Epic Games Store é um sucesso de popularidade, mas a que preço?

EpicGamesStore

No final deste ano fiscal, a Epic Games Store regista números impressionantes de adesão e usufruto desta plataforma e loja online no PC. Contudo, com tanta popularidade, os ganhos reais são residuais, levantando imensas questões sobre a sua rentabilidade.

Num mercado tão agressivo, claramente dominado pela plataforma Steam, a Epic Games tudo fez para conquistar a sua fatia de audiência dos gamers do PC. E conseguiu, claramente, com uns impressionantes 160 milhões de clientes registados e mais 56 milhões de utilizadores activos só em Dezembro passado.

A justificação para esta enorme popularidade é clara. Não bastam os exclusivos de plataforma, como o recentemente lançado Hitman III, as suas agressivas campanhas de saldos ou alguma funcionalidade adicional que seja única na sua aplicação. Pelo contrário, a aplicação para PC e a própria loja ainda hoje tem imensas lacunas assinaláveis em comparação com as plataformas rivais.

O que obviamente atrai jogadores são os jogos grátis que a loja oferece. Só no passado mês de Dezembro, o tal mês do recorde mais recente, a Epic Games ofereceu 15 jogos sem qualquer requisito, excepto registar-se como utilizador. Isto resultou nuns impressionantes 749 milhões de cópias de jogos reclamadas sem custos. Estes e outros dados foram publicados num longo painel no site oficial.

Não é preciso um curso de Economia, nem sequer uma máquina de calcular, para concluir que oferecer 749 milhões de jogos resulta numa perda de rendimento óbvia. Por outro lado, a Epic anunciou 700 milhões de dólares gastos pelos utilizadores na plataforma em títulos próprios (Fortnite e Rocket League, basicamente) mas apenas 265 milhões gastos em jogos de terceiros. Ora, esta última é a grande fatia de jogos disponíveis na loja, cujas vendas poderiam, aqui sim, rivalizar com as demais lojas online, “roubando-lhes” mercado.

Embora seja francamente surpreendente que a loja consiga facturar tanto com os seus exclusivos, o resto não parece estar a correr muito bem. Comparando com o período homólogo de 2019, a loja registou então 251 milhões de dólares em vendas de jogos de terceiros. O que regista apenas um crescimento de 20 milhões (aproximadamente) em vendas no ano fiscal que termina agora. É lucro, mas não é um número brilhante.

A Epic Games Store é claramente rentável, não há dúvida. Contudo, no que toca à rivalidade com outras lojas, parece estar a registar um crescimento muito lento. Olhando para os dados, fica claro que os jogadores registam-se, sacam os jogos gratuitos e não parecem querer comprar outros jogos nesta plataforma, pelo menos não tanto mais que no ano anterior. Uma vez mais, não é preciso ter um curso de Economia para ver que este ritmo pode não ser sustentável a longo prazo.

Arriscamos que este é o motivo pelo qual a loja nunca deixou de oferecer jogos. O risco de se tornar irrelevante no momento em que deixe de o fazer é claro. Em 2020 a Epic ofereceu 103 jogos (mais 30 que em 2019), totalizando 2.407 dólares em títulos. Multiplicando pelos 749 milhões de vezes que foram reclamados, dá um valor abismal em perdas para a Epic, porque ainda tem de pagar aos autores e editores algum valor de um jogo que rendeu zero à empresa.

Desde sempre que nos pareceu que a Epic tem uma estratégia de simplesmente açambarcar utilizadores, tentando aumentar a sua popularidade à custa das ofertas e exclusivos de plataforma, além de uma redução de royalties para produtores. A ideia será tornar a loja tão popular que se torne a nova referência. O preço a pagar, porém, parece ser um fraco rendimento a curto prazo e uma possível insustentabilidade a longo prazo.

Certamente a Epic Games está ciente destes dados menos positivos. Ainda assim, faz questão de registar o seu “sucesso” com a devida pompa e circunstância. Enquanto Fortnite (e o motor gráfico Unreal, claro) render, vai pagando pelos “devaneios” de uma plataforma que, no rigor, ainda não conseguiu provar a sua validade no panorama e muito menos parece conseguir rivalizar a concorrência.

Mas, a fama, essa, ninguém a tira. Se calhar é só isso que procura.

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