos que para jogar com maior fluidez precisa de o fazer, embora seja possível não o fazer de imediato e ir instalando consoante avancemos no jogo. Claro que isso aumentará o tempo de espera entre sessões, mas e estão assim tão desesperados, cancelem a instalação no inicio.

Essa instalação, alem dos já mencionados tempos de espera diminuídos, permite ainda que possamos jogar online. Grande novidade na série GT introduzida em Prologue, está tão polida e refinada que a fluidez e a dinâmica de jogo permanece inalterada em comparação com o modo offline.

As aplicações online, aliás uma constante no jogo com a possibilidade de receber notícias e comunicar com os nossos amigos constantemente, entrando e saindo de sessões multiplayer e partilhando fotos e dados de jogo. Gran Turismo tornou-se um jogo online e até aqui o grau de detalhe impressiona pelo cuidado claro em não estragar a experiência de jogo. Para isso contribuiu a PS Network que recebeu uma misteriosa intervenção de manutenção na passada semana, agora sabemos porquê. Os 16 jogadores possíveis, não experimentam nem Lag nem falhas de ligação. Pelo menos por agora.

Menos positivos são os menus, algo antiquados comparados com que anda por aí. Não deixam de ser eficazes, mas de facto, no modo online pode ser confuso, especialmente se jogaram Shift ou GRID online percebem logo que há algo errado.

6ª Mudança

Campeonatos de World Rally Championship, NASCAR, Formula 1, GT e até Karts possíveis de jogar como piloto (A-Spec) ou como dirigente de equipa (B-Spec) prometem uma longevidade daquelas que dá em divórcio ou despedimento.

O modo carreira promete muitas horas gastas, sobretudo se, se dedicarem a correr as 24 horas de Le Mans, onde a vitória é secundária… conta mesmo é acabar a prova…

Para tirar a carta nas várias categorias é curioso passar pelos exames e testes, imagem de marca de Gran Turismo, até na PS Portable.

Pode-se perder muitas mais horas no modo fotografia e no tuning e upgrade aos carros. O mais impressionante mesmo é que em nada GT5 aborrece. Não há grau de dificuldade acrescido, excepto nos carros em si. Quanto mais potentes, quanto mais mexidos, mais desafiantes se tornam. Não existe, como em outros jogos, o desafio dos pontos ou dos objectivos. Há sim o interesse de coleccionar automóveis, equipá-los o melhor possível e ganhar mais dinheiro para mais carros e mais equipamento. Coleccionem-se as licenças e os troféus e outros prémios… Daqui a uns anos ainda estaremos a jogar Gran Turismo 5.

Marcha Atrás….

Como já dissemos, os modelos de danos podiam ser melhores. Sim, é verdade que os GT anteriores nem danos tinham. Também não esperávamos um Burnout, mas podiam mesmo ter dado um pouco mais de realismo. A dada altura parece que estamos a jogar com carrinhos de choque…

As pistas podiam ser todas igualmente impressionantes e os carros deviam ter todos os mesmo grau de detalhe. Pequenos pormenores num jogo repleto de… Pormenores… Se calhar prescindíamos de tanto detalhe nalguns carros e pistas para termos um maior equilíbrio de detalhe em todos os pontos…

A banda sonora é uma questão de gosto, mas depois de passarmos por tantos jogos de condução, aqueles géneros mais adequados como Metal ou Trance, extremos opostos musicais mas que funcionam tão bem a 300 Kmph, parece que Gran Turismo 5 é passado a 120 Kmph no banco de trás de um Bentley a beber champanhe. Talvez não se chateiem muito se a desligarem. Já agora GT foi sempre assim, uma banda sonora aristocrática e sem grande interesse em promover a velocidade.

Travão de Mão

Temos jogo! 5 anos de espera compensaram. Não é propriamente um jogo equilibrado e percebemos perfeitamente o porquê dos constantes adiamentos. GT5 teve grande e boa competição por aí. Teve de saltar a fasquia e não foi fácil certamente. Não acreditamos que Yamauchi se fique por aqui em termos de updates (hoje, dia de lançamento saiu uma patch 1.01). Esperamos que os pequenos “senãos” do jogo sejam corrigidos ou melhorados. Os Gran Turistas agradecem.

  • ProdutoraPolyphony Digital
  • EditoraSony Computer Entertainment
  • Lançamento24 de Novembro 2010
  • PlataformasPS3
  • GéneroCondução, Simulação
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Interface Online podia ser melhor
  • Algumas pistas pobres
  • Demasiado desequilíbrio entre carros Premium e Standard
  • Tempos de espera pela instalação e entre provas demasiado longos

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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