Reembolsos do Steam chateiam produtores

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Como seria de esperar, depois da Valve ter implementado um esquema de reembolsos na plataforma Steam, estão a surgir as primeiras reclamações. Não se trata, porém, de alguma falha do sistema. Os reembolsos funcionam bem… e esse é o problema para algumas produtoras.

Já falámos desta novidade que foi implementada na semana passada. Todos os jogos de formato digital adquiridos no Steam (excepto os comprados a terceiros) passaram a ser passíveis de reembolso se o comprador não tiver jogado mais de duas horas do jogo e num prazo de 14 dias após a compra, além de outras regras essenciais. Seria de esperar que algumas pessoas não conseguissem obter reembolsos, pelos mais diversos motivos, mas afinal o sistema até parece simples e funciona bem.

Funciona tão bem, que são os próprios produtores de videojogos que não estão a gostar desta novidade. Até muito recentemente, formatos digitais de videojogos não eram sujeitos a reembolsos. Em caso de avaria ou má programação, poucas leis defendiam o consumidor de modo a activar reembolsos sem haver formato físico. Alguns sites, para garantir a protecção dos seus clientes, passaram a permitir reembolsos de jogos digitais com problemas ou outras questões técnicas de qualidade do produto. Foi apenas um passo até a Valve decidir que o faria também. Só que foi mais além e não impôs nenhuma obrigação para os clientes justificarem o reembolso.

Os gráficos em baixo foram partilhados pelo site Kotaku e são exemplares do efeito negativo da adesão do público à nova funcionalidade. Os dois exemplos mostram a queda de receitas da produtora Puppygames (Revenge of the Titans) e também da Qwiboo (Beyond Gravity) desde que a funcionalidade dos reembolsos foi implementada. Segundo a Kotaku os reembolsos tiveram um aumento de 30% a 70% em algumas produtoras.

O problema não é haverem reembolsos. É normal haverem reembolsos de jogos quando há problemas e são perfeitamente explicados ao suporte. Muitas vezes surgiam das próprias produtoras em contacto directo com os clientes finais. Segundo Matt Gambell, produtor do jogo RPG Tycoon, a questão é que, agora, as pessoas “não estão a justificar o porquê do seu pedido de reembolso”.

Apesar da Valve anunciar que está atenta aos abusadores, é possível que as pessoas comprem o jogo, experimentem e depois devolvam diversas vezes, sem que nunca seja sequer perguntado o motivo. Em termos de produção, é injusto. Veja-se o caso identificado por Gambell de um único utilizador que “comprou 7 cópias do seu jogo e pediu reembolso de cinco delas”. Para que é que um utilizador queria 7 cópias? E porque “devolveu” 5 delas? Será que a Valve está mesmo atenta? Sem saber os motivos da devolução poder-se-á pensar tudo, desde não ter gostado do jogo, até pirataria ou simples lapso.

O sistema de reembolsos é, quanto a nós, algo positivo. A defesa do consumidor é tão importante como a defesa dos produtores. Já todos passámos por más compras em que não podemos pegar na factura e pedir devolução. Neste caso, é bom saber que a Valve está a pensar no jogador. No entanto, é mesmo preciso que a distribuidora esteja atenta, caso contrário, lançar um jogo no Steam, com este enorme pico de pedidos de reembolsos, pode tornar-se incomportável.

Por outro lado, podemos estar numa procura do momento. Pode ser uma fase em que jogos que algumas pessoas queriam comprar, mas estavam na dúvida, sofram uma espécie de período de testes improvisado. Há ainda quem pense que (finalmente) há justiça entre a real qualidade dos jogos e as análises menos isentas dos mesmos. Estas pessoas defendem que, agora, mesmo com análises fantásticas dos utilizadores ou em sites, o jogo passa a ter um escrutínio mais profundo: o do cliente. E, com isto, sofre mais directamente as consequências do mercado, tão instantâneo como é o digital. As opiniões dividem-se.

Falamos daqui a uns meses para vermos como andam as receitas e sequer se a funcionalidade ainda existe. A Valve é conhecida por recuar em políticas menos populares entre a comunidade, pelo que não seria de admirar que ou a funcionalidade sofresse alterações ou fosse mesmo extinta.

Fonte: Kotaku

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