share-image

Análise: Titanfall 2

Quando, há dois anos, nos chegou o primeiro Titanfall, queríamos mesmo aprofundar mais neste universo fantástico de pilotos e as máquinas de combate. Contudo, restrito que estava aos modos online, um modo carreira parecia faltar. Agora, Titanfall 2 pretende colmatar essa lacuna, ao mesmo que proporciona dos melhores momentos online que há memória.

Convenhamos que, sobretudo no seu combate de infantaria, o primeiro jogou ditou uma moda. Até então, nenhum outro shooter permitia tanta liberdade de movimentos, com escalada de paredes e algum parkour à mistura. Diversos jogos imitaram esta dinâmica, inclusive a série Call of Duty, o que não deixa de ser irónico dado o historial dos fundadores da Respawn Entertainment e as empresas responsáveis por essa outra série. Só que há uma dinâmica que nenhum outro jogo conseguiu até hoje reproduzir com a mesma qualidade: A relação entre piloto e Titã. E este é o verdadeiro foco desta serie. Neste novo título, estreia um modo de carreira absolutamente essencial a todo enredo, que aprofunda essa mesma dinâmica e oferece uma perspectiva única do tal universo que tanto queríamos aprofundar.

https://www.youtube.com/watch?v=EXwdWuSuiYA

Jack Cooper, soldado da Militia, vai ter o seu sonho realizado, embora não nos termos que desejaria. Inicialmente, tem o privilégio de treinar com o lendário Capitão Lastimosa para um dia se poder tornar, também ele, num Piloto de Titã. Infelizmente, circunstâncias imprevistas forçam essa transição da pior maneira possível. A braços com uma crise, Cooper acaba associado ao Titã Atlas BT-7274 da classe Vanguard. Entre ter de provar que um mero soldado pode, de facto, ser um bom piloto, é preciso também impedir que a infame IMC destrua todos os esforços da Militia do passado recente na Frontier. À sua frente está o desafio de travar um grupo de temíveis mercenários, também eles equipados com Titãs poderosos.

Devo dizer-vos que não esperava um enredo tão interessante, numa campanha tão entusiasmante. Mesmo recordando que esta equipa possuía o ADN de títulos fantásticos como a série Modern Warfare, achei que esta campanha seria pouco mais que um serviço aos fãs do primeiro jogo. Mas… fui surpreendido por um enredo sólido, bem construído com personagens e diálogos interessantes e, acima de tudo, tenho de destacar a fantástica sinergia entre Cooper e BT-7274. Não vou contar como tudo se desenvolve, mas digo-vos que será impossível não criar uma certa empatia pela voz mecânica do Titã e pela sua heroica prestação ao longo do jogo. Só tenho pena que o fim da carreira chegue tão cedo, em cerca de 8 horas, com um fim agridoce, antevendo uma possível sequela.

Além do enredo, porém, há um jogo igualmente interessante em Titanfall 2. Na campanha a solo irão experimentar todo o espectro do combate que vos espera mais tarde no online. Em jeito de treino, começam logo por lidar com o parkour e armamento, passando pela dinâmica de chamar o Titã deste órbita. Depois, quando o combate acende, irão também lidar com os tiroteios, a pé ou a bordo do Titã, além de abordar algumas das melhores secções de escalada usando os propulsores do piloto, enquanto se desviam de projécteis e explosões. Todas as missões giram em torno de investigar as actividades da IMC, culminando quase sempre com um combate visceral com um boss, também esse a bordo de um Titã

Com todo o respeito pela inegável veia criativa da Respawn, irão encontrar momentos em que será impossível não recordar outros títulos. Afinal, o próprio Titanfall já foi tantas vezes usado como referência noutros lados que a conclusão óbvia é que as melhores ideias podem (e devem) ser exploradas. As cenas aéreas épicas a alta velocidade de Killzone: Shadow Fall, os combates na selva de Crysis ou as sinergias entre soldado e inteligência artificial da série Halo, são apenas algumas influências que me parecem óbvias neste jogo. No entanto, tudo fica muito bem representado pela reconhecida capacidade desta equipa em contar histórias brilhantes. Só tenho pena que alguns desses melhores momentos desta carreira sejam visitados uma única vez e, por vezes, de forma sucinta ou transitória.

