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Análise – Yakuza: Like a Dragon

Se visitam o WASD há algum tempo, sabem que me considero um fã da série Yakuza. Contudo, a história de Kazuma Kiryu já teve a sua despedida. E este novo Yakuza: Like a Dragon apareceu com algumas mudanças importantes, não apenas no protagonista. Algumas delas bem profundas e que me deixaram apreensivo.

Pelo menos no Ocidente, a série Yakuza foi sempre uma espécie de “fetiche”. Na sua estranheza, porém, trouxe-nos jogos bastante equilibrados e divertidos, num sólido de jogo de acção. A série foi-se modernizando, aproveitando hardware mais potente e ideias interessantes, trazendo-nos sete jogos de elevada qualidade, inclusive remasterizações de encher o olho. A dada altura, deixou de ser apenas uma “pérola” escondida, tornando-se bastante popular e recebendo o devido reconhecimento da crítica. Por isso, com o fim da história de Kiryu, receava-se que a série não voltasse mais. Logo a seguir, a SEGA revelou um oitavo jogo, mas também mostrou que era o início de uma nova era.

Não se preocupem, fãs de Yakuza. Uma boa parte dos ingredientes que vos fizeram apaixonar por esta série continuam cá. Temos uma história bem contada, personagens fortes e um mundo gigante para explorar, numa cultura tão diferente da nossa. De facto, apenas terão alguns elementos representados de uma forma diferente, por vezes reinventados, o que poderá dividir a opinião de alguns. Durante 15 anos tivemos jogos algo sérios em tom, lineares e absolutamente fiéis a um padrão imutável. Agora é tempo de mudança e qualquer alteração numa fórmula nunca será consensual em séries de longa data.

Neste jogo, vamos acompanhar um novo membro da famosa máfia Japonesa, desta vez será o irreverente Ichiban Kasuga, um aspirante “soldado” da família Arakawa. Kasuga tem um passado triste, abandonado pelos seus pais e recebido por terceiros no meio da pobreza. A sua humildade e admiração pelo líder Masumi Arakawa, fá-lo um importante membro desta família fiel ao famoso clã Tojo, bem conhecido desta série. Mas, não pelos melhores motivos. Essa sua admiração também será a sua perdição. Com alguma ingenuidade, Kasuga acaba a receber as culpas de um crime, acabando preso. Kasuga só descobre que foi enganado no seu regresso à liberdade, quando é traído pela sua própria “família”.

Sim, a história é francamente familiar, tendo traços um pouco semelhantes à de Kiryu. A verdadeira diferença entre estas duas personagens é a sua personalidade, como verão. De resto, são os dois instransigentes quanto aos seus ideais, ambos assumem culpas por algo que não fizeram, ambos lutam pelo respeito alheio, ambos são traídos na sua fidelidade à sua família. As primeiras horas de jogo leva-nos a conhecer um protagonista verdadeiramente peculiar e divertido, ainda assim. Isto emprega outro tom ao jogo. Kasuga vai tornando-se algo amargo com os reveses que vamos testemunhando, sim, mas é, sem dúvida, muito diferente do anterior protagonista.

Apesar do início nos levar às familiares ruas de Kamurocho, o resto do jogo passa-se em Yokohama, o que é também uma mudança radical de palco. Já quase que conhecíamos o pequeno bairro Japonês como se fosse nosso. E, tal como descobrimos a nova personalidade mais descontraída de Kasuga, a nova localização leva-nos igualmente à descoberta de um novo mundo, dando-nos um ambiente variado mas nem por isso tão diferente. É como se a produção nos quisesse obrigar a descolar completamente da receita original, até mesmo da amada Kamurocho, mantendo o mesmo “sabor” noutros lados.

Nesta nova aventura, há uma alteração mais profunda e que me custou mais a apreciar. O combate deste novo Yakuza deixa de ser linear, como o familiar “beat’em up” linear que se foi aperfeiçoando, tornando-se agora um RPG puro que inclui combate por turnos. Não sou particular fã deste tipo de interacção, tornando-se demasiado estratégica e menos “jogável”. Mas, curiosamente, a produção tornou este tipo de combate francamente interessante. Aprendi a gostar do ritmo e das lógicas, especialmente na utilização de combos vistosos. E, sim, tudo continua a ser “over the top” e tantas vezes “excessivo”.

