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Análise: Yakuza Kiwami

A série Yakuza é uma privilegiada. A SEGA está empenhada em trazer de volta os clássicos, enquanto esperamos pelo sexto capítulo. Yakuza Kiwami, originalmente lançado em 2005 na PS2, surge num remake completo para nos mostrar como tudo começou.

Para quem não sabe, esta série de acção com elementos de RPG mostra-nos os meandros do crime organizado no Japão moderno. A famosa máfia Japonesa, conhecida como Yakuza, é vista pelos olhos do protagonista Kazuma Kiryu, um anti-herói complexo. Anteriormente, abordámos Yakuza 0 que serve como uma prequela do enredo contido neste jogo em particular. Brevemente, a SEGA promete também o remake de alguns dos restantes jogos seguintes. Ou seja, dentro de algum tempo teremos todos os sete episódios completos com aspecto, mecânicas e lógicas modernizadas. O que, aliado ao detalhe quase insano usado na caracterização deste mundo tão secreto, deverá trazer-vos uma das histórias mais interessantes de seguir. Isto se gostarem de contos de traição, vícios, apologia da ilegalidade, gangsters com apreço por artes marciais e um retrato da estranha sociedade Japonesa.

A história é a mesma do jogo original. Kazuma Kiryu é preso por assumir a culpa pelo assassinato do seu chefe, de modo a proteger o seu melhor amigo Akira. Quando é finalmente libertado da prisão, Kazuma descobre que o seu clã Tojo está muito diferente. Entre o desaparecimento do seu amigo Yumi e a insana busca por uma elevada quantidade de dinheiro desaparecido, Akira e os demais membros estão a levar a cidade de Kamurocho ao caos. Cabe ao nosso herói improvável tentar encontrar Yumi e reaver os 10 milhões Ienes desaparecidos. Pelo meio, Kazuma acaba também por ser envolver com Haruka, uma jovem que, pelos vistos, tem também alguma relevância para o clã.

Contudo, há mais para descobrir neste remake. Esta edição chama-se “Kiwami”, que traduzido significa “Extrema”. Isto porque foram adicionados mais 30 minutos de cenas intermédias e mais uma quantidade de linhas de diálogo com actores que o ligam com Yakuza 0. Essas adições, porém, não interferem na forma como o enredo se desenvolve, apenas estabelecem pontes entre os dois jogos, uma vez que Yakuza 0 foi lançado depois do jogo original. No final, irão perceber que, como sempre, o foco deste título está mais virado para a personalidade de Kazuma. Um elemento nascido para a violência, capaz de enfrentar toda uma organização criminosa para defender o que mais preza.

Uma boa porção da jogabilidade deste título está no combate. Iremos passar muitas horas a desancar pretensos mafiosos que nos desafiam constantemente. Kazuma responde sempre à altura, como uma autêntica máquina de guerra, especialmente usando os seus ataques especiais, disponíveis para gastar mediante o preenchimento de uma barra especial. À nossa escolha estão quatro estilos de artes-marciais que podem melhorar através de um completo esquema de progressão. E é importante que continuem a evoluir a personagem, uma vez que a narrativa irá trazer adversários cada vez mais poderosos. A dada altura, os encontros começam a tornar-se realmente exigentes e os inimigos cada vez mais complicados de combater.

Como sempre, devem esperar também algumas secções mais desafiantes com inimigos em maior quantidade. Outra forma do jogo nos desafiar é por nos colocar contra inimigos mais poderosos que o normal, uma espécie de bosses, se quiserem. Lembram-se de Goro Majima de Yakuza 0? É agora um dos nossos adversários mais obcecados, enfrentando-nos constantemente ao longo da narrativa. Disfarça-se, por vezes de forma ridícula, para nos tentar surpreender. Consegue sempre, pelo menos, dar-nos um sorriso, sobretudo quando se mascarou de stripper. A ideia é que este tipo de encontros com Majima também nos ajudam a progredir, uma vez que há um estilo de combate em particular que só podemos obter derrotando-o a cada encontro.

