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Análise: Dragon Quest Heroes II

É bem provável que o vosso primeiro contacto com esta série tenha sido exactamente como aconteceu comigo: com Dragon Quest Builders. Contudo, foi com o primeiro Dragon Quest Heroes que o gigante franchise atingiu um novo patamar de popularidade aqui pelo ocidente. E já está aí a segunda parte desta aventura de culto.

O ADN desta série é bem mais vasto do que poderiam pensar, porém. Desde 1986 que os RPGs da série Dragon Quest são um autêntico fenómeno de popularidade no Japão, rivalizando até neste género com outros grandes franchises, incluindo o próprio Final Fantasy, também da Square Enix. Com outras apostas pelo meio, Dragon Quest Heroes chegou no ano passado e trouxe uma mistura de combate “hack and slash” em larga escala tornado famoso pelos jogos da série Dynasty Warriors da Koei Tecmo. Lançado há um ano no Japão (e só agora chegando ao mundo ocidental), com este Dragon Quest Heroes II, a produtora Omega Force vem dar continuidade ao sucesso sem precedentes deste seu rumo alternativo. Isto enquanto os fãs esperam por Dragon Quest XI. Vale como “compensação” pela espera?

No início do jogo, somos convidados a escolher uma de duas personagens. Estes são os primos Razel e Teresia. Independentemente da personagem que escolham, não há grandes diferenças na acção do jogo, apenas verão os mesmos eventos nas duas diferentes perspectivas. Basicamente, os primos reencontram-se em Orenka onde Razel está a estudar para ser um guerreiro. Esta cidade faz parte dos Sete Reinos que há alguns anos vive em paz, graças a um tratado que garante que nenhum reino fará guerra com algum outro. Só que algo inesperado acontece e um antigo amigo parece ter mudado de ideias, atacando Orenka. Cabe aos dois heróis abraçar uma nova aventura de descobrir o motivo da agressão e recuperar a paz nos Sete Reinos, agora pejado de monstros para destruir.

Todo este enredo tem um tom, diria… brando no que toca à acção. Baseando-se no lore da série RPG, esperem personagens coloridas e muita “pacificação” das cenas que poderiam ser de maior violência. Dragon Quest Heroes II possui uma classificação etária baixa, por isso, não esperem grandes questões de moral, cenas de combate realistas ou diálogos profundos. O tom do enredo também é muito ligeiro e claramente desenhado para os mais novos. Não deixa de ser uma história interessante e bem construída. Mas, há uma clara distância da seriedade de Dynasty Warriors, de onde já expliquei que extrai uma boa parte da sua inspiração. Isto é negativo? Não propriamente. Afinal, os fãs de Dragon Quest já sabem o que esperar.

Esta sequela aposta praticamente na mesma fórmula do primeiro jogo. Com uma ambiência claramente inspirada na banda-desenhada, é principalmente um jogo de aventura, com foco no combate em larga escala e alguma exploração. Para isso, as personagens contam com algumas armas, como espadas ou escudos, mas também com feitiços simples. Os combates são constantes contra monstros avulsos espalhados pelos mapas ou em arenas designadas, quase sempre com vastos números de inimigos, que também podem surgir por vagas. A ideia é que não é tanto preciso efectuar combos ou golpes certeiros, mas sim atacar os inimigos de forma estratégica, sobretudo com golpes críticos através da magia ou do acumular de energia para movimentos especiais.

Então o que há de novo desde o jogo anterior? Há claramente uma intenção da produção de se aproximar mais do estilo RPG da série original. Além do enredo ser mais claro e objectivo, há também um maior convite à exploração de vastas áreas, mantendo as mecânicas de inventário, crafting e progressão da personagem. Há também algumas modificações nas lógicas de summons e de poderes especiais, bem mais orientados para a defesa ou para ataques críticos. Outras novidades interessantes são as pedras que permitem fast-travel, a facilidade de mudança de classes (com armas e poderes diferentes), além de umas outras novidades no que toca à acção multi-jogador que já vou falar mais abaixo. Para todos os efeitos, diria que esta sequela é uma continuação competente do primeiro jogo, melhorando-o onde era realmente possível.

Convenhamos que o estilo de combate apresentado neste jogo, já não é propriamente uma novidade ou exclusivo da Koei Tecmo. Dezenas de outros jogos já usaram a mesma fórmula. Não falemos de cópia, porque há sempre espaço para inovar neste tipo de jogabilidade. O que é certo é que andar à “espadeirada” pelos campos de batalha, não parece perder o seu charme. E aí este jogo é realmente viciante. Nas chamadas “zonas de batalha” chegamos a enfrentar dezenas (centenas?) de adversários que fazem questão de nos rodear com alguma organização. Há também enormes seres que agem como bosses que precisam de coordenação de ataques especiais e movimentos temporizados.

