Análise em Progresso: Batman – The Telltale Series ” The Enemy Within”

Depois da primeira temporada da adaptação da Telltale Games não ter impressionado muita gente, eis que Batman: The Telltale Series regressa com um novo capítulo. Com “The Enemy Whitin” a produção parece ter, finalmente, ouvido as críticas. 

“Liberdades no cânone, falta de ímpeto criativo, problemas técnicos persistentes e uma conclusão previsível”, foi assim a minha experiência na primeira temporada das aventuras do homem-morcego na mão da Telltale. Foi, de facto, um punhado de boas ideias mal implementadas, enquanto nenhuma das personagens deixou grandes saudades, numa história interessante mas bastante aborrecida. Estava na dúvida do que esperar da segunda temporada. Sabia que a Telltale poderia pegar na mesma fórmula e repetir os erros. Sabia que o cânone nunca estaria assegurado e que algumas personagens não seriam consensuais. De qualquer forma, a Telltale não costuma desapontar na forma como conta as suas histórias. E, bom, Batman é uma das personagens mais icónicas do mundo da banda desenhada. Damos uma nova hipótese?

Como seria de esperar, a história arranca imediatamente depois dos eventos finais da primeira temporada. Bruce Wayne tem o passado da sua família manchado pelo crime, Harvey Dent foi encarcerado, assim como Oswald Cobblepot e Vicky Vale. Alfred ficou com mazelas do seu encontro com os “Filhos de Arkham” e Selina Kyle partiu de Gotham. Poderão importar o savegame dessa primeira temporada com as escolhas já feitas, inclusive alterando algumas que não tenham ficado satisfeitos. Não se preocupem, porém, se não jogaram esse primeiro capítulo. O jogo permite escolher os desenlaces mais importantes no início deste primeiro episódio.

Neste episódio intitulado “The Enigma”, Batman irá enfrentar um vilão de longa data do seu lore. Edward Nigma é o infame Riddler que, segundo a narrativa criada pela Telltale, é um dos primeiros bandidos mascarados de Gotham. Ao regressar à cidade, tem um plano macabro de eliminar as “pontas soltas” de um plano gigantesco. Como? Colocando insuspeitos em máquinas de tortura que só podem ser libertados com a solução de puzzles complexos. Bruce Wayne e o seu alter-ego Batman irão enfrentar esta nova ameaça, enquanto a famosa Amanda Waller chega a Gotham com a sua Agência para criar problemas à Polícia de Jim Gordon.

De um modo geral, este enredo está a anos luz de toda a narrativa da primeira temporada. E ainda só recebemos um único episódio. Nesta primeira parte, temos imensos desenvolvimentos de personagens, diálogos complexos e muitos acontecimentos com impacto na narrativa. Há escolhas verdadeiramente difíceis de tomar, perdas de personagens e, pela primeira vez, um certo respeito pelo ADN das personagens do universo da DC Comics. Riddler é capaz de ser das personagens melhor reproduzidas até agora, mas John Doe (não engana ninguém, é mesmo o Joker) teve um salto notável na sua caracterização. Era só isto que os fãs queriam, na verdade.

Será um pouco difícil a Telltale fazer esquecer as suas liberdades ao nível do cânone, até porque a história continua daí. No entanto, este episódio, mesmo tendo também as suas liberdades, não choca minimamente nos seus desenvolvimentos menos consensuais. Como já disse, até há uma personagem que é perdida e que até tem alguma importância no enredo geral da história do próprio Batman. Contudo, essa perda parece ser um bom catalisador para outros eventos no horizonte.

 

E no campo técnico, é preciso dar uns sinceros parabéns à Telltale Games. Acusada de ser algo “despido” de profundidade técnica e de pormenores, a primeira temporada possuía a qualidade reconhecida desta produção, mas nada era realmente muito elaborado. Neste primeiro episódio, vemos um importante salto no detalhe dos cenários (sobretudo na mítica Batcave) e nas animações gerais das personagens. Apesar de ter assistido a uma ou outra perda de performance, nada foi realmente assinalável. Pelo menos, não observei as quebras e freezes frequentes que tanto me queixei na temporada passada.

É também de assinalar que os diálogos são sobejamente mais complexos e as decisões bem mais complicadas de tomar, longe das anteriores trocas de palavras sem substância. Finalmente, aquelas decisões com repercussões e ramificações que tanto gostamos nos jogos da Telltale parecem ter chegado a Gotham. Embora não seja possível ainda ver até onde algumas decisões chegarão, é já possível antever algumas consequências de algumas reacções ou atitudes que tomamos. Um bom exemplo passa-se com Amanda Waller. Se colaboramos com a sua Agência, quebramos a confiança do Comissário Gordon. E há outras opções com este calibre.

 

Também gostei de observar que os infames momentos de investigação de Batman não são tanto aqueles aborrecidos e dispensáveis momentos “point and click”. Houve um trabalho da produção para tornar estes momentos um pouco mais breves e com algum interesse. Um deles surge durante um complicado puzzle de Riddler que pode resultar na morte do próprio Batman. Não há nada mais tenso, mesmo que a acção neste campo seja francamente a mesma. Pelo menos não exasperei tanto nestes momentos e até achei os puzzles engenhosos.

Haverá algo menos bom neste episódio? O mal já está feito, como devem calcular. As personagens da primeira temporada fizeram os seus estragos. Felizmente, a história parece ter ganas de reciclar tudo e todos, o que pode ser positivo para quem não gostou de ver tanta coisa diferente do que já conhecia das histórias da banda-desenhada, filmes e mesmo de outros jogos. Prefiro aguardar para ver o que esta segunda temporada nos traz. Prefiro pensar que, mesmo que nada ocorra como o esperado, a bem de uma história bem contada será surpreendente. Até agora, há muito pouco para assinalar como negativo.

Veredicto

É só um primeiro episódio, mas esta segunda temporada de Batman: The Telltale Series parece um salto qualitativo substancial. Gostaria de dizer que “The Enemy Within” será melhor que a temporada anterior, embora seja ainda algo cedo. Este primeiro episódio traz à vida um Riddler competente, num episódio cheio de acção, puzzles e diálogos fortes. Melhor, os problemas técnicos e falta de inspiração anteriores parecem algo do passado. Vejamos o que o resto da temporada nos trará e se a produção tem pedalada para manter este ritmo.