Simuladores – PMDG 737 NGXu (P3DV5)

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Em 2003, com um certo 737 NG então para o FS2004, todos passaram a conhecer um novo nível de rigor técnico em add-ons para simuladores. A Precision Manuals Development Group criou um novo patamar de simulação com o PMDG 737 NG. Desde então, este lendário modelo tem vindo a reinventar-se, chegando agora ao Prepar3D V5 com o PMDG 737 NGXu.

Ainda hoje o Boeing 737 é um dos aviões mais voados em todo o mundo. E não apenas na vida real, também nos simuladores. E a “culpa” é mesmo da PMDG. A par de outros módulos, inclusive o mítico 747 que já aqui revimos, o seu 737 é dos aviões mais populares em vários simuladores, desde o FS2004, FSX e várias versões do P3D. Isto tanto para quem voa offline, como para quem prefere voar online em alguma comunidade simmer. Isto porque os voos de médio curso são dos mais populares e, aí, o 737 é o aparelho ideal para “hops” de curta duração. Houve por aí diversas tentativas de criar uma boa simulação para este avião, sem dúvida. Mas, com o nível de empenho e de profundidade da PMDG, é complicado dar-lhe algum tipo de concorrência. Uma vez mais, a PMDG recebe o selo de produto oficial da Boeing e isso significa um atestado de qualidade.

Falar do Boeing 737 nestes dias é algo ingrato. Na memória de muitos, estarão dois acidentes mortais com a versão mais recente da fábrica de Everett, o Boeing 737 MAX. Como devem saber, apesar de haverem questões graves de procedimentos mal revistos, a Boeing está nestes momento a fazer esforços para reformular as lógicas e o software do avião para devolvê-lo aos céus. Contudo, a história do 737 é bem maior e mais significativa que esse modelo mais recente. Embora outros aparelhos da construtora americana sejam excelentes exemplos de qualidade, resiliência, eficácia e fiabilidade, há um avião que é um autêntico caso de sucesso, com uma linha de montagem ininterrupta desde a sua génese, o lendário 737.

O projecto do Boeing 737 surgiu como um complemento de rotas de menor distância ou densidade para o famoso 727. Um dos primeiros designs de 1964 apresentava mesmo os seus dois motores na parte traseira da cauda, tal como o 727. Lentamente, os designs foram modificados, chegando a um modelo muito próximo do 737 que conhecemos hoje. O original 737-100 voou pela primeira vez em Abril de 1967, seguindo-se os modelos -200 com maior capacidade, ficando esta conhecida pela Geração Original. Os militares também gostaram das prestações do então chamado “Baby Boeing” tendo adoptado as versões T-43 e C-43 para diversas operações.

Infelizmente, apesar de uma promissora fase de arranque, o 737 demorou um pouco a convencer o mercado. Foi só a entrada de novas dimensões, motores e aviónicos na chamada Geração Clássica, os Boeing 737-300, -400 e -500 em 1979 que a Boeing viu as vendas a escalar. O 737 passou a ser um avião popular pelos céus mundiais, inclusive em Portugal, com a TAP Air Portugal a adoptar o -300 (1988) para as suas rotas de médio curso, tendo já anteriormente voado o 737-200adv (1983). Versátil, com um cockpit “moderno” (para a altura) e uma enorme simplificação de operação, o 737 reinou no médio curso durante anos… até chegar um tal de Airbus A320.

Com a chegada do aparelho do consórcio Europeu, a construtora Americana deu uma excelente resposta para lhe fazer frente. Em 1993 surgia a nova versão NG (Next Generation), com as versões 737-600, 700, 800 e 900. Estes foram (e ainda são), os aviões da Boeing mais populares de sempre, mesmo falando de outros modelos de maior capacidade da construtora. Infelizmente, o grande “Calcanhar de Aquiles” do 737 é mesmo a popularidade da construtora rival na Europa. A escalada na concorrência levou a algumas exigências das companhias, sobretudo ao nível de optimização de consumos e foi um passo até que a Boeing apresentasse a nova Geração MAX, com os desenlaces que conhecemos.

