Terá Hatred ultrapassado os limites?

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Uma “cruzada genocida” é a definição da produtora da Destructive Creations para o jogo Hatred. Envolto em controvérsia desde o dia que foi anunciado, já foi removido de plataformas, negado por outras, mas vai mesmo acontecer. O tema e tipo de jogabilidade já serve para reacender a polémica da potencial incitação à violência pelos videojogos.

Em termos de jogabilidade, nada de novo. Hatred é um shooter de perspectiva isométrica, igual a tantos outros que inundam o mercado com melhor ou pior qualidade. O grafismo é interessante, embora sombrio e os efeitos especiais enchem o olho. À primeira vista, faz lembrar uma série de jogos recentes como Dead Nation ou HellDivers. Só que em vez de desancar zombies ou extra-terrestres, neste jogo estamos a assassinar humanos.

Assassinar é mesmo o termo. Transeuntes inocentes, agentes da polícia ou militares todos caiem perante o protagonista. O jogo não se limita a permitir o tiro avulso para matar tudo o que mexe, havendo também brutais (e gráficas) execuções das vítimas. Não parece haver qualquer linha de raciocínio excepto matar o maior número de pessoas possível, para “conter” o tal ódio (hatred) que o jogo tem como título.

ATENÇÃO: O vídeo que se segue contém imagens de violência e não é considerado seguro para pessoas cujas susceptibilidades possam ser feridas. Carregar no “play” é opcional.

Já comentámos muitas vezes o valor que podem ter as afirmações de que “jogos de acção”, no geral, podem incitar à violência dos mais e menos novos. Casos como o de Adam Lanza que cometeu genocídio no Liceu de Sandy Hook, Connecticut, EUA, em 2012, ou o de Anders Breivik na Noruega em 2011 ou ainda o mediático massacre de Columbine, EUA, em 1999, acabaram com a associação dos videojogos como inspiração para estes actos. Acontece que os jogos que estes genocidas gostavam de jogar, não continham o massacre de aparentes inocentes, pelo menos não directamente, como Hatred parece conter.

Em jeito de defesa deste tipo de jogos, pode-se dizer que nenhum deles convida a replicar o que vemos no ecrã na vida real. Tal como aqueles programas de televisão com um aviso “não tentem repetir o que vêem neste programa”, estes jogos são meras representações de uma realidade alternativa que pretende ser sintética. Se uma pessoa é propensa a influências de videojogos, também o será com reportagens violentas no telejornal ou na Internet ou filmes de Hollywood mais sangrentos. Mais vale não jogar, ler ou ver nada da televisão, porque a violência está patente por todo o lado.

No entanto, cabe-nos perguntar qual será o argumento de alguém produzir um jogo cuja finalidade é matar inocentes de forma gratuita. Jarosław Zieliński (CEO da Destructive Studios) chegou a dizer que “não entendia a má recepção do jogo”. Recordamos que Hatred esteve no programa GreenLight do Steam, tendo sido removido a 15 de Dezembro devido ao feedback negativo. Um dia depois, o próprio Gabe Newell tomou conta da ocorrência, repondo o jogo novamente no GreenLight, com um pedido de desculpas e um atestado à liberdade artística. O jogo recebeu aprovação para desenvolvimento no dia 29 de Dezembro, com imenso apoio da comunidade. Será o primeiro jogo com máxima nota de faixa etária (AO “Adult Only” pela Americana ESRB) a ser publicado no Steam e o terceiro na história dos videojogos no geral, depois de Thrill Kill e Manhunt 2.

A recepção pela imprensa, no entanto, não tem sido positiva, catalogando o jogo como demasiado violento, e até “repugnante” (Polygon). Mesmo assim, Hatred vai chegar ao PC, via Steam no próximo dia 1 de Junho deste ano. Que o jogo vai gerar mais polémica quando a sua versão final chegar, disso não há dúvidas. Que o debate sobre a violência nos videojogos vai recomeçar, também não há dúvidas. Que a liberdade de expressão deve ser defendida até à última instância, também é uma verdade incontornável. Agora, até que ponto teremos de chegar a extremos para reivindicar essa liberdade, fica para falarmos num outro dia…

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