Simuladores – Polychop Simulations DCS: OH-58D Kiowa Warrior

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A aviação rotativa no DCS World tem mais um argumento. A Polychop Simulations já tinha trazido um helicóptero ligeiro ao simulador, aqui está outro com o DCS: OH-58D Kiowa Warrior, desta vez bem mais famoso e popular.

Convém mencionar que, apesar do DCS World ter das melhores simulações de helicópteros que há memória no mercado de consumo, a representação destes aparelhos mais ligeiros não foi sempre consensual. Além dos helicópteros de transporte, como o UH-1H ou o MI-8, os helicópteros de ataque, como o KA-50 ou o Mi-24p e, obviamente, o AH-64D estão no seu meio.

Mas, o anterior DCS: SA342 Gazelle da Polychop é uma aeronave complicada de avaliar. Não só foi sempre assolada com duras críticas ao seu modelo de voo “nervoso”, como a sua missão e armamento não parecem encaixar bem na lógica deste simulador de combate. Demasiado frágeis e algo desarmados para o tipo de ameaças actuais, os helicópteros de reconhecimento e ataque ligeiro são um pouco difíceis de defender nas actuais missões. Claro que tudo depende de quem faz essas missões e como se desenrolam.

No caso do Gazelle, recentes actualizações no módulo trouxeram outra estabilidade e uma maior fiabilidade geral como produto, levando o helicóptero a ganhar uma autêntica “segunda vida” no DCS. Todavia, o Kiowa Warrior está aí para tentar novamente mudar o paradigma. Podem os helicópteros ligeiros ganhar realmente lugar no DCS World? Mais importante, pode a Polychop entregar um produto coeso e convencer os fãs?

A história do Bell OH-58 Kiowa é realmente impressionante. Começou por ser um helicóptero de observação e utilitário, servindo várias forças militares como plataforma de aprendizagem e acabando também por servir como plataforma de reconhecimento e suporte próximo para tropas. Inicialmente, a Bell usou o lendário B206 JetRanger civil como base do seu design. A ideia era obter uma plataforma simples, barata e com provas dadas de fiabilidade. O OH-58A fez-se aos céus em 1969 num papel modesto, mas cedo ficou claro que o seu potencial era vasto. Dois meses depois de entrar ao serviço, foi logo enviado para a guerra no Vietnam, no seu papel de “scout”, apenas o seu primeiro palco de combate na sua longa história.

Nos anos 70, continuou no seu papel de reconhecimento, tendo ainda formado vários pilotos para o US Army, recebendo inúmeras variantes e actualizações de equipamento. De facto, um grande número de pilotos deste ramo militar Americano passaram pelo Kiowa como plataforma básica e média de aprendizagem. Contudo, o heli estava destinado a algo mais. O modelo mais famoso, o OH-58D chegaria em 1983, como evolução do original, já com motorização e rotor mais robustos derivados do Bell 407 civil. Foi originalmente destinado a servir como observador de artilharia, papel que quase não chegou a desempenhar porque, inicialmente, o US Army até nem gostou muito do aparelho, quase cancelando-o por completo.

É que, por esta altura, este ramo militar estava de olho no novo programa de helicópteros LHX, o tal programa que um nos traria o venerável “Comanche”. Como sabemos, esse programa foi abandonado, levando o US Army a procurar alternativas. Além de levar à renovação de sistemas do AH-64 Apache, o OH-58D foi recuperado para actuar como um complemento, numa lógica de equipa de busca e caça, servindo de “companheiro” ao Apache. Contudo, o programa Longbow tornou-se independente e o OH-58D acabou sozinho… mas não esquecido. Passou a chamar-se Kiowa Warrior, dando-lhe um papel bem mais activo no combate, fruto da experiência com estes helis na Guerra do Golfo.

Foi, então, que o OH-58D Kiowa Warrior recebeu o merecido reconhecimento, tornando-se um importantíssimo helicóptero de suporte próximo, tornado famoso na guerra do Afeganistão, onde ganhou proeminência graças aos muitos vídeos publicados online. O seu papel final até à sua remoção de serviço foi de batedor e de reconhecimento armado, com o modelo D terminando a produção no ano 2000. Depois disso, a Bell ainda fez a conversão de modelos para a variante mais avançada OH-58F, um upgrade de sistemas e de protecções para o Kiowa. No US Army o helicóptero foi retirado do serviço de combate em 2020 mas ainda serviu com algumas funções secundárias. Está ainda ao serviço de várias forças armadas, como a Áustria, Grécia, Croácia, Arábia Saudita ou Turquia.

Para o DCS World, a Polychop optou pela versão mais amplamente produzida e mais popular do helicóptero, o OH-58D, a tal versão denominada de Kiowa Warrior. Na verdade, este helicóptero engloba duas eras de operação, contendo dois sistemas distintos de auto-defesa (chaff e flare) mas podemos dizer que é um só bloco operacional. Contudo, no rigor, é a aeronave que mais rapidamente reconhecemos como o helicóptero ligeiro com uma “bolha” de sensores montados num mastro do rotor principal. Tem dois pylons de armamento, conseguindo carregar um canhão de 50mm, até dois casulos de foguetes, até quatro mísseis ar-terra AGM-114K Hellfire e ainda carregar até quatro mísseis ar-ar Stinger.

A grande estrela deste helicóptero é essa tal bolha de sensores montada no topo, a Mast Mounter Sight, ou MMS, que já ouvimos carinhosamente chamar de “olho do R2-D2”. Lá dentro contém robustas câmaras de TV e FLIR, assim como um designador Laser. A sua posição é a ideal para apenas expor o MMS, enquanto o helicóptero e a tripulação podem posicionar-se atrás de obstáculos. É até possível disparar mísseis Hellfire dessa posição furtiva, mantendo a mira laser no alvo todo o tempo, além de poder fazer reconhecimento e “pintar” alvos com laser para outras aeronaves. Era exactamente isso que o Kiowa Warrior faria com o Apache, se esse helicóptero não viesse a ganhar a devida autonomia nessas funções.

Como já deu para perceber, o Kiowa é muito parecido com o Gazelle em termos de funções e papel. O que nos obriga a fazer um paralelismo entre os dois módulos. Como já disse, o SA342 não foi (e ainda não é) um helicóptero muito consensual, muito por causa dos seus vários “pequenos problemas”, em particular o seu modelo de voo demasiado reactivo e, por vezes, algo surreal. A Polychop foi actualizando esse heli com um novo modelo de voo e outras correcções, talvez vindo do que aprendeu na concepção do Kiowa. Concepção, essa, que demorou anos. Desde 2019 (até antes) que ouvimos falar deste projecto, tendo a equipa avançado e pausado o projecto várias vezes, algumas vezes devido a problemas internos da própria empresa.

Então, deu tempo para polir este helicóptero novo, ao mesmo tempo que a produção foi aprendendo e melhorando o Gazelle. Significa isto que o Kiowa Warrior é um marco tecnológico e operacional para o DCS World? Antes de responder a essa pergunta, vamos falar inicialmente do que será de esperar deste tipo de aeronave. Como menciono acima, o DCS é actualmente uma das melhores plataformas de simulação de helicópteros, fruto de anos de pesquisa e desenvolvimento para trazer uma simulação credível. Não se espera, porém, que qualquer módulo seja simplesmente adicionado e funcione como o pretendido. É preciso que as produções emulem motores, rotores e físicas correctamente.

Pegando no cíclico e colectivo do Kiowa Warrior, é inevitável que sintamos que este helicóptero não tem a mesma estabilidade e realismo operacional que tem, por exemplo, o AH-64D. Isto, porque estamos a voar num aparelho diferente, monomotor, com rotor menor, sendo mais leve e francamente menos “computorizado” que o Apache. Esta comparação não é mesmo justa. O Kiowa é forçosamente mais reactivo, mais dinâmico e com uma estabilidade, diria, mais acessível, mesmo para os menos experientes. O melhor a fazer é compará-lo, de facto, com o Gazelle, outro helicóptero na mesma categoria. E aí, o “feeling” é muito mais parecido, realmente. Mas, a comparação continua a ser injusta.

