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Análise: Assassin’s Creed: The Ezio Collection

Há determinados títulos que pertencem a um pedaço quase intocável do nosso imaginário. Assassin’s Creed II, Assassin’s Creed: Brotherhood e Assassin’s Creed: Revelations são uma trilogia incontornável que este Assassin’s Creed: The Ezio Collection nos traz de volta. Será que a Ubisoft esteve à altura da ressurreição do Assassino mais carismático da série?

Convenhamos que a expressão “remasterização” precisa de uma revisão urgente. Há vários níveis de melhoramento visual numa remasterização, aparentemente. Para algumas produtoras, o trabalho de reeditar um jogo é um processo complexo de mexer em quase tudo para trazer um título praticamente novo. Para outras empresas, é apenas um mero polimento cosmético pouco aprofundado. Se, por um lado, os puristas preferem esta última abordagem, por outro, não se justificará muito bem trazer um jogo visualmente datado para as novas consolas. Para fazer isso, lança-se o mesmo jogo como um clássico, sem mexer no produto original. Numa era de reedições e remasterizações, ainda por cima num ano sem um novo Assassin’s Creed, este novo pacote daquela que é considerada a melhor trilogia da série, parece realmente oportuno. Mas será que é mesmo uma remasterização na sua plenitude?

Para quem não conhece a história desta trilogia, passo a explicar de forma muito sucinta. No final do primeiro jogo da série, ficámos a saber que Desmond Miles é prisioneiro de uma empresa chamada Abstergo. Esta consegue usar o ADN dos seus “voluntários” para regressar ao passado, recorrendo a “memórias” contidas nesse dito ADN para fins obscuros. Depois de fugir da Abstergo, Desmond continua nos trilhos do seu antepassado Altaïr, acompanhando agora os eventos da vida de um jovem fidalgo da Itália Renascentista, também ele tornado Assassino. Ezio Auditore da Firenze é o herói de uma trama que envolve os Templários, uma conspiração centenária e a busca por poder nas lendárias Maçãs do Éden. Só que a Abstergo não ficará de braços cruzados e tudo fará para travar Desmond Miles e a sua equipa no seu esforço de enterrar os segredos do passado.

Ao longo dos três jogos, vamos alternando entre o passado na pele de Ezio e o presente na pele de Desmond nos seus esforços na Ordem dos Assassinos. Apesar do início da trama ter sido no primeiro Assassin’s Creed, estes três jogos ajudaram a colocar a série “no mapa” dos melhores jogos da altura. Aliás, depois desta epopeia, a série ainda tentou recuperar o seu sucesso com títulos posteriores, mas nunca mais foi a mesma, desfigurando-se a cada novo capítulo. Esta trilogia, pelo menos em termos de enredo, rigor histórico e personagens, foi e é o melhor que Assassin’s Creed nos trouxe, independentemente de todos termos as nossas preferências. Foram estes três jogos que deram a fama que se conhece da marca e da própria produtora e editora Ubisoft.

O sucesso de Assassin’s Creed II levou a duas sequelas com Brotherhood e Revelations, antes de voltar a uma nova linha de enredo com o falível AC III. A aventura de Ezio cativou, contando para o seu sucesso todas as inovações visuais e mecânicas de jogo, o parkour passou a ter mais protagonismo, a acção directa e os combates com múltiplos adversários tornaram-se possíveis e Ezio já podia mergulhar na água, ao contrário de Altaïr que se dessincronizava. Mas o que mais cativou a sua audiência foram as tramas e as personagens fortes, entre heróis, aliados e antagonistas. Os próprios palcos da acção, com alguns pormenores de um interessante rigor histórico, colocavam a fita num embrulho fantástico.

Mas tudo isto aconteceu numa era bem mais simples e não tão exigente a nível técnico. Ficámos todos realmente deslumbrados com o grafismo, mecânicas e animações destes jogos na PlayStation 3 ou Xbox 360. Mas com o avanço tecnológico, até mesmo outros jogos mais recentes da série que se estrearam nas mais recentes consolas, desde AC IV: Black Flag até ao mais recente Syndicate, mostraram-nos uma qualidade visual sem precedentes. Quando ficámos as saber de uma futura remasterização destes três jogos (esta), ficou no ar a dúvida se os jogos iriam sobreviver ao teste do tempo, ou se a Ubisoft iria alterá-los tão profundamente que os tornaria algo diferentes ou, na pior das hipóteses, irreconhecíveis.

Começando pelo que mais me atraiu nestes três jogos: Como estão as cidades de Florença, Veneza ou Roma, entre outros locais historicamente recriados na trilogia? Uma das principais diferenças que irão notar está na distância de renderização e na qualidade geral aumentada das texturas dos espaços, sobretudo em distância. Desaparece aquele lendário efeito de névoa, uma solução simplista da produção que serviu para esconder os problemas de definição além da distância imediata da personagem. Na nova resolução Full HD 1080p é um prazer apreciar toda a glória destas cidades renascentistas, mesmo que a técnicas de modelação já estejam datadas e que os efeitos atmosféricos fiquem um pouco aquém do que se faz hoje.