É possível alternar entre personagens, aproveitando os seus poderes específicos e criando combinações de ataques. Conseguimos, assim, ter uma maior variedade de combate entre as quatro personagens do nosso grupo, não só com os dois primos, mas também com outros dois companheiros que podemos recrutar de vários que vamos conhecendo ao longo da história. Também gostei muito do facto de algumas batalhas possuírem algumas variáveis, como a necessidade de eliminar primeiro adversários com armas de longo alcance, que flanqueiam furtivamente ou ainda, que se escondem em arbustos e iniciam mais vagas de inimigos, por exemplo. Tudo isto torna o jogo muito interessante nestas fases de acção mais intensa, sobretudo nos combates insanos em larga escala. Mas… nem sempre estamos em combate.

Entre batalhas, o jogo é muito peculiar. Esta é uma expressão que uso aqui para não dizer que é aborrecido. A sua peculiaridade prende-se com os diálogos simplistas, personagens demasiado caricaturadas e algumas piadas algo fracas. Já mencionei que este jogo é mais orientado para os mais novos e estas situações são perfeitamente expectáveis. Contudo, há outras questões que poderão criar algum aborrecimento neste título. Os extensos diálogos escritos (uma boa parte sem áudio), as missões secundárias quase todas iguais e o design simplista de alguns níveis, vão exasperar alguns jogadores. Apesar de muito variadas, as áreas e caminhos para explorar são francamente desprovidas de detalhes e tornam-se algo repetidas. Usem e abusem do fast-travel, a não ser que queiram fazer grind para angariar pontos de experiência ou recursos.

Também a maior abordagem RPG pode não agradar a todos. Pessoalmente, não tenho nada contra o sistema de progressão e de equipamento. Contudo, a necessidade de preparar cada nova missão recorrendo ao equipamento, classes e poderes específicos, algumas vezes obrigando a descer de nível ou a usar classes que menos gostamos, obrigará a uma estratégia mais complexa, que não é costume haver neste estilo mais “directo ao assunto” dos hack and slash. É normal quererem algo mais linear, evoluindo sempre com mais e melhor equipamento numa classe que se dedicam. Na maior parte do tempo passado neste jogo, é isso que acontece, mas quando tiverem de largar o vosso equipamento de herói para uma missão específica de outra classe, vão entender o que eu estou a dizer.

Como já disse anteriormente, há várias personagens em jogo no grupo que nos acompanham nesta aventura. Isto significa que há uma margem para alguma acção multi-jogador, certo? Bom, até há, sim, mas não na forma que, como eu, estariam à espera. Infelizmente, não é possível jogar de modo cooperativo na mesma plataforma em ecrã dividido, o que faria muito sentido nos combates, por exemplo. Existe uma opção online de coop, de facto, mas é baseada numa lógica “drop in, drop out”, em jeito de pedido de ajuda a um jogador que já tenha passado a fase em que estamos. E há também um conjunto limitado de dungeons (chamadas de Time Labyrinths) para abordar até quatro jogadores via matchmaking. Mas, onde está a perfeitamente possível campanha jogável por inteiro numa forma cooperativa? Ficou na gaveta da Omega Force, infelizmente.

No que toca ao grafismo, obviamente que não estamos a falar aqui de algum jogo foto-realista de grandes efeitos visuais. Começando pela modelação das personagens, claramente inspiradas num estilo modificado de manga, passando pelos monstros e terminando nos cenários, este é um jogo que evoluiu de uma série que sempre apostou no estilo da banda-desenhada. Contudo, a Omega Force esforçou-se por nos trazer um design surpreendentemente polido e na linha dos mais recentes jogos RPG da série original. Além disso, há uma fluidez assinalável que, só não é perfeita, porque se notam ligeiras perdas de qualidade na transição com as cenas intermédias. Efeitos visuais, iluminação, texturas e animações de personagens possuem muita qualidade de produção. E até o talento de vozes dos actores, confere uma qualidade interessante ao jogo.

Veredicto

Se gostaram do primeiro jogo, Dragon Quest Heroes II é uma excelente sequela dessa fantástica aventura. Um pouco mais virada para a lógica Role Play, porém, poderá não ser tão linear como esse primeiro título. Contudo, esse foco criou um jogo bem maior e mais complexo, mantendo toda a acção dos combates de larga escala que o primeiro jogo soube tão bem apresentar. Pode ser um pouco aborrecido entre batalhas e certamente seria mais interessante se tivesse uma acção cooperativa mais profunda. É, mesmo assim, um óptimo jogo se gostam do género da aventura, com acção pelo meio e um pouco de RPG.

  • ProdutoraOmega Force
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento28 de Abril 2017
  • PlataformasPC, PS3, PS4, Switch, Vita
  • GéneroAventura
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Falta de real modo cooperativo
  • Algo aborrecido entre batalhas

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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