O Kiowa é helicóptero muito mais estável em voo ou a pairar (hover), conseguindo uma estabilidade para operação de armas impecável. Fazer um hover no Gazelle é ainda uma “ciência” que neste helicóptero não é precisa. Não sei se o aparelho real é capaz de voar tão linearmente como esta simulação, mas no DCS World o seu voo é suave, perdoando bem os erros induzidos pelos pilotos. Infelizmente, não é desta que a Polychop acerta com algumas características mais avançadas, como a perda de sustentação no rotor (VRS) ou as dinâmicas desfasadas entre o ângulo das pás do rotor, que deveriam causar alguns fenómenos de performance. Enfim, parece um modelo de voo “sobre carris” e pouco penalizador de erros. Talvez seja intencional, algo para melhorar mais tarde.

No que toca ao combate, porém, esta estabilidade algo folgada até joga a favor do Kiowa. Começando pelos AGM-114, colocar o helicóptero num hover e atacar alvos à distância enquanto nos escondemos atrás de um edifício é francamente recompensador. Tecnicamente, é a mesma função que o Apache tem com o seu radar e mísseis correspondentes mas aqui podemos ver os alvos e atacá-los sem perder essa linha de vista, que no Apache não é possível sem expor totalmente o helicóptero. O que permite até a outros aparelhos atacar os mesmos alvos, fazendo do nosso heli uma plataforma de AFAC (Controlador Aéreo Avançado) para designá-los. A MMS funciona muito bem, com controlo no co-piloto, sendo até possível mudar o código de laser facilmente se for preciso.

Agora, no que toca às demais armas, é aqui que entramos numa “zona cinzenta” para estes helicópteros ligeiros. Os foguetes são armas muito poderosas para aglomerações de alvos mas são amplamente imprecisos, servindo como arma de área. É assim em todas as aeronaves, como sabem. O canhão também é uma arma de área mas já oferece uma zona de ataque mais estreita, obrigando a mirar. Usando a mira óptica a bordo ou a engenhosa “mira” desenhada na canópia, é possível obter algum nível de precisão mas, pode ser que nem lá cheguemos. É que este é um helicóptero pouco blindado e com janelas enormes. Com estas duas armas, somos alvos fáceis para veículos e infantaria. Fica o aviso.

A nível de armamento, falta-me só falar dos mísseis ar-ar Stinger e aqui tenho de falar de todos os helicópteros que usam este tipo de mísseis para ataque aéreo. O Mi-24p, o KA-50III, o próprio Gazelle e este Kiowa bem podem carregar estes mísseis mas o seu uso será sempre escasso, diria até por vezes irrelevante. Contra outros helicópteros, é possível que haja algum sucesso, mas dados os sistemas de defesa com flares, é bem possível que gastem os quatro mísseis de mira térmica e que não acertem em nada. Aliás, penso que raramente o Kiowa levou Stingers para missões reais, sendo provavelmente apenas um item na lista de arsenal para exacerbar capacidades.

Se os canhões e rockets expõem demasiado o helicóptero que é, por si só, pouco blindado, se os mísseis Stinger são mais “para vista”, então só mesmo os AGM-114K são realmente práticos e úteis neste helicóptero, pelo menos nos palcos de conflito habituais no DCS World. Contudo, com apenas quatro mísseis possíveis, parece-me que o Apache (até 16x) não precisa mesmo deste “companheiro de aventura”. Mesmo com os seus sensores únicos, não vejo porque alguém o prefira, sendo particularmente interessante apenas para reconhecimento. Como heli de ataque, porém, não esperem muita robustez ou versatilidade.

Repararam que parti de imediato para o controlo e combate, passando um pouco ao lado do visual. Foi algo intencional, mesmo sabendo que a primeira abordagem num novo módulo no DCS é mesmo para o seu aspecto visual e sonoro. É que este helicóptero não é, de longe, o melhor dos exemplos do que este simulador consegue fazer no plano técnico. Pode ser que as nossas expectativas é que estão muito elevadas mas olhem para as imagens deste artigo e façam o vosso julgamento. O modelo tridimensional externo do helicóptero em si, com as suas milhentas texturas e decorações diferentes, até consegue trazer-nos algo visualmente agradável e credível… mas apenas no exterior.

