Editorial – Algo de estranho se passou no lançamento de Left Alive

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Lançado no Japão a 28 de Fevereiro, chegou entretanto às lojas ocidentais no dia de ontem. Left Alive foi um jogo que muito antecipámos. Contudo, parece que a crítica não o recebeu muito bem e a Square Enix teve uma atitude meio estranha no seguimento.

Tido como um “renascer” do espírito de Metal Gear Solid, tendo na sua equipa elementos que trabalharam com Hideo Kojima nessa série, a expectativa em volta de Left Alive foi palpável. Pelos vídeos promocionais, a “vibe” estava lá e a acção parecia muito promissora. Contudo, é este o risco que todos corremos por confiar em trailers editados engenhosamente para parecer algo completamente diferente do produto final.

Com o lançamento no Japão (e mesmo ontem no ocidente), surgiram reclamações dos jogadores, que falam em má optimização, quebras acentuadas de performance e crashes constantes. Outros jogadores reclamaram do grafismo simplista e nada apelativo. Pior, os jogadores queixam-se de problemas de conceito e de ausência de conteúdo. Esta onda de insatisfação iniciou-se em várias plataformas de jogos pelo Japão e depois por cá, com o jogo a chegar a avaliações negativas em várias plataformas, inclusive nas meta-análises como as que temos via Steam.

Deixa cá ver se consigo escapar destas meta-análises tão negativas…

Análises negativas, sobretudo meta-análises, são uma realidade para muitos novos lançamentos, acabando as produtoras e editoras por assimilar essas críticas e a tentar remediar os problemas com base nesse feedback. Contudo, parece que a editora Square Enix reagiu muito mal à recepção do jogo. Pelo menos, teve uma atitude algo incompreensível nos dias seguintes ao lançamento.

Com o lançamento no Japão, o jogo podia ser transmitido ou gravado, com excepção de algumas cenas específicas que estavam bloqueadas ao streaming, algo perfeitamente normal. E assim foi durante uns dias. Contudo, após a má recepção e com imensas críticas ao jogo, a SE decidiu bloquear a transmissão integral do jogo, chegando mesmo a proibir todas as transmissões nos principais canais.

Que uma empresa iniba streams de níveis ou cenas específicas de jogos, não é inédito, sobretudo se conterem spoilers ou momentos que as produtoras ou editoras desejam manter em segredo. Que os jogos também sejam inibidos de transmissão antes do seu lançamento, ao abrigo de algum acordo (NDA), também é vulgar. Que um jogo por inteiro seja inibido de transmissão por completo, depois de ser tornado público, é que é inédito.

Pensavas que podias streamar, não é campeão?

Infelizmente, as detentoras dos direitos intelectuais dos jogos detém também o direito de bloquear a sua transmissão. Podem decidir ceder esses direitos, o que acontece quase sempre em jogos já lançados, para óbvios efeitos promocionais dos mesmos. Contudo, nos contratos do chamado “end user”, está bem explícito que os jogadores não possuem quaisquer direitos sobre a cópia que usam. E, caso a editora ou publicadora decidam não ceder esses direitos ou se o jogadores quebrarem os termos dos contratos, são obrigados a remover o conteúdo sumariamente. E as empresas podem mesmo activar os meios de protecção de propriedade em cada canal de stream.

Não acredito que a Square Enix queira calar a crítica de forma tão directa. Acredito, isso sim, que queira, de alguma forma, suprimir as críticas mais incisivas, talvez a bem de uma actualização milagrosa da produção ou para permitir que mais jogadores experimentem o jogo e equilibrem as opiniões. Há sempre opiniões demasiado inflamadas e, por vezes, exageradas. Aqui, porém, não parece haver grande margem, com a fraca qualidade bem visível nos primeiros vídeos que ainda surgiram. O que leva muita a gente a indagar se a Square não está só a querer “calar” toda a gente até vender uma certa quantidade.

Curiosamente, esta última hipótese teve um leve reforço nestes dias. Enquanto escrevo estas palavras, o jogo teve uma redução em 50% no seu preço, pelo menos na loja Amazon no Japão. Por cá, com apenas dois dias de vendas, não parece que o preço venha a descer tão depressa… mas, nunca se sabe. Não me recordo de algum caso recente de um jogo ter recebido um corte em metade do preço nos primeiros cinco dias de vida. Parece uma atitude desesperada por chamar vendas ou, por outro lado, de desdém pela fraca qualidade aparente do jogo.

A agente Olga Sergeevna Kalinina reporta que os termos de serviço devem ser todos lidos na íntegra antes de carregar em “concordo”.

Gostava muito de vos dizer o que acho deste jogo. Afinal, coloquei-o como um dos jogos mais esperados de 2019. Como disse lá em cima, os vídeos e material promocional deixaram-me na expectativa de um jogo que me parecia francamente positivo. Só que este título nunca nos chegou para análise e não tive oportunidade de constatar estes problemas. Sinto-me desapontado por esta recepção, ainda assim. Nunca, em nenhum trailer, me pareceu que o jogo tivesse tantos problemas visuais e, obviamente, não havia forma de saber dos problemas de performance ou falta de conteúdo.

Mas, a produtora e editora Square Enix tinha tudo nas mãos para perceber o que iria acontecer. É para isto que servem Alphas, Betas e até Demos. Dão margem para corrigir erros e aprimorar conceitos. Os jogos desta editora raramente recebem esse tratamento de acesso antecipado. Mas, quando assim é, será bom que as empresas possuam mecanismos próprios de teste e avaliação da qualidade. Não se compreende este “fechar em copas” da empresa Nipónica, efectivamente negando acesso antecipado a jogos que, com excepções positivas, têm sido desapontamentos na sua chancela.

Left Alive foi lançado ontem no ocidente para PC e PlayStation 4. Nesta fase, infelizmente, não temos ainda perspectivas se teremos oportunidade de o analisar. Mas, descansem que serão os primeiros a saber, caso venha a acontecer.
 

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