Reportagem – Lisboa Games Week 2023

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Nos últimos anos, vimos uma mudança de paradigma a nível global. As principais empresas nesta indústria estão a abandonar os grandes eventos públicos e a preferir eventos digitais. A Lisboa Games Week 2023 é uma óbvia vítima desta lógica.

Mesmo antes da paragem forçada pela pandemia, lentamente vimos um decréscimo no investimento em eventos presenciais. As grandes marcas, a passo-e-passo, foram diminuindo a sua participação da LGW, chegando mesmo a deixar de comparecer. Estamos a falar das grandes marcas, mas também alguns estúdios e representações nacionais que simplesmente deixaram de apostar naquele que foi, em tempos, um dos maiores eventos jamais feitos em Portugal dedicado aos videojogos.

A mudança da gestão do evento directamente para a própria administração da FIL (Feira Internacional de Lisboa) também poderá ter contribuído para a notória mudança de rumo que a LGW tem visto. De mega-evento dedicado aos videos, vimos uma lenta reorientação para uma abordagem mais ampla, envolvendo mais a fandom, merchandise e assuntos em torno dos videojogos. O espaço continua a ser o mesmo, neste ano ocupando dois pavilhões da FIL mas o âmbito, claramente, está bem diferente.

Parece que a organização leu o que falámos na edição do ano passado no que toca ao espaço ocupado pelos stands e a compactação da audiência. Não tivemos os corredores tais corredores apertados, dando mais espaço entre stands para circulação de pessoas, sem dúvida. Contudo, a distribuição dos stands mais espaçada tem uma razão um pouco menos positiva. É que estes stands são nesta edição muito menores e há obviamente menos expositores presentes. Ou melhor, provavelmente até há mais expositores mas a vasta maioria trouxe menos para mostrar, o que dá uma sensação de menor dimensão.

A sensação geral que nos dá, especialmente porque comparecemos durante a tarde do primeiro dia, onde há claramente menos audiência, é de vazio. Temos imenso espaço para circular, sim, nesta edição não há aparentes estrangulamentos, com muitos mais acessos e áreas de circulação mas isso é resultado de uma escassez de conteúdo, espalhada numa área provavelmente exagerada. Especialmente em dias de menor afluxo como este da nossa reportagem, isto nota-se bastante.

Mas, mesmo que muita gente aflua para o espaço, a não ser que já saibam o que os espera, ficarão desapontados. Nesta edição, das muitas empresas de renome que já vimos neste evento, apenas a Nintendo marcou a sua habitual presença. Nada de Sony (outra vez), nada de Xbox, nada de Riot Games, nada de ASUS ou outras grandes empresas de representação e distribuição, nada de mega-stands como o do antigo patrocinador Worten, enfim, se na edição anterior os ausentes se fizeram nota, neste ano, então, o vazio deixado é ainda mais gritante, ocupado por pequenas áreas improvisadas, como uma área de restauração ou um palco para conferências.

Presentes, estiveram, uma vez mais, muitas empresas de produção independente (Indie), assim como várias escolas e programas de formação na área dos videojogos. Honestamente, estes eventos são dos melhores espaços para apostar no futuro, onde potenciais produtores podem decidir o seu futuro e possíveis investidores podem apostar em óptimos projectos presentes. Se calhar justificava-se já um evento somente para os Indies, dedicado ainda aos cursos e escolas dedicadas.

Tivemos também os jogos retro e, claro, o seu habitual espaço de experimentação de autênticas relíquias da história dos videojogos. As máquinas de arcada voltaram, num espaço um pouco menor e mais amplo, com algumas curiosidades. Também houve espaços para o hardware de marcas como a HP OMEN e LG, assim como as cadeiras Alpha Gaming que apareceram por todo o lado. No fundo do pavilhão 4, um enorme palco para alguns eventos de eSports, cujas equipas montaram os seus stands no pavilhão 3.

E é claro que o merchandise e o Cosplay também apareceram para consolidar este evento claramente mais virado para a fandom. É curioso que hajam nesta edição ainda mais lojas e fabricantes, assim como marcas e representações comerciais um pouco fora de contexto. Acreditamos que algumas foram convidadas para “encher” mais o espaço mas nesta edição vimos ainda mais stands que pouco têm a ver com os videojogos.

Então e os jogos? Recordamos que o título deste evento é “Lisboa Games Week”, pelo que os jogos deveriam ser o seu principal foco, certo? Quando um jogador adquire um ingresso para o evento, espera, pelo menos, jogar alguns títulos e conviver com amigos e desconhecidos a fazê-lo. Além do espaço da Nintendo cheio de novidades recentes para a Switch, alguns stands possuíam consolas e PCs para jogar livremente. Infelizmente, esta será a edição com menos postos de jogo de todos os tempos, agravando-se nos dias de maior afluência que causarão aglomerados junto dessas áreas com algo para interagir.

Quando vamos a um evento destes, até podemos estar curiosos para conhecer jogadores de eSports, algumas vedetas convidadas e até experimentar algumas coisas diferentes, como fazer escalada e rappel, ter uma experiência VR, apreciar fatos de cosplay ou até assistir a uma sessão de luta-livre. Contudo, a LGW sempre foi um espaço para conhecer novos jogos, experimentá-los e ainda, em tempos idos, conhecer novidades inéditas. Foi um espaço de enorme celebração do videojogo, onde os fãs das franquias se juntavam para ver algo surpreendente e novo.

A Lisboa Games Week 2023 é, para nós, um evento mais para passar um tempo com os amigos numa área com alguns interesses em comum (por vezes remotamente) com os videojogos. Infelizmente, sem o apelo de outros tempos, sem a pompa e circunstância de algo grandioso, com olho lá para fora, a fazer frente a mega-eventos internacionais. Como já dissemos, os tempos são outros, a própria E3 em Los Angeles está por um fio, tornando-se complicado para a FIL puxar as grandes marcas para comparecer. Ainda assim, há um claro desvio do foco original, que nos leva a questionar se ainda se justifica haver uma LGW, pelo menos nestas dimensões.

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