Contudo, quando chegamos mais perto das personagens, mesmo das principais, algo estranho aconteceu. Não é fácil explicar o que realmente não correu bem, mas algumas faces das personagens, sobretudo no primeiro jogo, receberam uma alteração na textura que lhes removeu efeitos de sombra. O resultado é um conjunto de faces nitidamente mal modeladas, com expressões faciais entranhas, sobretudo ao nível dos olhos. Há momentos no primeiro jogo em que as personagens são absolutamente aberrantes. Talvez esta questão se deva à técnica de reshading usada, que remove o efeito sombreado das texturas e lhe confere maior brilho. Nem sempre funciona, criando situações anómalas, principalmente em cenas intermédias. Esta questão é menos evidente dos dois jogos seguintes, mas seria de esperar um pouco mais de empenho da Ubisoft neste campo.

Curiosamente, apesar do salto tecnológico evidente, os três jogos também continuam a correr com limitação de rácio de fotogramas. Com aparentes 30FPS constantes, não parece ter havido real optimização de performance. E isto é notório durante algumas cenas com maior número de objectos e animações, principalmente em Brotherhood e Revelations. Nestes casos de maior caos visual, há uma quebra notória de fotogramas por segundo. Seria de esperar que, com a nova resolução Full HD e maior distância de rendering, que o jogo viesse a tirar melhor proveito da Xbox One  ou PlayStation 4, sobretudo na plataforma analisada por mim, a PS4 Pro.

De resto, esperem praticamente os mesmos jogos que tiveram nos originais. O que só são boas notícias. O mesmo enredo, as mesmas personagens, os mesmos diálogos, a mesma quantidade de bazófia de Ezio, nada foi mexido… e ainda bem. Apenas não contem com os modos multi-jogador dos dois títulos mais recentes. Sim, nem toda a gente se recordará, mas havia uma componente multi-jogador que se estreou em Brotherhood. É discutível se teve muitos adeptos. Pessoalmente não me recordo de ter gasto muito tempo a jogar estes modos online, pelo que a sua ausência não me causou grande impressão. Contudo, certamente muitos irão dar pela sua falta.

No ponto de vista comercial, visto que AC II vive muito dos eventos do primeiro jogo e estando tão assente no papel de Desmond Miles na sua história paralela, seria bom que houvesse um suporte para esse pedaço de enredo. Não só seria bom ter um resumo do primeiro jogo, como seria óptimo termos uma resolução do destino de Desmond que só viríamos a saber em AC III. Futuras remasterizações na forja? Talvez. Contudo, quem nunca jogou esta trilogia, irá ficar confuso com estas duas histórias paralelas, ainda por cima sem um início ou conclusão.

No que toca a Ezio, porém, as duas curtas metragens “Lineage” e  “Embers” completam o círculo da sua história. E se olharmos para o título deste pacote, acaba por ser o que se pretende. Desculpa, Desmond… Curiosamente, estes vídeos não possuem controlos de pausa ou para puxar atrás ou para a frente. Pior, uma só tecla pressionada faz-nos sair da sua exibição. O que, se pressionarem uma tecla mesmo que seja por acidente, vos obrigará a ver tudo de início, sem hipótese de retomar de onde deixámos. Será que ninguém pensou nisto?

Além dos três jogos e os dois vídeos complementares, contem também com todos os conteúdos adicionais lançados para os três jogos. Diversas histórias e peças de equipamento só se tornaram disponíveis com estes DLC, sendo uma expansão importante da oferta, que muitos nem chegaram a conhecer (só os que compraram DLC à parte ou adquiriram passes de época).

Veredicto

A trilogia contida neste Assassin’s Creed: The Ezio Collection é absolutamente obrigatória, principalmente para todos os fãs da série, nem que sejam dos jogos mais recentes. Num ano em que não tivemos um título desta série, é uma boa recompensa para os mais fiéis: Assassin’s Creed II, Assassin’s Creed: Brotherhood e Assassin’s Creed: Revelations, com todos os DLC, dois vídeos complementares e uma redefinição na imagem. Infelizmente, a remasterização visual não correu muito bem em alguns pormenores, não há melhoria de performance assinalável e foram removidos os modos multi-jogador. No entanto, penso que são pequenas cedências que não nos deve demover de voltar aos incontestáveis melhores jogos da série. Digam lá que não tinham saudades de ouvir Ezio dizer “requiescat in pace”

  • ProdutoraUbisoft
  • EditoraUbisoft
  • Lançamento18 de Novembro 2016
  • PlataformasPS4, Xbox One
  • GéneroAventura
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Remasterização de texturas (sobretudo no 1º jogo)
  • Performance não melhorou
  • Falta o resto da história de Desmond

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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