Insólito – Uma vez mais, ARMA 3 é usado para mostrar imagens de “guerra”

fakenews

Depois da Ucrânia, agora é a vez do conflito entre Palestina e Israel como notícia do dia. Contudo, há uma triste “tradição” que não desaparece, que é o uso de imagens do jogo ARMA 3 a passar como imagens reais.

Por esta altura, pensávamos todos que os jornalistas, os redactores e até os comentadores de serviço já reconhecessem as infames imagens do jogo. Há até situações em que as mesmas imagens se repetem tal e qual, mudando apenas o título e, claro, o ano em que foram publicadas. O uso do jogo da Bohemia Interactive para fingir que se trata de imagens reais de uma batalha ou acção militar, já acontece há anos, em quase todos os conflitos.

Notem que não é apenas um lapso de alguém que vê imagens e pensa que é algo real. Qualquer jogo possui um elemento identificável como tal, por mais realista que seja. O problema é que muitas imagens são publicadas intencionalmente como falsas representações de eventos reais e há sempre a quem falte o tal “olho clínico” e que, acreditando nelas, partilha-as com amigos e conhecidos. Depois, como diz o ditado, “uma mentira repetida várias vezes, passa a ser verdade”. 

Contudo, numa era de “Fake News”, quem tem a responsabilidade de informar e passar informação credível e quem tem a responsabilidade de moderar os canais públicos, já não deveria cair nestas ciladas… certo?

Mas caem. Em 2021 um canal público de notícias na Índia publicou imagens de ARMA 3 como um “exclusivo” de um ataque Paquistanês. Antes disso, em 2011, a própria BBC publicou imagens (via PC Gamer) de ARMA 2 como se fosse um vídeo secreto da organização terrorista IRA. Mais recentemente, apesar de tantos vídeos de batalhas e ataques disponíveis online vindos da propaganda de Moscovo (e de Kiev), também vimos vídeos tirados do DCS World e de ARMA 3 como “imagens de última hora”, claramente sem que os visados se dessem ao trabalho de investigar a fonte.

Pois bem, também o recente conflito entre os militantes Palestinianos do Hamas e as forças de defesa Israelitas foi alvo deste tipo de embuste. O mais irónico é que é perfeitamente discutível se as imagens são realistas numa primeira análise e num olhar mais cuidado facilmente se identifica que é um jogo. A manipulação de informação hoje em dia vai tão longe, ao ponto de se usar figuras públicas como Cristiano Ronaldo para passar uma mensagem falsa. Parece que “vale tudo” para gerar audiências… porque não um jogo?

Infelizmente, não há muito que se possa fazer nestes casos. Em cada guerra ou conflito, haverão sempre pessoas que tentam explorar a desgraça para gerar audiências, para algum tipo de atenção não relacionada ou até, infelizmente, para gerar polémica e até contra-informação. Esta é, aliás uma arma política, amplamente usada por governos como táctica de desmoralização. Resta à produtora Bohemia Interactive apelar ao bom senso. É o máximo que pode, realmente, fazer:

Como dissemos acima, há sinais mais ou menos evidentes que as imagens que estão a ver vieram de um videojogo. Por vezes, são modelos claramente sintéticos, como personagens de jogo que são inconfundíveis, por exemplo. Mas, noutros casos é mais difícil distinguir, especialmente para quem não está habituado a jogar. Para isso, a Bohemia listou uma série de pontos a ter em conta sempre que virem um novo vídeo mais “fantástico” ou “exclusivo”:

  • Muito baixa resolução – Mesmo telemóveis mais antigos conseguem criar vídeos com qualidade HD. Vídeos falsos geralmente têm muito baixa qualidade e são intencionalmente degradados para esconder o facto de terem sido capturados de um jogo.
  • Câmara treme – Para adicionar um efeito dramático, os vídeos são geralmente capturados fora do jogo. O autor filma o ecrã do computador com o jogo a correr em baixa qualidade e exagera na vibração da câmara.
  • Acontece frequentemente na escuridão ou à noite – As imagens são muitas vezes escuras para esconder o baixo detalhe.
  • Quase sempre sem som – A maioria dos sons em jogo são distinguíveis da realidade.
  • Não mostra pessoas em movimento – Embora em jogo seja possível simular o movimento de veículos militares de forma realista, capturar movimentos humanos realistas é ainda muito difícil, mesmo em jogos modernos.
  • Elementos do HUD visíveis – Muitas vezes o interface do jogo, como a selecção de armas, contagem de munição, estado do veículo, mensagens em jogo, etc, está visível. Geralmente surgem nas margens dos vídeos.
  • Efeitos de partículas pouco naturais – Mesmo em jogos modernos há um problema a apresentar explosões, fumo, fogo ou poeira de forma natural, bem como a forma como afectam as condições ambientais. Particularmente, procurem nuvens estranhamente separadas (numa coluna de fumo).
  • Veículos, uniformes, equipamento pouco realista – Quem conhece equipamento militar pode reconhecer quando os elementos militares mostrados num conflito são irrealistas. Por exemplo, um vídeo falso amplamente usado, apresenta o sistema de defesa aéreo C-RAM a disparar contra um avião A-10 (em baixo). As unidades podem ainda apresentar insignias, camuflagem, etc, que não são autênticas.

Outros elementos que a Bohemia não menciona é que muitos destes vídeos são repetidos de outros acontecimentos falsos. Ou seja, o mesmo vídeo é usado várias vezes para pretensamente mostrar conflitos diferentes. Há ainda pormenores mais subtis, como os títulos dos vídeos publicados em letras capitais ou sensacionalistas, marcas de água de canais claramente falsos ou propagandistas e também o uso de mensagens políticas ou de carácter activisita embebidas.

Não se deixem enganar por tudo o que vêem na televisão e (pior) na internet. A busca pelo realismo nos videojogos levar-nos-á a situações que serão ainda piores, com momentos mais difíceis de distinguir da realidade a alimentar estas mentes perversas em busca das outras mentes maleáveis que acreditam em tudo. Não, nem sempre estar na internet significa que é verdade.

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