Curiosamente, a PMDG teve também uma evolução muito parecida à da própria Boeing com o seu 737. Começou com o aclamado PMDG 737 NG com os quatro modelos desta Next Generation recriados no FS2004 e mais tarde evoluídos para o FSX com o PMDG 737 NGX. Em ambos os casos, foi um produto “dominador”, fazendo esquecer outras tentativas de recriar este avião icónico para estes simuladores. A evolução técnica entre estes dois modelos foi significativa, com a introdução de um cockpit virtual interactivo e diversas melhorias técnicas de operação e sistemas entre as duas gerações.

Com a chegada das primeiras versões do Lockheed Martin P3D, a PMDG evoluiu novamente o seu 737, culminando nesta nova versão 737 NGXu. Podemos adivinhar que o “u” aqui signifique “update” ou “upgrade”, não sei bem. É que nem no fórum oficial a produção ajuda, dizendo apenas que é uma letra para o diferenciar e que soa bem. Seja como for, esta é verdadeiramente uma melhoria significativa do velhinho PMDG 737 NG no FS2004, um avião em que “averbei” imensas horas de voo e que sinto estar na capacidade de avaliar nesta nova geração. Infelizmente, apesar de algumas melhorias e alterações visuais, este não é o 737 mais recente de todos. O Boeing 737 MAX continua longe dos simuladores de voo. Veremos se no futuro cá chega.

Temos, então, novamente a geração NG de aviões simulada, com todas as evoluções técnicas possíveis, inclusive a vistosas novas Split Scimitar Winglets e novas antenas de satélite e GPS, sendo estes equipamentos opcionais em alguns modelos e pinturas. Temos também dois pacotes para adquirir, o pacote-base Boeing 737-800 e -900 e um pacote de expansão com o 737-600 e -700. Diferem, obviamente, de performance, alcance e capacidade de passageiros e carga, mas partilham quase todos os sistemas entre si, numa simulação idêntica. No fundo, poderão escolher o aparelho indicado para a densidade de rotas que pretendem fazer. Infelizmente, a versão NGXu já não inclui a mítica versão militar P-8 Poseidon, uma perda significativa para quem, como eu, gosta de máquinas militares.

A bordo é que vão perceber porque é que o 737 NG é um avião tão popular. Com operação de dois elementos de tripulação, muitos dos passos foram simplificados e reduzidos, criando um aparelho de operação realmente facilitada. Há alguns elementos remanescentes dos primeiros 737, como o seu painel superior de enormes dimensões, por exemplo. Também não possui um sistema de Fly-By-Wire moderno, mas o seu mítico sistema de trim “automático”, CWS (Control Wheel Steering) é uma óptima ajuda para operar à mão. É um avião analógico, com sistemas digitais de apoio. Até tem um Head’s Up Display (HUD) para o lado do comandante. É um clássico, disfarçado de moderno.

Não que isso seja realmente negativo, notem. É, ainda hoje, um avião muito reactivo, extremamente tolerante e os seus sistemas, embora não tão avançados, permitem mais controlo do piloto, do que deixar que os computadores o façam por ele. Como costumo dizer, o 737 é um avião “de pilotos para pilotos” , numa era em que os aviões eram criados e desenhados com pilotos de testes e com muita atenção ao interface. Hoje em dia, os aviões são criados e desenvolvidos por sistemas informáticos com a engenharia em mente. O que torna a sua operação bem menos dependente dos pilotos humanos e bem mais sintética. O que tem os seus pontos positivos, obviamente, mas também tem uns quantos negativos.

Após oito anos de evolução, a PMDG conseguiu encaixar imensas características no seu modelo de 737. Nesta nova versão para o P3DV5 traz consigo imensas melhorias na simulação de sistemas, que inclui uma muito avançada lógica de avarias e ciclos de manutenção inteiramente simulada. Também as lógicas de voo, inércias, massa e centragem foram sendo refinadas criando uma das simulações mais fidedignas e realistas possíveis num simulador de consumo. Dentro e fora dos aparelhos, novas texturas de alta resolução com efeitos realistas de iluminação, sobretudo no cockpit virtual que em certos momentos parece levar-nos para o avião real.

Também temos a inclusão de um Electronic Flight Bag para comandante e co-piloto bastante detalhado no planeamento de performance, acompanhamento do voo e até integração de cartas de navegação (via Navigraph). Alguns painéis foram também revistos, de acordo com as melhorias técnicas dos 737 NG reais, como os rádios de comunicação modernos, por exemplo. E, tal como aconteceu no já revisto PMDG 747, há também a integração de um sistema de ACARS/Datalink virtual para simular essa interacção tão específica. E é claro que não podemos esquecer a incrível sonoridade, que inclui não só toda a lógica de avisos sonoros, como o próprio ruído de motores de vibração da fuselagem, algo que nunca desapontou em qualquer versão deste avião da PMDG.