Entrando no cockpit, é inevitável concluir que modelos e texturas são algo datados, precisando de algum trabalho de polimento e melhoria geral. O pior de tudo é a reacção destas texturas à iluminação, algo que é ainda pior nos modelos dos pilotos. Tudo parece algo datado, com animações toscas no uso da espingarda M4 ou a largar as granadas de fumo. Recordo que este helicóptero esteve anos a ser produzido e acredito que este cockpit foi mesmo concluído em 2020…

A nível sonoro, as coisas são ainda piores. No cockpit, não só o som do motor e, principalmente, do rotor principal parecem algo sumidos, como a sua dinâmica não soa a algo realista. No exterior, as coisas melhoram um pouco mas nada de assinalável. Quem já esteve ao pé de um helicóptero que o diga. Outra má nota sonora neste heli vai para o som das armas, nada imersivas e pouco realistas.

Outro elemento que merece ser abordado, é o seu Co-Piloto artificial. Gostei bastante que as atribuições de controlos para piloto e co-piloto funcionem bem dos dois lados. Ou seja, os dois lados podem controlar as funcionalidades específicas do lado oposto. O que simplifica a atribuição de teclas. Contudo, a Polychop decidiu adicionar um co-piloto sintético, um pouco mais avançado que tínhamos no Gazelle. O que posso dizer é que não é um elemento tão avançado como George no DCS: AH-64D ou o Petrovich no DCS: Mi-24p. É apenas um “piloto automático” glorificado que é até bastante “batoteiro” e pouco realista.

Uma vez mais, vemos aqui uma intenção de “facilitar a vida” aos pilotos virtuais. Apesar da facilidade de controlo que já mencionei, acredito que muitos precisem de ajuda para, por exemplo, efectuar um hover para usar o MMS ou mesmo para operar as armas. Contudo, vir de um voo nivelado, carregar numa tecla para fazer um hover e observar que o piloto sintético consegue fazê-lo sempre, das posições mais improváveis e nunca falhando, deixa no ar uma ideia de infabilidade que não parece nada imersiva ou realista. Tudo bem, queremos um co-piloto que ajude e não nos mate, mas é inacreditável como, por vezes, desafia as leis da Física e faz manobras arriscadas e que excedem os limites do próprio aparelho.

Então, agora já podemos responder a essa tal pergunta, conseguiu a Polychop fazer do Kiowa Warrior o tal “marco tecnológico e operacional” para o DCS World? A resposta é óbvia. Apesar da imensa antecipação e de vários anos de espera, fica bem claro que a equipa precisa de mais experiência e adaptação às tecnologias modernas para entregar algo bem mais polido e, acima de tudo, mais vistoso para quem quer comprar um módulo a preço por inteiro. Não significa que este seja um retrocesso técnico com relação ao Gazelle anteriormente lançado, apenas que a produtora ainda não consegue surpreender-nos.

Por outro lado, o encaixe deste tipo de aeronaves no DCS World é francamente questionável. Há sempre lugar para um novo helicóptero, especialmente nesta era em que vemos mais e melhores simulações rotativas no DCS. Contudo, os helicópteros ligeiros não são, de longe, os mais apetecíveis num simulador moderno onde há tantas coisas prontas a nos atacar. Onde o Kiowa real actuou, foi sempre em palcos assimétricos sem reais perigos para si, além de uma outra bala na sua direcção. Se as missões forem adaptadas, claro, dá para criar cenários desse tipo. Contudo, visitem os principais servidores online de combate para o DCS e confiram quantos realmente preparam missões específicas para essas realidades assimétricas.

Veredicto

Após anos de espera, o DCS: OH58D Kiowa Warrior chegou finalmente ao DCS World com a Polychop Simulations a tentar mostrar que consegue entregar as suas promessas. Não podemos dizer que este foi um projecto apressado, estando anos na forja e, ainda assim, nota-se que a produção precisava de mais tempo para polir vários aspectos da simulação. Sim, armas, equipamento, funcionalidades e operação, estão completos, incluindo alguns sistemas avançados. Contudo, o visual e a sonoridade estão datados e o modelo de voo ainda não é consensual, contendo várias imprecisões que deverão fazer os mais aficionados da aviação rotativa “torcer o nariz”. Actualizações e melhorias deverão ajudar a melhorar o panorama, sem dúvida. Mas, numa primeira análise, é “mais uma aeronave da Polychop”.

Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela Eagle Dynamics. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento.

Se desejarem conhecer a comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.

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