Thronebreaker (hd)

Análise – Thronebreaker: The Witcher Tales

Imaginem capitalizar nos pontos fortes de um dos melhores jogos de cartas do momento. Agora, imaginem colocar elementos de Role Play Game pelo meio, num dos universos mais famosos criados em videojogo. Eis Thronebreaker: The Witcher Tales.

Ok, se pensam que vão encontrar aqui alguma coisa ao nível do que foi The Witcher III: Wild Hunt, não vão. No máximo, vão reconhecer algumas personagens e bastante do lore da série. Contudo, a jogabilidade está muito longe daquela que tanto gostámos nesse RPG de acção. Como já disse, este jogo capitaliza bastante num outro título de cartas, free to play, que a CD Projekt RED lançou há uns tempos. O divertido (e viciante) Gwent: The Witcher Card Game serve de inspiração para este título, emprestando a sua jogabilidade numa campanha desenhada para ser jogada a solo. Se em Witcher III passavam mais tempo a jogar este jogo de cartas contra NPCs, deverão ter uma ideia do que vos espera.

Para quem não está familiarizado, Gwent foi um jogo inventado pela CDPR para The Witcher III e que servia de entretenimento entre missões, tendo até algumas quests relacionadas. É um jogo de cartas para dois jogadores que mistura cartas numeradas com outras de poderes especiais. Cada lado elege um baralho com as melhores cartas que angariou e joga contra outro do adversário. A mesa é composta por três fileiras, uma de combate próximo, outra de combate à distância e outra de artilharia. As jogadas são feitas para eliminar cartas ao adversário ou contabilizar a pontuação mais alta em três rondas. Porque as regras são simples, assim como as estratégias, torna-se viciante ao fim de umas horas.

Por causa desse vício, o mini-jogo ganhou bastante fama. E a CDPR decidiu criar um novo título único baseado nesta lógica. Gwent: The Witcher Card Game, que insere uma lógica de desafios online PvP com as mesmas regras, foi lançado no passado dia 23 de Outubro no PC e chega às consolas no dia 4 de Dezembro. Desde meados deste ano, porém, tem estado em Open Beta, mas ninguém diria que tinha esse estatuto. Já há até torneios em volta deste título. Contudo, desde que foi lançado, Gwent tem sentido uma certa falta de uma jogabilidade a solo. Sendo quase exclusivamente online e sem grande história, os jogadores pediram várias vezes um enredo envolvente. E ele aí está.

A rainha Meve de Lyria e Rivia está a braços com problemas nos seus reinos. Os rebeldes antagonizam a população e uma guerra contra o Império de Nilfgaard paira no horizonte. Como não podia deixar de ser, também os monstros não dão tréguas e só adicionam turbulência. E, se isto não bastasse, Meve acaba também alvo de uma traição, vinda da pessoa menos provável. A guerra pela reconquista do seu trono assume proporções gigantes. E, algures pelo caminho, Geralt de Rivia (esse mesmo Witcher), acaba por se juntar à sua causa, nem que seja para devolver justiça onde ela escasseia.

Toda esta história é contada através de um narrador e recorre a cenas intermédias em jeito de aventura gráfica. Esta história não tem, obviamente, a mesma qualidade narrativa da série The Witcher, mas é surpreendentemente vasta, contabilizando umas 30 horas de jogo. Teremos uma série de opções de diálogo que, aliada à demais jogabilidade que já falarei, permite uma série de desenvolvimentos e até finais diferentes. Algumas destas decisões são essenciais, mas nada de extraordinariamente complexo. Talvez esteja a pensar demais na trilogia RPG de Geralt, admito, mas parece-me que este argumento fica um pouco aquém da qualidade que desejava. Como em tudo, a experiência varia de pessoa para pessoa.

Uma parte deste jogo consiste em explorar o seu vasto mapa com mecânicas “point-and-click”. Esta lógica de exploração numa acção na perspectiva isométrica, aliada às linhas de diálogo com decisões que menciono acima, transforma o jogo numa espécie de RPG algo limitado. Esta componente, porém, não joga muito a favor deste título. Cria uma certa lentidão no desenvolvimento da história, podendo até mesmo criar quebras aborrecidas no seu ritmo. Entram umas cenas intermédias que assistimos, interagindo nas tais decisões, depois um ou outro jogo de Gwent improvisado e… nova secção de exploração. A oscilação do nosso interesse é notória. Ter três vertentes de jogo até podia funcionar se o ritmo fosse sempre o mesmo.