Tirando proveito das características do próprio P3DV5, também temos texturas actualizadas para o material PBR (Physically Based Rendering), o que confere efeitos visuais a roçar o realista. Também temos uma credível simulação de turbulência, que cria situações verdadeiramente realistas de vibração, por vezes violenta deste fenómeno atmosférico. A integração no simulador da Lockheed Martin é completa, embora o próprio simulador continue a apresentar algumas questões no seu funcionamento. Nomeadamente, questões de gestão de memória, mesmo depois do recente Hotfix 2. O que faz com que, em determinadas situações, o simulador quebre em performance com o PMDG 737NGXu. Agora, onde reside a “culpa”, é ainda dificil dizer. Actualizações estão previstas.

Como sempre faço, vou pegar no meu novo PMDG 737 NGXu para o levar numa rota de médio curso para fins demonstrativos. Uma vez mais, vou recorrer ao PMDG Operations Center para o “vestir” a rigor. Entre as muitas texturas oficiais presentes, adicionar ou remover pinturas de companhias aéreas nos vários modelos e variantes é um processo simples. Como poderão ver, optei por um 737-800 (CS-TQU) da companhia aérea charter Portuguesa EuroAtlantic Airways. Esta não é uma pintura oficial da PMDG, tendo sido descarregada da comunidade. Como podem constatar, basta descarregar o ficheiro próprio (extensão PTP) e a instalação é feita de forma automática na aba correcta.

Como é óbvio, um voo adequado para um Boeing 737 será algo ao nível internacional, voando entre aeroportos de média distância. Com o apoio dos MK-Studios, tenho à minha disposição dois aeroportos muito interessantes para operação. Decidi descolar do Aeroporto de Dublin na Irlanda (EIDW), em direcção ao nosso aeroporto na capital, o Aeroporto Humberto Delgado em Lisboa (LPPT). Estes dois aeroportos são dos primeiros dos MK-Studios a receber a sua nova versão para o P3DV5, contando com toda a qualidade reconhecida e modernizados para o estado actual dos aeroportos reais. De notar que a produção está já a preparar uma nova versão LPPT nos próximos meses.

Uma vez mais, recorro ao fiel Aerosoft Professional Flight Planner X, que continua a dar cartas na criação e gestão de planos de voo. Usei também o HIFI Active Sky P3D para obter a meteorologia, este ainda em fase Beta e ainda com alguns problemas relacionados com outras questões do próprio P3DV5, mas sobejamente melhorado desde a última vez. O voo Dublin-Lisboa será perfeitamente linear, embora na partida a meteorologia esteja um pouco complicada, com chuva e alguma turbulência no enfiamento da pista. Como podem constatar, graças ao Active Sky P3D tenho integração de radar meteorológico com o PMDG 737, uma importante integração para estas eventualidades.

O planeamento da rota é depois inserido no Flight Management Computer (FMC) e podemos fazer de duas maneiras: à mão, inserindo ponto-a-ponto, inclusive a performance, ou solicitando ao Datalink que seja feita uma simulação desta inserção. Esta última opção é a que muitas companhias aéreas mundiais possuem como operação regular. Recorremos ao EFB lateral também para calcular performances, neste caso para as velocidades de descolagem (V-Speeds), assim como o cálculo do trim para descolagem dependendo do centro de gravidade e a potência limitada de descolagem (de-rated take-off).

O processo de entrada de passageiros e carga é feito via FSDreamTeam Ground Services X (GSX), inteiramente compatível com o PMDG 737 NGXu e também com os cenários dos MK-Studios. O GSX também possibilita o necessário sistema aproximação ao gate e, claro, o pushback. Contudo, o próprio NGXu possui um sistema seu de pushback e até podem abrir as “Air Stairs” (escadas automáticas) para entrada e saída de passageiros. Tenham só cuidado com a lógica de programação. Convém programar primeiro no PMDG 737 o número de passageiros e carga (e combustível) e só depois no GSX fazem admissão dos mesmos. Tive alguns problemas quando fiz ao contrário.

