Insólito – (Mau) espião preso por causa da sua conta Steam

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Nos últimos dias, a comunidade de Inteligência está ao rubro, depois de um anónimo ter publicado documentos secretos relacionados com a guerra na Ucrânia num servidor de Discord. O pretenso espião já foi apanhado.

Mas, aquilo que é notícia é a forma como foi apanhado, que é um caso sério de mau uso de plataformas de jogo para fins ilícitos. Não é inédito que o Discord seja usado para toda a sorte de actos ilícitos, pirataria e, sim, partilha de documentação secreta. Agora que o perpetrator seja apanhado através do Steam é que é de um crasso amadorismo.

Jack Teixeira, um luso-descendente (sim, infelizmente o nome não deixa dúvidas, é neto de um avô Açoreano) que trabalhava para a Air National Guard, uma divisão de reservistas da Força Aérea Americana, no estado do Massachusetts, não terá grande futuro a trabalhar como agente de alguma agência de inteligência, como o FSB ou o KGB.

Nos últimos dias, as agências de Inteligência dos EUA estavam numa autêntica caça-ao-homem, para descobrir quem tinha publicado páginas de informação secreta do governo do EUA. Os documentos tinham sido tirados de uma sala de Discord, chamada de “Thug Shaker Central” e “vazados” para sites como o 4Chan e outros. Esses documentos rodariam o mundo, falando de vários elementos sensíveis, como a avaliação das prestações do governo Russo e Ucraniano na actual guerra.

Este grupo de Discord, já agora, era composto por cerca de 30 membros, em que os participantes falavam de “armas e assuntos racistas”, além dos (infelizmente) normais videojogos. Agora sabe-se que Teixeira foi o fundador deste grupo e era também o seu “líder”. O que é curioso é que os documentos foram lá publicados “há meses”. Só mesmo quando um dos membros levou os documentos para outro fórum é que o caso “tomou balanço”, ganhando tracção também nos média.

Durante vários dias, o jovem de 21 anos conseguiu manter-se nas sombras, com a origem dos documentos a permanecer secreta. Contudo, porque a segurança operacional não é propriamente a preocupação de alguém que decide quebrá-la, Teixeira acabou por ser descoberto através da investigação da sua participação noutra plataforma, o Steam.

Na sua página do Steam, o jovem tinha partilhado o link da sua conta de Instagram. Numa das várias fotografias que lá publicou, os investigadores conseguiram encontrar indícios de que o local que usou para fotografar os documentos confidenciais eram, de facto, a sua própria casa. Obviamente, o FBI terá outras ferramentas de investigação para encontrar suspeitos, contudo, a interpretação do jornal NY Times parece fazer sentido:

A pergunta na cabeça de todos é: “Como é que um jovem de 21 anos, recém-alistado, consegue acesso a documentação confidencial?”. A resposta parece algo óbvia para alguns analistas. Muitas vezes, estes documentos são passados de mão-em-mão sem grande escrutínio. Contudo, a explicação pode ser ainda mais engenhosa.

Alguns chamam a atenção que os papéis fotografados parecem amarrotados, como se alguém os tivesse colocado no lixo. Sendo documentos classificados, provavelmente são colocados em recipientes especiais para serem destruídos. Facilmente, o jovem poderia encontrar uma forma desse lixo não ser destruído e depois consultado. É apenas uma teoria, mas poderá ter algum fundamento.

O que aconteceu depois foi uma tentativa do FBI de confirmar que Teixeira tinha, de facto, cometido este acto de traição (na Lei dos EUA). Ao que parece, elementos do grupo terão confirmado aos agentes que Teixeira teria, de facto, partilhado os documentos e parece ter sido o suficiente para iniciar o processo de captura. Como em tudo o que é mediático nos EUA, até helicópteros são usados para mostrar a captura destes meliantes:

A primeira medida foi tornada pública pelo próprio Discord. Porque a partilha de documentação classificada é um assunto muito delicado, a empresa está a colaborar com as autoridades. Por outro lado, quebra os termos de serviço da plataforma, pelo que o canal mencionado foi bloqueado. Contudo, com grupos pequenos os administradores poderão não dar conta destes actos ilícitos. O Discord afirma que “actua rapidamente” quando há partilhas ilícitas mas, neste caso, parece que demoraram “meses” para perceber o que se passava.

As informações partilhadas nos documentos, já agora, não possuem grandes segredos potencialmente comprometedores. As autoridades norte-americanas estão a apagar todas as evidências dos documentos, pelo que poderão já nem encontrá-los online à hora deste artigo. Podemos avançar que estes documentos davam conta dos avanços, recuos, tácticas e perdas militares tanto da Ucrânia, como da Rússia no conflito. Na sua maioria, pareciam documentos de “briefing” sobre a situação no momento e não tanto de uma real avaliação militar.

É, contudo, uma óptima “arma de arremesso” para os dois lados da guerra. Um dos documentos terá sido editado e partilhado nas redes sociais Russas a enaltecer as perdas Russas e a aumentar as perdas Ucranianas. Obviamente, a Ucrânia afirma que a documentação é falsa, “plantada” pela Rússia para menosprezar as forças Ucranianas. É apenas um exemplo de como este tipo de informação pode ser usado de forma política.

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