Quanto há confrontos, então, finalmente temos umas cartadas para jogar. Como já perceberam, o jogo substitui os vulgares combates directos com partidas de Gwent. Contudo, não esperem disputar jogos convencionais de Gwent. Sobretudo no início, vão estranhar algumas mudanças notórias. Em primeiro lugar, muitas das batalhas (puzzles) só possuem uma ronda, em vez de três. Depois, só temos duas fileiras de cartas, igualmente em vez de três. Também vamos estar inicialmente limitados em cartas e confinados a regras específicas que tornam as partidas bastante lineares. Se querem jogar Gwent a sério, devem recorrer aos jogos originais. A experiência pura deste jogo de cartas não está aqui.

Estas limitações também estão associadas à Inteligência Artificial. Talvez porque tenho jogado muito Gwent online, notei que as estratégias do computador são francamente inferiores, com jogadas quase “suicidas”. Também a quantidade reduzida de cartas me parece induzir uma jogabilidade mais rápida, com a vitória quase sempre decidida com uma única carta que tem de ser jogada no tempo certo. Remove-se quase completamente aquela estratégia de omissão ou até de bluff que podemos fazer contra jogadores humanos. Tudo é uma questão de temporização, matemática e paciência.

Depois há um claro facilitismo na construção dos baralhos. Se ao início temos cartas limitadas a conta-gotas, mais lá para a frente passamos a ter mais opções para construir o nosso deck ideal. Mas, o desafio aqui não é muito assinalável. Há uma variável interessante com o desenrolar da história, em que as repercussões das decisões que tomamos podem resultar numa perda de personagens e das suas cartas. Contudo, rapidamente outras cartas surgem para garantir que não ficamos muito desfalcados. Tanto tempo a jogar com decks feitos pela minha estratégia pessoal, é normal pensar que tudo tem um guião inevitável.

A jogabilidade pode ser facilitada para mim, um jogador confesso de Gwent, mas até pode ser desafiante para quem não está nada virado para jogatinas de cartas. Contudo, se de facto não apreciam este tipo de jogo, Thronebreaker também não tem muito mais para oferecer como jogo. Já falei na mistura de aventura gráfica e “point-and-click”, misturando uns ligeiros “ares” a RPG que pode agradar a alguns. Andamos por ali a resolver problemas ou a criá-los, angariando ouro (para criar cópias de cartas de jogo) e a decidir os destinos da rainha e dos seus companheiros, numa história que também já disse ser mediana. É tudo.

O visual do jogo é interessante, com quase tudo desenhado à mão e tendo uns quantos modelos tridimensionais à mistura. O melhor de tudo é a performance dos actores de voz que dão vida às personagens. Contudo, também aqui não esperem nada próximo da qualidade visual e técnica da série The Witcher. É fácil apreciar a sua arte mas não deslumbra nunca realmente. Ao longo da minha passagem pelo jogo, também encontrei uns quantos bugs com cartas que não conferiam os danos assinalados ou cuja pontuação estava errada. Nada demais, estou certo que será corrigido, mas nunca é agradável, prejudicando claramente a jogabilidade.

Veredicto

Esta é claramente uma aventura um tanto limitada neste universo de The Witcher. Não quero usar a expressão “descartável” porque iria soar mal. No entanto, Thronebreaker: The Witcher Tales é um claro aproveitamento de dois jogos de enorme sucesso (Gwent e The Witcher III), com uma série de ideias adicionadas para lhe dar preenchimento. A história é francamente acessória, servindo de justificação para um formato “light” do fantástico jogo de cartas que lhe serve de base. Pela sua linearidade e facilidade, acaba por ser um jogo para os fãs que sentem saudades de Geralt e não procuram grande desafio.

  • ProdutoraCD Projekt RED
  • EditoraCD Projekt RED
  • Lançamento23 de Outubro 2018
  • PlataformasPC, PS4, Xbox One
  • GéneroAventura Gráfica, Cartas
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Limitações nas regras de Gwent
  • Problemas de ritmo
  • História algo acessória

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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