O verdadeiro destaque da série Yakuza, porém, foi sempre o seu ambiente. Já mencionei o rigor visual e cultural presente nestes jogos e não deixei de o realçar na análise a Yakuza 0. Este primeiro jogo, assim com os mais recentes, já possuía um grande nível de detalhe, que só é agora realçado pela remasterização. Talvez o apelo destes jogos aqui pelo ocidente seja mesmo esse: descobrir uma cultura e civilização, para todos os efeitos, estranha. E a produção faz mesmo questão de reproduzir as ruas pejadas de decorações, os restaurantes icónicos, as lojas de conveniência a abarrotar de artigos estranhos, bares com karaoke e até o já conhecido salão de jogos de arcada da SEGA, como mini-jogos que incluem um estranho jogo que envolve raparigas vestidas como insectos…

Todos estes elementos são, de certa forma, distracções do enredo principal. Uma espécie de contraste mais descontraído do enorme peso emocional da história do jogo. Enquanto me entreguei a uma pequena sessão de Karaoke, entendi que esta era a sua versão bem mais descontraída de uma “side quest”, mesmo que seja uma forma estranha de nos desviar da acção principal. Ao sair da porta do pequeno bar, fui imediatamente confrontado com a realidade que esta não é uma história para a família: pancadaria avulsa com gangsters. Como se a história da vida de Kazuma se resumisse a dividir o seu tempo entre o descanso e a violência, sem grande transição. Será esta a realidade de um agente da Yakuza? Sem factos comparativos, tenho de acreditar que sim.

Com este remake na PlayStation 4, contem com um novo grafismo com resolução 1080p e com 60FPS, além das vozes dos actores originais regravadas com maior qualidade geral. O jogo está com uma qualidade geral mais próxima dos mais recentes títulos lançados, sendo uma excelente oportunidade para os veteranos regressarem à série e os recém-chegados de a descobrir. Quem se lembra do velhinho original na PlayStation 2 vai ter um choque visual tremendo, é um facto. Contudo, é preciso assinalar que este motor gráfico, também usado no remake de Yakuza 0, parece, cada vez mais, acusar o peso da sua idade. Recordo que este é o mesmo motor usado nos outros jogos recentes lançados na PlayStation 3.

Estamos numa era de remasterizações e remakes, lembrem-se. Entendo que o intuito é eliminar o abismo visual que poderia haver para quem quisesse pegar na série desde o primeiro título, talvez em preparação para o próximo Yakuza 6. Talvez as proezas visuais estejam reservadas para esse sexto capítulo. No entanto, ocasionais texturas com falta definição, alguma escassez de pormenores em algumas áreas ou diversas pequenas falhas nas animações, notam-se amiúde e criam um contraste com a excelente qualidade visual das cenas intermédias produzidas de propósito para este remake. Para todos os efeitos, cumpre o seu papel de recriar o original de 2005 com um novo visual melhorado. Só é pena que não o faça tirando todo o potencial da PlayStation 4.

Veredicto

Mais de um ano e meio depois de ser lançado no Japão, finalmente Yakuza Kiwami chegou até nós. Tem a importante tarefa de continuar a contar a história de Kazuma Kiryu, depois do excelente Yakuza 0 a introduzir. Como recriação modernizada do título original de 2005 para a PlayStation 2, é um trabalho de dedicação da SEGA, trazendo grafismo e áudio melhorado, entre outras novidades. Contudo, comparando com o que a PlayStation 4 já mostrou que pode fazer, pode não deslumbrar todos os jogadores. Mesmo assim, em conjunto com Yakuza 0, é um título obrigatório para quem gosta de histórias complexas, repletas de acção e com enorme atenção ao detalhe. Daquelas que só a Terra do Sol Nascente parece saber trazer.

  • ProdutoraSEGA
  • EditoraSEGA
  • Lançamento29 de Agosto 2017
  • PlataformasPS4
  • GéneroAcção
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Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Motor gráfico algo datado
  • Ainda não é Yakuza 6!

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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