Cogito Ergo Gamer: Mercado Digital

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O mercado digital é uma tendência? Ou é uma inevitabilidade? Curiosamente, a sua existência e continuidade é uma questão que divide opiniões.

Muitas vezes nem é pelo facto do mercado dos formatos físicos estar ainda tão forte, mas pela quantidade e qualidade tantas vezes duvidosa de conteúdos digitais actualmente, os preços que se praticam que pouco diferem dos formatos físicos, os gastos em Internet pelos diversos ISPs e as capacidades das actuais plataformas. Se não é problema descarregar 10 Gb num PC através da rede Steam, apesar do tempo de pode demorar, pense-se na limitação de uma consola, por exemplo como a Xbox 360 de 4 Gb? Alie-se ao facto da condição imperativa de possuir um cartão de crédito ou semelhante que ainda hoje é considerado um luxo e vemos quais os entraves de um potencial emergir do mercado digital.

Primeiro que nada há que analisar o que se passa noutros mercados também eles a sofrer com o impacto das novas tecnologias.

Mercados digitais paralelos aos videojogos

Há uns anos olhava-se para o potencial dos livros digitais, primeiro em PDF, depois em diversos formatos para equipamentos portáteis e pensava-se que mais ou menos por esta altura, o livro impresso estivesse defunto. Mas note-se como os dois formatos co-existem. O Kindle da Amazon, por exemplo, embora emergente não está a roubar as receitas de livros físicos. Pelo contrário. Parece que a tendência é o cliente comprar os dois formatos. Ou então o cliente do Kindle é um novo cliente que acrescenta receita, ao passo que o cliente tradicional se mantém fiel.

O mercado dos filmes de vídeo talvez fosse o que sofreu uma quebra mais substancial. Quando os filmes deixaram de ser um exclusivo dos videoclubes, quando as grandes superfícies começaram a vender DVD com a mesma assiduidade das estreias dos videoclubes, estes simplesmente desapareceram. Não só porque o Português faz contas, como gosta de ter a sua videoteca. Se o VHS, o principal gerador de videoclubes, foi o pai da pirataria de filmes com muitas casas com dois leitores-gravadores de VHS a aumentarem videotecas pessoais, o DVD e o advento da protecção anti-cópia tornou tudo mais difícil. O preço do DVD desceu e as vendas disparam. Entretanto, o DVD foi substituído em muitos lares pelo BluRay Disc e agora também este é ameaçado com o surgimento do mercado de filmes digitais. Surgem serviços como o NetFlix (ainda não disponível em Portugal) que permite visionar um sem número de filmes mediante uma mensalidade.

Digamos que neste caso, está-se ainda no início e não existe este serviço em muitos países, mas será que chegará o NetFlix e seus clones para destronar o mercado do DVD e BluRay Disc? Por agora, não tem sido suficiente.

Penso que a maior justificação é mesmo o tamanho dos ficheiros HD e a quantidade de informação necessária para transferir na qualidade BD que alguns filmes possuem. Também há o factor coleccionismo que se verifica no mercado literário e ainda os extras que os DVD e BD oferecem num só disco ou em vários.

Mercado de videojogos

O mercado dos videojogos é diferente. Há uma estirpe de videojogos que dificilmente chegaria ao mercado digital. Jogos feitos para BluRay Disc ou múltiplos DVD que ocupam dezenas de gigabytes são demasiado grandes para descarregar online, em determinadas ligações de internet pode até mesmo demorar dias inteiros. Não só isso, como é bem possível que nem todas as consolas e seus discos rígidos tenham capacidade para os mesmos, mesmo apagando tudo o que lá está gravado.

O factor coleccionismo pode nem se aplicar nesta área, embora exista muita gente a comprar edições especiais e de coleccionador. Mas é certo que o formato físico é uma mais valia para armazenamento. Podemos alegar desgaste dos discos ópticos e a exigência de uma boa prateleira para os albergar todos, mas jamais o formato digital nos oferece mais segurança. Se um disco DVD se avariar ou riscar pode-se perder um jogo, mas se um disco-rígido avariar perdem-se todos os jogos e savegames. Vamos ser sinceros, a fiabilidade dos discos rígidos aumentou bastante nestes últimos anos. Não é assim do nada que um disco “morre”, mas o risco está lá.

Por outro lado, há que pensar na imagem, na publicidade e mesmo nos tais conteúdos extra como os filmes de vídeo. Já para não falar em tokens de oferta ou manuais impressos que muitos gamers dão valor mas que infelizmente se perdem cada vez mais. Já no caso dos tais famosos Network Passes que obrigam a uma activação de um jogo novo para combater o mercado de segunda mão, seria possivelmente mais simples o cliente receber um email com o token para activar o jogo ou simplesmente obrigar a cativação do jogo à conta, como acontece no Live, PSN ou Steam.

Enfim, os mesmo prós e contras dos mercados literário e de vídeo aplicam-se no caso dos videojogos. Afinal todos sofrem dos mesmos problemas e padecimentos e da mesma resistência por parte dos consumidores.

Infelizmente há uma proporção incontornável no que diz respeito à qualidade e o tamanho do jogo. Das duas uma, ou os produtores reduzem o tamanho dos ficheiros a descarregar e assim reduzem a qualidade, longevidade ou quantidade de conteúdos de um jogo, ou passam a criar alternativas como o descarregar por micro-transacções como acontece nos jogos MMO (Massively Multiplayer Online, Jogos Online Multiplayer Massivos), que principalmente dominam o PC, lá está, talvez pelo espaço em disco mais generoso que a maioria das consolas.

Mas se o espaço em disco é a principal condicionante, o surgimento da Playstation Vita talvez dê um valente chuto para golo neste tipo de distribuição digital. A nova portátil da Sony prevista para o início de 2012 promete um novo formato físico mas também uma forte aposta no online e nos conteúdos digitais. Uma consola portátil, a par de outras plataformas como o iOS ou Android que não tem mesmo formato físico de software, poderá ditar o fim dos discos numa escala global.

Se bem que a Sony tentou isso mesmo com a Playstation Go e falhou redondamente. A prova é que a Vita vai obrigar a coexistência do formato digital com o físico, mesmo que não seja Bluray ou UMD (formato da PSP original). A ver vamos o que o futuro das consolas portáteis contribuirá para o mercado digital.

… e para onde vamos?

Para já, como jogador e consumidor, considero o mercado digital embrionário. Cativante no potencial mas pouco apelativo em conteúdos. O que chega ao Steam, Live Marketplace ou PS Store são jogos pequenos, sem grande sumo, clássicos, minis, etc. Os grandes jogos lentamente lá chegam, mas o preço nem sempre justifica a compra com diferenças mínimas de valor. As vezes sem diferença nenhuma. Outras vezes ou não chega ou vem tarde demais ao formato digital. E não é a primeira vez que vemos jogos digitais com menos conteúdos que o formato físico. Prova que este formato ou tira um pouco ao jogo final ou não se torna comportável às distribuidoras que também vêem as suas margens muito reduzidas sem poderem controlar directamente as vendas.

A meio disto tudo está a pirataria. Um dia falaremos acerca deste pequeno (grande) pormenor. A dolorosa vírgula para qualquer produtora e ainda mais para qualquer editora. Mas isso é assunto para outra conversa.

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