Passageiros e carga a bordo, combustível suficiente, portas fechadas, FMC programado e pronto, basta só fazer pushback e taxi. É sempre um prazer ouvir o sopro único dos motores CFM, aliado aos ruídos característicos deste cockpit tão icónico. É um regresso ao passado nos meus primeiros voo no PMDG 737, oito anos mais tarde. Por um lado, tudo parece no mesmo sítio, tudo decorre com uma fluidez típica da minha experiência neste modelo. Por outro, há uma sensação de algo novo, mais refinado e a primar pelo rigor técnico. Nada parece fora do sítio, mal simulado ou ausente. Até mesmo o limpa pára-brisas é realista, limpando mesmo as gotas no vidro e tudo.

Após descolar e combater um pouco os ventos, chegar à altitude de cruzeiro faz-se sem problemas. A partir daqui, temos apenas de gerir a rota, tendo em conta as contingências dos espaços aéreos, instruções do ATC ou imprevistos, por exemplo causados pela meteorologia. Neste voo em particular, porém, tudo foi perfeitamente linear. A partida da Irlanda levou-me para longe do mau tempo e ainda tive uma pequena ajuda dos ventos dominantes até ao Norte da Galiza. Aqui o vento mudou de direcção para a proa, tirando um pouco da ajuda inicial que recebi. Estava previsto que o voo tivesse uma duração aproximada de 2 horas e 20 minutos, pelas contingências atrasei-me cerca de 15 minutos.

A aproximação a Lisboa fez-se de noite, aproveitando o vendo dominante de Norte, deu para fazer aquela aproximação típica à pista 03 de LPPT, observando a cidade em todo o seu esplendor na volta para a final. O cenário dos MK-Studios inclui uma boa parte da cidade, além do Aeroporto e tudo fica complementado pelo mítico cenário global da Orbx, claro. Na final para a pista, notei que o planeamento de descida me colocou algo alto demais para interceptar o ILS da 03. Provavelmente, foi um percalço resultante de má inserção de dados da minha parte, mas depois de tantos voos de e para Lisboa, pareceu-me algo estranho. Obviamente, nestes casos, desconfia-se sempre do piloto… já sei.

À chegada a Lisboa, sou apontado para o Gate 107, o último do terminal internacional que inclui manga. Como opção, podem sempre pedir um “follow me” (via GSX), foi o que fiz. Calços colocados 2 horas e 35 minutos depois de partir de Dublin, este foi um voo sem grandes eventos, perfeitamente linear e seguido quase à risca em termos de altitudes e performance geral, também fruto da boa vontade do ATC. Em todos os momentos, seguindo as checklists e procedimentos do avião real, há muito pouco (mesmo muito pouco) que não foi aqui simulado. Para efeitos de demonstração, não activei as falhas em operação, mas acredito que adicione mais realismo ainda, sempre com o QRH ao lado.

Em tudo o que fiz neste voo e nos testes que realizei antes e depois, senti neste PMDG 737 NGXu uma enorme profundade na simulação. Outra coisa não seria de esperar, é certo. Depois do PMDG 747, este módulo para o PD3V5 é mais uma excelente adição ao hangar. E ainda falta aqui adicionar o não menos mítico PMDG 777, já previsto no horizonte próximo. De notar que a PMDG está também empenhada em levar estes seus fantásticos aviões para o novo Microsoft Flight Simulator. Estou profundamente convicto que nada se altera no nível de qualidade da simulação entre as várias plataformas.

Veredicto

O PMDG 737 NGXu é mais uma prova da excelência desta produtora de add-ons. Tanto o pacote base, como a expansão, são um autêntico trabalho de carinho de oito anos, culminando numa versão de elevada qualidade e cheia de conteúdo. A PMDG não se limita a fazer um add-on vistoso, faz também algo credível e bastante realista, tanto para os entusiastas, como para os profissionais que procuram algo próximo da realidade. O P3DV5 é um dos simuladores mais modernos da actualidade e as suas características podem elevar o PMDG 737 NGXu para patamares ainda mais elevados de qualidade visual e performance.

Esta análise teve o apoio da PMDG e dos MK-Studios. Podem encontrar o PMDG 737NGXu Base Package e o PMDG 737NGXu 600/700 Expansion Package na loja oficial da produtora. Quanto aos cenários, podem encontrar o cenário MK-Studios – Dublin P3D e o MK-Studios – Lisbon P3D na loja digital da Simmarket.

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