puppeteer

Análise: Puppeteer

Bem-vindos a um espectáculo de marionetas como nenhum outro até hoje: Puppeteer conta-nos a história de Kutaro como se de um conto de fadas se tratasse. Será que a análise WASD o conta da mesma forma ou estamos perante uma verdadeira tragédia grega?

“…finalmente, até parece que a alma do arame no corpo da cortiça lhe infunde verdadeiro espírito e novo alento.” António José da Silva (fundador do Teatro de Marionetas Português)

Se António José da Silva vivesse nos tempos de hoje não só teria sobrevivido às chamas da Inquisição como teria tido oportunidade de ver Puppeteer em acção e ficar maravilhado. Se ‘o Judeu’, como era apelidado no séc. XVIII, tivesse conseguido sentar-se num sofá do séc. XXI com uma cópia de Puppeteer nas mãos teria percebido que, após trezentos anos de as proferir, as suas palavras continuavam a fazer sentido. As marionetas deste jogo demonstram verdadeiramente o que é ter “alma de arame”.

Kutaro (pronunciado Cu-Tá-Ró), o protagonista de Puppeteer, perde literalmente a cabeça às mãos do ínfame Moon Bear King que, entre outras maldades, adora devorar cabeças de crianças da Terra e transformá-las em marionetas. Por cada criança que devora, Moon Bear fica mais poderoso. Kutaro, com a ajuda de uma série de aliados, vai embarcar numa aventura única para recuperar a sua cabeça e voltar a casa. O Moon Kingdom nunca mais será o mesmo depois da passagem do nosso herói.

Puppeteer é encenado como se de uma peça de marionetas se tratasse. Aliás, a cortina de palco está sempre presente e as cenas mudam como se fossem cenários. Não obstante a encenação de Puppeteer, Kutaro é trabalhado de uma perspectiva não muito vista nos últimos anos e que tantas experiências boas trouxe ao mundo dos jogos. Estou a falar da velhinha fórmula do protagonista silencioso tão bem usada em Half Life e Chrono Trigger com Gordon Freeman e Crono respectivamente. O silêncio de Kutaro curiosamente atribui-lhe profundidade, permite um maior relacionamento com a personagem e torna o próprio jogo mais pessoal e subjectivo. A história, por sua vez, é contada como se de um conto de fadas dos Irmãos Grimm se tratasse, com uma pitada do terror fantástico de H.P. Lovecraft. Entre o elenco de Puppeteer podes contar com a visita de piratas, dragões, um cavaleiro sem cabeça, e até mesmo com uma visita a uma casa feita de doces semelhante à de Hansel e Gretel.

Este ano de 2013 marca, efectivamente, o regresso dos jogos de plataformas em 2D em todo o seu esplendor, depois do lançamento de Rayman Legends no final do mês de Agosto. Como senão bastasse, regressam dispostos a deslumbrar e a inovar e Puppeteer é o exemplo máximo dessa predisposição. Curioso é que, no cerne dessa questão, esteja uma tesoura que é, nada mais, nada menos, que a tua arma principal. O jogo, entretanto, faz questão de lhe atribuir um nome épico, Calibrus, e dar-lhe um contexto lendário como se de uma Excalibur se tratasse. Neste momento estão vocês a questionar-se: “Espera lá, a arma principal do jogo é uma tesoura?” E a minha resposta é: “É!” Patético parece-vos… pois eu digo-vos que é brilhante! De tesourada em tesourada, qual Eduardo Mãos de Tesoura, Kutaro e Puppeteer alcançam uma mecânica de jogo original e brilhante! Sim, B-R-I-L-H-A-N-T-E!

E ainda nem sequer vos comecei a falar das lutas com os Bosses de cada área que são simplesmente deslumbrantes mesmo usando e abusando dos Quick Time Events. Cada Boss tem a sua estratégia para o derrotares e terás que usar da melhor forma os poderes que vais ganhando com as máscaras que apanhas ao longo do jogo. Entre auras defensivas, bombas, ganchos ou até a capacidade de te lançares com toda a força em direcção ao chão, vais ter que ganhar perícia e aprender quando usar cada um dos poderes que ganhas. E se algumas máscaras te dão poderes, outras têm de ser usadas no sítio certo para te darem acesso a zonas de Bónus que te alargam o conteúdo de jogo numa boa dose de horas. Para além dos níveis de Bónus, tens ainda acesso a histórias que podes desbloquerar e que te ajudam na contextualização ao mundo de Puppeteer.

E se a malta que vive na tua casa acha que vai ficar indiferente a este jogo desengana-os desde já e informa-os que o investimento num segundo comando não é descabido. Merece a pena partilhar a experiência até porque acabas por resolver um dos grandes problemas da aventura quando jogas sozinho em Puppeteer: o controlo da segunda personagem ao teu dispôr, Ying Yang ou Pikarina, que é feito através do analógico direito quando já usas todos os dedos disponíveis para controlar Kutaro. O resultado acaba por ser uma utilização tosca e trapalhona que afecta a jogabilidade de Puppeteer.

O 2D de Puppeteer é construído em volta de um trabalho artístico fenomenal ao qual as mudanças de cenário só beneficiam e se traduzem, em conjunto, numa experiência completamente original. Ao aspecto visual junta-se o excelente trabalho de voz e a banda sonora memorável da autoria de Patrick Doyle. Os três trabalhos em conjunto (voz, banda sonora e trabalho artístico) são culpados do quão cativante este jogo saíu. Nem sempre as melhores ideias se traduzem em algo concreto, felizmente Puppeteer não é disso exemplo. Para perfumar ainda mais este jogo com um toque de humor negro, os diálogos são repletos de piadas e trocadilhos que muitas vezes te remetem ao mundo dos contos de fadas ou até mesmo ao mundo de Hollywood.

Veredicto

Num ano em que as grandes produtoras têm fugido a sete pés das novas franchises, apostanto em sequelas e remakes de jogos antigos, Puppeteer junta-se a The Last of Us como um marco do ano 2013. Sinceramente, espero ver mais da história de Kutaro & Cia nos próximos anos e, sobretudo, na próxima geração da consola da Sony. Este é, indubitavelmente, um dos exclusivos mais originais dos últimos anos mas que corre o enorme risco de passar ao lado a muita gente não só por não se enquadrar num estilo de jogo mainstream mas também por ser lançado na fase final desta geração de consolas em que os jogadores de PS3 compram menos jogos, poupando dinheiro para o lançamento da PS4.

É por isso que interessa ressalvar que Puppeteer é entretenimento puro e prova, acima de tudo, que ainda é possível inovar nos jogos de plataformas. Este é um jogo para todas as idades e, por isso, um jogo para ser jogado por ti, pela tua família, pelos teus amigos e pelos filhos dos teus amigos. Estas personagens de madeira têm mais personalidade que muitas outras de carne e osso e a sua “alma de arame” traz, efectivamente, um “novo alento” a um género cujo único raio de luz nos últimos anos foi Rayman. Puppeteer é simplesmente brilhante e deve ser considerado um clássico instântaneo. Por 39,99 € como preço de lançamento esta é uma das melhores compras que ainda podes fazer para a tua PS3.

  • ProdutoraJapan Studio
  • EditoraSony Computer Entertainment
  • Lançamento11 de Setembro 2013
  • PlataformasPS3
  • GéneroPlataformas
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Controlo de Ying Yang e Pikarina
  • Quick Time Events
  • Não tem Multiplayer Online

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários