Simuladores – DCS: MB-339

DCSMB339 (5)

Como primeiro add-on criado para o DCS World, a IndiaFoxtEcho escolheu uma aeronave muito especial para si. O DCS: MB-339 é uma excelente entrada no simulador, com um “puro sangue” Italiano.

OK! Não é propriamente um “Ferrari”, nem sequer é dos aviões mais velozes no simulador. Certamente, também não será a aeronave mais versátil para combate. Esta é uma aeronave de treino, acima de tudo, tendo também uma variante exclusivamente acrobática. Embora os “trainers” não sejam os mais populares no DCS, esta pequena aeronave ainda vos poderá surpreender, mesmo assim. É que o MB-339 parece dócil, mas leva consigo um arsenal considerável e que não deve ser subestimado. Afinal, equipa ainda várias forças aéreas e alguns países até o usam para papéis de suporte e ataque ao solo. De acrobata a atacante, é só um passo.

Na vida real, o Aermacchi MB-339 é facilmente reconhecido. Na sua variante PAN, equipa a famosa patrulha acrobática Italiana Frecce Tricolori. Contudo, talvez não saibam que esta plataforma chegou mesmo a conhecer combate, inclusive numa guerra muito famosa. É um caso raro de um avião que foi criado com um objectivo muito claro mas que acabou adaptado às circunstâncias mais prementes de cada país onde voou ou ainda voa. Como sempre faço, vamos falar um pouco do seu passado, para que possamos apreciar melhor o que traz ao DCS World.

O MB-339 foi desenvolvido pela fabricante Italiana Aermacchi no final dos anos 70, como substituto do velhinho MB-326 no papel de aeronave de treino para a Força Aérea Italiana. Muitos do pormenores de design desta aeronave derivaram do MB-326, como uma espécie de modernização dessa outra plataforma que já tinha dado provas de eficácia no seu papel de “trainer”. Com esta estratégia, a FAI conseguia um avião mais capaz mas também poupava no seu conceito e na sua construção.

O MB-339A, o que temos no DCS, entrou ao serviço da FAI em Julho de 1978, dois anos depois do primeiro voo do protótipo. Durante os seus vários anos de serviço o MB-339 foi “revisitado” com outras variantes, desde unidades de ensaios, novas motorizações, modernização de aviónicos e até variantes com sonda de reabastecimento. Ao todo, a Aermacchi produziu 230 aeronaves, mas apenas 101 entraram ao serviço de Itália. As demais foram modelos de exportação para outros países.

E foi mesmo por lá que este pequeno avião viu “acção”. Ao serviço da Força Aérea da Eritreia, entrou em combate na infame guerra com a Etiópia. Contudo, onde foi realmente apontado o foco para si (literalmente), foi na guerra das Malvinas/Falklands onde serviu a Força Aérea da Argentina. Nestes dois conflitos, obviamente, participou como avião de ataque ao solo, com resultados satisfatórios. É preciso notar que é um avião ligeiro, sem grande potência de motor, blindagem ou contra-medidas passivas/activas.

Quando olhamos para o que tem lá dentro, entendemos logo o papel para o qual foi desenhado. Tem pequenas dimensões mas uma envergadura de asas de quase 11 metros, num desenho recto em “T”. Tem apenas um motor Rolls-Royce “Viper” turbofan com apenas 4000lb de potência. Este humilde motor, dá-lhe apenas uma velocidade máxima de 485kts, num alcance razoável usando tanques chega quase às 1200nm. Carregado, é um avião lento, limitado em ângulos de ataque e nada veloz. É, claramente, um avião desenhado para treinar pilotos e ocasionalmente disparar.

Mesmo assim, com mãos capazes, o pequeno MB-339 pode “morder”. Com seis pilares com capacidade de carga até 1800kg (4000lb) de armas, tanques ou casulos, não é de admirar que as Forças Aéreas que o operam o usem constantemente também para operações de combate. Estes seis pilares podem levar bombas, rockets ou até canhões pesados. Algumas variantes também podem carregar mísseis Ar-Ar, embora esta opção não esteja disponível no DCS: MB-339.

Actualmente, com um design de 1978, o Aermacchi ainda voa na Força Aérea Italiana (principal operador), da Eritreia, Malásia, Emirados Árabes Unidos e… nos Estados Unidos com a empresa mercenária Draken International. No passado, voou pela Argentina, Ghana, Peru, Nigéria e até na Nova Zelândia, nos mais diversos papéis de treino e suporte. A nível de “trainers”, melhores prestações que o MB-339, só mesmo o lendário Bae Hawk ou o “saudoso” Dassault AlphaJet.

Portanto, historial não falta a este pequeno avião. No DCS World, porém, tem muito para provar, não apenas como nova plataforma, de um género de aeronave que não é muito concorrida, mas também porque é o grande desafio da IndiaFoxtEcho. Mais habituados a criar aeronaves para os simuladores civis, este é o seu ponto de partida em simuladores de combate, com todos os desafios que isso implica, especialmente no que toca ao elevado nível de exigência da Eagle Dynamics.

