Simuladores – Fenix Simulations A320
A espera terminou pelo primeiro addon de simulação profunda para o Microsoft Flight Simulator do avião comercial mais popular do momento. Apesar de alguns projectos promissores, só mesmo este Fenix Simulations A320 me convenceu.
Ao fim de tantos anos a deambular pelos vários simuladores, ganhei um nível de exigência que os mais dedicados também entenderão. No que toca ao MSFS, até agora, muito do que tivemos ao nível de addons de simulação profunda foi algo desapontante. Já temos boas simulações de algumas aeronaves menos populares mas, no que toca aos grandes construtores, a oferta é escassa e nem sempre na profundidade exigida. O que falo é de aeronaves “study-level” que nos permitam voar na plenitude de sistemas, performance e procedimentos. Como primeira simulação do avião comercial de médio curso mais popular nos céus mundiais, o Fenix A320 tem muito para provar.
Confesso que não conheço o passado desta empresa, provavelmente poucos conhecerão. O que faz desta equipa algo desconhecida neste meio e, por conseguinte, faz também com que todas as suas promessas sejam algo optimistas. Existem grandes “colossos” nos addons de simulação, mas a Fenix chegou primeiro ao A320. A questão aqui é saber quanto crédito dará um “simmer” por um avião que deseja bastante, mas não conhece a empresa que o elabora. Algumas marcas, como a Aerosoft ou a PMDG são compras “de caras”. Outras precisam de um pequeno “incentivo ao risco”.
Até porque este não é propriamente o modelo mais apetecível da família Airbus A320. Embora o Airbus A320-200 aqui recriado seja, de facto, o mais usado em todo o mundo, é a sua evolução mais recente, o famosíssimo Airbus A320 NEO, que os simmers mais querem. Infelizmente, o modelo base do NEO que o MSFS já traz é muito simplista e o projecto “freeware” FlyByWire A320 ainda está longe de ficar completo. Visitando a página da Fenix, porém, sabemos que este é o único modelo único planeado, prevendo apenas adicionar os motores IAE e a opção de sharklets nas asas.
Lá porque não é a “coqueluche” do momento, o Airbus A320-200 é, ainda assim, o avião comercial de médio-curso mais avançado, versátil e económico do consórcio Europeu, ultrapassado só em performance e autonomia pela versão NEO. Graças à sua simplificação de sistemas de bordo, controlo via Fly-by-Wire com protecção do envelope de voo e outras características únicas, a sua operação é das mais simples e seguras, contando ainda com imensas redundâncias e simplificações que ajudam a tripulação a libertar muito do seu trabalho a bordo.
Até hoje, tivemos vários addons robustos deste avião para vários simuladores, pelo que aprendemos a elevar a fasquia sempre que um novo produto nos chega. A Fenix estará muito bem inteirada disso mesmo, uma vez que “picou” todos os pontos que tentei abordar na minha análise. O seu aspecto geral, os sistemas modelados, as avarias, as animações, os pequenos detalhes adicionais, tudo denota imenso interesse em elaborar numa simulação profunda e um claro desejo de corresponder às maiores expectativas. Para primeiro produto de uma empresa recente, é arrojado.
Antes mesmo de entrar na simulação propriamente dita, devo realçar um pormenor que nem sempre falo nestes addons para simuladores. A Fenix gastou imenso tempo a criar um produto muito completo, bem além do próprio avião em si. O que inclui o seu website onde, de uma forma muito polida e sóbria, podemos adquirir a aeronave e também solicitar ajuda técnica ou consultar alguma documentação. Apenas gostaria de saber mais sobre a própria empresa Fenix Simulations mas acredito que a equipa tenha outras preocupações no momento.
Quando descarregamos o addon e o instalamos, notamos que nos é pedida uma pasta aleatória no nosso sistema operativo. Ao contrário dos demais addons, o Fenix A320 não se instala directamente na célebre pasta da comunidade do MSFS dedicada a produtos comprados e mods. Este addon corre num sistema separado, um launcher que corre em paralelo com o simulador. Em conversa com a equipa técnica, foi apenas dito que “a maioria dos sistemas” do addon correm fora do MSFS. A ideia é que a simulação seja mais leve para o computador e não tão dependente do simulador que serve de base, algo que pude comprovar.
Este launcher também permite várias funcionalidade francamente bem vindas. Além da integração no popular ACARS da Hoppie e também com do fantástico programador de rotas Simbrief, também podemos aqui escolher a qualidade dos mostradores e até se queremos que seja o CPU ou a placa gráfica a processar esta informação. Isto permite uma preciosa melhoria na performance deste módulo, em especial para os computadores mais humildes. Se tivermos em conta quão pesado pode ser o MSFS em si, entendem o valor destas opções.
