Insólito – Grupo leva roleplay demasiado a sério em Fallout 76

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Quem joga os títulos da série Fallout, conhece bem as forças armadas do Enclave e sabe muito bem como podem ser radicais. O que ninguém esperava era que jogadores levassem esse papel tão a sério em Fallout 76.

Para quem não conhece, no lore de Fallout, o Enclave é um grupo fanático para-militar que tem origem no chamado “governo sombra” do governo Norte-Americano. Pensem neles como o exemplo extremo dos conservadores Americanos, mas elevados a 200% e armados com power-armor. Depois da devastação nuclear dos EUA, o Enclave isolou-se e radicalizou ainda mais as suas posições, tornando-se xenófobo e nacionalista, promovendo mesmo a escravatura. Maus rapazes, portanto.

O mais recente título da série, como MMORPG, está pejado de guildas e grupos que se dedicam ao role play em jogo. Basicamente, seguem o lore à risca para criar, por exemplo, a lendária “Brotherhood of Steel” e seguir os seus ideais. E lá no meio surgiu também um grupo que decidiu apostar nestes vilões radicais, chamando-se de “Enclave Armed Forces”. Até aqui, tudo bem. Inicialmente, este grupo até colaborou com outros para enriquecer a experiência dos jogadores e até participar em eventos imersivos com atribuição de papéis.

Só que, como acontece muitas vezes quando se faz “reenacting” de grupos com posições extremistas, o grupo terá levado este papel demasiado a sério, o que levou a actos, no mínimo, desconfortáveis que os isolaram cada vez mais na comunidade.

Ao longo do tempo, os seus membros começaram a entrar em espirais de loucura, policiando servidores e forçando os seus ideais militaristas entre os seus membros e nos demais jogadores. O pior de tudo, é que também foram misturando ideais reais extremistas com os destes vilões fictícios, tornando-se tóxicos e condenados pelos demais grupos.

Dirão que estes roleplayers “só estão a fazer o seu papel”. Chega a ser irónico que se diga que, por estarem a fazer o seu papel tão bem, estão a agir mal. Parece, de facto, uma contradição. Mas, como sempre, há uma linha que limita o aceitável que tem de ser desenhada. Linha essa que foi transposta nas últimas semanas. No início deste mês, surgiram várias denúncias públicas sobre o grupo, fruto do mal-estar geral na comunidade.

Então o que faziam estes cavalheiros, além de vestir armaduras poderosas e apregoar os seus ideais radicais? Segundo vários utilizadores, os membros da EAF frequentemente acossavam os jogadores que usavam “armas legacy”, armas que foram descontinuadas por serem demasiado potentes ou injustas, mas que permanecem no inventário de alguns jogadores. Também se insurgiram contra os que usam “trap camps”, campos criados com armadilhas para apanhar incautos. São duas práticas criticadas mas que não violam os termos da Bethesda.

A ERF basicamente policiava os servidores em busca de jogadores que violavam estes e outros “padrões” criados por si, forçando-os a sair do jogo, seja por simples “grief” coordenado que frustrava o jogador, seja por reportá-lo em massa ao suporte do jogo. Outros jogadores falam em perseguição entre servidores, bullying em grupo e outras actividades excessivas contra jogadores que entrassem “no seu radar”. Quando foram criticados pelas vítimas por estas acções, as respostas foram sempre “em personagem”, citando este mantra:

Mas a loucura não se fica apenas por ataques a terceiros. Internamente, o grupo já não estava nas suas plenas faculdades mentais. Numa carta aberta, um jogador conta a sua experiência como recruta deste grupo. Desde ter de divulgar a sua lista de amigos na PSN, apagar contactos com pessoas “indesejáveis”, a liderança reservava-se até no direito de vasculhar a vida pessoal dos membros nas redes sociais. A demência do grupo em quase idolatrar o seu líder, um tal de “General Grey Fox” (na imagem em baixo), também foi apontada. Vários outros jogadores, ex-ERF corroboram este comportamento.

Depois de muita pressão, as reacções do grupo continuaram a ser algo desconectadas da realidade por uns dias, algumas delas ainda dentro da personagem, o que foi perfeitamente hilariante. Mesmo assim, no passado dia 7 de Janeiro o site oficial do grupo foi abruptamente encerrado, com os membros praticamente também a desaparecer das redes sociais e fóruns dedicados. Ao que parece, apenas um servidor privado de Discord permanece no ar mas desconhece-se se o grupo se mantém activo ou se planeia repensar a sua actividade em jogo.

Tudo leva a crer que o fanatismo da “representação” subiu à cabeça destes jogadores, fazendo-os transpor esse “teatro” para a realidade e vice-versa. Inevitavelmente, como em quase todas as comunidades online, há espaço para representar o papel, mas é claro que há também a possibilidade de algumas pessoas levaram as suas crenças pessoais para este meio e até de influenciarem outros numa espécie de “culto”.

Alguns aspectos deste grupo ERF roçam o fanatismo religioso que tanto sabemos criticar em fenómenos como a “Cientologia” ou outros grupos obscuros que parecem fazer “lavagens cerebrais” aos seus membros, ao ponto de os afastar de amigos ou familiares. Algumas actividades de role play são inofensivas, embora estranhas para quem olha de fora. Este grupo inspirado no Enclave, porém, leva o prémio de “Menos, por favor!”

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