O trabalho de modelação da empresa Italiana é exemplar. Todos os sistemas e alterações dos dois modelos apresentados, o MB-339A e o MB-339PAN estão modelados com imenso rigor. Aliás, não irão notar grandes diferenças entre os dois aviões, já que a Frecce Tricolori recebeu aeronaves de serviço para as suas acrobacias. Essa sua variante tem, obviamente, uma remoção dos elementos de armamento, sendo também mais leves, obtendo também um sistema de vaporização (fumos) adicional e umas outras alterações no cockpit. De resto, voam da mesma forma.

Por incrível que possa parecer num simulador de combate, há uma comunidade assídua do voo acrobático no DCS World. Há até servidores inteiramente dedicados a voar em formação ou para acrobacia, onde as armas estão proibidas. Trainers como o L-39 ou C-101 ou ainda com os acrobatas Yak-52 ou Christen Eagle II, recebem de braços abertos este MB-339, cujos malabarismos já riscam os céus virtuais. É inevitável comparar a performance e manobrabilidade destes “acrobatas” no DCS. Diria apenas que o MB-339, se calhar, é um pouco mais divertido. Preferências.

Na sua variante MB-339A, contudo, a comparação é mais concreta. Com os seus seis pilares e com tanta capacidade de armamento, não há equivalência possível nos demais trainers. Com a capacidade de carregar bombas, rockets e canhões num só voo, é claramente uma plataforma temível para alvos passivos. Uma parelha de MB-339A é capaz de devastar um campo de batalha, trocando a velocidade que não tem, pela manobra a baixa altitude e excelente visibilidade. É um avião que gosta de voar baixo e lançar munição de forma furtiva.

Para isso, as suas bombas são variadas, entre munição simples de queda livre, munição de cluster e até retardada. Chamo a vossa atenção, em particular, para as racks de seis bombas BAP-100 e BAT-120. As primeiras são bombas simples de explosivo de impacto multi-alvo, as outras são de ogiva penetrante, apropriadas para destruir pistas ou fortificações. O MB-339A pode levar 32 bombas destas, lançadas em sequência, qual bombardeiro de altitude. A precisão não interessa, alguma das trinta e duas bombas em queda lenta há-de bater em algum sítio.

Das coisas que mais gostei de fazer com o MB-339A, porém, é lançar ataques de oportunidade com rockets e canhões. Temos duas variantes de canhão, ideais para alvos não blindados e infantaria, além de vários tipos de rockets. A mira no HUD é francamente rudimentar mas é suficiente para ataques rápidos, usando a capacidade do avião voar tão baixo e tão lento. A canópia possui uma visibilidade impressionante e, se voarmos a dois, é ainda mais fácil identificar ameaças.

Contudo, não esperem facilidades. A falta de informação a bordo, com um sistema INS simples que não nos dá grande detalhe de posição, o já mencionado HUD simplista e nenhuma informação de ameaças, é algo que precisa de adaptação, especialmente para quem está habituado a caças mais modernos. Este é um avião desenhado para simplicidade, obviamente. A instrumentação analógica, aliada a uma navegação limitada e lógicas muito simples, em conjunto com uma dinâmica muito branda, deverão revelar isso mesmo nos primeiros minutos de contacto.

De um modo geral, porém, no emprego de armas no DCS World, achei o avião muito interessante no papel de suporte próximo, ataque ou solo ou até de bombardeio. Infelizmente, a sua capacidade de manobra obriga a círculos muito largos para largada de munição. Por outro lado, com a mira em cima do alvo, é lento a reagir “flutuando” bastante no momento em que temos de alinhar. Aconselho a alinhar a mira bem cedo e um pouco mais alto, até para antecipar ameaças no terreno.

A nível de implementação, também é de notar que o avião possui uma série de pequenos erros e bugs que a IndiaFoxtEcho está a corrigir nesta fase. É normal que, como primeiro módulo e como acesso antecipado, o avião ainda precise de afinação. Mesmo assim, devo dizer, fiquei impressionado pela positiva com o trabalho de precisão e cuidado em replicar performance, armas e sistemas de forma tão eficiente. Estou certo que a produtora ainda irá surpreender mais no futuro.

Veredicto

O DCS: MB-339 é mais uma adição de qualidade ao DCS World. Não será a aeronave mais popular neste simulador de combate mas é, sem dúvida, um “jogar pelo seguro” da produtora IndiaFoxtEcho que quis trazer um avião para si familiar (já lançado no MS Flight Simulator), simples de operar e não muito profundo como sua introdução a uma nova plataforma. Ainda possui muitas arestas para limar mas é já uma óptima opção na limitada família de aviões de treino mais simples.

Este software foi testado através de uma versão experimental em acesso antecipado, e foi gentilmente cedido pela IndiaFoxtEcho. Sendo uma versão experimental, muitas das características, bugs, erros ou faltas assinalados poderão sofrer alterações até ao lançamento.

Se desejarem conhecer a comunidade Portuguesa que treina e voa regularmente no DCS World, visitem a pagina DCS World – Portugal no Facebook e o canal de Discord da Esquadra 701. Parte das imagens que usamos neste artigo foram criadas neste grupo.

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