Para entenderem o que digo, destaco um fantástico nível em que podemos transitar no tempo, entre presente e passado com um pressionar de um botão. Pode parecer banal, mas é uma das melhores dinâmicas de jogo dos últimos tempos, pela forma como modifica tanto a jogabilidade. Basicamente, no presente temos um laboratório abandonado e destruído, repleto de animais selvagens e robots avariados. No passado era um importante laboratório da IMC onde decorria a produção de uma poderosa arma, mas também estava pejado de guardas armados. Ao percorrermos as instalações, temos de alternar entre passado e presente, proporcionando puzzles absolutamente brilhantes, surpreendo guardas surgindo ou desaparecendo à sua frente, ou contornando defesas do passado que já lá não estão no presente. Genial.

É apenas um exemplo dos momentos em que vemos o génio desta equipa, que já não apresentava algo tão inspirado desde Modern Warfare 2. Obviamente, não é apenas a campanha a solo que fará Titanfall 2 vingar no mercado. No entanto, é uma mais valia importante que nos oferece boas horas de jogo, aprofundando o enredo além das cenas intermédias do primeiro título, numa experiência que é muito mais que o tal serviço aos fãs. Alguns dirão que é um modo meramente acessório, mas não é a minha opinião. Considerando que muitos jogos adicionam um modo de carreira como mero entretenimento ou preparação para outro conteúdo, a Respawn dá aqui uma prova de estar no ápice das suas capacidades criativas, não nos fazendo perder tempo.

E é de louvar que toda a jogabilidade presente no modo campanha seja sobejamente igual à do online. Seja no combate de infantaria entre pilotos, ou nos frenéticos duelos de Titãs, Tirando a lógica falta de perícia da Inteligência Artificial comparada com a prestação de jogadores humanos, as tácticas e uso de armas, equipamentos e poderes são comuns. De facto, escalar ou caminhar lateralmente por paredes, alvejando os adversários, terminando num salto assistido pelo jetpack, largando uma granada nos incautos nesse processo, não tem preço. Mesmo os mais puristas dos First Person Shooters não podem evitar dar um sorriso em alguns momentos. Até mesmo as armas, que variam entre espingardas de assalto, metralhadoras, caçadeiras, espingardas de sniper e pistolas (com especial destaque para a infame pistola de mira automática), parecem muito equilibradas e únicas.

A bordo dos Titãs, a história é outra. Não só estas máquinas gigantes possuem neste capítulo muito mais personalidade, como são uma extensão real do nosso arsenal. Na campanha, não só BT-7274 tem uma incrível capacidade de nos salvar de apuros (e nós a ele) como nos consegue enviar, literalmente, para os sítios mais remotos… depois percebem. E cada tipo de armamento de Titã, nas novas classes disponíveis, é engenhosamente introduzido em cada missão. Cada classe tem armas e equipamento próprio, baseado em tecnologia específica e que exige tácticas diferentes. Convém experimentar cada uma, com os seus prós e contras associados, para entenderem as suas aplicações mais correctas.

Esperem até experimentarem as fantásticas capacidades do kit Ronin com a sua espada e caçadeira gigante, além de um modo de invisibilidade que permite flanquear outros Titãs incautos. Por outro lado, há classes de armas mais convencionais como Ion e as suas armas de energia, Tone com os seus mísseis teleguiados e outras classes que convém explorar para obter a melhor prestação a cada momento. A classe que mais gostei de usar foi a Northstar que permite voar por alguns segundos, fazer tiro com imensa precisão e largar armadilhas pelo mapa. Tudo isto pode ser testado a bordo do BT-7274 na campanha, mas é logicamente nos modos online que estas classes se assumem realmente importantes.

E é mesmo online que Titanfall 2 se consolida como um dos grandes títulos disponíveis neste ano. Recuperando muitas das virtudes do acção online do primeiro jogo, diria que este segundo título inova quanto baste, enquanto tenta aprimorar toda a acção frenética e viciante que já conhecemos. Entre mapas mais virados para os combates de infantaria com pilotos e as arenas para chamar os Titãs desde órbita, todas as áreas de jogo são proporcionais e muito bem equilibradas para ambos os lados. Cada mapa possui muitos corredores e paredes para escalar, pensando na infantaria e nos próprios Titãs, entre cenários destrutíveis que emprestam muitos dos locais presentes do modo de carreira.