Também fora do simulador, temos um outro ícone precioso dedicado ao gestor de pinturas (Livery Manager). Não é uma ideia nova, já vimos vários produtos com plataformas de instalação de pinturas em separado. Ainda assim, é uma óptima adição ao simulador, que nos permite instalar e gerir as pinturas de uma forma bastante prática. Além disso, tem imensas pinturas realistas e históricas de várias companhias aéreas. Adorei poder instalar as pinturas da TAP Portugal e SATA, além de várias outras companhias famosas, com resoluções 4K ou 8K. E, sim, estão todas já listadas no programa, não sendo preciso descarregar nada por fora.
Passando então ao “escritório”, o cockpit do Fenix A320 é uma obra de arte. Notem que não digo isto de ânimo leve. Não é o cockpit mais limpo, polido ou lustroso de sempre. Tem desgaste, pequenas imperfeições e vários detalhes de utilização que o tornam pouco imaculado. E é exactamente por isso que o adoro. Não é uma experiência para todos, bem sei, mas quem já voou ou visitou um cockpit de um avião comercial real no activo, sabe que este é mesmo o aspecto normal dos aviões de operação regular. Quando vemos estes detalhes, percebemos a dedicação de quem o desenhou.
Quase todos os sistemas a bordo estão devidamente simulados e animados. Comutadores, botões e selectores funcionam praticamente da mesma forma como o avião real, tendo o mesmo tempo de resposta e até o som é realista. A Fenix chegou ao pormenor de animar e programar os circuit-breakers (disjuntores), o que é um feito em algo que, regra geral, é quase sempre ignorado. De facto, é mais fácil listar o que não funciona neste cockpit do que o que realmente está operacional. Não sendo uma simulação a 100%, fica lá muito perto.
Antes de passarmos aos céus, nada como apreciar as vistas exteriores. Embora já tenha testado vários outros addons para o MSFS, não me recordo de nenhum outro ter a qualidade, o detalhe e o rigor visual do Fenix A320. Para isso, contribuem as texturas opcionais em 8K, claro, com diferentes reflexos e materiais criados com imenso rigor. Também a modelação e animação dos vários objectos, desde flaps, trem de aterragem, portas e até do interior da cabine, todos adicionam imenso realismo ao que vemos.
Ainda no exterior, a Fenix decidiu criar a sua própria frota de “ground crew”, desde o útil GPU, às escadas de acesso. Estes objectos estão ligados à operação automática das portas, tomada e largada de passageiros e carga, reabastecimento, entre outros aspectos. Contudo, infelizmente, não parecem funcionar bem em paralelo com alguns objectos de cenário e até mesmo com a “ground crew” básica do simulador. Isto cria alguns problemas, como a duplicação de escadas e alguns problemas com a detecção de colisões do pushback.
De volta ao cockpit, nada como efectuar um voo para testar tudo ao pormenor. Para isso, escolhi um voo de médio curso, um “hop” entre Lisboa e Madeira. Podem achar que é um desaproveitamento de autonomia e capacidade do A320 fazer voos tão curtos, mas acreditem que é nos “hops” curtos que este avião brilha, com turn-arounds relativamente rápidos de menos de 40 minutos. Claro que tudo depende dos S.O.P.s (procedimentos padrão) das companhias aéreas mas este é claramente um avião pensado para rotas de muita rotação.
Para planear o voo, claro, vamos apostar no robustíssimo Simbrief para elaborar o plano das duas pernas do voo. Tratando-se de um voo total relativamente longo (para um A320), é preciso um plano cuidado de combustível e rota optimizada em altitude. Felizmente, o Simbrief faz muitos destes cálculos baseando as rotas que gera em rotas reais e actuais. E quando é altura de transportar toda esta informação, basta utilizar o sistema simulado de datalink e importar tudo para o avião. Genial.
Bom, quase tudo. No tablet adjacente, temos ainda muito para fazer. Neste tablet podemos inserir dados de voo (meteorologia, massa e centragem, performance à descolagem, etc), como também temos documentação da rota a percorrer, documentação anexa e ainda algumas preferências do avião e deste dispositivo. É um Electronic Flight Bag no pleno sentido, extremamente útil e sem o qual já não sei voar. Aliás, nem sei porque é que a Fenix coloca a opção de o remover do cockpit.
Todos os cálculos inseridos, passageiros e carga a bordo, briefing feito, chegou o momento de partirmos de Lisboa, rumo ao Funchal. Espera-nos um voo com alguma duração, pelo que descolamos na “fresca” da manhã, numa partida sem notas importantes e absolutamente rotineira. Para efeitos de análise, decidi não activar as falhas na operação nas várias fases de voo, embora ache que uma simulação para ser perfeita deve tê-las activas de forma aleatória, também como forma de desafio aos pilotos.
