O final de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain? Onde?

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Não está aqui em causa a qualidade geral do jogo, que levou nota máxima aqui no WASD. Nem sequer está em causa as muitas horas que proporciona de boa acção, num jogo sólido e cheio de conteúdo. O que está em causa é como termina Metal Gear Solid V: The Phantom Pain e como algumas perguntas ficam por responder.

Antes de lerem este artigo, terminem a história principal (as Missions) e voltem aqui depois. Este artigo está repleto de spoilers e, se não terminaram ainda o jogo ou não querem que vos estraguemos esse final, não leiam abaixo da imagem adorável seguinte. 

Ainda estão aí? Não se queixem depois!

Então vamos lá! Termino o enredo da história principal. Chego à missão 46 e tenho um regresso, algo escusado de tão aborrecido, ao hospital no Chipre. A missão chama-se The Thruth (A Verdade) e é onde passamos por um plot twist muito mal guardado desde o prólogo. Mas, pronto! Façamos a vontade ao criador Hideo Kojima. Na cama do hospital, percebo logo que os 9 anos de coma serviram para o propósito esperado. Adicionem-se as tais fotografias com o meu nick escrito e outras pequenas nuances que confirmo que afinal nunca fomos “o” Big Boss e, sim, um impostor que dá o corpo ao manifesto (literalmente). Não passam de partes de uma enorme falácia mal escondida e que é perceptível a toda a gente com pulsação à face da terra.

Então porque é que toda as pessoas no jogo faziam de conta que eu era o Big Boss? Fácil, Ocelot explica como se fosse a coisa mais óbvia à face da Terra: estavam todos hipnotizados! (Hã?) E onde estava “o” Big Boss, o John, o real, o Naked Snake? Algures por aí de casaco de cabedal a andar de mota. (?) Então, mas… E o que acontece depois? Onde estão os Patriots? Que aconteceu ao Metal Gear Sahelanthropus? E onde está Eli, o futuro Liquid Snake? Toma umas cassetes de áudio a tentar explicar o inexplicável. (OK…)

Esta missão 46, que, tirando as nuances que já mencionei, é exactamente igual ao prólogo e com o mesmo desfecho, deixa-nos a esperar mais. Como algumas missões só surgem depois de fazermos outras, esperei, pela tal derradeira missão com um Boss final difícil, gigante, injusto, típico dos finais dos jogos em toda a série. Disse para mim próprio: “Ainda tenho uma cena final de 1 hora, aposto!”

Apostei… perdi. Ainda fiz algumas missões extra alternativas com modificadores (já explico) que vos vão aparecer a partir da missão 32, esperando que fossem essenciais para os 100% e… nada. Também passei algumas Side Ops adicionais que faltavam, mas o jogo parecia teimar em não me dar o tão esperado fim. Quebrando a continuidade dos títulos anteriores e olhando para a estrutura do jogo em si, apercebo-me que está desequilibrado. Jogamos o primeiro capítulo até à missão 31 e o segundo capítulo até à 46, sabendo que existem, nessa segunda parte, 13 missões repetidas com os tais modificadores. Ou seja, só jogamos 6 missões reais de enredo do segundo capítulo.

Afinal, terminou? Assim? Não sei bem se o jogo foi apressado, sobretudo com os conhecidos rumores que dão conta de Hideo Kojima estar em rescisão com a Konami. Também não sei se é uma estratégia da Konami lançar o jogo por terminar, vendendo posteriormente algum pacote extra de missões ou episódios (serão mesmo só skins em DLC?). O que é certo é que a lista oficial de missões principais são 50 no total. Com 12 missões repetidas, com os já mencionados modificadores como Extreme (dificuldade extra), Subsistance (começamos sem equipamento, apanhado o que há em jogo) e Total Stealth (100% Furtivo) e com algumas missões sem acção real, essa lista de 50 missões não é sequer realista. Tudo leva a crer que, pelo menos o segundo capítulo, está incompleto.

Ajuda a chegar a essa conclusão uma notícia que se tem espalhado à velocidade de um click pela Internet: Há um nível cortado do código de The Phantom Pain! Não chegou a fazer parte do jogo que temos em mãos, talvez pelas mesmas razões que tornaram o jogo incompleto, foi devidamente colocado no disco de bónus da Edição de Coleccionador, complementado com arte conceptual e pedaços do áudio, assim como explicações da acção, seguindo o guião da missão. Chamar-se-ia “Kingdom of the Flies”, ou Missão 51, cujo material só está 30% terminado.