Para jogar nestes variados mapas, temos o regresso dos modos clássicos do primeiro jogo, entre modos mistos ou só de pilotos contra pilotos. O lendário modo Hardpoint de captura de pontos, tem agora uma variante chamada de Amped Hardpoint, mais virada para a defesa de áreas que na sua conquista, dando mais pontos por manter esses locais capturados. Um novo modo de jogo que apreciei bastante foi Bounty Hunt, que nos coloca a combater hordas de pilotos e Titãs inimigos controlados pela inteligência artificial. Por cada inimigo derrotado, ganhamos pontos que depois temos de bancar em pontos específicos. A acção neste modo gira em torno do PvP com momentos de PvE, ganhando a equipa que mais bancar pontos e impedir que os adversários banquem.

Pelo meio, irão notar que agora há uma maior interligação entre Titãs e pilotos, exactamente como o modo de carreira infere. Agora podemos apanhar baterias e transportar para o Titã aliado de modo a este poder recuperar energia, por exemplo. E a nossa ligação com o nosso Titã, seja qual for a classe que elegemos para usar, fica ainda mais evidente com a quantidade de armas e equipamento seleccionável, mas também pelas modificações visuais com que podemos pintar o seu chassis, em conjunto com o nosso fato de piloto. Estas personalizações são desbloqueáveis com o nosso progresso e visam deixar a nossa marca em jogo. Nenhuma afecta realmente a jogabilidade, mas dá um estilo tremendo destruir um Titã adversário com uma espingarda pintada com cores exóticas, como é óbvio.

De fora, ficaram as míticas cartas modificadores de jogo, as Burn Cards que muita gente amou ou odiou no primeiro jogo. Estas cartas coleccionáveis desaparecem, dando lugar a um boost recarregável para cada Titã. Este é recarregado com cada ponto ganho em jogo e activado de forma temporária. Enquanto que as Burn Cards criavam situações algo injustas, neste caso, todos partem de igual patamar e com a mesma chance de desferir um golpe decisivo no tempo certo. Pior, era bastante normal esquecermos de activar cartas ou não termos nenhuma de importância significativa. Aqui ninguém se esquece de activar nada e pode mesmo ser o momento-chave para ganhar um jogo ou derrotar um adversário mais poderoso, graças a um ataque devastador que varia entre classes.

Por fim, tenho de falar da componente técnica de Titanfall 2. Todo este jogo que vos descrevi até agora foi construído, não no famoso Frostbite que parece equipar todos os jogos AAA da Electronic Arts ultimamente, mas numa surpreendente versão modificada do motor Source da Valve. Significa isto que estamos perante um jogo visualmente datado com grafismo inferior? Longe disso. Apesar dos efeitos visuais, texturas e animações não serem verdadeiramente deslumbrantes, todo o jogo é um sólido atestado de qualidade e, acima de tudo, de estabilidade. A Respawn está de parabéns por trazer um jogo tão refinado onde até o matchmaking online funciona na perfeição com muito poucas situações anómalas. O que, nos dias de correm, entre adiamentos e actualizações de última hora, é realmente raro.

Veredicto

Titanfall 2 ainda não saiu da nossa consola desde que o recebemos. E dá para perceber porquê. Desde a sua entusiasmante campanha a solo até ao seu online irrepreensível, este é um jogo verdadeiramente surpreendente. Todos os que pensavam que essa carreira era meramente acessória ou que o online fosse uma repetição do primeiro jogo, terá uma agradável surpresa. É uma clara evolução do primeiro Titanfall, trazendo muitas inovações, simplificações e ajustes pontuais. O resultado é um jogo que prova que Respawn Entertainment e a sua equipa de criativos ainda tem o que é preciso para criar jogos épicos. Agora se me permitem, vou chamar o meu Titã da órbita…

  • ProdutoraRespawn Entertainment
  • EditoraElectronic Arts
  • Lançamento29 de Outubro 2016
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAcção
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Mais um pouco de campanha seria bom

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

Comentários