Durante o taxi para a pista, já agora, durante os testes iniciais notei um considerável atraso na rotação do “tiller” e na resposta da direcção pretendida. Embora reconheça que, na maior parte dos casos, o “tiller” é demasiado reactivo em módulos de Airbus e não só, achei que o tempo de resposta aqui é algo exagerado demais. Mas, acho que é uma questão de hábito e logo percebi que tenho de antever mais as manobras. Porque ainda estamos na alvorada do dia, ainda com pouca luminosidade, destaque para a fantástica iluminação nocturna, absolutamente deslumbrante.
Para “sentir” o avião, após a descolagem decido levá-lo manualmente na primeira fase do voo. Fiquei muito bem impressionado com a “leveza” na manobra e a suavidade com que o avião responde aos controlos. O piloto automático é um pouco brusco a “tomar conta” do avião quando activado, mas rapidamente compensa com mais suavidade logo de seguida. De um modo geral, o que tenho mesmo de destacar é o som deste aparelho, tão imersivo, incrivelmente realista, tanto no ruído dos motores no interior ou exterior como dos sons e avisos na operação.
Só um pormenor se destaca disto tudo enquanto estamos a voar. O avião é incrivelmente domado e suave em quase todas as fases de voo, o que é um bom atestado ao modelo de voo criado. Apenas me pareceu que no controlo vertical em descida impõe uma atitude descendente um pouco acentuada demais, levando o avião relativamente próximo do overspeed antes de compensar a descida. É conhecida a dificuldade do Airbus A320 a desacelerar na descida, necessitando de “spoilers”, mesmo assim, aqui parece-me um pouco exagerada a forma como “embica” para descer.
A aproximação e aterragem na Madeira teve um pequeno incidente. O vento mudou quando estava em cruzeiro e tive de alterar a aproximação da pista 23 para a famosa 05. Facilmente altero a STAR para a sempre desafiante aproximação visual. Graças à suavidade da operação, tudo acaba de forma muito positiva. Tudo corre bem, volta pela famosa encosta, desde a célebre ponto de intercepção GELO, trem em baixo, flaps em posição, agora é só controlar a descida. Nos mínimos, inicio o flare… suave no toque.
Bem planeada a performance, apenas precisei de “idle-reverse” para travar o avião. No MCDU podemos calibrar o nosso throttle para garantir as zonas correctas para o auto-thrust para garantir que os “detents” estão nos alcances pretendidos. Também consegui fazer “single-engine-taxi”, com a devida assimetria presente mas sem problemas. Chegando ao gate, calços nas rodas APU conectado, está na altura de desembarcar e descarregar. Prepara-se o avião para a próxima perna e há um sorriso nos lábios.
A conclusão deste voo relativamente é francamente positiva. Gostei mesmo muito da operação, das lógicas e dos sistemas tão profundamente simulados. Agora no chão, perco algum tempo a navegar pelas páginas do MCDU e do ECAM. Se consultarem os manuais do avião e se puserem a desligar sistemas ou a operar em modos secundários, ficarão surpreendidos com a profundidade do que está simulado. Também desligar circuit-breakers criarão pop-ups de checklists anormais e é possível seguir o QRH do avião quase até à exaustão.
Devo assinalar que esta não foi a primeira tentativa de um voo completo. De um modo geral encontrei sempre um ou outro bug durante a produção desta análise, o que me levou a procurar soluções, tanto junto da equipa, como na comunidade dedicada. Contudo, a Fenix Simulations está constantemente a lançar correcções e ajustes. A mais recente, por exemplo, corrigiu problemas diversos que eu próprio tinha identificado. O avião está claramente ainda em desenvolvimento. Mas, a equipa mostra-se atenta aos problemas e está dedicada a resolvê-los. Por isso, merece o meu apreço.
Diria que tudo o que deve estar simulado para um voo normal, assim como tudo o que deve estar simulado para a maioria das emergências, está aqui. Claro que um piloto real encontrará limitações e pormenores que não são “exactamente assim” nesta simulação. Mesmo eu encontrei detalhes e pequenos procedimentos que reconheço necessitarem de uma leitura do manual real do avião. Ainda assim, o piloto-virtual médio tem aqui uma excelente simulação de um avião profundamente recriado. E é só isso que se pede para um investimento deste calibre.
Veredicto
O “mergulho” neste Fenix Simulations A320 é literalmente profundo. Não estou a falar apenas na qualidade imersiva e cheia de cuidado da simulação em si. Também o piloto automático do avião gosta de “mergulhar” assertivamente nas descidas. É uma excelente analogia para um addon visualmente fantástico, tecnicamente vasto mas ainda a precisar de algum polimento. Encontrei alguns bugs e glitches, alguns que nem listei aqui. Contudo, em nenhum momento senti que a simulação estivesse aquém, muito pelo contrário. Este é um avião praticamente obrigatório no Microsoft Flight Simulator.
A versão de testes usada para esta análise, foi gentilmente cedida pela Fenix Simulations. De momento, o Fenix A320 está exclusivamente disponível na loja oficial da empresa que podem visitar aqui.
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