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Análise – The Sinking City

Dos mesmos criadores de Sherlock Holmes: Crimes and Punishment, surge The Sinking City, um título inspirado nos trabalhos literários de H.P. Lovecraft. Como devem calcular, vamos mergulhar numa história que envolve investigação de contornos estranhos.

Nos últimos cinco anos, já perdi a conta a quantidade de títulos inspirados neste autor, pioneiro nos contos de fantástico com um tom de pesadelo. Contudo, entre tantos sempre achei difícil encontrar um que tenha sido realmente memorável. A visão de Lovecraft pode ser facilmente transposta em imagens, mas as histórias, essas é que compõem o verdadeiro desafio. The Sinking City, desde o início, revela intenção de colmatar essa lacuna com um mundo que poderia ser visto como parte integral dessas histórias. A forma como a produtora Frogwares propôs a sua ideia foi, no mínimo, fascinante. Mas, agora que temos o jogo nas nossas mãos, vamos ver se conseguiu alcançar todas as suas ambições.

Passado nos anos 20, este título coloca o jogador no papel de Charles W. Reed, um detective privado que tem um sério problema de alucinações monstruosas que afectam a sua sanidade. Para se tratar, segue para Oakmont, uma cidade isolada e afligida, pasme-se, por eventos sobrenaturais. Este eventos macabros, ocorrem pela cidade apenas tornam o estado mental do protagonista cada vez mais frágil. Para ajudar, pela cidade há também focos de conflitos étnicos e segredos obscuros muito sinistros.

Por exemplo, os habitantes praticam rituais religiosos e, por vezes, cerimónias chocantes, para proteger as suas tradições. O seu isolamento e desconfiança em relação aos estrangeiros só são reforçados pela calamidade que está atormentar a cidade. E a má sorte de Reed só fica ainda mais vincada pelas frequentes cheias que ocorrem pela cidade. A dada altura, tudo o que o protagonista quer, é encontrar respostas para as visões que o atormentam noite após noite. Mas, este pano de fundo, como imaginam, não ajuda em nada a fazer qualquer tipo de terapia. Pelo contrário.

A aventura principal é dividida em oito casos, divididos entre partes individuais e outras que afectam proporcionalmente todo o curso do jogo. Dos aspectos jogáveis, depois de uma longa série baseada em Sherlock Holmes, a produtora ucraniana sentiu que deveria ir mais longe, não só com um tributo a Lovecraft, mas permitindo também ao jogador respirar o mesmo ar misterioso, decadente e sombrio que caracterizam as obras do autor. É um mundo onde os mitos da lenda de Cthulhu se misturam com a América nos anos 20.

Basicamente, toda a jogabilidade assemelha-se à da série de Holmes. Sendo um jogo de mundo aberto, a sua dinâmica foi um pouco alterada. A procura de suspeitos, a exploração dos distritos e a inclusão de fast travel são partes integrantes da acção. No entanto, o mundo aberto fica um pouco aquém quando comparado com os padrões de outros títulos modernos, sendo vítima, sobretudo, de óbvias limitações técnicas. As diferentes áreas de jogo, por exemplo, são interligadas por pequenos canais de água que podem ser atravessados por um barco, uma clara secção de transição. Se tentarem passar a nado, morrem. É um bom substituto de ecrãs de carregamento, mas é também uma clara “muleta” de design.

No âmbito da grande investigação que é o cerne da jogabilidade, precisamos encontrar diversas pistas. Para as obter, além de conversar com as várias pessoas da cidade, também podem procurar mais informações através dos hospitais ou junto da polícia. Uma vez encontradas todas as pistas essenciais que angariamos pelo jogo, podemos tentar resolver o caso através da “Retrocognition“. Trata-se de uma recapitulação, que leva o protagonista a estabelecer uma ordem às visões, de forma a recriar todo o evento ocorrido e resolver o caso. Já vi mecânicas semelhantes noutros jogos e aqui funciona como uma luva, sendo gratificante juntar todas as peças do enorme puzzle.

A melhor parte da investigação é que é um pouco ambígua. Isto, porque algumas deduções têm diferentes interpretações, tal como na vida real, nem sempre a nossa intuição está tão apurada. Por consequência, as diferentes interpretações levam também a conclusões diferentes. Cabe-nos entender o caso de todos os pontos de vista e escolher como completar a investigação duma forma conclusiva. No final, há consequências que têm um impacto no equilíbrio das organizações religiosas, famílias poderosas e cidadãos. O que depois também reverbera por toda a cidade.

Um dos pontos menos bem sucedidos deste título está no sistema de combate. Sem ser demasiado penalizador, diria que está cheio de imprecisões e chega mesmo a ser frustrante. Os inimigos podem causar danos à saúde mental e física de Reed, razão pela qual é sempre bom não ficar sem medikit ou antipsicóticos. A questão é que o sistema de tratamento é incómodo e, durante uma batalha agitada, é difícil restaurar as duas barras de energia. Fugir é sempre uma opção, mas a lentidão com que o protagonista se movimenta, não permite movimentos rápidos. E acertar nos monstros com armas corpo-a-corpo é muito difícil, uma situação que não melhora com as armas de fogo.

Em termos de design, embora a atmosfera e a banda sonora estejam muito boas e contribuam para recriar as sensações certas deste género, quanto a mim o trabalho da Frogwares precisava de mais maturação antes de chegar ao mercado. Os modelos poligonais são repetidos demasiadas vezes e os diálogos com as personagens usam as mesmas frases de forma repetitiva, para além da expressividade das personagens não ser nada convincente com olhares “vazios”. Digo isto com alguma pena, porque a história é realmente fascinante e envolvente e foi capaz de intrigar e despertar o meu interesse. Merecia claramente uma melhor componente técnica para a acompanhar.

Veredicto

The Sinking City revelou ter excelentes mecânicas relacionadas à investigação, refinadas pela experiência da produtora a criar jogos do mesmo género. No entanto, o desejo da Frogwares de arriscar, acaba por revelar uma realidade muito diferente, composta de grandes limitações técnicas que prejudicam significativamente a qualidade geral de uma história que até está bem escrita. Ainda assim, se forem fãs de HP Lovecraft e não se importarem com um visual humilde e umas mecânicas falíveis, encontrarão aqui uma boa história interactiva. Mas, pouco mais que isso, infelizmente.

  • ProdutoraFrogwares
  • EditoraBigben Interactive
  • Lançamento27 de Junho 2019
  • PlataformasPC, PS4, Switch, Xbox One
  • GéneroAcção, Aventura, Thriller Psicológico
?
Sem pontuação

Ainda não tem uma classificação por estamos a rever o nosso esquema de pontuações em análises mais antigas.

Mais sobre a nossa pontuação
Não Gostámos
  • Sistema de combate
  • Tecnicamente, precisava de mais refinamento

Esta análise foi realizada com uma cópia de análise cedida pelo estúdio de produção e/ou representante nacional de relações públicas.

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