Google Stadia está oficialmente defunto

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Tudo começou com um singelo registo de um gamepad. A Google estava a preparar qualquer coisa em 2019. Pouco tempo depois, o mundo ficou a conhecer um tal de Google Stadia, que esteve no ar até esta semana.

A base tecnológica deste serviço foi, talvez, um dos passos mais ambiciosos dos últimos tempos no mundo dos videojogos. Diríamos mesmo que a tecnologia do Streaming foi quase tão importante para esta indústria como foram os formatos digitais. Aqui estava uma forma engenhosa de permitir jogar em quase todo o lado, sendo somente preciso uma ligação online robusta num dispositivo minimamente capaz e um comando compatível.

Sempre atenta ao potencial das novas tecnologias, a Google “mandou-se de cabeça”, criando um serviço premium, na esteira de outras apostas como PlayStation Now (agora integrado no PS Plus). Mais do que isso, a Google abriu uma produtora que se dedicaria a criar conteúdo para o Stadia e ajudar outras produtoras a transitar os seus títulos para o serviço.

A promessa do Stadia era que “em apenas cinco segundos” o jogador estaria a jogar um título, quase como um vídeo do Youtube. Tudo ficaria na nuvem, sem necessidade de instalação ou até de puxar pelo hardware local, sendo até possível jogar num simples smartphone. Tudo isto acabou (mais ou menos) por se concretizar, porque, de facto, era o “normal” dos demais serviços de streaming.

Agora, o resto da ambição do Stadia é que não correu muito bem. Para se destacar dos demais serviços, a Google prometia que, eventualmente, o serviço chegaria a 4K a 60fps e a médio/longo prazo, poderia chegar aos 8K a 120fps. Logo à partida, o cepticismo reinou, muito por causa da exigência em largura de banda desta quantidade de informação.

Como seria de esperar, o Stadia estreou bem abaixo das expectativas. Os primeiros dias e semanas do serviço foram desapontantes para quem o subscreveu na primeira hora. Ao fim de um tempo, a qualidade estabilizou mas a resolução 4K nunca foi realmente atingida como padrão, havendo muitas queixas de “upscaling”. A juntar a isto, o serviço arrancou apenas em regiões seleccionadas, tendo Portugal ficado de fora por largos meses.

Muitos foram os que acharam que a Google se tinha “espalhado” ao comprido com ilusões de magnitude e qualidade do serviço, tinha prometido demais. Lentamente, a própria gigante Californiana pareceu entender que a sua ambição tinha esbarrado num muro. Em 2021, o seu estúdio de produção foi encerrado sem sequer ter produzido um único jogo sonante. E as notícias de um possível abandono começaram a circular no ano passado.

Finalmente, em Setembro de 2022, ficámos a saber que a Google iria encerrar definitivamente o Google Stadia neste mês, mais precisamente, a 18 de Janeiro, há dois dias. Os reembolsos foram morosamente processados e alguns jogadores ficaram prejudicados com a perda de savegames e outro conteúdo. O sentimento geral é que tudo foi conduzido de forma abrupta e sem grande cerimónia.

Como acontece sempre que um serviço de longa data é extinto, o vazio deixado pelo Stadia faz-se sentir. A comunidade gerada em torno do serviço lamenta a sua extinção, assim como tudo o que lá foi investido, entre horas de jogo e dinheiro gasto no serviço Pro (que não foi reembolsado). Também o seu comando deixa um legado. Inicialmente, parece que serviria como pisa-papéis, mas a Google disponibiliza uma forma de continuar a usá-lo.

Em termos de números, nestes cerca de três anos a Google nunca foi muito clara quanto à popularidade real e o seu volume de subscritores. No seu pico de popularidade, o site CloudDosage estimou que cerca de 750 mil subscritores à volta do mundo experimentaram o serviço. Mas, não temos forma de saber ao certo se este número é realista. Vamos assumir que não terá sido o tal sucesso esperado ou não teria durado apenas três anos.

A nossa experiência com o Google Stadia foi… quase nula. Além da vinda para Portugal ter acontecido já demasiado tarde, quando o interesse já estava noutros lados, não houve abertura para uma “análise” do serviço. Apesar de imensos contactos com a Google, os nossos apelos nunca foram respondidos de forma coerente, numa clara demonstração que o serviço não era importante para o seu marketing.

Para a história, fica o contributo do Google Stadia para o desenvolvimento da tecnologia de Streaming. Se mais nada fez, contribuiu para que a concorrência do Xbox Cloud Gaming, PlayStation Plus, Nvidia GeForce Now e outros, trabalhassem para aprimorar a sua oferta e tecnologia. E, por isso, só temos de agradecer à Google pelo esforço.

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