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Análise: Bravely Default (3DS)

Depois de alguns anos a sustentar um estranho hiato de bons JRPG‘s, eis que surgem várias pérolas que visam revolucionar o género. Vendo bem, o termo marxista “revolução” nem se aplica muito bem, já que vários destes jogos vão pegar em fórmulas clássicas que levaram o género à ribalta dos jogos de vídeo ainda durante a época das 16 bits. Fórmulas essas que, assuma-me e entenda-se de uma vez, são aquilo que nos faz gostar tanto deste género. A análise WASD a um dos melhores RPG’s nos últimos tempos a chegar do país do sol nascente: Bravely Default.

“Agnès é a guardiã do Cristal do Vento, um dos quatro cristais adorados pelos fiéis à doutrina dos cristalismo. Quando um poder obscuro ataca o seu templo e o mundo, ela parte numa demanda para acordar todos os cristais.”

Começamos Bravely Default curiosamente com uma experiência em realidade aumentada com Agnès, a vestal do vento, a solicitar a nossa ajuda. É certo que durante o jogo a tecnologia AR não volta a ser utilizada mas, não obstante, como introdução à narrativa deste JRPG, funciona muito bem.

Bravely Default conta-nos a história de quatro heróis que se unem por um objectivo comum: a vestal do vento Agnès Oblige; o amnésico Ringabel, cujo único vestígio do seu passado é um misterioso diário que também aparenta possuir detalhes sobre o futuro; Edea Lee, filha do maior promotor da doutrina contrária à religião dos Cristais; e Tiz Arrior que, perante os seus próprios olhos, vê o seu irmão e a própria aldeia desaparecem numa enorme cratera. A partir daí, a narrativa desenvolve-se através da constante batalha entre os opositores da doutrina dos Cristais e os seus defensores (os poucos que restam) embora algo mais obscuro e inquietante se esconda por trás deste conflito.

O combate desenvolve-se através de uma estrutura por turnos, habitual nos clássicos do género. Há uma enorme novidade: o sistema ‘Brave’ e ‘Default’, que traz uma originalidade enorme a este RPG e que nos abre várias opções durante uma batalha. Se, com a opção ‘Brave’ activada, podemos exceder os limites da nossa vez de agir activando mais opções mediante o sacrifício dos próximos turnos, com a opção ‘Default’ guardamos a oportunidade de agir para uma próxima vez, defendendo ao mesmo tempo. Este sistema permite planear atempadamente um ataque em força ou sacrificar tudo de uma só vez quando vemos os nossos calos apertados. Tudo mediante a situação em que nos encontramos, tornando tudo muito mais complexo do que o habitual “agora jogo eu, agora jogas tu”.

Para complementar, Bravely Default oferece ainda um sistema de jobs (entenda-se classes) em muito semelhante ao de Final Fantasy V, para quem conhece. À medida que vamos avançado na história principal, mas sobretudo nas missões alternativas, desbloqueamos jobs que depois podemos utilizar nas quatro personagens da nossa equipa. Ao todo, temos 23 profissões para desbloquear neste RPG. Algumas clássicas como o white mage, o black mage, o knight ou o thief. Outras tão díspares como o performer ou o vampire.

Em Bravely Default podemos ainda contar com os sleep points, incluídos numa característica intitulada Bravely Second. Basicamente, por cada oito horas que deixamos a nossa 3DS em sleep mode ganhamos a habilidade para utilizar mais uma acção durante uma batalha quando usamos um sleep point. É aqui que aparecem as micro-transacções com a hipótese de poder comprar, na hora, sleep points. Ora, durante toda a minha experiência de jogo em Bravely Default precisei de usar os ditos sleep points umas duas vezes com pontos que consegui através do sleep mode da 3DS. Dessas duas vezes, caso tivesse sabido gerir melhor a batalha, provavelmente nem precisaria deles. Portanto, todos aqueles preocupados com o facto das microtransacções estragarem o equilíbrio do jogo, podem ficar descansados. Gastar dinheiro não é, de todo, necessário para desfrutar por completo de Bravely Default.

