
Título estranho, não? Mas, sim, foi mesmo isso que a Electronic Arts alegou quando se dirigiu ao Parlamento Britânico para se defender no caso das caixas de loot compradas nos seus jogos. A alegação é que não é bem “um jogo de azar” mas uma “surpresa”. Hã?
O ataque cerrado de várias autoridades a este esquema de venda de itens via caixas de conteúdo aleatório, já viu países como Suécia, Holanda e Bélgica e outros a criar oposição e até legislação que proíbe esta prática em jogos de consola ou PC. A alegação destas autoridades é que os menores que têm acesso aos jogos possam estar a participar num esquema de “jogos de apostas” ou “de azar”, algo ilegal até à maior-idade.
Ora, no âmbito desta delicada questão, o Parlamento Britânico chamou representantes das Americanas Electronic Arts e Epic Games a se manifestarem. Embora muitas outras empresas tenham esquemas semelhantes, é a EA a líder deste tipo de transacções, em jogos como FIFA (FUT) ou Star Wars: Battlefront II. E nessa audição, Kerry Hopkins, vice-presidente de assuntos legais e governamentais da EA, falou com a Comissão do Digital, Cultura, Média e Desporto do Parlamento Inglês. Uma audição que podem acompanhar na íntegra aqui.
Hopkins defende que as caixas de loot não podem ser consideradas jogos de apostas, uma vez que são, citamos, “mecânicas de surpresa”, chegando mesmo a comparar o sistema com os míticos ovos Kinder Surpresa ou Hatchimals, outro produto de conteúdo aleatório para crianças pouco conhecido por cá. E esta mecânica, segundo Hopkins, “é bastante ética e divertida, o público gosta”.
Que os jovens que gastam horas e muito dinheiro em FIFA Ultimate Team apreciam a mecânica, não há qualquer dúvida, pelo menos dada a sua popularidade. Agora que seja ético, é que é uma posição um tanto subjectiva. Estamos a falar num esquema viciador de cartas de jogo, claramente desenhado para obrigar a comprar mais, dando a dose de adrenalina esperada a abrir os pacotes para ver se tivemos “sorte”.
Sendo esta uma das maiores fontes de rendimento actual da própria EA, duvidamos seriamente que a empresa tenha as melhores intenções no que toca a criar (ou não) hábitos de jogo de apostas em crianças menores, a alegação principal dos países onde leis já foram criadas para travar este esquema. Há, de facto, aqui um paralelo de surpresa, mas não estamos a ver crianças a gastar toda a mesada em ovos Kinder.