Kasuga é fã da série Dragon Quest e é perfeitamente ajustado que emule os seus combates da mesma forma que o faz essa série lendária. Podemos seleccionar ataques simples, defesas ou combos na nossa vez, aguardando depois os ataques dos adversários na sua. Podemos fazer golpes bizarros e por vezes absurdos, até mesmo com a ajuda de amigos. Há momentos verdadeiramente cómicos nos embates, que é mais um elemento que deverá importunar os fãs mais puristas desta série. E ainda podemos melhorar golpes e o desempenho graças a bebidas, curativos e outros “buffs”. Enfim, é uma forma diferente de jogar Yakuza e requer um pouco de hábito. Como quase tudo o resto que muda.

Seja em missão, seja de forma aleatória pelas ruas, eventualmente teremos muitos combates pela frente. Algo perfeitamente enquadrado com o restante da série, para variar. Mas, claro, também teremos muitas actividades paralelas para descobrir. Podemos até arranjar empregos, algo verdadeiramente no espírito “RPG”. Até teremos de passar pelo centro de recrutamento, com exames e tudo. Isto está interligado com as novas classes e traços de personalidade que se desenvolvem consoante as nossas acções e decisões. Gosto deste contraste com os demais jogos, sendo bem mais aberto em escolhas e moral.

Também teremos de interagir com inúmeras personagens, cada uma com uma “história” peculiar e com algumas missões secundárias que tanto podem ser complexas, como simples recados. E é extremamente importante criarmos laços com os amigos que compõem a nossa trupe de meliantes. Passar por um bar e travar conversa com os companheiros, construindo uma amizade (também connosco, jogadores) é dos elementos mais interessantes nesta nova jogabilidade. Cria uma empatia por cada elemento, já que cada amigo tem uma história única e que merece ser descoberta. Vão por mim.

Também fiel à série, temos o regresso das actividades paralelas que, não sendo essenciais para a história, são absolutamente imperdíveis se gostamos de “jogar” dentro do jogo. Estou a falar, obviamente, das refeições em restaurantes, ver filmes no cinema, jogar em máquinas de arcada e até competir em corridas de karts. Por vezes, estas actividades tornam-se distracções, a tal ponto que nos perdemos nelas e esquecemos a história ou alguma tarefa pendente. Enfim, Yakuza sempre foi assim e é discutível se não será este o verdadeiro ingrediente secreto do seu apelo.

Para muitos, porém, o verdadeiro apelo da série foi sempre o seu design, o seu visual e a sua atmosfera. Infelizmente, não posso falar muito do aspecto ou performance do jogo na plataforma onde testei. Isso terá de ficar para mais tarde. Acreditem que Yakuza: Like a Dragon dá continuidade ao rigor visual do resto da série. Um “toque” interessante é que neste jogo as personagens não falam apenas Japonês, também podem escolher as vozes em inglês, com sincronismo nos lábios e tudo. Confesso que joguei uma boa porção do jogo com a vozes originais, mas mudei para Inglês e gostei bastante das prestações.

O que pode ser menos positivo nesta nova era para Yakuza? Alguns elementos menos positivos da série que teimam em aparecer também neste jogo. A câmara de jogo continua a ser o maior inimigo do jogador, sobretudo em espaços confinados. Como agora os combates são mais parados, cria problemas constantes de oclusão. E também vi uma série de erros nas animações gerais dos NPCs, para além de notar umas poucas questões na detecção de obstáculos e de colisões por parte dos adversários. É algo que a produção poderá limar nos próximos dias mas é frequente e estraga um pouco a imersão.

Veredicto

Os meus receios, afinal, eram infundados. Nunca desconfiei que a SEGA permitisse uma total descaracterização da imagem de uma série icónica. Mas, de facto, Yakuza: Like a Dragon é uma mudança de paradigma. Não é bem uma reviravolta radical, uma vez que mantém muitos elementos familiares e aquela atmosfera que tanto gostamos. Contudo, a sua viragem para um estilo de jogo bem mais vincado no Role Play, poderá não agradar a todos. O combate por turnos, a nova lógica de personalidade, de empregos e de classes, são realmente elementos novos que precisam de dedicação. Contudo, adorei cada momento neste jogo, como uma prova que esta série soube reinventar-se, sem perder o seu carisma.

  • Produtora Ryu Ga Gotoku Studio
  • EditoraSEGA
  • Lançamento10 de Novembro 2020
  • PlataformasPC, PS4, PS5, Xbox One X, Xbox Series X|S
  • GéneroAventura, Role Playing Game
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Sempre a câmara de jogo...
  • Algums falhas na IA e nas suas animações

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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