Se há coisa que normalmente nos preocupa quando pensamos em adquirir um JRPG é se o jogo nos obriga a fazer grind (entenda-se tal como o acto de repetidamente sermos obrigado a fazer as mesmas batalhas vezes sem conta para evoluirmos as nossas personagens). Pois bem, Bravely Default está cheio de grind, como estão muitos dos RPG’s clássicos da nossa juventude. O que este JRPG faz melhor que os outros é ajudar-nos a suportar o dito grind, dando-nos as ferramentas necessárias para tal. Por exemplo, em Bravely Default podemos alternar a dificuldade na altura que quisermos: podemos jogar habitualmente em Normal mas, quando quisermos evoluir as nossas personagens, aumentamos a dificuldade e ganhamos mais experiência. Da mesma forma, podemos aumentar ou diminuir a taxa de encontros aleatórios, assim como programar uma série de acções no modo automático e até aumentar a velocidade dos encontros. Todas estas funcionalidades, permitam-me dizer, tornam o grind de Bravely Default agradável de suportar.

Outra das funcionalidades, que não deve deixar de ser elogiada, como aliás já o tínhamos feito na análise de Ni No Kuni: Wrath of the White Witch, é a presença da hipótese de selecção das vozes originais em japonês ao invés das vozes em inglês, que vêm predefinidas na versão europeia deste jogo da 3DS. O jogo ganha outra pedalada com as vozes originais que a dobragem em inglês não consegue dar, chegando mesmo a roçar o vulgar.

Com a função Street Pass podemos ir adicionando população à vila de Norende, de onde a personagem Tiz é oriunda e que o próprio deu início à reconstrução depois da calamidade que a atingiu. Os jogadores que vamos encontrando são adicionados como habitantes e podem-nos ajudar a completar determinadas tarefas como construir edifícios ou destruir obstáculos. Quantos mais habitantes colocarmos em cada tarefa mais depressa as completamos.

Mesmo à moda da velha guarda dos clássicos do género é a longevidade de Bravely Default. Sobretudo se tivermos em conta que, as cerca de 40 horas para terminar a campanha principal, podem ser aumentadas para 60 se quisermos completar todo o conteúdo alternativo. Algo que se recomenda, porque todas as missões de bónus são bestiais e dignas da nossa atenção. Para além disso, Bravely Default possui ainda a opção New Game Plus após o final do jogo, permitindo continuar com as estatísticas que alcançámos, mas a partir do início da campanha. Também aqui o jogo brilha quando nos dá a opção de definir quais os aspectos com que queremos continuar e onde se incluem: os níveis das personagens, os itens, os jobs e os respectivos níveis, o dinheiro ou até a hipótese de continuar o nosso jogo num ficheiro de save diferente, ao invés de gravar sobre o antigo.

Veredicto

Bravely Default é uma daquelas pérolas que nos chega das terras nipónicas e que nos enche de um saudosismo imenso pelos clássicos de antigamente (de uma forma positiva, entenda-se). Não obstante, também nos leva a entender que a gigante Square Enix ainda sabe fazer RPG’s como gostamos e ansiamos fervorosamente. Bravely Default é aquilo que os ingleses costumam chamar de um system seller, um produto capaz de vender consolas por si só. Uma compra obrigatória para todos os fãs do género JRPG, que se junta gloriosamente ao restrito grupo de excelentes RPG’s que têm saído nos últimos tempos e de que fazem parte nomes como Ni No Kuni: Wrath of the White Witch, o remake de Persona 4 para a Vita ou Fire Emblem: Awakening.

  • ProdutoraSilicon Studio (Square Enix)
  • EditoraSquare Enix
  • Lançamento6 de Dezembro 2014
  • Plataformas
  • GéneroRole Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Alguns jobs disparatados
  • Vozes em inglês vulgares

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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