Nesta importantíssima missão, é contado o que aconteceu com Eli depois de ter roubado o Metal Gear Sahelanthropus e fugido para uma ilha remota em África. Snake descobre a localização de ambos e parte para travar o pequeno agitador. No entanto, Cypher também o descobre e quer obter para si, não só o robot gigante como o próprio Eli, tão promissor pelo seu ódio ao seu “pai” Big Boss. Sigam neste vídeo a missão reconstruida parcialmente.

Esta missão é tão, tão importante, que não consigo compreender porque temos largos minutos gastos, por exemplo, com a história da Quiet ou nas interacções com Huey e não com este pedaço conclusivo de enredo que ata (efectivamente) um bom pedaço do final deste jogo com o próximo Metal Gear Solid, onde Eli já aparece como Liquid Snake. Eli conta aqui com a preciosa ajuda do enigmático Psycho Mantis, tão importante na série mas que, com o jovem ruivo de MGSV, parece quase um “outsider”. Também é aqui que entendemos as ideias de Liquid nos próximos jogos. Enfim…

Confrontados com estas teorias de jogo incompleto e cortes intencionais, os membros da produção escolhem não comentar. Talvez porque não possam… ou não queiram. Kojima, o mentor, está toldado no silêncio e nem esta polémica o desperta. Mesmo que pergunte se estamos a gostar do jogo, o mentor da série Metal Gear deve estar mais preocupado com o seu próprio futuro que com o presente ou o passado da série que criou. Parece…

É que, lembrando que Kojima adora enigmas e enganos, há teorias por aí que este nível e outros pedaços de jogo estão deliberadamente “escondidos”, sobretudo na versão PC onde é possível analisar os ficheiros. Um utilizador dos fóruns Facepunch acredita que está no caminho certo, ao ter encontrado o que acredita ser um “Capítulo 3”, por exemplo.

Se realmente estes pedaços de jogo foram removidos antes do lançamento, o que fazem ainda embebidos no código? É mais um segredo mal guardado ou apenas “casa mal arrumada”? A equipa deve estar consciente que a versão PC é passível de ser sondada e investigada em busca de ficheiros e dados escondidos. Certamente, um jogo terminado terá um processo de refinamento e limpeza de dados excedentes, sobretudo para efeitos de cálculo dimensão dos ficheiros, antes da publicação em formato digital ou físico.

Mas há mais em termos de enredo, mesmo que não estejam óbvios em cenas de discos de bónus ou no próprio código. Onde está o regresso a Camp Omega prometido no final de MGSV Ground Zeroes? Que acontece a esta Mother Base depois dos eventos do jogo? Que aconteceu à Quiet depois da polémica missão em que a salvamos? E, acima de tudo, o que acontece ao impostor Big Boss que personificamos quando deixar de ser útil aos planos do verdadeiro? Como se encaixa nos futuros Metal Gear Solid?

Os anunciados 80 milhões de dólares de produção, com actores de primeira linha, longas horas de captura de movimentos, a criação de um novo motor gráfico de raiz (Fox Engine), com os sucessivos adiamentos pelo meio, deveriam chegar para produzir um jogo grandioso. Como disse no início, a nota que dei no momento foi justa. MGSV é fantástico no que toca a jogabilidade, grafismo e longevidade. No entanto, se tivesse tido a oportunidade de jogar as actuais 100 horas que tenho antes da minha análise, talvez tivesse de reconsiderar a nota pela sensação incompleta que fico com este enredo esburacado e com demasiadas perguntas no ar.

Com os vinte e oito anos de enredo, mais ou menos lógico, com muitas reviravoltas e momentos duvidosos ou épicos, quem é fã, reconhece a enormidade do enredo de MGS3: Snake Eater, as grandes batalhas de MGS2: Sons of Liberty ou a exaustiva história contada em pormenor de MGS4: Guns of the Patriots. E, também quem é fã, fica desiludido com este derradeiro MGS5 em termos de história contada, pelo seu fim em suspenso. É injusto para a série, com um dos melhores enredos da história recente dos videojogos, é injusto para Hideo Kojima que assim parece banalizado com este título e é, sobretudo, injusto para os fãs que esperavam que este fosse o melhor Metal Gear Solid a todos os níveis.

Veremos o que teremos nos próximos dias, semanas ou meses em termos de desenvolvimentos. Teremos missões extra pagas? Teremos uma terceira parte escondida? Teremos algum outro Metal Gear Solid a seguir a este? Irá Kojima colocar a pala no olho e a fita na cabeça para nos surpreender? Mantenhamos as palavras de Solid Snake em Sons of Liberty na mente:

“Building the future and keeping the past alive are one and the same thing”
(“Construir o futuro e manter o passado vivo são uma e a mesma coisa”).

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