Mais infoProdutora: SCE Japan Studio, Aquire, Playstation C.AM.P.Editora: Sony Computer Entertainment EuropeLançamento: 02/10/2013Plataformas: Género: ,

Produzido pelo Japan Studio, Acquire (responsável por Tenchu e Way of the Samurai) e Playstation C.A.M.P. chega-nos, ao som de “Clair de Lune”, um título chamado Rain, ou Lost In The Rain (Perdidos na Chuva), nome pelo qual é conhecido na Ásia. Preparem-se para uma misteriosa, intensa e literalmente fantástica aventura que certamente vos fará reflectir sobre os mais mistérios que possam existir e estar escondidos pelo trepidar da chuva. 

Rain conta-nos a história de um rapaz que encontra uma rapariga à chuva. Os seus olhos cruzam-se por instantes. Não fosse pela chuva a delinear o seu corpo, esta misteriosa rapariga seria completamente invisível. Depressa o rapaz se apercebe que ela não está sozinha, mas sim a fugir de alguma coisa. Alguma coisa grande. Surge de repente à sua frente um ser, ou uma entidade, ou mesmo um monstro se preferirem. Como pode um simples rapazinho definir tal coisa? Certamente, apenas pensa que é grande, muito grande e repara que no lugar de uma mão tem uma maça enorme e na outra um dedo também enorme e sempre em movimento, apontando, à procura da rapariga. Ela começa a fugir. Tomado por um impulso de galantaria, o rapaz decide ir em seu socorro. Ao encontrar a gigantesca porta pela qual entraram a rapariga e a tal entidade, que mais tarde passará a ser designada por Unknown (Desconhecido), o rapaz atravessa-a e dá por si num outro mundo. Esta já não é a sua cidade cheia de luz que tão bem conhecia, esta é bem mais escura e sombria. Aqui a chuva não parece querer parar e, salvo quando esta revela os contornos do seu corpo, também ele é agora invisível. “Que local é este e porque é que ninguém o consegue ver?” A aventura começa agora. Curiosos? O quê, querem mais? Ora, caros leitores, longe de mim estragar-vos a fantástica história deste título que mais se parece como um conto interactivo.

Apesar deste título ser japonês, a cidade (alternativa) onde decorre a acção do jogo sofre inspirações de vários pontos da Europa, França por exemplo tem uma presença sonora e visual marcante. Claro que isto é intencional e serve (e muito bem) para que todos encontremos algum aspecto que nos proporcione uma rápida ligação com este mundo.

Como disse em cima, aqui a chuva parece não querer parar, e não pára mesmo. Uma vez que não vamos estar sozinhos neste novo mundo, a chuva tanto pode ser um precioso aliado como um tenebroso inimigo. À medida que vamos explorando a cidade, vamos encontrando alguns abrigos onde a chuva não cai. Aí sim, aí ficamos completamente invisíveis e em segurança. As únicas coisas que indicam que lá estamos são as nossas pegadas molhadas (que nos ajudam a controlar o nosso personagem) e o ocasional derrubar de garrafas e outros objectos à medida que avançamos. Contem também com cães fantasmagóricos, o já mencionado Unknown (cuja presença me faz lembrar e muito o Pyramid Head de Silent Hill 2) e uns seres cavalares e igualmente fantasmagóricos que pelo seu tamanho nos abrigam da chuva.

A atrapalhar o nosso caminho, vamos também encontrar poças de lama. Se, e quando as pisarmos, os pés do nosso valente rapaz ficam à vista de todas as criaturas que assombram a cidade. Para retirar a lama, basta passar por uma poça de água. Parece bastante simples, uma vez que a chuva é uma constante, certo? Claro que não é. Aliás isto foi algo que de facto gostei neste título. O facto de termos um conceito e uma jogabilidade, à primeira vista tão simples, que rapidamente se tornam algo… mais.

Apesar de ser uma aventura não deixa também de ter a componente de puzzle, uma vez que sempre que queremos avançar de cenário temos de perceber bem como o fazer. Por vezes, basta descobrir a chave de uma porta mas também há outras em que temos de ser mais valentes e atrair inimigos de modo a que derrubem umas tábuas criando assim uma plataforma que utilizaremos para escapar. Quando encontramos a rapariga começa um incrivel trabalho de equipa, é difícil não pensar em ICO. A vontade que temos de proteger a rapariga de quaisquer perigos que a chuva possa trazer é nostálgica e é complicado não pensar naquele rapazinho que deseperadamente tenta proteger Yorda das sombras. A aventura e os puzzles de cenário continuam, mas agora mais complexos e exigentes. Controlamos sempre o rapaz mas ela (quando não somos forçosamente separados) ajuda-nos sempre que necessário. Claro que depois temos de fazer o mesmo, umas vezes com mais calma e outras em que temos de ser o mais rápido possível, senão…

A relação entre os dois personagens é sempre muda, assim como a narração que vai surgindo em vários pontos do cenário e que aguarda pacientemente, sem avançar, enquanto exploramos todos os cantos de todos os cenários.

Lembro-me de dar por mim a pensar que os cenários estavam tão bem conseguidos que não resisti a explorá-los ao máximo, não fosse eu encontrar algum coleccionável. Explorei e explorei, e nada. “Queres ver que não há um único coleccionável para descobrir e estou eu a explorar isto tudo para nada?” Acabei o jogo sem descobrir nada. Em total desalento, continuei a olhar para o ecrã e rapidamente descobri duas agradáveis surpresas. Começava a passar a música “Clair de Lune” e eis que aparece uma rapariga a dar-lhe voz. Que bonita ficou esta versão especial de um clássico intemporal. A voz pertence a Connie Talbot agora com 12 anos e que em 2007 esteve perto de conquistar o concurso Britain’s Got Talent. A segunda surpresa foi ter aparecido depois uma mensagem a dizer que foram desbloqueados coleccionáveis para descobrir nos vários capítulos do jogo.

Veredicto

Visualmente não é deslumbrante, mas cumpre e muito bem o objectivo de nos transportar para uma história… algo sombria, ou não tivesse como temática a sobrevivência de duas crianças num mundo completamente hostil. Não deixa, no entanto, também de ser um mundo onde podemos encontrar alguma luz, o companheirismo (mesmo que sem voz) das duas personagens é uma delas. Tendo “Clair de Lune” como tema base e uma óptima banda sonora, composta por Yugi Kanno, que acompanha cada momento de tensão, temos em Rain uma experiência inesquecível, capaz de nos oferecer umas boas horas de jogo.

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.